REFLETINDO SOBRE O NOVO
Classification Manual for Voice Disorders-I CMVD-I
Comentado por: Mara BehlauI; Gisele GaspariniII
ICoordenadora e Docente do Curso de Especialização em Voz do Centro de Estudos da Voz CEV São Paulo (SP), Brasil; Doutora em Ciências dos Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de São Paulo UNIFESP-EPM São Paulo (SP), Brasil
IIVice-coordenadora e Docente do Curso de Especialização em Voz do Centro de Estudos da Voz CEV São Paulo (SP), Brasil; Mestre em Ciências dos Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de São Paulo UNIFESP-EPM São Paulo (SP), Brasil
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Centro de Estudos da Voz CEV R. Machado Bittencourt, 361, 10º andar São Paulo SP - CEP 04044-001 E-mail: giselegasparini@uol.com.br
O Manual de Classificação dos Distúrbios Vocais CMVD-I é um esforço sistêmico de organizar a literatura das variadas alterações que podem produzir problemas vocais e criar uma referencia padrão, tendo como público-alvo profissionais de diversas formações. O manual pretende ainda oferecer uma perspectiva para classificar os distúrbios vocais e facilitar a comunicação entre os profissionais. Cada uma das entradas deste manual contém uma descrição da condição ou lesão, distinguindo as características essenciais das associadas, com a descrição do impacto vocal produzido, aspectos demográficos dos pacientes, curso clínico, fatores desencadeantes, além de dados sobre diagnóstico diferencial e critérios de classificação.
A versão atual é o progresso de um esforço iniciado em 1995 pela ASHA sob a direção da Profa. Dra. Christy Ludlow. Desde então, criou-se um trabalho continuado para se produzir a primeira referência deste tipo na área de voz. Assim, os editores são Verdolini K, Rosen C e Branski R, e os autores colaboradores, em ordem alfabética, são: Andrews M, Bless D, Boone D, Casper J, Glaze L, Karnell M, Ludlow C e Stemple J, com contribuições adicionais de Barkmeier-Kraemer J, Duffy J, Leonard R, Shrivastav R e Thibeault S.
O CMVD-I não se propõe a ser um guia de diagnóstico e tratamento e sim um esforço puramente descritivo. A contribuição extrapola a classificação das alterações laríngeas que geralmente se mantêm nos limites do órgão e inclui as alterações vocais sistêmicas ou extra-laríngeas, como as doenças neurológicas e psicológicas. A proposta do texto é de ser a base para edições futuras, o que aparece na designação "I", após o título. A grande contribuição é a enorme organização apresentada e a abertura para uma discussão sobre nomenclatura na área. O CMVD é publicado sob patrocínio do SID-3 da ASHA, que convidou o Dr. Clark Rosen para representar a contribuição médica.
É importante ressaltar a distinção entre diagnóstico e a classificação: o diagnóstico refere-se a um rótulo que um profissional qualificado aplica, indicando a presença de uma certa condição médica ou uma condição de outra natureza; já a classificação de um distúrbio vocal, no presente manual, refere-se à atribuição de um problema de voz como pertencente a uma categoria específica de distúrbios. Classificar requer que se considere o tipo de condição médica ou outras condições que possam contribuir para o problema de voz, assim como os atributos da função vocal que são afetados por tais condições. Quando um clínico faz um diagnóstico, a classificação do distúrbio pode envolver um ou vários profissionais. Tal manual não está isento de controvérsias sobre a natureza de algumas condições, principalmente pelo dinamismo do avanço nas questões clínicas e da ciência básica, assim como pelos diferentes modelos usados por clínicos. Em tais situações, o manual ressaltou as controvérsias e apresentou pontos de vista alternativos ao conhecimento atual e termos existentes na literatura. Os autores tentaram apresentar o estado da arte quanto às informações relevantes aos distúrbios vocais, algumas das quais desafiam os conceitos tradicionais. A conceitualização do manual foi modelada de modo semelhante ao DSM (Diagnostic and Statistic Manual), publicado pela Associação Psiquiátrica Americana, embora com um perfil menos rígido. O CMVD-I foi adaptado para permitir flexibilidade e, ao contrário da série do DSM, o objetivo não é o diagnóstico e sim a categorização de uma certa condição e das disfunções envolvidas na produção vocal. Além disso, o manual não baseia as classificações em categorias derivadas estatisticamente, como o DSM. O CMVD-I usa cinco dimensões e não os três eixos maiores do DSM (Eixo I distúrbios clínicos; Eixo II distúrbios da personalidade e atraso mental e Eixo III condições médicas gerais).
A dimensão 1 refere-se às categorias das condições que podem contribuir para um problema de voz. Tais condições incluem: alterações estruturais, inflamações, trauma ou lesão, doenças sistêmicas, distúrbios aero-digestivos não laríngeos, transtornos psiquiátricos, distúrbios neurológicos e condições não especificadas de outra forma. Essa última categoria é utilizada para os casos que não preenchem os critérios de classificação descritos nesse texto: pode ser que o clínico seja incapaz de determinar a causa da disfonia, ou que os critérios de classificação não sejam contemplados em sua totalidade, ou que haja pendências quanto à suspeita diagnóstica. Assim, essa categoria pode ser utilizada para pacientes com queixas de alterações vocais consistentes ou presença de disfonia que não pode ser explicada por uma condição médica ou uso de substância e que não contemplam os critérios das outras condições descritas no texto. Em cada uma dessas classes gerais de condições, o manual oferece informação sobre: as características essenciais que definem a condição; as características associadas que podem acompanhar a condição, mas não são essenciais na sua descrição; as limitações vocais associadas a esta condição (dados acústicos, aerodinâmicos e imagem laríngea, quando disponível); idade do início da alteração; curso (a progressão típica da condição); complicações ou seqüelas da condição ou de seus tratamentos; fatores de predisposição ou fatores de risco; freqüência considerando-se a população como um todo; proporção por sexo; padrão familiar; diagnóstico diferencial com informações sobre as outras condições que devem ser comparadas; e, finalmente, critérios de classificação, que são os dados necessários para identificar a condição em si e atribuir um problema de voz a esta condição específica, compreendendo-se que o nexo causal entre uma condição diagnóstica e um problema vocal nem sempre é possível, pois quando o paciente é avaliado, o problema de voz já se desenvolveu e vemos somente o resultado da evolução deste distúrbio.
A dimensão 2 refere-se ao nível de certeza da classificação, o que reflete a confiança relativa sobre a condição presente e a atribuição do problema de voz a esta condição especificada. Sugere-se utilizar tanto para as condições médicas quanto para os atributos vocais a seguinte classificação:
Boa certeza da acurácia na classificação.
Certeza da acurácia na classificação.
A dimensão 3 codifica a severidade da condição atual em termos de severidade médica e vocal. Assim a avaliação da severidade atual tem dois aspectos, sendo o primeiro o reflexo da gravidade da doença ou condição subjacente (ex. DPOC) e o segundo relacionado à severidade do problema vocal. A severidade do problema vocal deve refletir a integração dos sinais e sintomas, assim como da qualidade de vida em relação à voz. Pode-se usar esquema geral de quatro pontos, tanto para a severidade da condição médica como para a vocal:
Normal: sem sinais, sintomas ou limitações funcionais.
Discreta: sinais, sintomas e limitações funcionais discretas.
Moderada: sinais, sintomas e limitações funcionais entre discretas e acentuadas.
Acentuada: sinais, sintomas e limitações funcionais significantes.
A dimensão 4 codifica a percepção do paciente sobre o impacto de seu funcionamento vocal na qualidade de vida. Para tanto são usados questionários como instrumentos que refletem a percepção dos pacientes sobre o problema. Os dois protocolos exemplificados no manual são o IDV e o QVV.
A dimensão 5 codifica as informações sobre o curso clínico da condição médica ou de outras condições e, em separado, o curso da função vocal. O curso clínico pode ser semelhante em uma condição específica, assim como suas características associadas. Entretanto, em outros casos, o curso pode diferir. Consideramos cinco possibilidades:
Recorrência cíclica essa designação indica um curso clínico com recorrências intermitentes.
Em Deterioração essa designação indica um curso clínico geral que está em declínio.
Veja, a seguir, a classificação dos distúrbios vocais proposta no CMVD-I. Com certeza, um grande avanço foi oferecido à área e as discussões e controvérsias advindas dessa proposta contribuirão para o avanço da caracterização dos problemas vocais. O esforço é único e nunca antes se chegou a uma clareza tão grande na área, apesar das limitações inerentes a toda e qualquer proposta de taxonomia.
CLASSIFICAÇÃO DOS DISTÚRBIOS VOCAIS: CMVD-I
Anormalidades Vasculares das Pregas Vocais
Endereço para correspondência:
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
18 Jul 2007 -
Data do Fascículo
Mar 2007