Open-access Farinha de Varredura de Mandioca (Manihot esculenta) na Alimentação de Alevinos de Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus L.)

Cassava by-Product Meal (Manihot esculenta) on Feeding of Nile Tilapia (Oreochromis niloticus L.) Fingerlings

Resumos

Objetivando avaliar a utilização de diferentes níveis de inclusão de farinha de varredura de mandioca (0,00; 6,00; 12,00; 18,00 e 24,00%) em rações com 30,00% de proteína digestível e 3000 kcal/kg de energia digestível para alevinos de tilápia do Nilo, foi realizado um experimento no Laboratório de Aqüicultura/DBI/UEM, utilizando-se 200 alevinos revertidos de tilápia do Nilo da linhagem tailandesa, com peso médio de 0,84g e 35 dias de idade, distribuídos em 25 tanques de 250L, num delineamento inteiramente casualisado com cinco tratamentos e cinco repetições. Foram avaliadas as médias de ganho de peso (GP), conversão alimentar aparente (CAa), sobrevivência (S), índice hepato-somático (IHS), rendimento de carcaça (RC) e porcentagem de gordura na carcaça (GC). O GP, CAa, S, IHS e RC não apresentaram diferenças entre os tratamentos. O GC apresentou redução linear com o aumento nos níveis de inclusão de farinha de varredura de mandioca (Y= 12,22 - 0,08657X; r² = 0,77). Concluiu-se que a farinha de varredura de mandioca pode ser utilizada na alimentação de alevinos de tilápia do Nilo até o nível de 24% de inclusão, substituindo toda a energia do milho, sem causar prejuízos no desempenho dos animais.

desempenho; farinha de varredura de mandioca; Manihot esculenta; Oreochromis niloticus; tilápia do Nilo


Aiming to evaluate different inclusion levels of cassava meal (0.00, 6.00, 12.00, 18.00 and 24.00%) in diets with 30.00% of digestible protein and 3,000 kcal/kg of digestible energy to Nile tilapia fingerlings, an experiment was carried out at the Aquaculture Laboratory /DBI/UEM. Two hundred reverted Thai strain Nile tilapia fingerlings were utilized, with an initial weight of 0.84 g and 35 days old, distributed in 25 250L tanks, in a completely randomized design with five treatments and five replications. Averages of weight gain (GP), apparent feed conversion (CAa), survival (S), hepatic-somatic rate (IHS), carcass yield (RC) and fat carcass percentage (GC) were evaluated. The GP, CAa, S, IHS and RC did not shew differences among treatments. GC linear decrease with an increase inclusion levels cassava meal diets (Y= 12.22 -- 0.08657X; r² = 0.77). It was concluded that cassava meal may be used in the Nile tilapia fingerlings feeding up to 24% inclusion level, whole replaced the energy of corn without decrease on performance.

cassava by-product meal; Manihot esculenta; Nile tilapia; Oreochromis niloticus; performance


Farinha de Varredura de Mandioca (Manihot esculenta) na Alimentação de Alevinos de Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus L.)

Wilson Rogério Boscolo1, Carmino Hayashi2, Fábio Meurer3

RESUMO - Objetivando avaliar a utilização de diferentes níveis de inclusão de farinha de varredura de mandioca (0,00; 6,00; 12,00; 18,00 e 24,00%) em rações com 30,00% de proteína digestível e 3000 kcal/kg de energia digestível para alevinos de tilápia do Nilo, foi realizado um experimento no Laboratório de Aqüicultura/DBI/UEM, utilizando-se 200 alevinos revertidos de tilápia do Nilo da linhagem tailandesa, com peso médio de 0,84g e 35 dias de idade, distribuídos em 25 tanques de 250L, num delineamento inteiramente casualisado com cinco tratamentos e cinco repetições. Foram avaliadas as médias de ganho de peso (GP), conversão alimentar aparente (CAa), sobrevivência (S), índice hepato-somático (IHS), rendimento de carcaça (RC) e porcentagem de gordura na carcaça (GC). O GP, CAa, S, IHS e RC não apresentaram diferenças entre os tratamentos. O GC apresentou redução linear com o aumento nos níveis de inclusão de farinha de varredura de mandioca (Y= 12,22 - 0,08657X; r2 = 0,77). Concluiu-se que a farinha de varredura de mandioca pode ser utilizada na alimentação de alevinos de tilápia do Nilo até o nível de 24% de inclusão, substituindo toda a energia do milho, sem causar prejuízos no desempenho dos animais.

Palavras-chave: desempenho, farinha de varredura de mandioca, Manihot esculenta, Oreochromis niloticus, tilápia do Nilo

Cassava by-Product Meal (Manihot esculenta) on Feeding of Nile Tilapia (Oreochromis niloticus L.) Fingerlings

ABSTRACT - Aiming to evaluate different inclusion levels of cassava meal (0.00, 6.00, 12.00, 18.00 and 24.00%) in diets with 30.00% of digestible protein and 3,000 kcal/kg of digestible energy to Nile tilapia fingerlings, an experiment was carried out at the Aquaculture Laboratory /DBI/UEM. Two hundred reverted Thai strain Nile tilapia fingerlings were utilized, with an initial weight of 0.84 g and 35 days old, distributed in 25 250L tanks, in a completely randomized design with five treatments and five replications. Averages of weight gain (GP), apparent feed conversion (CAa), survival (S), hepatic-somatic rate (IHS), carcass yield (RC) and fat carcass percentage (GC) were evaluated. The GP, CAa, S, IHS and RC did not shew differences among treatments. GC linear decrease with an increase inclusion levels cassava meal diets (Y= 12.22 ¾ 0.08657X; r2 = 0.77). It was concluded that cassava meal may be used in the Nile tilapia fingerlings feeding up to 24% inclusion level, whole replaced the energy of corn without decrease on performance.

Key Words: cassava by-product meal, Manihot esculenta, Nile tilapia, Oreochromis niloticus, performance

Introdução

A tilápia é a segunda espécie de maior importância na aqüicultura mundial (Alceste & Jory, 1998; Lovshin, 1998). A tilápia do Nilo é de baixo nível trófico (onívora) fato este que a coloca em vantagem em relação as espécies carnívoras que requerem grande quantidade de farinha de peixe nas rações (Fitzsimmons, 2000), com boa aceitação no mercado consumidor, destacando-se em cultivos, por apresentar crescimento rápido, rusticidade (Hayashi et al., 1999), carne de ótima qualidade, e por não apresentarem espinhos na forma de "Y" no seu filé (Hildsorf, 1995), sendo apropriada para a filetagem, tornando-a uma espécie de grande interesse para a piscicultura. No Brasil, outro segmento responsável por um grande incremento da produção de peixes é o sistema de "pesque-pague", que nos últimos anos ampliou em muito a sua demanda (Borghetti & Ostrensky, 1998). Estas características contribuem para o aumento verificado na produção mundial da espécie (Boscolo et al., 1999).

A mandioca (Manihot esculenta) é um alimento comum em países tropicais e semitropicais, sendo conhecida por vários nomes, como cassava, tapioca, manioc, manihot, entre outros (Viola et al., 1988). É uma planta nativa do Brasil, cultivada praticamente em todo o seu território (Gomes & Peña, 1997), tem um alto potencial para a alimentação animal, é uma fonte rica em energia, seus diferentes resíduos (casca de mandioca, farinha de varredura, entre outros) podem ser utilizados na alimentação animal (Martins et al., 2000). A farinha de mandioca é rica em amido, e este nutriente é utilizado eficientemente, em relação a outras espécies de peixe, pela tilápia do Nilo (Viola & Arieli, 1983; Anderson et al., 1984; Degani & Revach, 1991; Shiau, 1997), apresentando portanto um considerável valor energético (Viola et al., 1988). A farinha de varredura de mandioca é a farinha de mandioca destinada ao consumo humano que por algum motivo cai no chão da fábrica, sendo portanto um subproduto do processamento da mandioca pelas indústrias farinheiras e apresenta boa disponibilidade a baixo custo na região noroeste do Paraná.

A farinha de mandioca apresenta um efeito aglutinante, característica esta favorável a formulação de rações aqüícolas, diminuindo a dissolução desta na água e conseqüente perda de nutrientes, propiciando um melhor aproveitamento pelo animal (Seixas et al., 1997 ab).

Eusebio & Coloso (1998) avaliando a inclusão de 13% de farinha de mandioca em dietas para o camarão Penaeus indicus não observaram prejuízo no desempenho dos animais.

Viola et al. (1988), avaliando a utilização de mandioca na alimentação de tilápias híbridas (O. aureus X O. niloticus) na fase de terminação (250-400 g), recebendo ração contendo 30% de inclusão de mandioca em substituição ao sorgo, não observaram diferença no desempenho dos animais. Resultados semelhantes foram observados pelos mesmos autores com carpas alimentadas com níveis de 20 e 40% de inclusão.

Sahle et al. (1992) demonstraram que a farinha de mandioca pode ser incluída em até 45% em rações para gansos sem prejudicar o desempenho dos animais. Resultados semelhantes foram obtidos por Patterson et al. (1994), avaliando o desempenho de frangos de corte com 20% de inclusão de farinha de mandioca na ração.

O presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de diferentes níveis de inclusão da farinha de varredura de mandioca (Manihot esculenta), substituindo toda energia do milho, em rações para alevinos revertidos de tilápia do Nilo (O. niloticus).

Material e Métodos

O experimento foi realizado no Laboratório de Aqüicultura/DBI da Universidade Estadual de Maringá por um período de 42 dias, de abril a maio de 2000.

Foram utilizados 200 alevinos revertidos de tilápia do Nilo, da linhagem tailandesa, com peso médio de 0,84 g e 35 dias de idade, distribuídos em 25 tanques de 250 L, em um delineamento inteiramente casualisado com cinco tratamentos e cinco repetições, sendo a unidade experimental constituída por um tanque de 250 litros com oito peixes. Os tanques foram equipados com sistema de aeração constante por meio de um compressor de ar e aquecidos por aquecedores de 100W. O sistema de entrada e saída de água era individual, com renovação de 20% do volume total por dia.

As rações foram fornecidas quatro vezes ao dia às 9h, 11h30, 14h e 17h, na proporção de 10% do peso vivo. A quantidade de ração fornecida foi corrigida diariamente, isto é, aumentou-se 10% do peso da ração fornecida no dia anterior. Todos os peixes de cada unidade experimental foram pesados a cada 10 dias para aferir a quantidade de ração fornecida. Diariamente, no período da manhã os tanques foram sifonados para a retirada das fezes depositadas no fundo das caixas.

As rações experimentais foram formuladas com níveis de 0,00; 6,00; 12,00; 18,00 e 24,00% de inclusão de farinha de varredura de mandioca (Tabela 1), de acordo com as exigências para a espécie conforme NRC (1993) e com base nos valores digestíveis obtidos por Boscolo (2001), sendo as mesmas isocalóricas, isocálcicas, isofosfóricas e isoprotéicas e isoaminoacídicas para metionina mais cistina e lisina (Tabela 2).

Para a elaboração das dietas experimentais, os alimentos foram processados individualmente em um moinho tipo faca com peneira de 0,5 mm, após foram misturados e umedecidos com água a 50oC para serem peletizados e secos em estufa a 55oC por 12 horas. Para o fornecimento aos animais, as rações foram desintegradas e peneiradas de modo a apresentarem granulometrias que melhor se adaptem ao tamanho da boca dos animais.

Os parâmetros da água pH e oxigênio dissolvido (mg/L) foram medidos semanalmente, enquanto a temperatura (oC) foi tomada diariamente de manhã (8h) e à tarde (16h30).

Ao final do período experimental, foram efetuadas as medidas individuais de peso (g) e comprimento total (cm) dos peixes de cada unidade experimental. As variáveis avaliadas foram: ganho de peso diário (g), conversão alimentar aparente, sobrevivência, rendimento de carcaça e porcentagem de gordura.

Para análise de percentagem de gordura as carcaças (peixes sem cabeça e eviscerados) de cada unidade experimental foram secas em estufa de ventilação 55oC por 72 horas; posteriormente as carcaças foram moídas em moinho tipo bola e analisadas conforme Silva (1990).

Os dados obtidos ao final do experimento foram submetidos à análise de variância em nível de 5% de probabilidade e em caso de diferenças aplicou-se análise de regressão através do programa estatístico SAEG (Sistema de Análise Estatística e Genética) descrito por Euclydes (1983).

Resultados e Discussão

Os valores médios de temperatura, oxigênio dissolvido e pH durante o período experimental foram de 26,52 ± 2,07oC; 5,17 ± 0,61mg/L e 7,60 ± 0,23, respectivamente, permanecendo dentro da faixa recomendada para a aqüicultura (Boyd, 1990; Sipaúba-Tavares, 1995).

Os valores médios de desempenho de alevinos de tilápias do Nilo ao final do período experimental estão apresentados na Tabela 3.

O ganho de peso dos animais não foi influenciado (P>0,05) pelos diferentes tratamentos durante o período experimental.

Gallego et al. (1994), avaliando a utilização de amido de trigo, malto-dextrina de milho, farinha de mandioca, e amido de milho pré-gelatinizado, na alimentação da enguia européia (Anguilla anguilla), observaram que a farinha de mandioca é bem aproveitada por esta espécie, promovendo taxas de crescimento superiores ao amido de milho pré-gelatinizado e similar às outras fontes de carboidratos avaliadas.

A farinha de mandioca apresenta características aglutinantes como observado por Seixas et al. (1997b), estes autores avaliando a farinha de mandioca como aglutinante em dietas para pós larvas de camarão Macrobrachium rosenbergii, observaram melhor ganho de peso dos animais alimentados com rações contendo este alimento do que quando comparados com outros aglutinantes como farinha de trigo, melaço seco e um aglutinante comercial. Este melhor desempenho observado pelos autores pode ser devido à menor lixiviação dos nutrientes da ração contendo a farinha de mandioca. No entanto, no presente experimento, não foi observado tal efeito, principalmente pelo fato de que os diferentes tratamentos não afetaram a conversão alimentar dos animais.

O aumento na inclusão de farinha de varredura de mandioca nas rações não influenciou a conversão alimentar dos animais, demonstrando que este alimento não apresenta problemas quanto a aceitabilidade pela tilápia do Nilo e que a sua inclusão não implicou em desbalanço nutricional das rações avaliadas, visto que foram formuladas com base em nutrientes digestíveis.

A sobrevivência dos animais não foi influenciada pelos diferentes níveis de inclusão da farinha de varredura de mandioca. O ácido hidrociânico é um composto tóxico presente em algumas variedades de mandioca in natura, no entanto este composto é termolábil, sendo inativado durante o processamento (Viola et al., 1988), sendo, portanto, este alimento isento de fatores prejudiciais à saúde dos animais.

O rendimento de carcaça e o índice hepato-somático não foram afetados pelos diferentes níveis de inclusão da farinha de varredura de mandioca. Por outro lado, a percentagem de gordura na carcaça reduziu linearmente (P<0,05), segundo a equação (Y=12,22 - 0,08657X; r2 = 0,77) com o aumento nos níveis de inclusão da farinha de varredura de mandioca (Tabela 4). Estes resultados discordam dos resultados obtidos por Viola et al. (1988) que não observaram diferenças na percentagem de gordura na carcaça da tilápia e da carpa na fase de terminação.

A diminuição na percentagem de gordura na carcaça observada no presente experimento (Figura 1) provavelmente ocorreu devido à menor inclusão de óleo vegetal com o aumento nos níveis de inclusão de FM. Este resultado também foi observado por De Silva et al. (1991), El-Sayed & Teshima (1992) e Meurer et al. (1999), em trabalhos onde houve variação nos níveis lipídicos ou de energia em rações para tilápias.


Resultados semelhantes aos determinados no presente trabalho foram obtidos por Patterson et al. (1994), avaliando o desempenho de frangos de corte, e Sahle et al. (1992), avaliando o desempenho de gansos alimentados com rações contendo farinha de mandioca, em que se constatou a possibilidade de inclusão deste alimento sem prejudicar o desempenho destes animais.

Os resultados de desempenho obtidos no presente experimento estão de acordo com Viola & Arieli (1983), Anderson et al. (1984), Degani & Revach (1991) e Shiau (1997), os quais relataram que o amido é um nutriente utilizado eficientemente pela tilápia do Nilo.

Conclusões

A farinha de varredura de mandioca (Manihot esculenta) pode ser incluída na ração para alevinos de tilápia do Nilo (O. niloticus) até o nível de 24%, substituindo toda a energia fornecida pelo milho, sem redução no desempenho dos animais.

Literatura Citada

Recebido em: 24/05/01

Aceito em: 06/11/01

2 Professor Titular do Depto. de Biologia/UEM. E.mail: chayashi@uem.br

3 Zootecnista Msc, Pós-graduando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia/Universidade Estadual de Maringá. E.mail: f-meurer@bol.com.br

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  • 1
    Professor MSc. do Curso de Engenharia de Pesca/UNIOESTE-Toledo-PR, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia/Universidade Estadual de Maringá. Av. Colombo, 5790, Jardim Universitário, Maringá - Paraná. E.mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Ago 2002
    • Data do Fascículo
      2002

    Histórico

    • Aceito
      06 Nov 2001
    • Recebido
      24 Maio 2001
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