Resumos
OBJETIVO: Descrever alguns aspectos demográficos e socioeconômicos de mães de neonatos e lactentes atendidos no serviço de Triagem Auditiva Neonatal, do Hospital das Clínicas, da Universidade Federal Pernambuco (HC-UFPE), nascidos no ano de 2007. MÉTODOS: A coleta de dados foi constituída por leitura e digitação das informações contidas no banco de dados referente ao programa de Triagem Auditiva Neonatal do HC- UFPE. Participaram da pesquisa 1.193 mães. RESULTADOS: Entre as variáveis demográficas do estudo destaca-se que o maior percentual (47,9%) das mães tinha entre 20 e 29 anos de idade e 69,2% eram casadas. Dentre as variáveis socioeconômicas, 36,1% possuíam o 1° grau incompleto, 55,7% eram donas de casa, 38,6% não possuíam renda pessoal, 60,6% dispunham de renda familiar entre um a três salários mínimos e 92,5% tiveram seus filhos nascidos em maternidades públicas. CONCLUSÃO: A população estudada encontra-se em condições consideradas desfavoráveis para a saúde e desenvolvimento global dos neonatos e lactentes, pois as gestantes com este perfil pertencem a uma categoria de risco. Esses resultados servem de alerta para o desenvolvimento de ações que visem à promoção da saúde na população investigada.
Triagem neonatal; Lactente; Audição; Perda auditiva; Fatores socioeconômicos; Características da população; Indicador de risco
PURPOSE: To describe demographic and socioeconomic aspects of mothers of newborns and infants enrolled in the Newborn Hearing Screening Program of the Hospital of the Federal University of Pernambuco. METHODS: Data were gathered from the database of the Newborn Hearing Screening Program. Participated in the study 1,193 mothers who delivered babies in 2007. RESULTS: Analysis of the demographic variables showed that most mothers were between 20 and 29 years old (47.9%), and 69.2% were married. Socioeconomic variables showed that 36.1% of the mothers did not complete elementary school, 55.7% were housewives, 38.6% did not have any personal income, 60.6% had familiar income between one and three minimum wages, and 92.5% gave birth in public maternities. CONCLUSION: The studied population was considered in unfavorable conditions for the health and the global development of newborns and infants, for pregnant women within the same socioeconomic status constitute a risk category. These results emphasize the need for the development of health promotion actions for the investigated population.
Neonatal screening; Infant; Hearing; Hearing loss; Socioeconomic factors; Population characteristics; Risk index
ARTIGO ORIGINAL
Aspectos demográficos e socioeconômicos de mães atendidas em um programa de triagem auditiva neonatal
Demographic and socioeconomic aspects of mothers attended in a newborn hearing screening program
Silvana Maria Sobral GrizI; Camila Padilha BarbosaII; Adriana Ribeiro de Almeida e SilvaIII; Mariana Azevedo RibeiroIII; Denise Costa MenezesI
IDoutora, Professora do Curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE - Recife (PE), Brasil
IIPós-graduanda (Mestrado) do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE - Recife (PE), Brasil
IIIFonoaudióloga clínica - Recife (PE), Brasil
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Silvana Maria Sobral Griz Av. Flor de Santana, 189/301, Parnamirim Recife (PE), Brasil, CEP: 52060-290 E-mail: sgriz@terra.com.br
RESUMO
OBJETIVO: Descrever alguns aspectos demográficos e socioeconômicos de mães de neonatos e lactentes atendidos no serviço de Triagem Auditiva Neonatal, do Hospital das Clínicas, da Universidade Federal Pernambuco (HC-UFPE), nascidos no ano de 2007.
MÉTODOS: A coleta de dados foi constituída por leitura e digitação das informações contidas no banco de dados referente ao programa de Triagem Auditiva Neonatal do HC- UFPE. Participaram da pesquisa 1.193 mães.
RESULTADOS: Entre as variáveis demográficas do estudo destaca-se que o maior percentual (47,9%) das mães tinha entre 20 e 29 anos de idade e 69,2% eram casadas. Dentre as variáveis socioeconômicas, 36,1% possuíam o 1° grau incompleto, 55,7% eram donas de casa, 38,6% não possuíam renda pessoal, 60,6% dispunham de renda familiar entre um a três salários mínimos e 92,5% tiveram seus filhos nascidos em maternidades públicas.
CONCLUSÃO: A população estudada encontra-se em condições consideradas desfavoráveis para a saúde e desenvolvimento global dos neonatos e lactentes, pois as gestantes com este perfil pertencem a uma categoria de risco. Esses resultados servem de alerta para o desenvolvimento de ações que visem à promoção da saúde na população investigada.
Descritores: Triagem neonatal; Lactente; Audição; Perda auditiva; Fatores socioeconômicos; Características da população; Indicador de risco
ABSTRACT
PURPOSE: To describe demographic and socioeconomic aspects of mothers of newborns and infants enrolled in the Newborn Hearing Screening Program of the Hospital of the Federal University of Pernambuco.
METHODS: Data were gathered from the database of the Newborn Hearing Screening Program. Participated in the study 1,193 mothers who delivered babies in 2007.
RESULTS: Analysis of the demographic variables showed that most mothers were between 20 and 29 years old (47.9%), and 69.2% were married. Socioeconomic variables showed that 36.1% of the mothers did not complete elementary school, 55.7% were housewives, 38.6% did not have any personal income, 60.6% had familiar income between one and three minimum wages, and 92.5% gave birth in public maternities.
CONCLUSION: The studied population was considered in unfavorable conditions for the health and the global development of newborns and infants, for pregnant women within the same socioeconomic status constitute a risk category. These results emphasize the need for the development of health promotion actions for the investigated population.
Keywords: Neonatal screening; Infant; Hearing; Hearing loss; Socioeconomic factors; Population characteristics; Risk index
INTRODUÇÃO
A perda auditiva neonatal, mesmo de grau leve, pode alterar o desenvolvimento e a aquisição da linguagem oral. Com o objetivo de alcançar melhores prognósticos em casos de perdas auditivas neonatais, programas de triagem auditiva neonatal (TAN) vêm sendo desenvolvidos em maternidades no Brasil e em diversos países(1-4).
O crescente avanço na área se deve às inúmeras publicações científicas que apontam para melhores condições de desenvolvimento infantil quando a intervenção é iniciada nos seis primeiros meses de vida(1-5).
Vários fatores devem ser levados em consideração para a implantação de um programa de triagem auditiva neonatal, entre eles, fatores demográficos e socioeconômicos de uma determinada população com potencial impacto na gravidez(3), na saúde do feto/neonato e no desenvolvimento do sistema auditivo.
Entre os fatores demográficos que merecem ser discutidos, pode-se citar a faixa etária e o estado civil das mães. O crescente número de gestantes adolescentes nos dias de hoje(6) vem sendo apontado como um problema social em todo o mundo(7). Quanto ao estado civil das púberes, estudos apontam que viver legalmente ou consensualmente em relação conjugal poderá influenciar no modo como a gestação será percebida e aceita(7-9).
O nível de escolaridade, a ocupação, a renda pessoal e familiar, e os bens familiares são fatores socioeconômicos que refletem na saúde das mães(10,11). Alguns estudos(11-13) dispensam atenção especial ao nível de escolaridade da mãe, por considerar este aspecto como elemento básico, que reflete nos cuidados com a gestação e, consequentemente, para a saúde do recém-nascido.
Outros fatores são discutidos, tais como, a quantidade de filhos em uma família, a realização do pré-natal e o tipo do hospital de nascimento da criança(13-17).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)(18), o número de filhos por mulher está diminuindo nos últimos anos. Porém, constata-se maior quantidade de filhos nas famílias menos favorecidas economicamente e redução entre as famílias com melhores condições de vida. O maior número de filhos está associado a implicações sociais como assistência pré-natal inadequada e maior chance de prática de aborto e risco de sequelas como as malformações congênitas(5,8,19,20). O pré-natal é um procedimento destinado a orientar a promoção da saúde e bem-estar, propiciando também a realização de diagnósticos e tratamento de complicações que afetam as gestantes e seus filhos, durante e após a gestação(14).
Ao se identificar o tipo do hospital (público ou privado) em que foi realizado o parto, pode-se fazer inferências sobre alguns aspectos dos serviços prestados(17). No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) é um programa nacional, criado segundo princípios de Universalidade, Equidade e Integralidade, para atender, com excelência, qualquer cidadão brasileiro, sem diferenças sociais ou de qualquer ordem. No entanto, observa-se que há preferência dos usuários pelo atendimento privado(21). Isso porque parecem existir dificuldades de acesso ao Sistema Único de Saúde.
Com base no exposto, percebe-se a importância de estudos sobre aspectos socioeconômicos e demográficos de populações específicas, voltados para efetividade de programas de Triagem Auditiva Neonatal (TAN). Essas informações, escassas na literatura nacional, podem ser relacionadas à situação de saúde de cada região, e contribuem para a melhoria de um programa de TAN efetivo, pois representam uma importante base diagnóstica para as necessárias ações de gestão, assistência e ensino na área de saúde materno-infantil(11).
O presente estudo teve como objetivo descrever aspectos demográficos e socioeconômicos de mães de neonatos e lactentes atendidos no serviço de Triagem Auditiva Neonatal, do Hospital das Clínicas, da Universidade Federal Pernambuco (HC-UFPE), nascidos no ano de 2007.
O conhecimento sobre aspectos relacionados à população atendida no HC-UFPE contribuirá para a viabilização de estratégias de promoção à saúde auditiva na população estudada, uma vez que a eficácia de tais programas depende da integração da família em todo o processo de diagnóstico da perda auditiva. A determinação de perfis desta natureza fornecerá subsídios para que programas de triagem auditiva neonatal sejam direcionados para as diferentes realidades, com o intuito de melhor sensibilização e acolhimento destas mães.
MÉTODOS
Esta pesquisa foi realizada a partir de dados obtidos no serviço de Triagem Auditiva Neonatal (TAN), da Maternidade do Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE). Este é um Hospital vinculado ao SUS, sendo referência para gestantes de risco. No serviço de TAN realizam-se exames de segunda à quinta-feira, em neonatos e lactentes nascidos no referido Hospital ou em outros hospitais públicos e privados. Para todos os neonatos e lactentes atendidos, é realizado o preenchimento de um formulário de registro do paciente, dividido em duas sessões: (1) registro das informações referentes à situação demográfica e socioeconômica das famílias, e, (2) registro dos indicadores de risco presentes no pré-, peri- e pós-natal. Participaram desta pesquisa todas as mães de neonatos e lactentes, atendidos no referido serviço (N=1193), nascidos no ano de 2007.
Foi realizado um estudo observacional, descritivo, transversal e com desenho do tipo seccional. Os dados referentes a esta população, contidos nos formulários, foram digitados e calculados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), na versão 13.0. Para análise dos dados foram obtidas distribuições absolutas e percentuais. Foram analisadas as variáveis: (a) demográficas: (a1) idade materna e (a2) estado civil, e (b) socioeconômicas: (b1) escolaridade da mãe, (b2) ocupação da mãe, (b3) renda pessoal e familiar, (b4) número de filhos, (b5) acompanhamento pré-natal, e (b6) tipo de maternidade.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sob número 0158.0.172.000-07. Todas as mães atendidas no serviço de TAN do HC-UFPE assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS
Na análise dos dados demográficos, observa-se que a idade materna variou entre 12 e 46 anos, com uma média de 24,89 anos e desvio padrão de 6,73 anos. Observa-se um maior percentual para mães com idade entre 20 e 29 anos (47,9%, N=572), em comparação com percentuais de 24,6% (N=293) para mães com idades superiores e inferiores a esse intervalo. Um percentual de 2,9% (N=35) das mães entrevistadas não informou a idade. No que se refere ao estado civil, foi observado que 69,2% (N=825) das mães pesquisadas eram casadas ou possuíam união consensual, sendo 27,8% (N=332) solteiras. Um percentual de 3% (N=36) não informou o estado civil.
Os resultados referentes às variáveis socioeconômicas encontram-se na Tabela 1. Destaca-se que 36,1% (N=431) das mães possuíam primeiro grau incompleto, 55,7% (N=664) relataram ser donas de casa, 38,6% (N=461) não possuíam renda pessoal, 60,6% (N=723) referiu possuir entre um a três salários mínimos, para renda familiar, 51,6% (N=616) das mães possuíam um filho, 92,7% (N=1106) informou ter realizado acompanhamento pré-natal.
DISCUSSÃO
Buscou-se determinar a ocorrência de alguns aspectos socioeconômicos e demográficos, para que, em estudos futuros, esses dados possam ser relacionados à efetividade do programa de TAN da região. Número de falhas na TAN, retornos para o reteste e/ou número de indivíduos identificados com perda auditiva, segundo o JCIH(5) são interessantes indicadores para avaliação de efetividade. Isto porque tais aspectos se relacionam com riscos à saúde geral e auditiva do paciente(22).
Dados do IBGE(6,18) referem que há aumento de nascimentos provenientes de mães adolescentes. Nessa circunstância, há riscos para a mãe adolescente e para o neonato(13,22,23). Ao se analisar a faixa etária das mães participantes desse estudo, percebe-se que apesar da maior ocorrência ser de mães entre 20 e 29 anos (47,9%, N=572), um elevado percentual (24,6%; N=293) das mães eram menores de 20 anos, e apresentava riscos gestacionais(13,22,23). Esses dados estão em concordância com o IBGE(6,18), que aponta para um aumento de mães adolescentes na região Norte e Nordeste, e servem de alerta para a necessidade de atenção especial aos casos de gravidez na adolescência em nossa região. Complicações na gestação em adolescentes são amplamente divulgadas na literatura e ações de prevenção de doenças, assim como de orientação à saúde, devem ser realizadas principalmente diante de dados reveladores de alta ocorrência gestacional entre adolescentes de uma região(6,18,24).
O apoio financeiro e psicológico de um companheiro tem sido descrito como fundamental para uma boa gestação(23). Neste estudo, foi verificado que 69,2% (N=825) das mães eram casadas ou viviam em união consensual. Entretanto, 27,8% (N=332) das mães relataram ser solteiras. Essa população merece atenção especial, pois estudos alertam para possibilidade crescente de mães solteiras praticarem aborto(8), iniciarem o pré-natal mais tarde(9) e tenderem a iniciar o aleitamento materno mais tarde(9), aspectos considerados risco para a saúde da gestante e do neonato.
Quanto à escolaridade, verificou-se que 36,1% (N=431) das mães sequer concluíram o primeiro grau e 2% são analfabetas. Como o número de anos de instrução formal é considerado um indicador revelador do nível da educação das pessoas(12,13,17), este fator foi considerado como um marcador da condição socioeconômica materna e de sua família, relacionando-se com o perfil cultural e comportamental relacionado aos cuidados de saúde(25). Além disso, o grau de escolaridade das mães é considerado um aspecto que influencia a redução das taxas de fecundidade no país(6).
Um estudo realizado na região nordeste(26) demonstrou que as mães com menor nível de instrução relataram não conhecer a importância do pré-natal e dos fatores de risco para seus bebês. A população com menor escolaridade apresenta menor índice de retorno às consultas, desinformação, menor interesse pelos cuidados com a saúde ou maior dificuldade de acesso aos serviços de atendimento pré-natal.
A escolaridade igual ou menor que quatro anos é, ainda, um fator preditor de baixo peso ao nascer(12). A mãe com este perfil pode não possuir esclarecimentos sobre os cuidados nutricionais necessários durante a gravidez, além do comprometimento da higiene corporal e bucal, assim, como alterações no equilíbrio materno-fetal(13,17,25). Mães com menor grau de escolaridade podem apresentar, mais frequentemente, fatores de risco, para os neonatos, como baixo peso ao nascimento e mortalidade perinatal(13,17,25). Aproximadamente 38% das mães que participaram do programa de TAN do HC-UFPE possuíam baixa escolaridade, o que sinaliza a necessidade de maior atenção às informações dadas relativas aos cuidados com seu filho.
A baixa escolaridade, associada à pobreza, é um indicador de desinteresse dessas mães em investir nos cuidados com o desenvolvimento do neonato(17,22). Neste aspecto, inclui-se o acompanhamento auditivo, caso seja detectada perda auditiva na criança, através da TAN. Esse grupo torna-se, então, especial no sentido de que sejam criadas estratégias específicas de acompanhamento dos neonatos, minimizando os efeitos devastadores de uma perda auditiva não identificada.
Quanto à ocupação das mães, foi encontrado que 55,7% (N=664) relataram ser donas de casa. Esta informação assemelha-se aos resultados referentes à renda pessoal (43,2%, N=495). Ou seja, quase metade da população estudada é economicamente ativa. Esse fato faz com que estas mães sejam mais independentes financeiramente da família ou do companheiro(23), pois uma das formas de analisar o seu nível socioeconômico é através de sua renda individual ou familiar(17).
Por outro lado, observa-se que a outra metade das mães dispõem de uma renda pessoal ou familiar considerada baixa (menor que o salário mínimo), que muitas vezes não satisfaz as necessidades de cuidados da saúde, nutrição e lazer de uma criança ou de uma gestante, prejudicando de maneira global a gestação(3). Esta análise relaciona-se à saúde de uma população, quando se considera que o acesso a bens e serviços básicos e adequados, no Brasil, ainda depende do nível de rendimento de seus membros. O conceito de serviços básicos está sendo considerado como os que contribuem para a saúde física, mental e social de uma população e não exclusivamente instituições formais, como hospitais e postos de saúde.
Um aspecto socioeconômico que também merece ser discutido é a realização do pré-natal. O pré-natal é capaz de orientar a promoção da saúde e bem-estar, além de oportunizar o diagnóstico e tratamento de inúmeras complicações que afetam as mães e seus filhos durante a gestação e a redução ou eliminação de fatores e comportamentos de risco passíveis de serem corrigidos(14), como a perda auditiva. A assistência pré-natal, no Brasil e em outros países em desenvolvimento, tem se mostrado como um dos principais fatores de proteção contra o baixo peso ao nascer, prematuridade e óbito perinatal(15). Os dados desse estudo revelam uma informação que parece ser positiva e motivadora. Indica que as gestantes acompanhadas e orientadas no HC-UFPE (92%) estão fora das situações de risco, quando se observa sua saúde e da saúde do feto, o que as protege dos riscos para perda auditiva.
A análise da quantidade de filhos declarada segue a tendência descrita pelo IBGE(6,18), que mostra que, no Brasil, até 2006, a proporção de mulheres em idade reprodutiva com pelo menos um filho nascido vivo era de 63%. No Estado de Pernambuco, essa proporção foi de 28,3% e no programa de TAN do HC-UFPE foi de 51,6%.
Dos neonatos e lactentes que participaram do programa de TAN HC-UFPE, mais de 92,5% (N=1103) nasceram em maternidades do SUS. Números semelhantes também foram encontrados em estudo realizado no município de Fortaleza, onde a maior prevalência foi de partos em hospitais públicos(27). Ao se observar que grande parte da população faz uso dos serviços públicos de saúde, é importante que se reflita sobre o investimento governamental em instituições dessa natureza, a fim de que as dificuldades sejam superadas e que sejam oferecidas melhores condições de assistência.
Apesar do SUS ser oferecido a todos os cidadãos, na prática, é utilizado predominantemente por aqueles que possuem menor poder aquisitivo(21). Dessa forma, deve-se buscar um caminho para a melhoria na promoção de saúde populacional e para a identificação de dificuldades, com vistas a planejamentos que possam alcançar resultados de excelência, como todo e qualquer programa de saúde público ou privado.
O diagnóstico dos indicadores populacionais mais frequentes amplia a discussão sobre a situação de carência na assistência de saúde e as reflexões sobre o assunto, sinalizando a necessidade de investigações direcionadas que possam contribuir efetivamente para a solução de dificuldades.
CONCLUSÃO
A presente pesquisa caracterizou uma população de mães atendidas no Programa de Triagem Auditiva Neonatal, no ano de 2007, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, quanto a aspectos demográficos e socioeconômicos. Os aspectos estudados são interdependentes, e por isso, muitas vezes, não podem ser considerados de forma isolada.
O conhecimento de tais aspectos socioeconômicos pode levar à realização de ações de atenção básica à saúde que visem minimizar as possíveis causas das alterações auditivas, incentivando melhores condições de saúde. Para o setor público, manter um indivíduo com perda auditiva excluído da sociedade é mais oneroso do que integrá-lo. Esse motivo justifica a implantação, em hospitais públicos e privados, de Programas de Triagem Auditiva Neonatal, atrelados a Programas de Intervenção à Perda Auditiva Neonatal, para que haja identificação de neonatos e lactentes com alteração auditiva o quanto antes, viabilizando sua integração social e ofertando melhor qualidade de vida à sua família.
A análise sobre os resultados dos fatores socioeconômicos revela uma situação considerada desfavorável para a saúde e desenvolvimento global dos neonatos e lactentes, uma vez que as gestantes com o perfil encontrado pertencem a uma categoria com maior probabilidade de risco para perda auditiva e demandam orientações específicas quanto a esses aspectos. Neste aspecto, maior atenção deve ser dada às mães com baixa escolaridade, que não trabalham formalmente e, por conseguinte, não possuem renda pessoal.
Fica clara a necessidade de realização de estudos que avaliem condições demográficas e socioeconômicas relacionando tais aspectos com os resultados encontrados em triagens auditivas realizadas em maternidades. Adicionalmente, reconhece-se a importância de estudos que visem investigar causas e soluções relacionadas às condições socioeconômicas desfavoráveis identificadas na população participante do presente estudo.
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Recebido em: 26/2/2009
Aceito em: 27/10/2009
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Endereço para correspondência:
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
21 Jul 2010 -
Data do Fascículo
2010
Histórico
-
Recebido
26 Fev 2009 -
Aceito
27 Out 2009