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Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2002

DISSERTAÇÕES E TESES

Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2002

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Instituto de Psicologia

Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica

DISSERTAÇÕES

Título: A solidão teórica de Freud e as psicanálises contemporâneas

Rosane Zétola Lustoza

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data da defesa: 19/2/2002

A construção teórica psicanalítica pareceu, aos primeiros estudiosos da obra freudiana, abrigar em seu interior dois regimes de inteligibilidade diferentes, até mesmo excludentes: a explicação por causas, e a explicação por razões. Na tentativa de determinar qual o modo de inteligibilidade apropriado à investigação psicanalítica, seus intérpretes acreditaram dever escolher entre as duas grades de leitura tradicionais no Ocidente. Este trabalho pretende fazer uma exposição crítica de representantes de cada um dos projetos, respectivamente psicologia do ego e hermenêutica. A partir da insuficiência das duas posições em dar conta do legado freudiano, pretendemos mostrar que somente com Lacan emergiu a originalidade da pesquisa psicanalítica, já que ele foi o único a mostrar que a obra freudiana não se deixa encerrar na limitada alternativa razão x causa. Segundo Lacan, a novidade da descoberta freudiana consistiu em aplicar conjuntamente as duas noções, causas e razões, no terreno dos valores. Evidentemente, colocar juntas, e na mesma série, duas noções até então tidas como somente aplicáveis a séries distintas acarretou uma subversão no sentido de ambas.

Título: Um retorno a Sócrates

Autor: Antonio Godino Cabas

Orientador: Joel Birman

Data da defesa: 20/2/2002

O objetivo desta dissertação é a discussão de três problemas que permeiam a história da psicanálise. São eles, o conceito do que é um autor (haja vista seu estatuto fundamentalmente precário); as conseqüências epistêmicas dessa precariedade quando temos que determinar o estatuto do saber; e, sobretudo, a dimensão ética e a teoria do valor que determinam a autorização do analista. O estatuto precário do autor é claro e evidente no caso de Sócrates — alguém que não deixou uma obra escrita e, no entanto, determina a história da filosofia clássica. Nela, Sócrates surge como o autor — que não é — da obra — que não há. A conseqüência epistêmica é que se ele não é o autor de uma obra, ele é o autor de um ensino. Este ensino se reduz à estrutura mínima, elementar, de um ato — um ato que concerne à própria morte — e se compõe de dois tempos: a alocução ao tribunal e a atitude diante do cálice de sua sentença. O resultando é que o ensino de Sócrates contém o caráter paradoxal de um saber que não é codificável num sistema universal. Esse ensino se reduz a uma questão: qual o valor de uma vida se não é o de ser vivida até o fim? No fim, o legado de Sócrates se resume a uma pergunta: A vida... como vivê-la?

Título: Um saber na psicose e sua relação com o lugar do analista

Autora: Ana Beatriz Rocha Bernat

Orientadora: Angélica Bastos

Data da defesa: 22/2/2002

A constituição do sujeito psicótico é abordada a partir da posição tomada frente à realidade da castração. Segundo os ensinamentos de Lacan, o desencadeamento da psicose é deflagrado pela redução do sujeito à condição de objeto-complemento da falta real do Outro. Freud destaca a megalomania como uma estratégia de tamponamento desse buraco, e adverte de que é na falha dessa estratégia primária que advém o delírio; construção em que o sujeito ocupa uma posição dividida. A aposta do trabalho é de que o encontro entre um psicótico e um analista pode vir a conferir um outro destino ao saber delirante. A escuta analítica do delírio visa reintroduzir o sujeito do inconsciente na relação do delirante com o delírio, sob a forma de um não-saber. A partir da construção delirante, circunscrevem-se os lugares possíveis para o analista. A demarcação de um lugar para o sujeito no delírio é possível desde que o analista circule pelos lugares de: secretário do alienado, Outro do gozo e significante ideal. Essa circulação é possível desde que o analista abstenha-se de dar consistência ao lugar do saber na psicose. O analista suporta a transferência delirante, apostando no saber inconsciente, sustentado por seu desejo de analista.

Título: Verdade e interpretação em Freud

Autora: Elisa Troian Rodrigues

Orientador: Joel Birman

Data da defesa: 22/2/2002

O presente trabalho se originou do contato com textos freudianos do período entre 1893 e 1938, nos quais pudemos verificar que o conceito de interpretação sofreu algumas alterações marcantes. Uma delas se deu a partir do momento em que a associação livre passou a ser método de trabalho na clínica de Freud, na obra A interpretação dos sonhos (1900), com a formulação e sistematização teórica do aparelho psíquico. Nesse texto, Freud relaciona o modo de funcionamento do psiquismo com o modo de funcionamento dos sonhos. Outra mudança que influenciou decididamente o processo interpretativo foi o conceito de transferência, na medida que o papel do analista e sua postura na relação com o paciente são a de alguém que está totalmente inserido no sintoma desse sujeito. Além disso, o desenvolvimento do conceito de pulsão de morte coloca uma abertura para o indeterminado no centro do aparelho psíquico. Principalmente, a partir da análise dessas três alterações teórico- clínicas, problematizaremos os limites do trabalho interpretativo e suas conseqüências na construção do que se possa chamar de uma verdade do sujeito. Articularemos, então, algumas idéias acerca da interpretação na obra de Freud, com o método hermenêutico de Paul Ricoeur. A questão que nos orientará será a do sentido no sonho, o qual será o ponto de articulação entre os dois autores. Se a questão que aproxima os dois autores é a do sentido no sonho, a que os separa é a proposta de Ricoeur de restaurar a consciência, por meio da técnica interpretativa. Michel Foucault critica essa posição de Ricoeur, e a respeito da hermenêutica, afirma que o processo interpretativo na modernidade tende a se infinitizar, fazendo com que a restauração de uma origem seja remetida para o plano da ficção. Sendo assim, concluímos que o estatuto de verdade passa a assumir um caráter efêmero dentro do processo psicanalítico.

Título: Fundamentos psicanalíticos do laço social

Autora: Maria Aparecida A. Novaes

Orientador: Waldir Beividas

Data da defesa: 22/2/2002

Esta dissertação tem como principal objetivo investigar a especificidade do laço social psicanalítico, laço inaugurado por Freud e que constitui a própria experiência analítica. Qual seria o impacto, para uma teoria do laço social, da suposição de que há inconsciente? Para que possamos responder tal pergunta, faz-se necessário, primeiramente, um exame das bases dos laços sociais da civilização, laços cujos principais pilares são o amor e a identificação e cuja lei, guiada pelos princípios do bem-estar, da semelhança e da homeostase, revela uma outra face: a renúncia pulsional, necessária para que os laços se constituam e se mantenham, se dá às custas da infelicidade do indivíduo, que Freud nomeou como um “mal-estar na civilização”. O propósito da dissertação, neste sentido, é demonstrar de que maneira a psicanálise daria outro destino para este mal-estar, ineliminável. Em outras palavras, em que sentido a psicanálise pode ser dita uma ética que não a da civilização? Com a abordagem do tema da identificação e suas conseqüências na clínica, mais propriamente, no momento de entrada em análise, acreditamos poder vislumbrar uma especificidade do laço social na psicanálise, o que vemos se confirmar com a noção de transferência, no que esta se mostra, no âmbito da experiência psicanalítica, operando diferentemente, isto é, situando-se para além de um fenômeno de natureza universal, em função do que Lacan chamou desejo do analista.

Título: Realidade psíquica e Nome-do-pai: uma função de sonho

Autora: Rosa Guedes Lopes

Orientador: Waldir Beividas

Data da defesa: 25/2/2002

Esta dissertação situa-se no campo delimitado pela psicanálise freudiana bem como no da leitura que, mais tarde, lhe proporcionou o psicanalista Jacques Lacan. Tem como proposta percorrer o caminho teórico construído por Freud para definir o termo “realidade psíquica” e, ainda, pesquisar o modo como Lacan a formalizou através do conceito de “Nome-do-Pai”. O trabalho consiste em pesquisar os principais textos freudianos e os lacanianos, estes últimos situados até o Seminário 11, e verificar em que esta conceituação implica na construção da subjetividade e como ela se articula ao que Lacan chamou “função de sonho”. Essa função consiste no modo como são estabelecidas as relações entre o registro do simbólico enquanto equivalente à cultura, o do imaginário como a própria cena fantasmática e o do real enquanto impossível.

Título: O sentido histórico da metapsicologia freudiana

Autor: Ricardo Valente Meirelles

Orientadora: Regina Herzog

Data da defesa: 25/2/2002

Esta dissertação discute quais princípios e modelos epistemológicos foram fundamentais para a formulação da metapsicologia freudiana. Freud estabeleceu, de início, um diálogo com a tradição romântica e a filosofia da natureza, se colocando, posteriormente, como adepto da filosofia, marcadamente positivista, e das ciências da natureza. Partindo do que podemos considerar uma “influência cultural diversa”, que se refere à formação de Freud como judeu, habitante da cidade de Viena, que tinha como parâmetro intelectual a leitura dos clássicos, abrimos um debate para tentar compreender como esta formação pode ou não ter contribuído para seus ideais científicos. Posteriormente, analisamos os trabalhos de pesquisa desenvolvidos por Freud no período acadêmico, quando estabeleceu contato com os mais conceituados teóricos da física e da fisiologia da época. Estes mestres, que fizeram parte de seu percurso universitário, proporcionaram a Freud o início de suas postulações acerca da anatomia e, posteriormente, da fisiologia. As influências teóricas foram mapeadas, sendo ressaltadas as principais fontes para a construção de uma identidade epistêmica que daria origem à futura metapsicologia freudiana.

Analisamos também como Freud, no momento de sua viagem a Paris, inicia um processo de deslocamento para a clínica, no final de sua formação acadêmica e no início de seu contato com a histeria e a hipnose. Este é o momento em que Freud começa, através de seu contato com os hospitais, uma carreira médica, voltada mais para clínica e questões práticas referentes a esta. Em seguida, com seu retorno a Viena e seu encontro com Josef Breuer, explicitamos o desenvolvimento de um método clínico para dar conta das neuroses, principalmente da histeria. Com a contribuição de Breuer para a elaboração destes métodos observa-se o surgimento de algo inédito, a construção de um método interpretativo aplicado à clínica. Abordamos, então, a especificidade deste ineditismo a partir da análise deste método e suas implicações teóricas, no que tange à construção de uma identidade epistemológica singular. Concluímos este trabalho com uma hipótese que se refere a esse ineditismo e esta singularidade do método interpretativo freudiano.

Título: Psicanálise e lingüística: uma abordagem epistemológica

Autora: Juliana Lídia Machado C. Lunz

Orientador: Waldir Beividas

Data da defesa: 26/2/2002

O objetivo principal desta dissertação é percorrer as primeiras etapas da conceitualização psicanalítica promovidas por um Lacan inaugural interessado numa reflexão teórica a partir da Lingüística. A preocupação em cada vez mais, e melhor, definir o conceito de Inconsciente, colhe seus frutos ao declarar que sua estrutura se dá conforme as estruturas de uma linguagem. Daí por diante, várias noções lingüísticas são aproveitadas em busca da descrição dos mecanismos inconscientes, dentre elas, o conceito de signo lingüístico e outros temas articulados na teoria de Ferdinand de Saussure. Com a transformação de alguns conceitos lingüísticos, Lacan derivou noções como significante puro, resistência à significação e deslizamento de significa- dos. É na investigação de todo este tema que o presente estudo verifica, ao seu fim, outras possibilidades de diálogo do campo psicanalítico com o campo da lingüística a partir de proposições novas que se apresentam no horizonte das pesquisas atuais.

Título: Sintoma em psicanálise: Freud e Lacan

Autora: Cynthia de Paoli C. de Castro

Orientador: Waldir Beividas

Data da defesa: 27/2/2002

Esta dissertação pretende investigar o conceito de sintoma em Psicanálise, buscando averiguar se as mais recentes proposições teóricas evidenciam modificações radicais em sua concepção, ou se constituem apenas uma ampliação do entendimento anterior. Como ponto inicial toma-se a compreensão empreendida por Freud, que considerava o sintoma como um sinal de desajuste, algo estranho ao homem e que deveria ser eliminado pelo tratamento analítico. Em sua prática clínica, deparou-se com uma resistência deste ao trabalho interpretativo, uma fixidez que o levou a concluir que o sintoma não empreendia somente sofrimento, mas que também proporcionava uma satisfação substituta à pulsão, de natureza regressiva e, portanto, inadequada. Ao final de sua obra, o vienense mostrou-se cético quanto à eficácia da psicanálise, acreditando que seus limites ao manejo do sintoma eram a ameaça de castração para os homens e a inveja do pênis para as mulheres. Lacan, seu discípulo entre os mais eminentes lançou um outro olhar sobre o sintoma ao final de análise: em seu último ensino, o mestre considerou que o ponto de irredutibilidade do sintoma à decifração implicava no campo de gozo do ser falante, seu nome próprio. Assim sendo, o francês valorizou como uma nova forma de estruturação a identificação ao sintoma, um estabilizador subjetivo. Interrogar se existe uma mudança de paradigma ao priorizar o gozo ao invés do sentido no sintoma, tal é nossa proposição aqui levada a efeito.

Título: Freud e a Ética — considerações sobre o problema do mal na psicanálise

Autora: Daniela Menaged

Orientador: Waldir Beividas

Data da defesa: 27/2/2002

O objetivo desta dissertação consiste em retomar, a partir da perspectiva psicanalítica, uma forma de apresentação do problema do mal que diz respeito ao pensamento ético, no trajeto freudiano e em sua releitura com Lacan. Com a formulação de uma idéia de mal-estar, a psicanálise estabelece uma teorização a respeito dos fundamentos que regem a economia psíquica, indicando o lugar do conflito que se apresenta como limite a uma satisfação plena e articulando esta relação de inadequação à ordem da cultura. Retomando as questões levantadas pela clínica que incitaram a formalização da teoria psicanalítica, situamos com a clínica das neuroses, o lugar do conceito de pulsão de morte como ponto nodal a partir do qual fundam-se os alicerces da dimensão subjetiva. Com a teorização do que faz obstáculo ao prazer e ao bem-estar pleno, apontamos a questão da maldade, crueldade e destruição no pensamento freudiano, para que posteriormente seja reconsiderada com as formulações de Lacan. Discutindo a ética da psicanálise, Lacan recoloca no âmbito da psicanálise o problema do mal, numa re- lação ao gozo e à instância superegóica. Visto que a formulação de uma ética própria à psicanálise deve-se a Lacan, visamos, neste trabalho, percorrer o texto freudiano buscando delinear uma forma de apresentação do problema do mal, recolhendo deste trajeto os fundamentos que deram condições de se pensar um estatuto ético inerente à psicanálise freudiana. Este trabalho pretende situar a questão do mal, para que daí possa ser repensado o âmbito do desejo na psicanálise.

Título: A loucura na histeria: uma resposta possível

Autora: Fernanda Dias Campos

Orientadora: Angélica Bastos

Data da defesa: 27/2/2002

O objetivo desta pesquisa é investigar um lugar teórico-clínico para a loucura histérica partindo da perspectiva psicanalítica. A clínica comprova a ocorrência de fenômenos na histeria como delírios e alucinações. Partimos da idéia de que estes fenômenos correspondem a uma lógica estrutural diferente daquela da psicose. Para investigar a especificidade da loucura na histeria, partimos das afirmações de Freud de 1907: os momentos agudos da doença, chamados por ele de psicose histérica, são desencadeados pela invasão da fantasia na cena consciente. Nosso trabalho parte, neste sentido, na direção de investigar a fantasia na histeria, considerando sua estruturação a partir do Complexo de Édipo e das identificações, a fim de compreender como é possível o desencadeamento do delírio e dos ataques histéricos. Para isso, analisamos os conceitos de fantasia, identificação, Complexo de Édipo, falo e objeto na obra de Freud e no ensino de Lacan. Concluímos que a loucura histérica se deflagra inevitavelmente no campo da fantasia, através das identificações imaginárias, e como possível resposta para a vacilação da fantasia.

Título: O sujeito da psicanálise e o sujeito da ciência: considerações éticas sobre o cogito cartesiano

Autora: Ingrid de Mello Vorsatz

Orientadora: Regina Herzog

Data da defesa: 21/6/2002

Esta dissertação tem como móbil a proposição de Jacques Lacan que localiza no momento inaugural do cogito cartesiano o surgimento da ciência moderna, assim como do sujeito afirmando de forma paradoxal que o sujeito sobre o qual a psicanálise opera é o sujeito da ciência. Procuramos destacar no encaminhamento de Descartes aquilo que parece indicar a presença do sujeito, considerando o cogito como a enunciação que funda simultaneamente a ciência e o sujeito. Na primeira parte — O sujeito da psicanálise — procuramos explorar os conceitos próprios ao campo psicanalítico utilizados em nossa apreensão da problemática cartesiana. Assim, primeiramente, procuramos distinguir de forma sucinta o sujeito compreendido enquanto categoria do pensamento — ou ainda enquanto subjetividade — do sujeito da psicanálise; tratamos então de destacar a dimensão de enunciação presente no surgimento de um conceito fundamental (Grundbegriff), ressaltando que a fundação de um novo campo conceitual é forçosamente tributária do desejo; em seguida, abordamos o conceito em sua dimensão de corte avançando até a formulação lacaniana do conceito de inconsciente enquanto conceito da falta, da qual decorre o estabelecimento de seu estatuto ético — que por sua vez implica na responsabilidade do sujeito e no desejo do analista; finalmente, tratamos da antinomia constitutiva na correlação efetuada por Lacan entre o sujeito da ciência e sujeito da psicanálise, já que este último resiste à tentativa de sutura perpetrada pelo discurso da ciência. Na segunda parte — O sujeito da ciência — acompanhamos Descartes em seu encaminhamento que resulta no cogito, ponto de convergência entre sujeito e ciência. Para tanto foi necessário explicitar resumidamente a concepção aristotélica de cosmos, pois a ciência moderna surge em ruptura com esta; a seguir, consideramos o itinerário singular de Descartes — ou seu método — como parte indissociável de seu pensamento; e, por fim, seguimos passo a passo o percurso descrito no Discurso do método e nas Meditações metafísicas procurando destacar a dissimetria entre os dois momentos do cogito ali apresentados: primeiramente como uma enunciação (sum), e em seguida como fundamento ontológico (res cogitans). Deste modo, o cogito cartesiano descreve um movimento que vai do sujeito ao ser.

Título: Os paradoxos da fantasia

Autor: Ricardo Salztrager

Orientadora: Regina Herzog

Data da defesa: 25/07/02

A proposta desta pesquisa é analisar as diversas circunscrições da figura da fantasia, ao longo dos textos freudianos, objetivando o destaque do seguinte paradoxo: a fantasia, ora se apresenta como uma estrutura articulada ao campo discursivo do sujeito, ora como o que justamente escapa a tal encadeamento. A base para a discussão é o modelo de aparelho psíquico elaborado por Freud na “Carta 52”. A investigação se faz em três tempos. Num primeiro momento, trata-se de examinar a dimensão representacional da atividade fantasmática, ressaltando suas relações com o princípio de prazer, a dinâmica do recalque e a sexualidade infantil. Em seguida, através da análise do estatuto metapsicológico dos fantasmas originários e das fantasias de espancamento, evidenciamos a vertente pulsional da atividade fantasmática. Por fim, são lançados alguns questionamentos referentes à possibilidade de, a partir da obra freudiana, pensarmos numa configuração fantasmática não necessariamente edipiana.

Título: O agir impulsivo como um traço dominante do sujeito contemporâneo

Autor: Nelson Riedel

Orientadora: Ana Lila Lejarraga

Data de defesa: 9/12/2002

O trabalho se baseará na observação de que a realidade contemporânea oferece à atividade psicanalítica uma gama variada de situações e de formas de manifestação próprias do humano, que se colocam como limite para a psicanálise e incitam à reflexão teórica. Em número crescente, os indivíduos na atualidade expressam aspectos de uma formação subjetiva com traços distintos daquela que constitui seus demais contemporâneos, estes regidos pelos modos de subjetivação classicamente descritos e compreendidos pela teoria psicanalítica. Os trabalhos desenvolvidos por Jacques- Alain Miller a partir do último ensino de Jacques Lacan (1972-1973), vêm ampliando a possibilidade de compreensão da formação da subjetividade com o estabelecimento de novas hipóteses teóricas. Assim, o texto pretende abordar essas novas hipóteses teóricas, estabelecendo contrapontos aos conceitos clássicos da teoria psicanalítica, particularmente nos aspectos a seguir: O Outro que não existe como contraponto ao conceito de alteridade (outro, Outro). O Agir impulsivo como contraponto do conceito de ato. A hipótese da Psicose ordinária como contraponto ao paradigma das perversões, utilizando amplamente como uma referência teórica à abordagem da subjetividade contemporânea.

TESES

Título: Pulsão de morte? natureza e cultura na metapsicologia freudiana

Autor: André Martins Vilar de Carvalho

Orientador: Joel Birman

Data da defesa: 20/2/2002

Sendo a pulsão de morte um conceito especulativo criado para, por um lado, dar conta de alguns fatos clínicos relacionados à agressividade, a partir da idéia de que estes estariam para além do princípio de prazer, e por outro, sustentar teoricamente o postulado de uma dualidade pulsional fundamental, tida por Freud como necessária à explicação do conflito psíquico, a presente tese, como resultado de uma análise do texto freudiano, corroborada pela de alguns de seus comentadores, traz a hipótese de que, tanto estes acontecimentos clínicos quanto o conflito psíquico podem ser explicados sem a necessidade da suposição de uma pulsão adjetivada como de morte. Uma segunda hipótese decorre da primeira: ao manter a dualidade, apesar de a psicanálise ter sido e ser até hoje um inestimável e eficaz instrumento de valorização da integração entre corpo e mente, a metapsicologia freudiana — assim como a kleiniana e a lacaniana, por exemplo, que a mantiveram fundamentalmente — ainda traz como premissa filosófica, mesmo que dialética, a separação dicotômica e romântica entre natureza e cultura, animalidade e humanidade, organismo e razão, isso e eu-supereu. Assim, após desenvolver algumas propostas conceituais, este estudo conclui que compreender a pulsão como efetivamente originária permitirá à psicanálise assumir toda a radicalidade de sua descoberta.

Título: Sertão e melancolia: espaços e fronteiras

Autora: Karla Patrícia Holanda Martins

Orientadora: Maria Teresa Pinheiro

Data da defesa: 25/2/2002

Ao discutir, a partir de Freud e alguns de seus contemporâneos, a construção de certas teses psicanalíticas acerca da melancolia, o presente trabalho visa propor a articulação entre os enunciados produzidos pelo discurso melancólico e as narrativas que tematizaram o sertão. Temos como hipótese central que a insurgência de tais enunciados, principalmente no que se refere a um uso particular da linguagem e da temporalidade, estão representados na literatura brasileira nas obras de José de Alencar, Euclides da Cunha e Graciliano Ramos e nas narrativas míticas do sebastianismo. Numa perspectiva que aproxima construção narrativa e organização psíquica, pensamos a estratégia melancólica como um dos modos de formalização que balizam os contornos eu-outro.

Título: Desafio clínico conceitual da neurose obsessiva: uma leitura sobre a regressão

Autor: Marcos Almeida C. de Araújo

Orientadora: Regina Herzog

Data da defesa: 25/2/2002

O presente trabalho, partindo de certas características específicas do funcionamento psíquico na neurose obsessiva, propõe o desenvolvimento de articulações teóricas que contribuam para uma maior compreensão dos desafios clínicos por ela suscitados. Dentre os desafios está a força da resistência egóica que ao incidir de modo privilegiado na própria regra fundamental da análise — associação livre —, praticamente a inutiliza ao revesti-la de superconsciencidade e dúvidas. Essa inegável especificidade clínica, em geral, não recebe a devida atenção uma vez que tanto a neurose obsessiva quanto a histeria pertencem ao campo estrutural das neuroses de transferência, constituindo-se assim pelo mecanismo do recalque. Para avançar esse ponto, concentramo-nos na distinção metapsicológica entre o mecanismo do recalque e o plano geral das defesas.

Considerando tais distinções bem como o contraste entre o predomínio do eu na neurose obsessiva e a onipresença do desejo na histeria, via o retorno do recalcado, esse trabalho põe em destaque a presença de outras modalidades defensivas na neurose obsessiva, irredutíveis ao recalque, dentre as quais a regressão que se revela como a mais significativa dada sua vinculação com a desfusão pulsional.

Título: Humor e sublimação na psicanálise

Autor: Daniel Kuperman

Orientador: Joel Birman

Data da defesa: 27/2/2002

Por que Freud redige “O humor” destinando- o ao X Congresso Psicanalítico Internacional, em 1927, mais de vinte anos após publicar Os chistes e sua relação com o inconsciente, justo quando suas reflexões conduziam ao sombrio quadro de O mal-estar na civilização? As elaborações seguintes derivam das tentativas de compreensão desse enigma, desdobrado em três novas questões, cada uma intitulando uma das partes componentes da tese. Na parte I, “Em que crê o humorista?”, mapeamos os problemas postos pelo humor à psicanálise, destacando o papel nele atribuído à regressão ao infantil e seu caráter supostamente ilusório. A seguir, dedicamo-nos à demonstração da hipótese que norteou a pesquisa: as indicações freudianas acerca da metapsicologia do humor são paradigmáticas para o entendimento do processo de criação sublimatória. Na Parte II, “Por que contar piadas?”, exploramos o fato de que tanto os chistes como o humor são processos eminentemente culturais, indicando de que modo podem provocar a reflexão acerca de uma modalidade de sociabilidade que não exija a abolição da singularidade do sujeito, e inspirar uma política da psicanálise baseada na promoção do entusiasmo (Kant) que habita as subjetividades modernas. Na parte III, “Por que rir nas análises?”, empreendemos, a partir das contribuições de Sándor Ferenczi à dimensão estética da clínica, um questionamento do sentido da técnica psicanalítica. Enfatizamos o contraponto feito pelo humor à experiência do Unheimliche em Freud, indicando sua filiação ao realismo grotesco manifesto nas festividades populares (Bakhtin), e justificando seu necessário resgate na clínica psicanalítica.

Título: O discurso do analista e o campo da pulsão: da falta do gozo ao gozo com a falta

Autora: Maria Cristina C. Antunes

Orientadora: Tânia Coelhos dos Santos

Data da defesa: 28/2/2002

A pesquisa aborda o discurso analítico, sua incidência sobre o sujeito moderno e sua relação com o discurso da ciência. Trabalha a posição subjetiva moderna, sustentada pela divisão entre saber e verdade. Discute a noção de discurso, de Lacan, propondo uma aproximação com o conceito de dispositivo de Foucault. Analisa a relação entre o dispositivo de sexualidade e o discurso do analista, considerando-o como um dispositivo na cultura que acolhe os efeitos de gozo, produzidos nos falantes, pela expansão do dispositivo de sexualidade. Trabalha a especificidade do discurso do analista a partir do campo da pulsão, propondo que este discurso evidencia-se como a resposta lacaniana ao impasse deixado por Freud quanto ao problema do excesso pulsional, do gozo, no encontro analítico. Analisa a função do analista, que sustenta a operatividade deste discurso, em relação ao objeto a, definido como objeto vazio, diferença.

Título: Narcisismo: do ressentimento à certeza de si

Autor: Alexandre Abranches Jordão

Orientadora: Maria Teresa Pinheiro

Data da defesa: 15/3/2002

A formulação do conceito de narcisismo por Freud em 1914 abre novas perspectivas metapsicológicas na psicanálise que enfatizam a abordagem dinâmica do psíquico bem como o papel dos adultos, pais ou pessoas que se ocupem da criança, no processo de criação de uma subjetividade no recém-nascido. Considerando-se os elementos presentes no narcisismo, que participam da invenção narcísica do sujeito, o papel central da onipotência é realçado nas suas várias manifestações possíveis. A partir dessas considerações, propõe-se o conceito de narcisismo defensivo referindo- se àquela organização psíquica que gira em torno da confirmação da sua onipotência e da produção de ganhos narcísicos. Em contraponto, encontramos o narcisismo suficientemente bom, que representa a abolição do reinado absoluto do defensivo e a abertura de novas possibilidades subjetivas para o indivíduo, constituindo- se assim num dos objetivos da prática psicanalítica torná-lo possível. Nesse sentido, considera-se e desenvolve-se a proposta ferencziana do perdão como final de análise.

Título: A ideologia individualista e a clínica contemporânea — individualismo: ideologia impossível ou ‘existe um’

Autora: Rosaura Oldani Felix

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: 11/10/2002

Partindo das diferenças nas apresentações clínicas na atualidade em comparação às que ocorriam nos primórdios da psicanálise, a autora fundamenta seu trabalho sobre o pano de fundo do desenvolvimento da ideologia individualista, mostrando como o sintoma é, em última instância, aquilo que é produzido como resposta ao mal-estar que surge a partir das configurações culturais existentes. A experiência clínica da psicanálise inspira a autora a pesquisar esta nova modalidade de sintomatologia denominada de clínica contemporânea ou clínica das compulsões. Toma por guia a ideologia individualista característica da cultura ocidental, buscando em sua origem no surgimento do cristianismo, as bases para a representação de si característica de nossa cultura: a noção de indivíduo. É no ensino de Jacques Lacan que encontra o recurso para compreender os fenômenos clínicos contemporâneos, e as bases para a utilização da descoberta freudiana para a produção de subjetivação com menor custo psíquico ao sujeito. Percorrendo no ensinamento de Lacan a construção da noção de Nome-do-pai, a autora encontra o móbil através do qual é possível articular as demandas culturais com as respostas subjetivas. Na última proposta de Lacan sobre esta noção fundamental encontra uma resposta possível para a clínica das compulsões, tantas vezes excluídas do campo de ação da psicanálise.

Demonstra como os limites da teoria desenvolvida por Freud encontra-se na tradução do mito cristão através do complexo de Édipo, e como Lacan desenvolve um trabalho de ampliação e esclarecimento do funcionamento inconsciente para além deste mito. É na tomada do modelo da matemática que permite a Lacan encontrar a lógica da relação sexual como impossível, e abandonar a lógica edípica do pai, como explicativa do funcionamento inconsciente. A autora conclui que a possibilidade de compreensão da clínica atual exige do psicanalista o abandono de toda referência cristã, e de um profundo conhecimento das características da cultura ocidental. A sociedade atual é fruto da consecução dos ideais da fé cristã e da modernidade, a igualdade e liberdade, com isto há ruptura da hierarquia social, produz-se uma equalização que leva o sujeito a deriva pulsional. É por esta razão que há toda uma vertente que apregoa o fim da psicanálise, ou a patologização de nossa cultura. A tese se propõe a mostrar como a ausência de encarnação social da instância ideal não invalida a lógica da exceção freudiana, nem a eficácia da psicanálise.

Título: Entre o desejo e o bem

Autora: Nina Reis Saroldi

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de Defesa: 8/11/2002

A pergunta a que esta tese visa a responder é se, e de que modo, a psicanálise, por meio de sua ética, reforça ou não o niilismo contemporâneo, que caracterizamos como aquele no qual a dimensão da dignidade foi perdida. O pano de fundo da pesquisa é o seminário da ética de Jacques Lacan e o escrito que o acompanha e completa, Kant com Sade. Para caracterizar o niilismo tomamos como referência teórica o que Nietszche apresentou no século XIX a respeito do tema e sua previsão, que consideramos confirmada, de que a doutrina ‘em vão’ duraria ainda muito mais, atravessando o século XX. Para tratar da questão da dignidade lançamos mão dos escritos de Kant sobre a moralidade. O ponto nodal de nossa tese é a afirmação de que a ética do desejo faz face ao niilismo contemporâneo na medida que se opõe, ou pelo menos se coloca de maneira independente, ao “serviço dos bens”, expressão criada por Lacan para distinguir a dimensão de trocas, materiais ou sociais, da dimensão do desejo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Jun 2006
  • Data do Fascículo
    Jun 2003
Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Instituto de Psicologia UFRJ, Campus Praia Vermelha, Av. Pasteur, 250 - Pavilhão Nilton Campos - Urca, 22290-240 Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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