Resumos
Avaliou-se o comportamento de ovinos em pastagem de capim-tanzânia irrigado sob suplementação (0,0; 0,6; 1,2 e 1,8% PV) com concentrado. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado com seis repetições (ovinos). A porcentagem do tempo total sob o sombrite, pastejando, ruminando, em "outras atividades", em ócio, o número de ingestões de suplemento/sal, de defecações, de micções e de ingestão de água e a taxa de bocado foram estimados dividindo-se o dia em oito períodos de 3 horas (das 5 às 8 h; 8 às 11 h; 11 às 14 h; 14 às 17 h; 17 às 20 h; 20 às 23 h; 23 às 2 h; 2 às 5 h). O tempo de pastejo foi maior entre os animais que não receberam suplementação e decresceu progressivamente, voltando a elevar somente com 1,8% de suplementação. O tempo de ruminação foi maior nos animais com suplementação de 0,6% PV, principalmente das 14 às 17 h e das 17 às 20 h, enquanto o tempo de ócio foi maior no nível de 1,2% PV. A ingestão de água elevou-se com o aumento da suplementação até 1,2% PV e concentrou-se entre 11 e 14 h. O número de micções e de defecações foi maior com suplementação no nível de 1,8% PV. A elevação progressiva na taxa de bocado até o nível de suplementação de 1,2% PV no período das 11 às 20 h com posterior redução sugere efeito aditivo do suplemento sobre o pasto até esse nível, no qual se inicia efeito substitutivo. O tempo sob o sombrite concentrou-se no período das 8 às 14 h e reduziu com a suplementação até 1,2% PV. A suplementação afeta o comportamento ingestivo de ovinos em pastejo, uma vez que, no nível de 1,2% PV, houve otimização da capacidade ingestiva dos animais. Níveis superiores de suplementação comprometem o comportamento ingestivo, por isso, são necessárias alterações na formulação do suplemento quando utilizados níveis mais elevados.
consumo de água; estresse calórico; Panicum maximum; semi-árido brasileiro; tempo de pastejo e ruminação
The sheep behavior over 24 hours in Tanzania grass irrigated pastures under four supplementation levels (0.0; 0.6; 1.2 and 1.8% LW) was evaluated in this work. A complete randomized design with six replicates (sheep) was used. The percentage of total time under shade, grazing, ruminating, in "other activities", in idleness, the number of supplement/salt ingestions, defecations, urinations, water ingestion and bite rate were estimated, splitting the day in eight periods of three hours (from 5 to 8 a.m.; 8 to 11 a.m.; 11 a.m to 2 p.m; 2 to 5 p.m.; 5 to 8 p.m.; 8 to 11 p.m.; 11 p.m. to 2 a.m.; 2 to 5 a.m). The highest grazing time occurred in animals without supplementation and decreased gradually and increased back again in the supplementation level of 1.8% LW. The rumination time was higher in the supplementation level of 0.6% LW, mainly in the periods from 2 a.m. to 5 p.m and from 5 p.m to 8 p.m. The idleness time was higher in the supplementation level of 1.2% LW. Water ingestion increased up to time the supplementation level of 1.2% LW and was concentrated in the period from 11 a.m to 2 p.m. The urination and defecation frequency was higher in the supplementation level of 1.8% LW. The gradual increase of bite rate up to the supplementation level of 1.2% LW, in the periods from 11 p.m to 8 p.m, with posterior decrease, suggests an additive effect of the supplement on the grass until such level, and a substitutive effect beyond this level. The total time under shade was concentrated in the periods from 8 a.m. to 2 p.m and decreased with the supplementation level up to 1.2% LW. The supplementation level affected the sheep behavior under grazing, where the supplementation level of 1.2% LW presented optimization of the ingestive capacity of the grazing sheep. The highest supplementation levels compromised the ingestive behavior, suggesting that changes on ration formulation in such levels should be implemented.
Brazilian semi-arid; grazing and time; heat stress; Panicum maximum; water ingestion
RUMINANTES
Comportamento de ovinos em capim-tanzânia sob lotação rotativa com quatro níveis de suplementação concentrada
Behavior of sheep in Tanzania grass under intermittent stocking with four concentrate supplementation levels
Roberto Cláudio Fernandes Franco PompeuI; Marcos Cláudio Pinheiro RogérioII; Magno José Duarte CândidoIII; José Neuman Miranda NeivaIV; José Lúcio Lima GuerraV; Josemir de Souza GonçalvesVI
IDoutorando em Zootecnia do Programa de Pós-Graduação Integrado da UFC/UFPB/UFRPE
IIDepartamento de Zootecnia da Universidade Estadual do Vale do Acaraú
IIIDepartamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará
IVDepartamento de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Tocantins
VAnalista do Keygene N. V. Biometrician-BioInformatics - Netherlands
VIDoutorando em Zootecnia da UNESP de Jaboticabal
RESUMO
Avaliou-se o comportamento de ovinos em pastagem de capim-tanzânia irrigado sob suplementação (0,0; 0,6; 1,2 e 1,8% PV) com concentrado. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado com seis repetições (ovinos). A porcentagem do tempo total sob o sombrite, pastejando, ruminando, em "outras atividades", em ócio, o número de ingestões de suplemento/sal, de defecações, de micções e de ingestão de água e a taxa de bocado foram estimados dividindo-se o dia em oito períodos de 3 horas (das 5 às 8 h; 8 às 11 h; 11 às 14 h; 14 às 17 h; 17 às 20 h; 20 às 23 h; 23 às 2 h; 2 às 5 h). O tempo de pastejo foi maior entre os animais que não receberam suplementação e decresceu progressivamente, voltando a elevar somente com 1,8% de suplementação. O tempo de ruminação foi maior nos animais com suplementação de 0,6% PV, principalmente das 14 às 17 h e das 17 às 20 h, enquanto o tempo de ócio foi maior no nível de 1,2% PV. A ingestão de água elevou-se com o aumento da suplementação até 1,2% PV e concentrou-se entre 11 e 14 h. O número de micções e de defecações foi maior com suplementação no nível de 1,8% PV. A elevação progressiva na taxa de bocado até o nível de suplementação de 1,2% PV no período das 11 às 20 h com posterior redução sugere efeito aditivo do suplemento sobre o pasto até esse nível, no qual se inicia efeito substitutivo. O tempo sob o sombrite concentrou-se no período das 8 às 14 h e reduziu com a suplementação até 1,2% PV. A suplementação afeta o comportamento ingestivo de ovinos em pastejo, uma vez que, no nível de 1,2% PV, houve otimização da capacidade ingestiva dos animais. Níveis superiores de suplementação comprometem o comportamento ingestivo, por isso, são necessárias alterações na formulação do suplemento quando utilizados níveis mais elevados.
Palavras-chave: consumo de água, estresse calórico, Panicum maximum, semi-árido brasileiro, tempo de pastejo e ruminação
ABSTRACT
The sheep behavior over 24 hours in Tanzania grass irrigated pastures under four supplementation levels (0.0; 0.6; 1.2 and 1.8% LW) was evaluated in this work. A complete randomized design with six replicates (sheep) was used. The percentage of total time under shade, grazing, ruminating, in "other activities", in idleness, the number of supplement/salt ingestions, defecations, urinations, water ingestion and bite rate were estimated, splitting the day in eight periods of three hours (from 5 to 8 a.m.; 8 to 11 a.m.; 11 a.m to 2 p.m; 2 to 5 p.m.; 5 to 8 p.m.; 8 to 11 p.m.; 11 p.m. to 2 a.m.; 2 to 5 a.m). The highest grazing time occurred in animals without supplementation and decreased gradually and increased back again in the supplementation level of 1.8% LW. The rumination time was higher in the supplementation level of 0.6% LW, mainly in the periods from 2 a.m. to 5 p.m and from 5 p.m to 8 p.m. The idleness time was higher in the supplementation level of 1.2% LW. Water ingestion increased up to time the supplementation level of 1.2% LW and was concentrated in the period from 11 a.m to 2 p.m. The urination and defecation frequency was higher in the supplementation level of 1.8% LW. The gradual increase of bite rate up to the supplementation level of 1.2% LW, in the periods from 11 p.m to 8 p.m, with posterior decrease, suggests an additive effect of the supplement on the grass until such level, and a substitutive effect beyond this level. The total time under shade was concentrated in the periods from 8 a.m. to 2 p.m and decreased with the supplementation level up to 1.2% LW. The supplementation level affected the sheep behavior under grazing, where the supplementation level of 1.2% LW presented optimization of the ingestive capacity of the grazing sheep. The highest supplementation levels compromised the ingestive behavior, suggesting that changes on ration formulation in such levels should be implemented.
Key Words: Brazilian semi-arid, grazing and time, heat stress, Panicum maximum, water ingestion
Introdução
A estrutura da pastagem é fator determinante da facilidade com que a forragem é apreendida pelo animal em pastejo. Estudos de comportamento em pastejo possibilitam entender o consumo pelos animais (Genro et al., 2004), pois, segundo Stobbs (1973), quanto maior a hetero-geneidade da pastagem, como nas pastagens tropicais, maior a seletividade animal. Assim, ruminantes que despendem longos períodos em pastejo apresentam dificuldades em satisfazer seus requisitos nutricionais, observação freqüente em sistemas de pastejo com gramíneas tropicais com alta disponibilidade de forragem e elevada heterogeneidade (pasto em estádio avançado de maturação). O mesmo ocorre quando há baixa relação folha/colmo no pasto, pois a taxa de ingestão de forragem diminui, aumentando o tempo de pastejo (Minson, 1990).
As atividades de animais em pastejo, como pastejo, ruminação e o ócio, são fundamentais ao bem-estar do animal, no entanto, como o tempo do animal em pastejo é finito, há competição entre essas atividades, ou seja, o aumento no tempo total de pastejo por meio da redução na oferta (Carvalho et al., 2001) ou na qualidade da forragem (Silva, 2004), por exemplo, ocasiona diminuição proporcional no tempo disponível para outras atividades. De acordo com Carvalho et al. (2001), a altura do pasto também influencia diretamente no comportamento ingestivo dos animais em pastejo, pois, quanto mais alto o pasto, maior o tempo necessário para cada bocado, em decorrência do maior tempo de manipulação e mastigação da forragem até deglutição.
O uso de suplementação concentrada para ruminantes a pasto também pode influenciar a produção e o comportamento animal por estimular ou inibir o consumo da forragem, uma vez que a resposta ao tipo de suplementação, tanto energética como protéica, provoca mudanças nos hábitos comportamentais do animal (pastejo, ruminação, ócio e outras atividades como micção, defecação, ingestão de água), influenciando o desempenho desses animais. Além disso, o ganho de peso em ruminantes sob suplementação a campo depende da ordem social existente, pois há competição pelos suplementos escassos (Lobato & Pilau, 2004). Atributos físicos como peso vivo, altura e circunferência torácica dos animais são determinantes da ordem social e de correlações positivas com o consumo de suplementos alimentares avidamente disputados (Lobato & Beilhartz, 1979, citados por Lobato & Pilau, 2004).
A disponibilidade de água e de forragem de qualidade pode ser elevada em áreas menores, cultivadas intensivamente sob irrigação. No entanto, mesmo contornando esses entraves, extremos climáticos podem comprometer o desempenho de ovinos em confinamento (Teixeira, 2000). No caso de ovinos em pastejo, são escassas as informações, especialmente no semi-árido, sobre o comportamento dos animais ao longo do dia e sob condições variadas de manejo. Dessa forma, o entendimento do comportamento animal em pastejo sob suplementação pode possibilitar a melhoria dos índices bioeconômicos de sistemas de produção em pastejo. Neste estudo, avaliou-se o comportamento de ovinos em pastagem de capim-tanzânia irrigada sob suplementação com concentrado.
Material e Métodos
A pesquisa foi conduzida no Campo Avançado do Núcleo de Ensino e Estudos em Forragicultura, NEEF/DZ/CCA/UFC (www.neef.ufc.br), localizado na Fazenda Experimental Vale do Curu (FEVC/CCA/UFC), em Pentecoste, Ceará, cujo clima, segundo Köeppen, é do tipo BSw'h', semi-árido quente, com precipitação média anual de 806,5 mm, distribuída no período de janeiro a abril. O solo da área experimental é classificado como Neossolo flúvico (solos aluviais) (Embrapa, 1999), de textura argilosa.
A área experimental, um pasto de 1,5 ha de Panicum maximum Jacq. cv. Tanzânia com topografia plana, dotada de irrigação por aspersão de baixa pressão é manejada sob lotação rotativa desde 2003, sempre na estação seca de cada ano.
No início da pesquisa foram colhidas cinco amostras simples de solo em três diferentes pontos da área. As amostras foram homogeneizadas, resultando em três amostras compostas de solo, e analisadas no Laboratório de Ciências do Solo (UFC) para determinação das características físico-químicas (Tabela 1). Como os resultados da análise indicaram elevado nível de potássio (K), realizou-se adubação nitrogenada, fosfatada e com micronutrientes, conforme a Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais CFSEME (1999), utilizando-se uréia, superfosfato simples e FTE BR-12.
Foram avaliados quatro níveis de suplementação para ovinos pastejando capim-tanzânia sob lotação rotativa, com taxa de lotação variável "put and take", descrita por Mott & Lucas (1952). Os níveis de suplementação corresponderam a 0,0; 0,6; 1,2 e 1,8% do peso vivo (PV) por dia, considerando capacidade de consumo diária de matéria seca (MS) de 3,6% PV. Desta forma, no nível mais alto de suplementação, a relação volumoso:concentrado na dieta seria de 50:50. O dimensionamento dos piquetes foi feito de modo a garantir oferta de forragem de 7,2% PV (Hodgson, 1990), considerando taxa de crescimento cultural (TCC) de 140 kg MS/ha.dia, conforme relatado por Silva (2004).
Foram utilizados seis ovinos (sem padrão racial definido (SPRD), machos castrados com peso vivo inicial de 24,14 kg) por nível de suplementação, resultando em 24 animais de prova, em delineamento inteiramente casualizado com quatro níveis de suplementação, em arranjo fatorial 4 × 8 (quatro níveis de suplementação e oito períodos do dia) com seis repetições (ovinos).
A área total para cada nível de suplementação (1.472 m2) foi dividida com cerca do tipo tela campestre em oito piquetes (local onde os animais de cada tratamento faziam rodízio), perfazendo um total de 183,6 m2 por piquete e 5.888 m2 de área experimental (32 piquetes total dos quatro níveis de suplementação). O restante da área (aproximadamente 9.000 m2) foi utilizado como pasto de reserva para a permanência dos animais reguladores, que eram colocados nos piquetes experimentais sempre que necessário para manter a pressão de pastejo constante, com altura residual de 28 cm, equivalente ao índice de área foliar (IAF) de 1,0 preconizado por Silva (2004). Cada piquete foi provido de comedouros, bebedouros e sombrites de 8,0 m2, com 25% de transmitância de luz. O período de descanso (21 dias) correspondeu ao tempo necessário para a expansão de duas novas folhas por perfilho, conforme estimado por Silva (2004), e o período de pastejo foi de três dias, utilizando-se, quando necessário, ovinos reguladores para garantir o rebaixamento da vegetação para altura residual de 28,0 cm, correspondente ao índice de área foliar de 1,0 (Silva, 2004) ao final do pastejo.
Considerando a resposta positiva do capim-tanzânia em solos aluviais, irrigado e adubado com nitrogênio (até 1.200 kg/haano) no Semi-árido Brasileiro, conforme descrito por Ribeiro (2006), durante o rodízio dos animais nos piquetes, foi realizada adubação nitrogenada de cobertura (600 kg de N/haano, ou 39,6 kg N/haciclo [1,65 kg N/ha × dia * 24 dias (ciclo de pastejo)], uma vez que o período de descanso era fixo. A adubação foi dividida em duas doses: a primeira logo após a saída dos animais e a segunda na metade do período de descanso, de modo que a área de reserva foi adubada similarmente.
A irrigação na área foi realizada durante a noite para reduzir a perda de água, especialmente pelo efeito dos ventos, assim como possíveis perdas de nitrogênio por volatilização decorrentes das elevadas temperaturas durante o dia. A lâmina aplicada correspondeu a uma evapotranspiração da cultura de 7,97 mm/dia, com eficiência de aplicação de 70%, de forma que a lâmina d'água utilizada no cálculo da eficiência de uso da água ERUA fosse de 11,4 mm/dia (7,97/0,7), com turno de rega de quatro dias no início e de três dias do meio para o fim do experimento, em decorrência da redução na eficiência de irrigação.
Os animais sem suplementação (nível de 0,0% PV) receberam somente sal mineral (Tabela 2) à vontade, enquanto aqueles sob suplementação nos níveis de 0,6; 1,2 e 1,8% PV receberam concentrado uma vez ao dia, sempre às 13 h, para não comprometer as atividades de pastejo (Silva, 2004), uma vez que, naturalmente, evitam pastejar em situações de estresse térmico (Teixeira, 2000). O suplemento concentrado foi formulado com base no NRC (1985), considerando a categoria de cordeiros em terminação com 20 kg de peso vivo, ganhos diários de 250 g e crescimento moderado (Tabela 2). Aos animais reguladores de cada nível de suplementação, o concentrado foi fornecido na mesma proporção que aos animais experimentais, a fim de mantê-los na mesma condição.
Para caracterização do alimento fornecido, foram coletadas amostras do concentrado e do capim-tanzânia para análises químico-bromatológicas. As amostras de capim foram coletadas no campo, levadas ao laboratório, fracionadas em material morto (MM), folhas (FOL) e colmo (COL), pesadas, acondicionadas em sacos de papel perfurados e levadas à estufa de ventilação forçada a 65°C durante 72 horas para pré-secagem. Em seguida, as amostras foram levadas ao Laboratório de Nutrição Animal-LNA/DZ/CCA/UFC e trituradas em moinho de faca tipo "Wiley" utilizando-se peneiras com malha de 1,0 mm para moagem.
Nas amostras pré-secas, determinaram-se os teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE) e matéria mineral, conforme técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002). O teor de hemicelulose no material analisado, em porcentagem da matéria seca, foi determinado por diferença, subtraindo-se a FDA da FDN, conforme descrito por Silva & Queiroz (2002). O teor de carboidratos totais foi obtido conforme recomendações de Sniffen et al. (1992) e o NDT do concentrado, conforme dados do NRC (2001) (Tabela 3).
Próximo ao final do experimento, o ensaio de comportamento foi realizado no terceiro ciclo de pastejo, ao longo das 24 horas do segundo dia de pastejo de quatro piquetes (um em cada tratamento), avaliados simultaneamente. A escolha do segundo dia de pastejo para a avaliação de comportamento baseou-se na condição média do pasto em relação ao período de pastejo (três dias). Foi calculado também o índice de umidade/temperatura (Tabela 4), proposto por Marai et al. (2006) para estimar a severidade do estresse provocado pelo calor, utilizando-se a seguinte equação:
THI = T °C [(0,31 0,31.UR) (T °C 14,4)]
em que: THI = índice de umidade/temperatura (adimensional); T °C = temperatura do bulbo seco (°C) e UR = umidade relativa do ar (%). Valores menores que 22,2 indicam ausência de estresse ao calor; valores entre 22,2 e 23,3 indicam moderado estresse ao calor; valores entre 23,3 e 25,6 indicam severo estresse ao calor; e valores acima de 25,6 indicam extremo estresse ao calor (Tabela 4).
Durante algumas horas da noite anterior à avaliação, os observadores foram aos piquetes para habituar os animais à sua presença e, na manhã seguinte (5 horas), iniciaram a avaliação, que consistiu de três tipos de mensuração: dois de modo instantâneo, a intervalos de 10 minutos: sol ou sombrite (durante as 12 horas de sol); pastejando, ruminando, outras atividades ou ócio, durante as 24 horas; e o outro, como conjunto de atividades pontuais: defecando, urinando, bebendo água ou consumindo sal (sem suplementação ou com suplementação).
Na tabulação dos dados, optou-se pela divisão do dia em intervalos de três horas, com início às 5 h da manhã, quando a maior parte dos animais começava as atividades do dia. Dessa forma, obtiveram-se oito períodos de avaliação (5-8 h; 8-11 h; 11-14 h; 14-17 h; 17-20 h; 20-23 h; 23-2 h e 2-5 h), o que propiciou a separação do intervalo considerado mais crítico para o comportamento do animal em pastejo, ou seja, o intervalo de 11 às 14 h, quando a radiação solar é mais intensa e a temperatura do ar mais elevada.
Os dados relativos às atividades contínuas foram tabulados como porcentagem do tempo total (de cada intervalo de 3 horas) destinado a cada atividade. As atividades pontuais, por sua vez, foram tabuladas na forma de freqüência (número de vezes que cada animal, na média dos seis, efetuou determinada atividade no intervalo de 3 horas).
Durante a avaliação do comportamento animal, foram realizadas observações referentes à taxa de bocados (bocados/min), contando-se o número de bocados por animal durante um processo de pastejo, dividindo-se esse número pelo tempo transcorrido em segundos e multiplicando-se o resultado por 60, a fim de se obter a taxa em bocados por minuto.
Os dados foram analisados por análise de variância (ANOVA), de modo que a interação nível de suplementação × período do dia foi desdobrada para todas as variáveis, independentemente de sua significância, conforme recomendações de Chew (1976). Para comparar os níveis de suplementação e os períodos do dia, utilizou-se o teste Tukey a 5% de probabilidade. Nas análises estatísticas, utilizou-se o procedimento GLM do programa estatístico SAS (SAS Institute, 1999), conforme o modelo:
Yijk = µ + Ti + Pj + (TP)ij + εijk
em que: Yijk = observação relativa ao iº nível de suplementação, jº período do dia, kº ovino; µ = média da população; Ti = efeito do iº nível de suplementação; i = 1, 2, 3, 4 níveis de suplementação; Pj = efeito do jº período do dia; j = 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 períodos do dia; (TP)ij = interação nível de suplementação × período do dia; εijk = efeito aleatório relativo do kº ovino, no jº período do dia, do iº nível de suplementação; k = 1, 2, 3, 4, 5, 6 ovinos por nível de suplementação.
Resultados e Discussão
Houve interação (P<0,05) níveis de suplementação × períodos do dia para todas as características comportamentais avaliadas. De acordo com os resultados, o comportamento dos animais pode ser alterado pelo manejo nutricional. Provavelmente, a facilidade de atender parte das exigências nutricionais via concentrado permite aos animais adequar suas atividades ao longo do dia evitando as condições desfavoráveis.
O tempo de pastejo foi afetado (P<0,05) pelos níveis de suplementação e pelos horários do dia (Tabela 5). De modo geral, o tempo de pastejo foi maior entre os animais que não receberam suplemento e decresceu progressivamente, voltando a aumentar somente com 1,8% de suplementação. O aumento no tempo de pastejo dos animais sob suplemen-tação com 1,8% do PV não era esperado, mas é possível que, com o excesso de proteína degradável no rúmen, os animais tenham desviado parte da energia ingerida para excretar o excesso de amônia no plasma. Conseqüentemente, podem ter recorrido ao pasto para ingerir mais energia e compensar a energia despendida com a excreção de amônia.
Os maiores tempos de pastejo no nível de 0,0% de suplementação ocorreram nos períodos das 5 às 8 h e das 14 às 17 h, que não diferiram (P>0,05) entre si. Como esses animais não receberam suplemento, mesmo nas temperaturas elevadas de 14 às 17 h, eram obrigados a retornar ao pastejo para atender sua demanda nutricional. Como o concentrado era fornecido às 13 h, no período de maior calor, os animais sob suplementação estavam parcialmente saciados. O nível de suplementação de 0,6% PV resultou em maiores picos de pastejo entre 11 e 14 h e entre 14 e 17 h, com 71,4 e 66,0%, respectivamente. Não houve variação (P>0,05) dentro dos níveis de suplementação de 1,2 e 1,8% PV no período entre 5 e 20 h. Nos animais sob suplementação (0,6; 1,2 e 1,8%), no período mais quente do dia (11-14 h) (temperatura média do ar de 34,71°C - Tabela 4) também houve alto percentual de pastejo, provavelmente pelo fato de o suplemento rico em proteína (20% PB), atuando sobre uma forragem com elevado teor de FDN e FDA (em torno de 71,3 e 43,0%, respectivamente, no caso das folhas - Tabela 3), melhorar a digestibilidade da FDN digestível e elevar a taxa de passagem da FDN indigestível, repercutindo possivelmente em aumento no consumo de forragem (Campling, 1964). Dessa forma, como a concentração de amônia no rúmen não é constante nas 24 horas, apresentando oscilações, com picos de 1 a 2 horas após a ingestão do concentrado (De Faria e Huber, 1984; Owens e Zinn, 1988; Rihani et al., 1993), é possível que logo após a ingestão de concentrado os animais tenham buscado a forragem, a fim de melhorar a digestão da fibra da forragem (teor de FDN da lâmina foliar verde = 71,3%, Tabela 3) com a presença de alta concentração de nitrogênio não-protéico no rúmen.
Não foram observadas diferenças (P>0,05) no tempo de pastejo entre os tratamentos, no período das 2 às 5 h e houve ausência quase total dessa atividade nos níveis de suplementação de 0,0; 1,2 e 1,8% PV, em virtude da predominância da atividade de ruminação e do ócio. Embora fosse esperado que os animais preferissem as horas de temperaturas mais amenas para pastejo, esse fato não ocorreu. Possivelmente, comportamentos primitivos como proteção de predadores ainda permaneçam nesses animais que, ao longo dos milhares de anos de domesticação, sempre foram manejados para o pastejo diurno. O tempo total de pastejo durante o dia diminuiu com o aumento do nível de suplementação. Os animais que não receberam suplemento e aqueles recebendo suplemento a 1,8% PV passaram, em média, 595,8 e 489,6 minutos por dia pastejando, respectivamente. O tempo de pastejo observado nos animais que não receberam suplemento (595,8 minutos/dia) foi superior ao relatado por Silva (2004), em trabalho com ovinos SPRD em capim-tanzânia com tempo médio absoluto de 489,6 minutos/dia e período de descanso de 2,5 folhas/perfilho e próximo aos 600 a 720 minutos/dia postulados por Allden e Whittaker (1970) como limite máximo diário de pastejo para ovinos. Portanto, é possível que os níveis de suplementação de até 0,6% PV não tenham atendido os requisitos nutricionais diários desses animais, levando-os a pastejar por mais tempo, mesmo nas horas mais quentes, ou tenham sido insuficientes para melhorar a digestibilidade da forragem consumida, retendo por mais tempo a forragem no trato gastrintestinal e reduzindo a taxa de passagem. Adams (1985), citado por Krysl & Hess (1993) afirmou que, além da temperatura ambiente, a interrupção do pastejo em decorrência do fornecimento de suplemento pode afetar negativamente o consumo de forragem, em virtude do efeito substitutivo.
O tempo de ruminação foi afetado (P<0,05) pelos níveis de suplementação (Tabela 5), porém de maneira bastante variável. A consistência dos dados obtidos durante o dia foi maior, uma vez que as maiores freqüências de ruminação ocorreram entre 2 e 5 h e não diferiram (P>0,05) entre os níveis de suplementação, com média de 60,3% do período dedicado à ruminação, reduzindo significativamente nos momentos de maior freqüência de alimentação. A maior freqüência de ruminação nesse período está relacionada ao fato de este ser o momento de descanso dos ovinos, às vezes dormindo e às vezes processando o alimento ingerido durante todo o dia. Observou-se que os animais ruminavam mais deitados durante a noite, porém, durante o dia, a maioria dos animais ruminava em pé, possivelmente para dissipar o calor excessivo causado pela alta temperatura diurna. Os horários de menor ruminação ocorreram entre 14 e 17 h e entre 17 e 20 h, períodos com grande atividade de pastejo. A partir das 20 h, a atividade de ruminação foi intensificada, a fim de processar a forragem anteriormente ingerida. A forragem ingerida, com alto teor de FDN (71,3,%), ao entrar em contato com o epitélio ruminal, aciona o sistema nervoso entérico por meio de mecanorreceptores que estimulam a regurgitação e ruminação (Herdt, 2004). Baumont et al. (2000) afirmaram que a distensão do rúmen provocada pela forragem ingerida, associada à produção de acetato, são os fatores que mais contribuem para a saciedade dos animais.
A variável "outras atividades" (brincar, caminhar e observar) foi afetada (P<0,05) pelos níveis de suplementação e pelos horários do dia (Tabela 5) e predominou nos períodos entre 17 e 23 h. Os animais que receberam suplemento no nível de 1,8% PV despenderam maior tempo em outras atividades, possivelmente por terem atingido seus requerimentos nutricionais diários mais rapidamente, podendo "desperdiçar" parte do dia com atividades aleatórias.
O ócio foi considerado o período em que os animais permaneciam parados, sem realizar qualquer atividade. O tempo em ócio foi maior (P<0,05) naqueles com 1,2% de suplementação, normalmente após a suplementação (14-17 h e 17-20 h). Possivelmente, a digestão do suplemento nas primeiras horas após sua ingestão desestimulou os ovinos de iniciarem novo pastejo até que esse processo se amenizasse. Young & Corbet (1972) afirmaram que, quando as condições ambientais propiciam maior comportamento de ócio, há economia de energia, que é utilizada em favor da produção. As maiores freqüências de ócio foram observadas entre 23 e 2 h e entre 2 e 5 h, períodos também utilizados para ruminação, comportamento semelhante ao citado por Silva (2004). Os animais ficaram em ócio ou ruminando de pé durante o dia e deitados à noite, no primeiro caso possivelmente para facilitar a dissipação do excesso de calor. Pires (1997), citado por Ortêncio Filho et al. (2001) relatou que, nos períodos mais quentes do ano, os animais tendem a utilizar mecanismos como redução nos tempos de alimentação e ruminação e aumento no tempo de ócio para diminuir a produção de calor metabólico excedente. No caso desta pesquisa é importante salientar que os ovinos preferiram pastejar no período diurno mesmo que em condições ambientais mais desfavoráveis.
O consumo de sal/suplemento elevou-se (P<0,05) com o aumento no nível de suplementação no período das 11 às14 h (Tabela 6), uma vez que o horário de fornecimento do suplemento foi às 13 h, quando todos ovinos sob suplementação se voltavam para a ingestão do suplemento. Esse fato era esperado, uma vez que os animais têm maior preferência pelo concentrado, por sua maior palatabilidade em relação ao volumoso. O pico de ingestão do suplemento perdurou até as 14-17 h, com aumento na procura do suplemento proporcional ao nível de suplementação. Assim, os ovinos com 1,8% de suplementação foram os que procuraram o suplemento mais vezes durante o dia. O consumo de sal foi mais distribuído durante o dia, porém com pouca intensidade, uma vez que o sal mineral atende apenas exigências de minerais.
Os maiores consumos de água foram verificados nos ovinos sob maiores níveis de suplementação, 1,2 e 1,8% PV, (Tabela 6), possivelmente pelo concentrado rico em energia ter proporcionado maior consumo de MS e o consumo de água ter correlação positiva com o consumo de matéria seca (Neiva et al., 2004). O maior consumo de água ocorreu no período mais quente do dia (11-14 h) (P<0,05), como tentativa do animal de repor a água perdida por evaporação dos tecidos e por ofego. O mesmo foi observado por Ortêncio Filho et al. (2001), que estudaram o efeito da sombra natural sobre o comportamento de ovelhas no período diurno no Noroeste do Paraná e observaram maiores ingestões de água no período mais quente do dia.
A micção foi mais freqüente (P<0,05) no nível de 1,8% PV e no período das 2 às 5 h e das 5 às 8 h (Tabela 6). Esses períodos caracterizam-se como os mais propícios à micção, tanto pela menor temperatura, que reduz a transpiração, demandando outro meio para excreção do excesso de uréia, como pelo acúmulo de uréia no sangue oriundo de toda a atividade de pastejo do dia anterior (Silva, 2004). A maior freqüência de micção no nível de 1,8% de suplementação também denota possível excesso de nitrogênio não-protéico (NNP) nessa dieta, composta de concentrado com farelo de soja e uréia e de uma gramínea com apenas 21 dias adubada com nitrogênio (600 kg/ha x ano). Assim, haveria excesso de NNP no rúmen, resultando em produção de amônia acima das necessidades microbianas e que seria absorvida pela corrente sangüínea, convertida em uréia no fígado e excretada na urina para prevenir toxidez no animal (Owens & Zinn, 1988; Van Soest, 1994). Assim, com 1,8% de suplementação, os ovinos teriam que mobilizar grande parte da energia oriunda do concentrado para a excreção do excesso de NNP ruminal, o que reduziria o consumo de forragem.
O número de defecação foi maior (P<0,05) nos animais recebendo suplementação a 1,8% PV, em virtude do maior consumo de MS e de água, que propicia o rápido enchimento do trato gastrintestinal, que, por sua vez, teria que ser eliminado rapidamente para não comprometer a ingestão diária de MS. Contudo, é possível que a elevada quantidade de energia do concentrado (80% de NDT - Tabela 3) e/ou o elevado teor de NNP na dieta dos animais recebendo suplemento no nível de 1,8% PV tenha causado desbalanceamento entre os níveis de energia e proteína no trato gastrintestinal, provocando efeito associativo negativo, com aumento do fluxo da digesta para o intestino e sua perda nas fezes (Ferrel, 1988), confirmada pela grande quantidade de partículas de milho não digeridas nas fezes desses animais, fato que não foi observado nos demais níveis de suplementação. Além disso, é possível também que a grande freqüência de defecação nos níveis de suplementação de 1,2 e 1,8% PV tenha contribuído para a redução no tempo de pastejo dos animais, em virtude da rejeição da forragem contaminada pelas fezes (Forbes & Hodgson, 1985).
A taxa de bocado apresentou aumento progressivo (P<0,05) até o nível de 1,2% PV nos períodos das 11 até 20 h, com posterior redução (Tabela 6), e foi maior no período das 17 às 20 h nos animais sob suplementação com 0,6 e 1,2% PV. É possível que o suplemento até o nível de 1,2% PV tenha melhorado a digestibilidade da forragem consumida, preconizando o possível efeito aditivo até esse nível para, daí em diante, causar efeito substitutivo.
A taxa de bocado foi menor no início da manhã e não diferiu (P>0,05) entre os níveis de suplementação. Isto pode ser explicado pelo fato de este ser o período em que os animais retornam às suas atividades após um período de descanso e ruminação (madrugada). Além disso, considerando as intensas mudanças na condição do pasto, verificado a cada dia de pastejo, os ovinos necessitam despender parte do tempo no início da manhã para novo reconhecimento da pastagem (Silva, 2004). Conforme descrito por Vallentine (2001), o animal em pastejo explora o piquete inicialmente pelas bordas, fase de duração proporcional ao tamanho do piquete, até dirigir-se para o centro do piquete e, segundo Kidunda et al. (1993), citados por Vallentine (2001), até mesmo a cada nova estação alimentar em um único o processo de pastejo, o animal, seqüencialmente, avalia seu grau de conforto, atualiza o ângulo e a distância para novos pontos de caminhamento, avalia as rotas potenciais de forrageamento, compatibilizando esforços requeridos e potenciais retornos, quando então se move, estabelecendo nova estação alimentar.
A taxa de bocado e o tempo de pastejo dos animais que não receberam suplementação foram inferiores (28 bocados/minuto) e superiores (595,8 minutos/dia), respectivamente, aos relatados por Forbes & Hodgson (1985) em trabalho sobre o comportamento de ovinos em pastagem de azevém perene adensado. Esses autores obtiveram taxas de 48 bocados/minuto e tempo de pastejo 545 minutos/dia, corroborando a afirmativa de Hodgson (1990) de que, em geral, a taxa de bocado é inversamente correlacionada ao tempo de pastejo. A superioridade da taxa de bocado relatada por esses autores deveu-se principalmente ao valor nutritivo da gramínea (temperada - tipo C3), que requer menor tempo destinado à mastigação, possibilitando, assim, a apreensão, pois os ovinos não apresentam bocados compostos e sim mutuamente exclusivos. Além disso, as características estruturais do dossel também influenciaram a taxa de bocado. Neste estudo, a altura do dossel era de 40 cm, enquanto no trabalho realizado por aqueles autores era de 15 cm. Stobbs (1973) afirmou que à medida que se aumenta a altura do dossel, ocorre diminuição na densidade da massa seca de lâminas foliares verdes, comprometendo o tamanho de bocado pelo aumento nos tempos de manipulação e mastigação da forragem até a deglutição.
A procura pelo sombrite durante o dia concentrou-se (P<0,05) nos períodos entre 8 e 11 h e entre 11 e 14 h, especialmente entre 8 e 11 h (Tabela 7). Apesar de parecer contraditório, pois ovinos em pastejo de modo geral tendem a recorrer ao sombrite principalmente no período entre 11 e 14 h (Silva, 2004), esse fato sugere que o horário de fornecimento do suplemento, sempre às 13 h, afetou este comportamento, uma vez que a estrutura do sombrite não comportava o comedouro, que foi colocado no sol.
De fato, o horário em que os ovinos do nível 0,0% de suplementação recorreram mais ao sombrite foi das 11 às 14 h (P<0,05), com 53,7% do tempo total do período, pois a maior movimentação em busca da forragem para atender seus requisitos nutricionais elevou o estresse térmico desses animais, que recorreram ao sombrite, principalmente nas horas mais quentes do dia, nas quais a temperatura média do ar, a radiação solar e o índice de umidade/temperatura foram de 34,71°C; 73,82 MJ/m2 e 30,65, respectivamente (Tabela 4). Esse percentual reduziu gradativamente com o aumento da suplementação e não diferiu (P>0,05) entre os níveis de 0,6 e 1,2% PV durante este período. Os valores de temperatura média e do índice de umidade/temperatura no período das 8 às 20 h, de 31,87°C e 28,84, respectivamente (Tabela 4), estão acima da faixa crítica de 24 a 27°C (Euquay, 1981) e de 25,6 considerado por Marai et al. (2006) como extremo estresse ao calor para a maioria das espécies domésticas. De acordo com McDowell (1974), a temperatura do ar é o fator climático mais importante sobre o status fisiológico do animal.
Conclusões
Os níveis de suplementação afetaram o comportamento dos ovinos em pastejo. O nível de suplementação de 1,2% PV propiciou o maior tempo de ócio, o que sugere condição de maior conforto e saciedade. Níveis superiores de suplementação acarretaram comprometimento do comportamento ingestivo, portanto, deve-se buscar alterações na formulação do suplemento quando em níveis mais elevados. A ingestão de água ocorreu nos períodos mais quentes do dia e foi influenciada pelas elevadas temperaturas, enquanto a micção ocorreu nos períodos com temperaturas mais amenas. Os ovinos apresentam hábitos de pastejo preferencialmente diurno e de ruminação noturno, o que pode indicar hábito específico da espécie em relação a outros ruminantes.
Literatura Citada
Este artigo foi recebido em 18/6/2007 e aprovado em 5/8/2008.
Pesquisa financiada com recursos do convênio UFC - Banco do Nordeste/FUNDECI.
Correspondências devem ser enviadas para: roberto_agronomia@yahoo.com.br
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
23 Abr 2009 -
Data do Fascículo
Fev 2009
Histórico
-
Recebido
18 Jun 2007 -
Aceito
05 Ago 2008