Resumos
Este experimento foi conduzido, por um período de 100 dias, com o objetivo de estudar diferentes fontes e níveis de proteína bruta em dietas para juvenis de pacu. Foram utilizados 252 juvenis de pacu, distribuídos em 36 caixas de cimento amianto com volume de 150 litros, sendo estocados sete peixes em cada unidade. Durante o período experimental, a temperatura média da água permaneceu em 28ºC e os demais parâmetros limnológicos (oxigênio dissolvido, pH, alcalinidade e condutividade) apresentaram-se dentro dos níveis adequados para o desenvolvimento desta espécie. O delineamento experimental foi de blocos casualizados, no qual foram avaliados nove tratamentos em esquema fatorial 3 x 3, sendo três níveis de substituição da fonte protéica de origem animal (farinha de peixe), pela fonte de origem vegetal (farelo de soja), aos níveis de 0, 50 e 100% e três níveis de proteína bruta (18, 22 e 26%). Os resultados obtidos indicaram que o nível de 22% de proteína bruta foi mais adequado e a farinha de peixe pode ser substituída parcial ou totalmente pelo farelo de soja. A substituição da farinha de peixe por farelo de soja proporcionou os melhores coeficientes de digestibilidade, sem afetar ganho de peso, conversão alimentar, taxa de crescimento específico e taxa de eficiência protéica dos juvenis. Esta substituição também não afetou a composição corporal dos peixes, como a eficiência de retenção de nitrogênio, nitrogênio corporal, gordura corporal e nitrogênio e gordura no ganho de peso.
digestibilidade; fontes de proteína; pacu; peixes; níveis de proteína
The experiment was carried out, during 100 days, to study different crude protein sources and levels of diets for pacu fingerlings. Two hundred and fifty two pacu fingerlings were assigned to 36 aquariums, containing seven fishes, with 150 liters of water. During the experimental period, the average temperature of the water was 28ºC and other limnology parameters (dissolved oxygen, pH, alkalinity and conductivity) remainded within the levels adopted for the good development of this specie. The experimental design consisted of randomized blocks, with nine treatments in a 3 x 3 factorial arrangement with three sources of animal protein (fish meal) replaced by vegetable protein (soybean meal) at the level of 0, 50 and 100% and three protein levels (18, 22 and 26%). The results showed that 22% of crude protein was better and the fish meal can be partially or totally replaced for soybean meal showing the best digestibility coeficients without affecting fishes performance concerning weight gain, feed:gain ratio conversion, specific growth rate and protein efficiency rate. The protein source replacement did not affect the body composition, nitrogen retention efficiency, body nitrogen, body fat and nitrogen and fat in the weight gain.
fish; pacu; protein levels; protein sources; digestibility
Fontes e Níveis de Proteína Bruta em Dietas para Juvenis de Pacu (Piaractus mesopotamicus)1
João Batista Kochenborger Fernandes2, Dalton José Carneiro3, Nilva Kazue Sakomura4
RESUMO - Este experimento foi conduzido, por um período de 100 dias, com o objetivo de estudar diferentes fontes e níveis de proteína bruta em dietas para juvenis de pacu. Foram utilizados 252 juvenis de pacu, distribuídos em 36 caixas de cimento amianto com volume de 150 litros, sendo estocados sete peixes em cada unidade. Durante o período experimental, a temperatura média da água permaneceu em 28oC e os demais parâmetros limnológicos (oxigênio dissolvido, pH, alcalinidade e condutividade) apresentaram-se dentro dos níveis adequados para o desenvolvimento desta espécie. O delineamento experimental foi de blocos casualizados, no qual foram avaliados nove tratamentos em esquema fatorial 3 x 3, sendo três níveis de substituição da fonte protéica de origem animal (farinha de peixe), pela fonte de origem vegetal (farelo de soja), aos níveis de 0, 50 e 100% e três níveis de proteína bruta (18, 22 e 26%). Os resultados obtidos indicaram que o nível de 22% de proteína bruta foi mais adequado e a farinha de peixe pode ser substituída parcial ou totalmente pelo farelo de soja. A substituição da farinha de peixe por farelo de soja proporcionou os melhores coeficientes de digestibilidade, sem afetar ganho de peso, conversão alimentar, taxa de crescimento específico e taxa de eficiência protéica dos juvenis. Esta substituição também não afetou a composição corporal dos peixes, como a eficiência de retenção de nitrogênio, nitrogênio corporal, gordura corporal e nitrogênio e gordura no ganho de peso.
Palavras-chave: digestibilidade, fontes de proteína, pacu, peixes, níveis de proteína
Sources and Levels of Crude Protein in Diets for Pacu (Piaractus mesopotamicus) Fingerlings
ABSTRACTS - The experiment was carried out, during 100 days, to study different crude protein sources and levels of diets for pacu fingerlings. Two hundred and fifty two pacu fingerlings were assigned to 36 aquariums, containing seven fishes, with 150 liters of water. During the experimental period, the average temperature of the water was 28oC and other limnology parameters (dissolved oxygen, pH, alkalinity and conductivity) remainded within the levels adopted for the good development of this specie. The experimental design consisted of randomized blocks, with nine treatments in a 3 x 3 factorial arrangement with three sources of animal protein (fish meal) replaced by vegetable protein (soybean meal) at the level of 0, 50 and 100% and three protein levels (18, 22 and 26%). The results showed that 22% of crude protein was better and the fish meal can be partially or totally replaced for soybean meal showing the best digestibility coeficients without affecting fishes performance concerning weight gain, feed:gain ratio conversion, specific growth rate and protein efficiency rate. The protein source replacement did not affect the body composition, nitrogen retention efficiency, body nitrogen, body fat and nitrogen and fat in the weight gain.
Key Words: fish, pacu, protein levels, protein sources, digestibility
Introdução
Na natureza, o pacu tem uma dieta muito diversificada, variando em função da sazonalidade e, conseqüentemente, da disponibilidade de alimento. SILVA (1985) relatou que o tipo de alimento observado no estômago do pacu é constituído principalmente de folhas, resíduos vegetais, assim como de restos e esqueletos de peixes, podendo ser caracterizado como um peixe onívoro.
A farinha de peixe, devido a seu elevado valor nutritivo e palatatibilidade, tem sido tradicionalmente utilizada nas rações comerciais para peixes. Contudo, devido ao alto custo das fontes protéicas, associado à poluição ambiental em função do uso excessivo das fontes nitrogenadas nas dietas, há a necessidade de reavaliação tanto das fontes como dos níveis de proteína a serem utilizadas em formulações comerciais (SILVA e ANDERSON, 1995). Assim, o farelo de soja pode ser um sucedâneo para a farinha de peixe, uma vez que apresenta o perfil de aminoácidos mais favorável e palatabilidade para a maioria dos peixes. Além disso, está disponível na maioria dos mercados mundiais a um custo inferior ao da farinha de peixe. Dessa forma, são necessários mais estudos sobre as exigências e fontes protéicas na alimentação do pacu, visando otimizar o seu desempenho. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a substituição da farinha de peixe por farelo de soja, a digestibilidade e os níveis de proteina em dietas para juvenis desta espécie.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos, do Centro de Aqüicultura da UNESP, Campus de Jaboticabal-SP, por um período de 100 dias. Foram utilizados 252 alevinos de pacu, distribuídos em 36 caixas de cimento amianto, com capacidade volumétrica de 150 litros, na proporção de 7 peixes/caixa. Foi realizado o monitoramento da qualidade da água dos aquários experimentais por intermédio de análises físicas e químicas, com leituras de temperatura diárias e, semanalmente, foram determinados o potencial hidrogeniônico (pH), a alcalinidade total (mg de CaCO3/L), a condutividade elétrica (mSiemens/cm) e o oxigênio dissolvido (mg O2/L), de acordo com o recomendado por POMEROY e KIRSCHIMAN (1945) e GOLTERMAN et al (1978).
O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com quatro blocos, para controlar as diferenças dos pesos iniciais que estavam entre 79,99 e 144,31 gramas. Cada repetição foi constituída por sete peixes. Foram testados nove tratamentos em esquema fatorial 3 x 3, sendo três níveis de proteína bruta (18, 22 e 26%) e três níveis de substituição da farinha de peixe pelo farelo de soja (0, 50 e 100%). De acordo com as análises prévias da composição química dos ingredientes (Tabela 1), foram formuladas nove dietas isocalóricas (4200 kcal EB/kg) com três níveis de proteína bruta e três níveis de substituição da farinha de peixe por farelo de soja, conforme composição das rações apresentadas na Tabela 2.
Para avaliar a eficiência das dietas experimentais, foram determinados alguns parâmetros de desempenho dos peixes, como o consumo, o ganho de peso, a taxa de crescimento específico, conversão alimentar e taxa de eficiência protéica. Também foram realizadas avaliações na composição corporal dos peixes (água, nitrogênio e gordura), assim como a taxa de eficiência de retenção de nitrogênio, porcentagem de nitrogênio e gordura no ganho de peso. Foi determinada a digestibilidade da fração protéica das rações experimentais, por interméido da metodologia descrita por FURUKAWA e TSUKAHARA (1966).
As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o programa ESTAT, desenvolvido na FCAV/UNESP-Jaboticabal, segundo o modelo matemático:
em que variável estudada referente ao bloco i, fonte j, nível k e interação F x P; Bi = efeito do blocoi = 1, 2, 3, 4; Fj = efeito da fonte de proteína, j = 1, 2, 3; Pk = efeito do nível de proteína, k= 1, 2, 3; F.Pjk = efeito do nível da interação da fonte j e nível k; Eijk = erro aleatório associado à observação do i-ésimo bloco, j-ésimo fonte de proteína e k-ésimo nível de proteína, i=1-4, j=1-3 e k=1-3.
As médias das variáveis estudadas foram comparadas pelo teste de Tukey (5%).
Resultados e Discussão
Parâmetros limnológicos da água dos aquários experimentais
O teor médio de oxigênio dissolvido, durante o período experimental, foi de 3,91 mg/L. Segundo BOYD (1982), os valores obtidos atendem perfeitamente as exigências dos peixes. Da mesma forma, o potencial hidrogeniônico (pH) manteve-se dentro dos padrões recomendados pelo mesmo autor e por CASTAGNOLLI e CYRINO (1986), ou seja, valores entre 6,90 e 7,56. Os níveis de alcalinidade total e condutividade elétrica da água ficaram entre 91,33 e 94,66 mg de CaCO3/L e entre 180,00 e 192,22 mS/cm, respectivamente. Os valores de alcalinidade apresentaram-se dentro dos limites preconizados por TAVARES (1995). Contudo, os resultados da condutividade elétrica foram elevados, provavelmente em função da alta presença de íons de cálcio na água de abastecimento dos aquários experimentais. A temperatura da água dos aquários experimentais apresentou-se adequada para os peixes tropicais, ficando as médias entre 27,20 e 28,44oC. Estes valores foram semelhantes aos obtidos por TORLONI et al. (1984) e CARNEIRO (1990), que observaram os melhores parâmetros de desempenho para alevinos de pacu com temperaturas entre 26,7 e 28,8oC e 28 e 32oC, respectivamente.
Desempenho produtivo dos juvenis
Os resultados de desempenho de juvenis de pacu são apresentados na Tabela 3. Observa-se que as fontes e os níveis de proteína avaliados não interferiram no consumo de ração (P>0,05). Isto pode ser explicado pelo fato de que as rações eram isoenergéticas, uma vez que o nível energético da dieta pode limitar o consumo dos peixes (CARNEIRO, 1990). VIDAL JR. (1995), avaliando as exigências protêicas de tambaqui (Colossoma macropomum), também não detectou diferenças no consumo de ração com o aumento do nível proteína na dieta desta espécie.
Apesar de não ocorrerem diferenças estatísticas entre as fontes protéicas testadas, os peixes que receberam a farinha de peixe (FP) como principal fonte protéica, apresentaram ganho de peso numericamente inferior (38,97 g) em relação àqueles que receberam farelo de soja (43,75 g), enquanto a mistura farinha de peixe mais farelo de soja (FP+FS) possibilitou tendência de melhores resultados (51,75 g). Isto pode ser explicado pelo fato de a ração FP+FS apresentar melhor perfil de aminoácidos essenciais e também pela melhora dos níveis de cálcio e fósforo permitindo, desta forma, melhor atendimento das exigências nutricionais e, conseqüentemente, maior ganho de peso dos peixes. Resultados semelhantes foram obtidos por VIOLA et al. (1982), que, substituindo a farinha de peixe por farelo de soja até o nível de 45%, não encontraram prejuízos no desempenho de carpas (Cyprinus carpio). Posteriormente, VIOLA et al. (1988) conseguiram resultados semelhantes com tilápias híbridas (Oreochromis nilotius x O. aureus). GOMES et al. (1995) obtiveram os melhores resultados de ganho de peso com trutas, substituindo em até 66% a farinha de peixe das dietas pelo farelo de soja. Em relação aos níveis protéicos avaliados, não foi observada diferença estatística entre os ganhos de peso. Todavia, houve tendência de o nível de 22% PB apresentar os melhores ganhos, corroborando os resultados obtidos por ROUBACH e SAINT-PAUL (1994), que, ao testarem o uso de frutas e sementes na dieta de tambaqui, verificaram que os melhores resultados foram obtidos com as dietas que apresentaram 21,3% PB. A redução do ganho de peso verificada com o aumento do nível protéico da dieta pode estar relacionada à baixa quantidade de energia não protéica ou então à redução de energia disponível para o crescimento, devido ao maior requerimento energético para deaminação e excreção do excesso de aminoácidos presentes nas dietas com altos níveis protéicos.
Apesar de não apresentar diferenças significativas, a ração com FP+FS também tendeu a apresentar os melhores resultados para a taxa de crescimento específico (TCE). Da mesma forma, EYO e NGUGU (1990) obtiveram os melhores resultados da TCE, quando a farinha de peixe foi substituída em até 50% pelo farelo de soja, em pesquisas com Clarias anguilares. Segundo estes autores, isto ocorre em função de as rações apresentarem adequado perfil de aminoácidos e melhor palatabilidade nas dietas que apresentam a farinha de peixe em sua composição. Também não houve diferenças significativas entre os níveis protéicos testados sobre a TCE. Apesar de o perfil de aminoácidos das dietas estar muito semelhante aos recomendados para peixes tropicais onívoros (NRC, 1983), em todos os níveis protéicos avaliados o índice mais baixo apresentou os piores resultados, sendo que o melhor resultado numérico foi o de 22% PB.
Ao analisar a Tabela 3, verifica-se que, mesmo não apresentando diferenças significativas entre as fontes protéicas avaliadas para peso dos peixes, observa-se nítida tendência de que os melhores resultados foram para as dietas contendo farelo de soja na sua composição. As dietas compostas pelo farelo de soja apresentaram maiores teor de fibras e concentração de carboidratos. O pacu, por ser onívoro, apresenta grande capacidade no aproveitamento destes nutrientes, refletindo, desta forma, no seu desempenho.
Os níveis de proteína testados não proporcionaram diferenças significativas (P>0,05) nos pesos dos peixes. Entretanto, o nível de 18% PB proporcionou pesos numericamente inferiores. Para os níveis de 22 e 26% PB, os pesos obtidos foram muito semelhantes. Estes resultados sugerem que o nível de 18% PB não foi suficiente para atender as exigências do pacu nesta fase e o nível de 22% PB foi adequado para a espécie. MACEDO et al. (1981) também constataram que os melhores resultados para o tambaqui foram obtidos com o nível de 22%PB, em dietas isocalóricas (3600 kcal/kg). Entretanto, CARNEIRO (1983) concluiu que os pacus alimentados com uma dieta contendo 3200 kcal/kg de energia metabolizável e 26% PB tiveram os melhores resultados de crescimento.
Estes resultados corroboram os obtidos no presente experimento para ganho de peso e taxa de crescimento específico que o nível de 22% de proteína bruta foi suficiente para atender as exigências do pacu nesta fase.
Conforme os resultados apresentados na Tabela 3, pode-se constatar que as fontes e níveis de proteína estudados não afetaram estatisticamente a conversão alimentar (P>0,05). Isto pode ser atribuído à grande variação entre as repetições, indicada pelos elevados coeficientes de variação. Convém salientar que a mistura FP+FS proporcionou melhor conversão alimentar, confirmando os resultados obtidos para o ganho de peso. SHIAU et al. (1989), trabalhando com machos de tilápia, observaram valores de conversão alimentar menores para uma substituição de até 67% da proteína da farinha de peixe por farelo de soja em dietas com 24% PB.
Quanto aos níveis protéicos estudados, observa-se que os níveis mais elevados proporcionaram conversões alimentares numericamente inferiores, indicando que, nos níveis de 22 e 26%PB, o aproveitamento das rações foi mais eficiente. CARNEIRO et al. (1995) obtiveram os melhores resultados de conversão alimentar nas dietas com 22% PB, para os juvenis de pacu. Também BERGER e HALVER (1986), DEGANI et al. (1989) e EL-SAYED e TESHIMA (1992) constataram pioras na conversão alimentar, à medida que se elevou o nível protéico nas rações dos peixes.
Composição corporal e eficiência de utilização da proteína bruta pelos peixes
As fontes de proteína avaliadas não proporcionaram diferenças significativas na taxa de eficiência protéica (TEP) nesta investigação (Tabela 4). WEBSTER et al. (1992) também não constataram diferenças para as taxas de eficiência protéica, quando testaram os níveis de 48, 55, 62 e 69% de substituição da farinha de peixe pelo farelo de soja em dietas para o catfish. Apesar de apresentar TEP mais baixa em relação aos alevinos, os juvenis de pacu mostram-se também aptos em aproveitar a fração protéica dos alimentos, visto que na natureza esta espécie é muito oportunista, alimentando-se dos mais variados alimentos, como folhas, frutos, sementes, insetos, crustáceos e até mesmo pequenos peixes (PAULA et al., 1986).
Os níveis de proteína testados também não afetaram significativamente a TEP, porém, houve tendência de o nível de 22% PB apresentar os melhores resultados da TEP, indicando que os peixes aproveitaram melhor a proteína da dieta, quando adicionadas neste nível. BRENNER (1988) e VIDAL JR. (1995), da mesma forma, verificaram que os peixes apresentaram valores mais elevados da TEP, quando receberam dietas com menor conteúdo de proteína bruta. Papaparaskeva-Papoutsoglou e Alexis (1986), citados por BRENNER (1988), observaram que a TEP melhorou com o aumento do nível de amido da dieta, indicando que a proteína foi poupada, para o crescimento, mediante utilização dos carboidratos como energia, o que pode ter ocorrido neste estudo.
As fontes de proteína estudadas não ocasionaram interferências significativas na composição de água, proteína e gordura corporal (P>0,05). Da mesma forma, SMITH et al. (1988), avaliando a composição de carcaça e sabor da truta arco-íris, alimentadas com dietas contendo fontes de proteína animal e vegetal, não observaram diferenças na composição de água corporal dos peixes (em média 69%). Os valores obtidos no presente estudo foram semelhantes aos determinados por estes autores.
Outros pesquisadores também não encontraram diferenças significativas na proteína corporal, quando estudaram a substituição parcial ou total da farinha de peixe pelo farelo de soja (VIOLA et al., 1982; BALOGUN e OLOGHOBO, 1989 e DAVIES et al., 1989).
Com relação aos níveis de proteína bruta testados, os valores de água corporal obtidos neste trabalho, foram um pouco inferiores aos observados por DEGANI et al. (1989), que, analisando o efeito de diferentes níveis de proteína para o bagre africano (Clarias gariepinus), encontraram valores de 72,79 a 74,57%. Da mesma forma, como ocorrido nesta investigação, estes autores não detectaram diferenças significativas entre os níveis estudados.
Por outro lado, os níveis de proteína testados na dieta proporcionaram diferenças significativas sobre a proteína corporal. Os aumentos dos níveis protéicos da dieta proporcionaram elevação dos teores de proteína corporal. Resultados semelhantes foram obtidos por VAN DER MEER et al. (1996), que, estudando o efeito dos níveis de proteína da dieta sobre o crescimento do tambaqui, observaram que, à medida que o nível de PB na dieta se elevou, houve aumento da proteína bruta corporal. Também ocorreu tendência de decréscimo de gordura corporal, com o aumento da PB da dieta, provavelmente em função da utilização da gordura da dieta como fonte energética, provocando ação economizadora das proteínas para esta finalidade, habilidade que o pacu tem capacidade de realizar com sucesso. HERNANDES et al. (1995), ao investigarem os efeitos das fontes de energia sobre a utilização de proteína, pelo tambaqui, observaram diminuição da gordura corporal, à medida que o nível de proteína dietária aumentou. Segundo HAELVER (1976), não são todas as espécies de peixes que conseguem metabolizar eficientemente as várias fontes lipídicas, por não possuírem capacidade específica de transformar ácidos graxos de cadeia curta em ácidos graxos de cadeia longa presente nos tecidos dos peixes. Estes resultados indicam que a proteína da dieta foi utilizada para a deposição de proteína corporal, e não como fonte energética para deposição de gordura corporal.
Com relação à eficiência de retenção de nitrogênio (ERN), à porcentagem de nitrogênio no ganho de peso (NGP) e à porcentagem de gordura no ganho de peso (GGP) dos juvenis de pacu, ao final do experimento, verificou-se que as fontes de proteína testadas não proporcionaram diferenças significativas (P>0,05). No entanto, observa-se tendência de FP+FS apresentarem os maiores índices de ERN. Estes resultados reforçam os obtidos para o desempenho, mostrando que os peixes tiveram melhor aproveitamento da proteína das dietas formuladas com farelo de soja e a mistura FS+FP, podendo estar relacionado com o melhor balanceamento de aminoácidos nestas rações, uma vez que houve excesso destes ingredientes na ração formulada apenas com a farinha de peixe. Em estudo sobre a substituição total da FP pelo FS suplementado com metionina, KUBITZA (1990) observou que os valores mais elevados de ERN (P<0,05) foram obtidos na dieta controle, composta por FP+FS, diferindo das demais dietas compostas por FS, suplementadas ou não com metionina. Os níveis de PB da dieta não afetaram (P>0,05) a ERN, embora, aparentemente, as rações contendo 22% de PB proporcionaram os melhores índices. Segundo HERNANDEZ et al. (1995), a ERN tende a apresentar melhores resultados nas dietas com menor nível de PB. VIDAL JR. (1995) relatou que o decréscimo da ERN, com o aumento do nível protéico das dietas, pode estar associado à falta de energia de fonte não-protéica (baixa relação EM:PB), nos níveis mais elevados de proteína bruta, nas dietas teste.
Também não ocorreram diferenças significativas entre fontes e níveis de proteína para a porcentagem de nitrogênio no ganho de peso (NGP) e porcentagem de gordura no ganho de peso (GGP). No entanto, nota-se que a ração formulada com o FS apresentou taxa de NGP numericamente maior. Isto ocorreu, provavelmente, em função desta dieta proporcionar melhor balanceamento dos aminoácidos. Os níveis de proteína avaliados também não apresentaram efeitos estatísticos sobre a porcentagem de nitrogênio no ganho de peso. Entretanto, observa-se que, à medida que o nível protéico da dieta foi elevado, houve aumento no NGP. Os mesmos efeitos foram verificados para a composição da proteína corporal.
Ao contrário, observa-se tendência de redução nos níveis de GGP, à medida que o nível protéico da dieta é aumentado. CARNEIRO (1990), estudando níveis de proteína e energia sob diferentes temperaturas, para o pacu, observou também redução no GGP com aumento da proteína dietária.
Digestibilidade aparente da proteína bruta das rações
As análises (Tabela 5) revelam que os dois fatores estudados, assim como a sua interação, apresentaram efeitos estatisticamente significativos (P<0,01). Analisando a Tabela 6, constata-se que a interação das fontes e níveis protéicos mostrou que houve comportamento diferente dos níveis protéicos, dentro de cada fonte testada. As dietas contendo farinha de peixe como principal fonte protéica não tiveram os coeficientes de digestibilidade acrescidos com a elevação do nível protéico (P>0,05). Também não houve alterações nos coeficientes de digestibilidade,entre as fontes protéicas para o nível mais baixo de proteína. Por outro lado, nas rações contendo 22 e 26% PB, foi evidenciada melhoria gradativa na qualidade de sua fração protéica, mostrando maiores coeficientes (P<0,05), com a substituição parcial ou total da proteína originada da farinha de peixe pela de farelo de soja. As rações contendo apenas a FP tiveram os menores coeficientes de digestibilidade da proteína, provavelmente, em função da qualidade desse alimento comercializado no país, uma vez que sua composição é variável, devido à utilização de resíduos de peixe e a contaminações com materiais de baixa digestibilidade, como exemplo, de escamas. Estes resultados estão de acordo com os obtidos por INABA et al. (1963), que observaram, em ensaios com truta arco-íris, maiores valores para digestibilidade da proteína em dietas com maior conteúdo protéico. Resultados semelhantes com trutas foram confirmados posteriormente por NOSE (1966). Mais recentemente, CARNEIRO e CASTAGNOLLI (1984) também observaram a mesma relação com juvenis de pacu.
Os coeficientes de digestibilidade obtidos neste estudo foram relativamente baixos, comparados a outros. Isto se deve ao método de coleta de fezes empregado, em que os animais foram sacrificados e o intestino, retirado, sendo que no ato de coleta do material as excretas não tiveram contato com a água, não ocasionando perda de nutriente por lixiviação.
Conclusões
A farinha de peixe, tradicionalmente utilizada nas dietas de peixes, pode ser substituída parcial ou totalmente pelo farelo de soja, sem afetar o desempenho e prejudicar a composição corporal dos juvenis de pacu.
O nível de 22% de proteína bruta na dieta foi suficiente para atender as exigências e proporcionar bom desempenho, sem comprometer a composição corporal dos peixes.
Recebido em: 17/04/00
Aceito em: 02/12/00
2 Zootecnista, técnico especializado em piscicultura do Centro de Aqüicultura da UNESP, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, km 5, 14870-000, Jaboticabal, SP. E.mail: jbatista@caunesp.unesp.br
3 Zootecnista, professor do Centro de Aqüicultura da UNESP. E.mail: daltonjc@caunesp.unesp.br
4 Zootecnista, professora do Departamento de Zootecnia da FCAV-UNESP, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, km 5, 14870-000, Jaboticabal, SP. E.mail: sakomura@fcav.unesp.br
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
09 Out 2001 -
Data do Fascículo
Jun 2001
Histórico
-
Aceito
02 Dez 2000 -
Recebido
17 Abr 2000