Resumo
Este artigo apresenta um estudo exploratório sobre os mercados editoriais da França e do Brasil, com ênfase na área das Ciências Humanas e Sociais (CHS), a partir dos fluxos de cessão de direitos de tradução (extradução) e de aquisição de direitos de tradução (intradução), entre 2010 e 2022. A pesquisa busca identificar como se organiza o mercado editorial francês e, nele, as editoras que comercializam obras de CHS com o mercado editorial brasileiro, para identificar, posteriormente, quais os autores mais contemplados para cessão de direitos. Em um segundo momento, o movimento inverso tenta traçar o panorama do mercado editorial brasileiro nessa área. Para tanto, compartilham-se os dados iniciais coletados em pesquisa documental e informações colhidas junto a seus principais agentes, editores comerciais e universitários. A partir da análise dos fluxos de tradução, a continuidade da pesquisa procurará estabelecer os autores e áreas que importamos e exportamos e o lugar do Brasil neste cenário.1
Palavras-chave Sociologia da Tradução; fluxos de tradução Brasil/França; Ciências Humanas e Sociais
Résumé
Cet article présente une étude exploratoire sur les marchés éditoriaux des sciences humaines et sociales (SHS) en France et au Brésil, et ce, à partir des flux de cession des droits de traduction (extraduction) et d'acquisition des droits de traduction (intraduction). Dans un premier temps, la recherche vise à identifier l'organisation du marché du livre français et les maisons d'édition qui cèdent des droits d'édition d'ouvrages de SHS à des maisons d'édition brésiliennes, afin de distinguer les auteurs privilégiés. Dans un second temps, la recherche s'intéresse au mouvement inverse dans le but de tracer un panorama du marché éditorial brésilien. Sur la base des données recueillies dans la bibliographie existante et des informations fournies par ses principaux agents, les maisons d'édition commerciales et universitaires, l'objectif est d'analyser les flux de traduction et, plus particulièrement, de mieux connaître ce qui est importé. Il s'agit d'établir le lieu occupé par le Brésil dans ce champ, ainsi que les auteurs que nous importons et exportons.
Mots-clés Sociologie de la traduction; flux de traduction Brésil/France; sciences humaines et sociales
Abstract
This article presents an exploratory study on the publishing markets of France and Brazil, in the area of Human and Social Sciences (HSC), based on the flows of requests for assignment of translation rights and acquisition of translation rights, between 2010 and 2022. This research aims to identify how the French publishing market is organized, and, in this market, which are the publishing houses that trade the HSC works sold in the Brazilian publishing market; the goal, then, is to identify which authors are the most sought after for assignment of rights. In a subsequent part of the research, the goal is to outline the scenario of the Brazilian publishing market in terms of assignments of translation rights. To this end, we share the initial data collected in bibliographic research and in questionnaires sent to the main actors in this market, namely, commercial publishing houses and university presses. Based on the analysis of the translation flows, the next step is to establish – with further research – which place Brazil occupies in the global field, which are the authors we import and export.
Keywords Sociology of Translation; translation flows Brazil/France; Human and Social Sciences
Baseados em nossas orientações e sensibilidades distintas, nós, editores de Ciências Humanas, assumimos com convicção um esforço comum e diário para garantir uma ampla difusão a trabalhos, pesquisas e documentos que consideramos indispensáveis à reflexão política. Compartilhamos a convicção de que a vivacidade de nossa democracia repousa na compreensão de nosso tempo para a qual as Ciências Humanas e Sociais representam um papel eminente. Para ser real e eficaz, esse esforço de compreensão repousa em três pilares interdependentes: uma pesquisa promovida e incentivada, com recursos garantidos, uma formação de qualidade e ambiciosa e uma edição e divulgação apoiadas e ativas.
Lévy-Rosenwald, M. (2012, p. 85, grifo nosso) 2
Introdução
A citação em epígrafe retoma uma declaração conjunta de um grupo de editores franceses empenhados em defender a autonomia e a importância do setor de Ciências Humanas e Sociais (doravante CHS),3 consideradas por eles como um componente essencial da vida democrática. Pronunciavam-se, naquele momento, em razão da crise provocada, entre outros fatores, pelo que entendiam como o enfraquecimento do mercado editorial francês no exterior diante da abundante e crescente produção em língua inglesa, o que poderia acarretar um declínio da influência do “pensamento francês” (Sapiro, 2014) em âmbito mundial.
Essa crise, que levou o governo francês a tomar uma série de medidas de proteção e incentivo à produção científica do país, assim como as iniciativas que ela originou revelam que, para os editores franceses e os demais atores envolvidos, o valor das CHS ultrapassa o âmbito comercial, é igualmente civilizacional e deve ser protegido e estimulado. A tentativa de conhecer melhor o lugar dessa área também em nosso país, ainda tão instável democraticamente, assim como as relações que o Brasil mantém com a França nesse setor, incitou-nos a encetar uma pesquisa sobre os fluxos de tradução entre esses dois países.4
Essa pesquisa exploratória foi efetuada em dois momentos: inicialmente, foi enviado um questionário a todas as editoras francesas, comerciais e universitárias, que pudemos elencar, com publicações na área de CHS, num total de duzentas. Solicitamos informações sobre a cessão direitos de tradução ao Brasil de obras em geral e de CHS em particular: número de títulos de todas as áreas e de títulos em CHS cedidos ao ano, títulos efetivamente publicados, informações sobre a escolha das obras, lugar do Brasil como importador da produção bibliográfica em CHS na editora. Ao mesmo tempo, também entrevistamos presencialmente agentes do mercado editorial: Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), CNL, Institut du Livre e agentes literárias.5 Nessas entrevistas iniciais não foram disponibilizados dados precisos sobre o mercado editorial francês, mas indicações de possíveis fontes de dados.
Num segundo momento, o mesmo questionário foi enviado diretamente a editoras comerciais brasileiras e a todas as editoras universitárias, solicitando informações sobre a aquisição de direitos de tradução da França na área de CHS. Em vista do número reduzido de respostas, novo envio foi feito aos sócios da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (Abeu),6 em número de 128, em 2022.
O envio do questionário vem sendo repetido desde fevereiro de 2020; porém o retorno das editoras, sobretudo brasileiras, é quase nulo. Entre as possíveis razões para esse silêncio, em primeiro e evidente lugar, a pandemia na Europa e no Brasil, que desorganizou, por muitos meses, o trabalho dos agentes do mercado editorial. Além disso, as informações solicitadas foram consideradas por muitos editores que responderam à correspondência enviada como sendo de caráter confidencial. As poucas editoras que enviaram dados pediram sigilo.
Considerando que não tivemos acesso a uma base de dados da amplitude da base francesa Électre7 e que os sites das editoras brasileiras nem sempre fornecem informações detalhadas sobre as obras traduzidas (língua original, tradutor, estatísticas), essa dificuldade de coleta de dados levou à busca de informações em entidades relacionadas ao mercado editorial. Na França, obtivemos acesso aos dados do Bureau International de l’Édition Française, do Centre National du Livre e do Syndicat National de l’Édition, que, além de informações sobre o mercado editorial francês, forneceram dados sobre nosso país não disponíveis entre nós; no Brasil, o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, a Câmara Brasileira do Livro, a Libre-Liga Brasileira de Editoras, o Instituto Pró-Livro. Consultamos também as bases da Unesco, o Index Translationum, a Fundação Biblioteca Nacional e Brazilian Publishers. Foram as informações publicadas pelos sites dessas entidades que permitiram este estudo exploratório sobre os mercados francês e brasileiro e os fluxos de tradução entre eles.
A circulação dos bens simbólicos e o mercado mundial da tradução
Em obra dedicada ao estudo da tradução de livros franceses de Ciências Humanas e Sociais, a socióloga Gisèle Sapiro alertava para a necessidade de se refletir sobre as condições específicas dessa área e sobre seus aportes epistemológicos a fim de evitar que o inglês se tornasse a única língua de comunicação das CHS. Lembrando que “a circulação internacional das ideias depende, portanto, em boa parte da tradução” (Sapiro, 2019, p. 20),8 a autora estudou os fluxos de tradução entre o inglês e o francês por meio da análise das relações complexas entre o capital simbólico do autor e da editora e as redes acadêmicas e editoriais, entre outros elementos. Seus resultados identificaram “seis grupos de fatores que favorecem ou obstaculizam a circulação dos livros em CHS em tradução: 1. as relações de força entre línguas, culturas e tradições nacionais disciplinares; 2. o capital simbólico e as outras propriedades do autor; 3. as propriedades do livro; 4. o capital simbólico da editora; 5. as redes editoriais e acadêmicas (capital social); 6. os auxílios à tradução (capital econômico)”9 (Sapiro, 2019, p. 22). Dentre esses fatores, Sapiro considera fundamental o grau de centralidade da língua da obra traduzida e da língua para a qual ela é traduzida (Sapiro, 2019, p. 22).
Para Heilbron e Sapiro (2002, p. 3), a análise das práticas de tradução permite identificar questões relativas ao funcionamento do mercado mundial dos bens simbólicos (Bourdieu, 1971). Examinar esse objeto demanda, então, romper com a abordagem somente hermenêutica do texto – cuja finalidade é “um acesso ao ‘sentido’ do texto e à sua unicidade”10 (Heilbron; Sapiro, 2002, p. 3) – e com uma análise apenas econômica dessas trocas e transferências culturais, que “identifica os livros produzidos com mercadorias produzidas e consumidas de acordo com a lógica do mercado e que circulam segundo as leis do comércio nacional e internacional”11 (p. 3), visto que a lógica de produção desse mercado de bens simbólicos, ao contrário, projeta-se no longo prazo e visa à constituição de um acervo.
A abordagem sociológica da tradução defendida pelos autores “toma por objeto o conjunto das relações pertinentes nas quais as traduções são produzidas e circulam”,12 resgatando “duas abordagens afins desenvolvidas sobretudo por comparatistas, historiadores da literatura, especialistas de campos culturais e de história intelectual: os Translation Studies e os estudos dos processos de ‘transferência cultural’”13 (Heilbron; Sapiro, 2002, p. 4). Os primeiros, afastando-se das análises baseadas no texto original e em sua tradução, buscam entender melhor o funcionamento das traduções em seu contexto de produção e de recepção. As abordagens a partir da “transferência cultural”, por sua vez, debruçam-se “sobre os atores dessas trocas, instituições e indivíduos e sua inscrição nas relações político-culturais entre os países estudados”14 (p. 4). Essa abordagem traz à tona, portanto, questões sociológicas que ultrapassam a perspectiva textual da tradução: suas funções, seus agentes, seu modo de organização e seu lugar na sociedade, “regido por três lógicas principais: a das relações políticas entre os países, a do mercado internacional do livro e a das trocas culturais” (p. 4). São essas lógicas que definem a circulação desses bens simbólicos, tão diversa quanto diversas as sociedades envolvidas, com o concurso de entidades e atores com diferentes pesos nesse processo: editores, agentes literários, tradutores.
Em artigo dedicado ao estudo da consagração e da acumulação de capital literário, Pascale Casanova aborda igualmente a questão da circulação de bens simbólicos e, assim como Heilbron e Sapiro, propõe examinar a tradução para além da relação de transferência de um texto em uma língua para outra língua e em campos nacionais fechados em si mesmos.
O ponto de vista transnacional, ao restabelecer relações, hierarquias e relações de força entre os campos nacionais, permite, de fato, inverter o pressuposto nacional-linguístico e a representação do mundo literário de que existe uma justaposição de universos autossuficientes, fechados e irredutíveis uns aos outros, e de línguas iguais, separadas e autônomas
(Casanova, 2002, p. 7).15
O que esse ponto de vista revela é “uma outra economia das trocas linguísticas”, na qual a tradução é uma “troca desigual” que se produz em um universo bastante hierarquizado e se apresenta como uma das formas específicas da relação de dominação no campo literário internacional (Heilbron; Sapiro, 2002, p. 8). O campo literário mundial é formado por outros tantos campos nacionais, constituídos por capital literário, variável em volume e antiguidade: alguns possuem mais capital enquanto outros carecem dele. Portanto, “a posição de cada espaço nacional na estrutura mundial depende de sua proximidade de um dos dois polos, isto é, de seu volume de capital” (p. 8).16 A isso se acrescenta a distribuição desigual de capital linguístico-literário atribuído a cada língua, que se deve também à sua antiguidade, prestígio, refinamento, tradição e traduções. Para analisar esse volume de capital, a autora opta por descartar os termos centro e periferia, utilizados em sociologia política, e substituí-los por línguas dominadas e línguas dominantes. Estas teriam um capital literário maior graças ao seu prestígio e antiguidade, ao passo que as línguas dominadas seriam, grosso modo, línguas nacionais tardias, com pouco capital literário, pouco reconhecimento e um número pequeno de tradutores. Não há, no entanto, homogeneidade entre elas. Casanova as divide em quatro grupos: línguas orais, ou com escrita apenas recente, que não se beneficiam de traduções e são desconhecidas internacionalmente;17 línguas recriadas há pouco tempo e transformadas em língua nacional, com poucos falantes e poliglotas, pouca produção literária e com trocas ainda inexpressivas com outros países, e que buscam, pela tradução, um espaço no campo literário mundial (caso do hebraico, entre outros);18 línguas de cultura, como o grego ou o persa,19 que têm prestígio e história, mas poucos falantes e, portanto, pouco reconhecimento internacional; línguas de grande difusão (como árabe e chinês), com tradição literária e muitos falantes, mas pouco conhecidas no mercado literário internacional (Heilbron; Sapiro, 2002, p. 9). Devido a essa desigualdade estrutural, a significação da tradução em cada uma dessas línguas/culturas vai depender da língua de chegada e de partida e do autor, ou seja, da posição que cada uma das línguas e o autor ocupam no campo literário nacional e mundial. Por fim, vai depender também da posição do tradutor e dos agentes que fazem parte do processo de consagração de uma obra. São essas posições que vão distinguir os países: os dominados importam capital literário dos dominantes, ao passo que os dominantes importam apenas alguns textos dos dominados ou somente exportam sua produção.
A divisão do campo literário mundial proposta por Casanova entre línguas dominadas e dominantes a partir do capital linguístico-literário atribuído a cada língua, que engloba antiguidade, prestígio, refinamento, tradição e traduções, é igualmente válida para a área das CHS. Nesta, a acumulação da produção científica de cada espaço nacional engendra seu capital científico – conformado por antiguidade e prestígio, mas também por muitos outros aspectos, como o capital simbólico dos autores(as) e das tradições disciplinares nacionais.20
A relação entre o Brasil e a França, na área da Literatura, representaria o modelo das línguas de grande difusão proposto por Casanova. Em que pese o fato de a variante brasileira ser falada por cerca de 210 milhões de pessoas (260 milhões considerando todas as variantes da língua portuguesa) e de nosso país contar com uma tradição literária de prestígio21 –, alguns de nossos escritores mais renomados já ultrapassaram as fronteiras do país e são traduzidos para várias línguas, desde os mais tradicionais, como Machado de Assis, Guimarães Rosa ou Jorge Amado, até jovens autores contemporâneos, como Daniel Galera, que, aproveitando a trilha aberta por seus antecessores, conseguiram captar o interesse dos países/línguas dominantes –, ainda pertencemos ao grupo das línguas dominadas no que tange aos fluxos de tradução no campo literário mundial.
Na área das CHS, em que pese a presença internacional de grandes nomes, como Paulo Freire, Milton Santos, Darcy Ribeiro,22 entre outros, os dados iniciais parecem indicar que, no cenário mundial, ainda consumimos, mais do que exportamos, a produção de línguas dominantes, como o inglês, o francês e o alemão.
O mercado editorial mundial
Em um estudo de 2009 sobre os mercados dos serviços linguísticos, intitulado Study on the Size of the Language, Industry in the EU e encomendado pela Direção de Tradução da Comissão Europeia, Dwyer (2009, p. 77) avaliou a importância do setor das “indústrias da língua” em cerca de 9,3 bilhões de euros. Neste total, estão incluídas a tradução, a interpretação, a localização e a internacionalização, o ensino de línguas, a legendagem e a dublagem, o desenvolvimento de ferramentas linguísticas tecnológicas e a organização de conferências multilíngues. O autor desse estudo previu para esse ramo, naquele momento, uma taxa de crescimento de 10%, que atingiria 16,5 bilhões de euros em 2015. Considerando a União Europeia (UE), com a participação de 28 Estados-Membros que compartilham línguas e culturas diferentes em um sem número de atividades que abrangem os setores jurídico, econômico, cultural, turístico, acadêmico, entre outros, pode-se compreender a pujança desse mercado de serviços linguísticos, sem o qual não haveria uma comunicação adequada entre esses países. Em tal mercado, a tradução – “instrumento de diálogo, de apropriação e de transformação” (Lévy-Rosenwald, 2012, p. 32) – ocupa um grande espaço e “permite criar inteligibilidade recíproca entre as experiências do mundo, tanto as disponíveis como as possíveis, reveladas pela sociologia das ausências e a sociologia das emergências” (Santos, 2002, p. 262).
Um estudo recente sobre o mercado de serviços linguísticos (Mordor Intelligence, 2021) produzido por uma empresa indiana de consultoria e marketing, iniciado em 2018 e com projeção de resultados até 2028 para a América do Norte, Europa, Ásia-Pacífico, América Latina, Oriente Médio e África, indica que esse mercado continua em expansão – com taxa de crescimento projetada de 5,3% ao ano – e elenca alguns fatores que explicam esse crescimento. Em primeiro lugar, o confinamento provocado pela pandemia mundial impulsionou tanto o desenvolvimento do comércio via internet quanto o número de usuários nas redes sociais e nas plataformas de streaming, levando a uma necessidade crescente de conteúdo e de traduções, pois “segundo os últimos dados, cerca de 300 horas de conteúdo de vídeo são baixadas do YouTube a cada minuto e aproximadamente cinco bilhões de vídeos são vistos diariamente pelos usuários” (Mordor Intelligence, 2021). Ainda segundo o relatório apresentado, a demanda desses serviços linguísticos não se concentra mais apenas nas multinacionais, e todo tipo de organizações, privadas e governamentais, utilizam cada vez mais a tradução e a interpretação, além de outros serviços, com o intuito de alcançar um público maior, a menor custo, via internet.
Na UE, a amplitude da tradução pode ser comprovada por seus dados: a equipe de tradução da comunidade conta com dois mil funcionários, entre tradutores, intérpretes, revisores, terminólogos, que traduzem cerca de dois milhões de páginas ao ano. Os textos legislativos e administrativos perfazem a maior parte das traduções – 59%. A língua mais traduzida é o inglês, seguida do francês. Em um ranking de 25 línguas, o português se encontra na 9ª posição.23
O mercado editorial francês
No espaço europeu, a França é tanto um país tradutor quanto um país leitor. No barômetro Les Français et la lecture (Vincent Gerard; Lapointe, 2021), publicado a cada dois anos pelo Centre National du Livre (CNL), lê-se que, embora o ano de 2020 tenha registrado uma baixa global da leitura, os franceses ainda a valorizam muito e a consideram como um meio de alcançar a felicidade e a realização: 86% leem ao menos um livro ao ano, sem contar as leituras profissionais e para as crianças, e 20% leram em média 18 livros no biênio 2020-2021. O gênero preferido é a literatura clássica francesa ou estrangeira, seguido dos livros práticos e de história. A título de comparação, os dados coletados na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, entre outubro de 2019 e janeiro de 2020 (IPL, 2020), indicam que a relação dos brasileiros com a leitura é bastante distinta daquela dos franceses: quando perguntados se gostam de ler, apenas 45% revelam que gostam muito, enquanto 22% declaram não gostar de ler. Além disso, a média anual de livros lidos no Brasil é de cinco.24 Outro dado que chama a atenção são os gêneros de preferência entre nós: a Bíblia é citada por 35% dos leitores de todas as idades e níveis de escolaridade, seguida por contos, livros religiosos e romances, que se equiparam no segundo, terceiro e quarto lugares. As obras de CHS vêm apenas em oitavo lugar.
No âmbito da tradução, a França é o terceiro país europeu que mais traduz, ficando atrás apenas da Alemanha e da Espanha, segundo o Index Translationum, da Unesco.25 A título ilustrativo, dados de 2017 do setor editorial (Piault, 2018) registravam 13.027 traduções, o que representava 19% da produção editorial nesse ano e que se repetiu em 2018, segundo Actualitté, site dedicado ao universo do livro:
Em 2018, os livros traduzidos representavam cerca de 19% da produção editorial francesa, porcentagem em alta constante nos últimos anos. A França é sem dúvida um dos países que mais traduzem e que oferecem a maior seleção de literaturas do mundo a seus leitores
(Gary, 2019).
Entre os trinta livros mais vendidos (sem distinção de gênero), nove eram traduções. Também em 2018 (Walter, 2018), os números foram significativos: dentre os 567 romances dos lançamentos editoriais (a rentrée littéraire), 186 eram traduções. Dados coletados pelo Syndicat National de l’Édition (SNE) e também pelo Bureau International de l’Édition Française (BIEF) indicam que, no que tange à extradução, o país é um dos principais exportadores da Europa, tendo cedido 16.868 títulos em 2021.26 O chinês é a língua mais importante em termos de cessões de direitos, seguido do italiano, alemão, espanhol e polonês; o português vem somente na nona posição (o relatório não discrimina as variantes brasileira e europeia). Do número total de cessões, 1.477 correspondem às CHS, quarto segmento mais produtivo (em 2017, era o terceiro), ficando atrás da literatura, das histórias em quadrinhos e da literatura infanto-juvenil. No segmento CHS, as obras jurídicas correspondem a 69% da produção.
Em termos de produção de conhecimento, o mercado editorial francês publicou quase 110 mil títulos no ano de 2021, demonstrando um crescimento de 12,5% em relação a 2020, conforme relatório apresentado pelo SNE (2022b, p. 5) a partir de duzentas editoras respondentes. Uma das causas avançadas para esse crescimento foi o fechamento, durante o período de confinamento da pandemia de covid-19, da maior parte dos locais de cultura e o desejo do leitor de diminuir o tempo passado diante das telas, o que beneficiou a leitura.
O mercado editorial francês elenca aproximadamente oito mil editoras, mas apenas mil delas têm uma produção significativa. Grandes grupos nacionais e internacionais – Hachette, Editis, Madrigall, Médias-Participations – concentram a concorrência e dominam o mercado. Embora tenha uma produção pujante, a lenta mas contínua diminuição das extraduções desde 2016 levou os atores da área a temer uma consequente perda da influência francesa no debate mundial de ideias, levantando a questão de uma possível crise27 na área do crescimento das cessões de direitos. Em uma entrevista intitulada “É preciso resistir à globalização das línguas”28, a filóloga, helenista e filósofa Barbara Cassin (2022, p. 13) abordou essa problemática quando questionada se a tradução seria um reflexo das relações de dominação, considerando que certos textos e certas línguas são mais traduzidos do que outros. Para ela, “a língua é um desafio político por excelência. Sempre foi assim. O modo como os gregos pensavam o logos era evidentemente político”, e dois perigos ameaçam a Europa:
O primeiro é um “nacionalismo” linguístico que estabelece uma hierarquia entre as línguas, com o grego e o alemão no topo, como línguas “autênticas”. O segundo perigo é o globish, o global english, que supostamente é a língua de todos. Mas falar não se resume a comunicar. O globish é a mais pobre das línguas, a das expertises e dos processos. As línguas de cultura, inclusive o inglês, que são constituídas por autores e obras, escritas ou orais, encontram-se em posição de dialetos, apenas no seu espaço
(Cassin, 2022, p. 14).29
No relatório do CNL de 2012,30 embora se afirme que “a pesquisa francesa em Ciências Humanas e Sociais continua a ser referência entre os especialistas” e que “o francês permanece sendo, nas bases de dados internacionais, a terceira língua de publicação”, há certo consenso sobre a necessidade de o mercado editorial francês se abrir a um leitorado não francófono a fim de inverter a tendência de queda, reconquistando mercados e fortalecendo “a influência do pensamento francês fora das fronteiras” (Lévy-Rosenwald, 2012, p. 32-33).
Essas oscilações levaram ao incremento de uma política de soft power no ramo da edição a partir da oferta de auxílios para publicação a editoras e a tradutores estrangeiros, assim como para pesquisas relativas à edição e à tradução. Duas entidades francesas participam principalmente desse esforço: o Institut Français du Livre e o CNL.
O último relatório do SNE já revela os primeiros resultados dessa política de extradução: em 2021, foram cedidos 16.826 títulos a editoras estrangeiras, com um aumento de 17% em relação a 2020. Dentre as categorias mais traduzidas, a literatura infanto-juvenil, as histórias em quadrinhos e a ficção ocupam 73,6% do total de cessões. As CHS se situam na 4ª posição, com 1.477 cessões. A língua portuguesa (variantes europeia e brasileira) ocupa 4% desse mercado. Por meio da Embaixada da França e do Bureau du Livre, o governo francês também investe na manutenção do “pensamento francês” em nosso país, oferecendo auxílios a editores para compra de direitos de obras francesas com dois programas de auxílio: Programme d’aide à la publication (PAP) Cession de Droits e PAP Carlos Drummond de Andrade. Por sua vez, o CNL oferece, como vimos, bolsas a tradutores para publicação de traduções em português.
No ano de 2018, o CNL auxiliou a intradução de 272 obras (67 em CHS): 142 do inglês, 24 do alemão, 20 do espanhol e 18 do italiano. As demais línguas computaram menos de 10 auxílios (grego moderno, chinês, russo, islandês, norueguês, turco, polonês, hebraico, iídiche, croata, indonésio, dinamarquês, árabe, latim, húngaro, hindi, basco, africâner, curdo, amharique, holandês, khmer, eslovaco, tailandês). Para o Brasil, foram concedidos dois auxílios: para a tradução da obra Um mapa todo seu, de Ana Maria Machado (editado por Alfaguara, 2015), e para Meia-noite e vinte, de Daniel Galera (por Companhia das Letras, 2016).31 Para a extradução, foram dados 245 auxílios para publicação (117 em CHS) nesse ano, sendo que o Brasil recebeu apoio para a tradução de Désobéir, de Frédéric Gros.32 Das 42 bolsas para tradutores (13 em CHS), foram contempladas Lígia Fonseca Ferreira e Regina Salgado Campos, para a obra Pascoa et ses deux maris. Une esclave entre Angola, Brésil et Portugal (por Presses Universitaires de France/Humensis, 2019) e Angela Leite Lopes, para L’Envers de l’esprit (por P.O.L. éd., 2009).33
O mercado editorial brasileiro
Em nível mundial, o Brasil se encontrava em 17º lugar entre os 50 países que mais traduzem e, na América Latina, estava em 1º lugar (Dantas; Perrusi, 2011). A intradução brasileira contabiliza, na base da Unesco, 50.182 obras traduzidas para o português brasileiro.34 Dados do Sindicato Nacional dos Editores de Livro (SNEL, 2019), que congrega cerca de 571 editoras brasileiras associadas, registram que 5.626 livros foram traduzidos em 2018, com 30,8% do faturamento advindo do gênero não ficção/especialista, no qual se situam as obras de CHS. Em 2019, 3.823 livros foram traduzidos.35 Até 2017, o Brasil se encontrava entre os países que mais adquiriam direitos de publicação dos franceses: o francês vem em terceiro lugar dentre as línguas mais traduzidas em nosso país, perdendo apenas para o inglês e o alemão. Em 2017, foram comercializadas com nosso país 251 cessões de direitos franceses.
Nossa paisagem editorial é marcada pela presença de grandes grupos internacionais, como Penguin, Planeta e HarperCollins, que absorvem pouco a pouco as editoras nacionais, a exemplo da Companhia das Letras, cujo capital é controlado pela Penguin em 70%. Em 2014, contavam-se 1.880 editoras nacionais, mas apenas 500 realmente ativas, metade da quantidade francesa. O SNEL registra, no final de 2022, 550 associados, que correspondem a 74% do setor editorial do país.36 A maioria das editoras brasileiras se concentra no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Belo Horizonte. Entre os grandes grupos nacionais, pode-se citar a Record e a Sextante, bem como as editoras universitárias, que publicam sobretudo na área das CHS.
Segundo dados do Bief (2021), a produção editorial brasileira vem seguindo uma tendência de baixa desde 2013 (-13,8% em 2015, -5,67% em 2017), com um leve aumento de 7,5% em 2019, com 50.331 títulos publicados, seguido por nova queda de 7,8% em 2020, com 46.382 títulos. Destes, apenas 11.295 são novidades, o restante são reimpressões. Em número de exemplares, dados de 2018 apontam 349,9 milhões, ao passo que a França produziu 505 milhões no mesmo ano, com uma população que corresponde a quase um terço da brasileira. A crise econômica, iniciada em 2013, que desencadeou uma crise política e social no país,37 pode explicar o agravamento dessa tendência de baixa da produção editorial.
Os manuais escolares, vendidos ao governo federal,38 representaram quase 50% do número de exemplares publicados no Brasil em 2020, seguidos pelos livros religiosos (12,4%). O restante se distribuiu entre obras de autoajuda, infanto-juvenis e grande público.
A crise política e social afetou economicamente as compras de direitos de tradução, que vêm oscilando desde meados dos anos 2000: em 2017, foram 6.556 obras traduzidas, ao passo que 2019 viu esse número baixar para 3.823, uma queda de 58%. Em relação à cessão de obras em língua francesa, foram 183 em 2016; 251 em 2017; 304 em 2018; 263 em 2019; 256 em 2020 (ver gráfico 1). Destas últimas, 72 eram da área de CHS, 62 de histórias em quadrinhos e 49 de obras de ficção. O restante se distribui entre gêneros variados.
Número de títulos cedidos pelos editores franceses ao mercado editorial brasileiro 2008-2018
A significativa produção francesa na área de CHS – 22,5% das novidades, em dados de 2020 (Auerbach, 2020) – aliada à longa tradição brasileira de trocas acadêmicas com a França nessa área explicam sua predominância na cessão/aquisição de direitos de tradução. Essa tradição se acentua a partir de 1934 com a criação da Universidade de São Paulo e com a contratação de pesquisadores e professores de várias nacionalidades, que lá lecionaram e formaram novas gerações de professores entre 1934 e 1944, como Antonio Candido e Florestan Fernandes. Para a recém-criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a “Missão Francesa” trouxe, entre outros, Émile Coornaert, Fernand Braudel e Jean Gagé (História), Pierre Defontaines e Pierre Monbeig (Geografia), Robert Garric, Pierre Hourcade e Alfred Bozon (Literatura francesa), Paul-Arbousse Bastide, Claude Lévi-Strauss e Roger Bastide (Sociologia), Étienne Borne (Filosofia e Psicologia), Michel Berveiller (Literatura greco-latina), Jean Maügué (Filosofia), Paul Hugon (Economia). Essa geração de pesquisadores de várias áreas, mas sobretudo das Ciências Humanas e Sociais, influenciou as gerações seguintes e, segundo o historiador Fernando Novais (apud Schilling, 2016), renovou esses estudos no Brasil, deixando sua marca indelével no mercado editorial brasileiro.39 Para o editor brasileiro Angel Bojadsen, também a ditadura militar contribuiu para o desenvolvimento dessa área no país, pois levou “um grupo de editores persistentes a publicar os principais pensadores nacionais e estrangeiros, apesar da censura onipresente e de outras formas de intimidação” (Bojadsen, 2015).
Também o Brasil busca uma maior inserção da produção nacional no exterior e tem uma política de internacionalização do livro e da literatura brasileiras. A Fundação Biblioteca Nacional, em parceria com o Itamaraty, é a entidade responsável pela política do livro e ofereceu, entre 1991 e 2019, 1.114 bolsas de tradução, oportunizando tanto a tradução de clássicos quanto de autores contemporâneos, além de promover programas de bibliodiversidade e auxiliar editores a participar de feiras internacionais do livro (Book Center Brazil, 2021). O Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior completou 31 anos em 2022, contemplando projetos de tradução e de publicação de editoras de 12 países de três continentes: Argentina, Áustria, China, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Hungria, Macedônia do Norte, Peru, Polônia, Portugal e Romênia (Fundação Biblioteca Nacional, 2022). Dentre os dez autores mais solicitados, seis são clássicos da literatura brasileira (Clarice Lispector, Machado de Assis, Jorge Amado, Rubem Fonseca, Moacyr Scliar e Mario de Andrade) e quatro pertencem à nova geração de escritores (Adriana Lisboa, Alberto Mussa, Luiz Rufatto e Daniel Galera). Os países que mais receberam apoio financeiro para tradução foram a Espanha e a França (com 126 bolsas cada), seguidos pela Itália, com 107 bolsas. Entre as obras brasileiras traduzidas com apoio do Programa, o espanhol vem em primeiro lugar, com 224 bolsas recebidas entre 2010 e 2019, seguido pelo inglês, com 106 bolsas, francês (104 bolsas), alemão (97) e italiano (88). Entre 2010 e 2019, receberam bolsas de tradução 132 obras de não-ficção (categoria que engloba arquitetura, biografia, cinema, comunicação, entrevista, história, reportagem, antropologia, crítica literária, crônica, correspondência, diário, memórias, música, pedagogia, sociologia e teoria teatral), o que equivale a 14% dos gêneros apoiados (Fundação Biblioteca Nacional, 2022a).40
Também a Bolsa de Apoio à Tradução do Brazilian Publishers, projeto de internacionalização de conteúdo editorial brasileiro em parceria entre a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), financia a tradução de autores brasileiros no exterior, como Anna Claudia Ramos, Tino Freitas, Anatole Jelihovschi e Alexandre Kostolias, publicados respectivamente na Argentina e no México (Brazilian Publishers, 2021).
Considerações finais
Os dados coletados até o momento não permitem estabelecer com precisão como se constroem os fluxos de tradução entre o Brasil e a França, mas oferecem um indicativo do lugar periférico do Brasil no mercado mundial das traduções. Nossa produção editorial ainda está bastante centrada na importação de obras estrangeiras, que se desdobra em nichos distintos conforme a língua, sem esquecer, no entanto a importante a produção nacional de material didático. No que nos interessa especialmente, a intradução de textos em CHS provém sobretudo da língua francesa, da França, e dá preferência a autores clássicos da área, como Althusser, Lacan, Lévi-Strauss, Bourdieu,41 entre muitos outros. A língua inglesa – nas suas variantes estadunidense e britânica – é, de longe, a mais traduzida. Segundo um dos agentes entrevistados, essa escolha pelo inglês “tem mais a ver com restrição de orçamento do que com a importância dos trabalhos em língua francesa”. Entre as variáveis apontadas por editores, tradutores profissionais e agências de tradução para tal fenômeno, está a disponibilidade maior de tradutores de inglês para o português, pois quanto mais raro o par de línguas envolvidas, maior o valor cobrado pela tradução.42
Algumas grandes editoras comerciais brasileiras, cujo catálogo é majoritariamente composto por obras internacionais de CHS, com cerca de 45 traduções ao ano, registraram a necessidade de readequar o catálogo em razão da recessão do mercado editorial nos últimos anos, dando prioridade à reimpressão de obras de sucesso e a autores conhecidos, adquirindo hoje em torno de 30 obras ao ano. Embora o valor médio da aquisição de direitos de tradução de uma obra europeia se situe entre dois e três mil euros e se mantenha constante, a desvalorização do real na última década vem elevando esse valor para os editores. Se a isso se somarem os gastos com a produção de um livro, entre os quais estão a tradução e a revisão técnica, pode-se entender a inflexão nas estratégias editoriais atuais. Mesmo editoras um pouco menores, mas que publicam quatro a cinco títulos por ano (um a três em CHS), buscam os auxílios oferecidos pelas instâncias governamentais francesas para manter esse ritmo de publicação. O interesse pela aquisição parte, em geral, da editora compradora a partir de contatos feitos em feiras internacionais, com agentes literários ou diretamente com os autores.
Dentre as editoras comerciais francesas, a maioria daquelas de pequeno e médio porte responderam negativamente ao questionário, ou seja, não cedem ou cedem muito esporadicamente direitos de tradução ao Brasil. Em contrapartida, várias grandes editoras, com catálogo direcionado às CHS, comercializam obras com o Brasil com bastante frequência segundo as respostas que obtivemos. Esse dado é corroborado por um agente do Institut Français (entrevista em 12 mar. 2020), que informou os nomes de grandes editoras – Bayard, Seuil, Editions Payot, Belles Lettres, Gallimard, La Découverte, Humensis, Présence Africaine, Editions MF, La Découverte, Textuel, Fayard e Albin Michel – que solicitaram subvenções à entidade para auxiliar a extradução de certas obras. Uma única casa editorial, por exemplo, que indicou extraduzir entre 120 e 150 obras por ano ao Brasil cedeu 447 direitos de tradução entre 2009 e 2019 apenas em CHS, mercado que considera a tal ponto importante que adaptou sua ação a ele. Também as editoras universitárias francesas mantêm relações com suas congêneres brasileiras, que corroboraram em suas respostas essa troca comercial, embora não tenham compartilhado dados quantitativos. Na interpretação do professor e editor Carlos Alberto Gianotti (2006), as editoras universitárias brasileiras não são autosssustentáveis em sua maioria e “contam-se nos dedos as que têm viabilidade financeira, isto é, que veem seus livros nas livrarias com um potencial de venda capaz de gerar recursos para outras produções” (Gianotti, 2006, p. 8), avaliação confirmada em entrevista em 2023.43 Vale lembrar igualmente que, sendo “o acervo de editoras universitárias brasileiras composto, hoje, basicamente por coletâneas de artigos de vários autores” (Gianotti, 2006, p. 9), entre outros gêneros, as intraduções se dão também sobre artigos e não sobre livros.
Em artigo acerca da editora universitária da USP (Ferrari, 2022), a professora Marisa Midori Deaecto, do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), vai na mesma direção ao afirmar que: “O mercado científico-técnico-profissional CTP é o que mais tem apresentado quedas, em um ritmo preocupante”. Ela acrescenta: “Se partirmos dos dados sobre a produção de livros nesse setor em 2013, ano de maior volume na década passada, podemos constatar que em 2021 a produção de títulos caiu pela metade.” Para a professora, essa queda se deve “em parte, à migração de uma fração significativa dos escritos teóricos para artigos em revistas científicas”. Para a presidente da Abeu, a jornalista Rita Virgínia Argollo, as editoras universitárias foram igualmente atingidas pelas dificuldades atuais das universidades públicas e essa “crise evidencia a necessidade de tornar a atividade das editoras universitárias autossustentável, com políticas que garantam sua viabilidade econômica independente”. Essa crise do setor das editoras universitárias também é referida pela pesquisadora Leilah Bufrem (apud Ferrari, 2022):
Em 2015, quase metade das editoras investia em tiragens de mil exemplares. Em 2017, essas tiragens se tornaram exceção, caindo para 28,2%. Atualmente, 63,5% das editoras universitárias optam por lançamentos de títulos com menos de 500 exemplares.
Ao abordar a questão do peso das disciplinas nos livros de CHS, Sapiro lembra que
as variações entre disciplinas devem ser interpretadas à luz de fatores de ordem estrutural: o volume global da produção científica de uma disciplina em cada espaço nacional, o grau de internacionalização dessa disciplina e seu suporte de publicação privilegiado – livro ou artigo44 (Sapiro, 2008, p. 118, tradução nossa).
Já as editoras universitárias não estatais podem optar por uma política editorial que privilegie uma determinada área. É o caso de uma das editoras entrevistadas, que informou adquirir cerca de quarenta títulos somente em CHS entre 2009 e 2019, sendo sete do francês, quarta língua em aquisições.
Embora esta pesquisa tenha ainda um longo caminho a percorrer para oferecer dados mais precisos e responder com maior exatidão à sua pergunta inicial – que lugar o Brasil ocupa no mercado mundial de traduções de CHS –, estes primeiros passos possibilitam uma compreensão melhor do papel da tradução do ponto de vista sociológico e de sua importância para a construção do conhecimento, mesmo que ela seja quase sempre relegada a um lugar marginal. Por outro lado, os dados iniciais permitem vislumbrar que, apesar das trocas acadêmicas entre Brasil e França no campo das CHS, que já comemoram um século, e de uma produção intelectual significativa na área, a direção dessas trocas ainda é sobretudo unilateral, ou seja, nosso capital simbólico coletivo bem como nosso capital simbólico individual (Sapiro, 2014, p. 9) ainda pesam menos na balança dos bens simbólicos desses dois países: continuamos importando conhecimento via tradução, mais do que exportando. Pode-se avançar a hipótese de que isso se deve à circulação ainda restrita do Brasil no campo intelectual internacional e dos(as) intelectuais brasileiros(as) nos principais centros universitários do mundo, bem como à posição de nossas universidades no sistema educacional internacional.45
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1
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (Capes) – Código de financiamento 001.
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2
No original: Nous, éditeurs de sciences humaines, forts de nos orientations et sensibilités distinctes, assumons avec conviction un effort commun et quotidien pour assurer une large diffusion à des travaux, recherches et documents qui nous semblent indispensables à la réflexion politique. Nous partageons la conviction que la vivacité de notre démocratie repose sur la compréhension de notre temps pour laquelle les sciences humaines et sociales jouent un rôle éminent. Cet effort de compréhension, pour être réel et efficace, repose sur trois piliers solidaires: une recherche stimulée et encouragée, sûre de ses moyens, un enseignement de qualité et ambitieux, une édition et une diffusion soutenues et vivantes (Lévy-Rosenwald, 2012, p. 85, tradução nossa).
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3
Conforme tabela da Capes, consideramos CHS as seguintes subáreas: Filosofia, Teologia, Sociologia, Antropologia, Arqueologia, História, Geografia, Psicologia, Educação, Ciência Política, Direito, Administração, Turismo, Economia, Arquitetura e Urbanismo, Desenho industrial, Planejamento Urbano e Regional, Demografia, Ciência da Informação, Museologia, Comunicação e Serviço Social. Na França, segundo a Fondation Européenne de la Science, assim as CHS se declinam: Ciências Humanas – Antropologia, Arqueologia, Etnologia, Estudos antigos, Estudos de gênero, História, História da Arte, História e Filosofia das Ciências, Linguística, Literatura (francesa e estrangeira), Musicologia, Estudos Orientais e Africanos, Filosofia, Psicologia e Ciências Cognitivas, Ciências das religiões e Teologia; Ciências Sociais – Demografia, Direito, Geografia, Administração, Ciências Econômicas, Ciência Política, Sociologia. Ressalto a presença de Linguística e de Literatura no rol francês de disciplinas. Cabe observar que, assim como a Literatura está incluída entre as CHS na França, os textos de CHS são igualmente considerados como “literários”. Por exemplo, nas bolsas para tradutores oferecidas pelo Centre National du Livre, a produção de CHS figura entre os “domaines littéraires” passíveis de candidatura.
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4
A pesquisadora Marta Pragana Dantas abriu esta trilha no Brasil ao estudar o fluxo de traduções da literatura francesa. Agradeço à colega a inspiração para minha pesquisa. Para mais informações, ver: Dantas (2009, 2014) e Carneiro (2007). O mesmo caminho tomou Gustavo Sorá, na Argentina, ao analisar os fluxos entre este país e o Brasil. Ver Sorá (1999, 2002), Gouanvic (2009), Skibińska (2009) e Popa (2009).
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5
O início da pandemia na França e sua sequência no Brasil impossibilitaram, no entanto, a continuidade das entrevistas presenciais.
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6
Agradeço imensamente a ajuda do Secretário Executivo da Abeu, Rubens Mandelli Nery, que envidou todos os esforços para facilitar a comunicação com as editoras universitárias, assim como a todos os editores e agentes que responderam à pesquisa. Um agradecimento especial ao Prof. Carlos Alberto Torres Gianotti.
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7
A base de dados Électre, criada na década de 1970 e constantemente aperfeiçoada, elenca todos os livros publicados na França. Destinada aos profissionais da edição, aos livreiros e às bibliotecas, a base disponibiliza a ficha catalográfica completa de cada obra publicada, permitindo selecionar diferentes tipos de informação, como obras que correspondam a uma necessidade precisa. No contexto de uma pesquisa sobre os fluxos de tradução, por exemplo, pode-se selecionar os países envolvidos, as línguas, as datas de publicação, entre outros dados. Infelizmente, a base só é disponível mediante assinatura. Para mais informações, ver https://accueil.electre.com/
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8
No original: La circulation internationale des idées dépend donc en bonne partie de la traduction d’ouvrages (todas as traduções de Sapiro neste artigo são de nossa autoria).
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9
No original: [...] six groupes de facteurs favorisant ou faisant obstacle à la circulation des livres de sciences humaines et sociales en traduction: 1. Les rapports de force entre langues, cultures et traditions disciplinaires; 2. Le capital symbolique et autres propriétés de l’auteur; 3. Les propriétés du livre; 4. Le capital symbolique de la maison d’édition; les réseaux éditoriaux et académiques (capital social); 6. Les aides à la traduction (capital économique).
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No original: [...] un accès au “sens” du texte et à son unicité.
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11
No original: [...] identifie les livres produits à des marchandises produites et consommées selon la logique de marché, et circulant selon les lois du commerce, national et international.
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12
No original: [...] prend pour objet l’ensemble des relations pertinentes au sein desquelles les traductions sont produites et circulent [...].
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13
No original: [...] deux démarches voisines développées notamment par des comparatistes, des historiens de la littérature, des spécialistes d’aires culturelles et d’histoire intellectuelle: les Translation Studies et les études des processus de “transfert culturel”.
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14
No original: [...] les acteurs de ces échanges, institutions et individus, et sur leur inscription dans les relations politico-culturelles entre les pays étudiés.
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15
No original: Le point de vue transnational, en rétablissant des relations, des hiérarchies et des rapports de force entre les champs nationaux, permet en effet d’inverser le présupposé nationalo-linguistique et la répresentation du monde littéraire selon laquelle on aurait affaire à une juxtaposition d’univers autosuffisants, fermés et inrréductibles les uns aux autres, et de langues égales, séparées et autarciques.
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16
No original: [...] la position de chaque espace national dans la structure mondiale depend de sa proximité à l’un de deux pôles, c’est-à-dire de son volume de capital.
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17
Nessa categoria, poderíamos incluir muitas línguas indígenas brasileiras atuais (entre as 274 línguas, segundo dados do IBGE, 2020). E também a Língua Brasileira de Sinais (Libras), considerada uma língua ágrafa, visto que ainda está construindo sua escrita e não tem tradição literária. Outro exemplo é a língua indígena paiter, falada no norte do Brasil e cujo registro escrito ainda não tem vinte anos. Ver o artigo “Nasce o registro escrito de uma língua indígena”, de Santomauro (2009).
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18
Recriado a partir do hebraico clássico entre o final do século XIX e o início do século XX e, hoje, idioma oficial do Estado de Israel, falado por cerca de nove milhões de pessoas.
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19
Faladas, respectivamente, por cerca de 15 e por 70 milhões de falantes. O persa (ou parse/pársi) é falado em vários países do Oriente Médio e seu número de falantes varia de 70 a 110 milhões, o que não pode ser considerado como pequeno, como defende Casanova nesse artigo. Sua inclusão nessa categoria pela autora pode ter se dado não pelo número de falantes, mas pelo alcance da língua e da literatura nas culturas ocidentais e hegemônicas, ou seja, por uma avaliação eurocêntrica.
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20
Sobre tradições disciplinares e internacionalização das CHS, ver Ortiz (2016); Heilbron (2008); Santin (2016).
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21
Para mais informações, ver, entre outros: Bueno, Sales e Augusti (2013).
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22
Para mais informações, ver, entre outros, Lévy (2007); APUFPR (2022); Unesco-UIL (2018); Lecomte (2010).
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23
Dados disponibilizados até 2018, em https://ec.europa.eu/info/departments/translation, acesso em 11 jul. 2022.
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24
Para a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (IPL, 2020, p. 19), “leitor é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses”, definição que se mantém desde 2007.
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25
Criado em 1932, o Index compila a bibliografia mundial da tradução, oferecendo um repertório das obras e dos autores traduzidos no mundo inteiro. Em 2013, devido a problemas de financiamento, o Index foi descontinuado. Os dados bibliográficos de cada país parceiro referentes às traduções em todas as áreas eram enviados à Unesco anualmente. Nesse último ano de compilação, o Index “contava mais de quatro milhões de entradas – 2,2 milhões digitalizadas – referentes às traduções de 1.139 línguas diferentes”. Ali são repertoriados mais de 500 mil escritores, traduzidos por cerca de 600 mil tradutores. Apesar de sua suspensão, a base de dados da Unesco ainda é considerada uma fonte de referência sobre a tradução no mundo. Para mais informações: https://www.unesco.org/xtrans/bsform.aspx.
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26
Cf. comunicado do SNE à imprensa em 30 jun. 2022 (SNE, 2022a).
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27
Sobre essa crise, ver Barluet (2004|); Auerbach (2006).
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28
No original: Il faut résister à la globalisation des langues.
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29
No original: Le premier est un “nationalisme” linguistique qui établit une hiérarchie entre les langues avec au sommet le grec et l’allemand comme langues “authentiques”. Le second danger est le globish, le global english qui est supposé être la langue de tous. Mais parler ne se résume pas à communiquer. Le globish est la plus pauvre des langues, celle des expertises et des dossiers. Les langues de culture, y compris l’anglais, qui sont constituées par des auteurs et des oeuvres, écrites ou orales, se retrouvent en position de dialectes, à parler chez soi.
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30
No original: [...] la recherche française en sciences humaines et sociales continue à faire référence parmi les spécialistas [...] le français reste, dans les bases de données internationales la troisième langue de publication [...] l’influence de la pensée française hors des frontières.
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31
Cap vers la liberté, Paris: Editions des femmes, 2018. Trad. de Claudia Poncioni e Didier Lamaison. Minuit vingt, Paris: Albin Michel, 2018. Trad. de Régis de Sá Moreira.
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32
Gros, Frédéric. Desobedecer. São Paulo: Ubu Editora, 2018. Trad. de Célia Euvaldo.
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33
Páscoa Vieira diante da Inquisição: uma escrava entre Angola, Brasil e Portugal no século XVII. Charlotte de Castelnau-l’estoile. Trad. de Lígia Fonseca Ferreira, Regina Salgado Campos. 1 ed. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. O avesso do espírito. Trad. de Angela Leite Lopes. Rio de Janeiro: 7letras, 2019.
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34
Os últimos dados brasileiros recebidos pela Unesco para alimentar a base de dados do Index Translationum datam do ano de 2013, disponíveis em http://www.unesco.org/xtrans/bsform.aspx?lg=1. Acesso em 8 ago. 2022. Nesse ano, o Index contava mais de quatro milhões de entradas referentes a traduções de ou para 1.139 línguas diferentes, 500 mil escritores traduzidos por 600 mil tradutores. Entre os dados recenseados, estão os dez autores mais traduzidos no mundo todo: o primeiro lugar cabe a Agatha Christie, com 7.236 traduções, e o último, a Stephen King, com 3.357. O único autor das CHS que consta entre os dez é Lênin, em oitavo lugar, com 3.593 traduções. Courrier de l’Unesco, nº 2, 2022.
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35
As pesquisas do SNEL fornecem dados sobre livros traduzidos apenas até 2019.
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36
Disponível em https://snel.org.br/associados/lista-de-associados/. Acesso em 22/02/2023.
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37
Para mais informações sobre a crise brasileira, ver, entre outros, Avritzer, 2018, 2019; Soares, 2019.
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38
O Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) é destinado a avaliar e a disponibilizar obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de apoio à prática educativa, de forma sistemática, regular e gratuita, às escolas públicas de educação básica das redes federal, estaduais, municipais e distrital e também às instituições de educação infantil comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas com o Poder Público, disponível em http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=12391:pnld. Acesso em 11 jul. 2022.
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39
Para mais informações, ver Peixoto (2015) e Fundação Biblioteca Nacional (2009).
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40
Agradeço à Victória Milanês Alexandria, da Coordenação de Cooperação Institucional, pela disponibilização de dados.
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41
Para mais informações, ver Silva (2019).
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42
Ver, por exemplo, Fazioni (2018); Cronoshare (2022); e https://translated.com/preços-tradução, acesso em 21 fev. 2023.
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43
Entrevista concedida à autora em 21 fev. 2023.
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44
No original: Les écarts entre disciplines doivent être interprétés à la lumière de facteurs d’ordre structurel: le volime global de la production scientifique d’une discipline dans chaque espace national, le degré d’internationalisation de cette discipline et son support de publication privilégié – livre ou article.
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45
A título ilustrativo, as primeiras universidades brasileiras a constar no QS World University Rankings® 2023, USP e Unicamp respectivamente, aparecem apenas nas 115ª e 210ª posições, ao passo que a França conta 3 universidades entre as 100 melhores (QS, 2022).
Referências
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1ASSOCIAÇÃO DOS PROFESSORES DA UFPR – APUFPR. Referência mundial, Paulo Freire faria 101 anos. Por que os extremistas o temem tanto?. APUFPR, 19 set. 2022. https://apufpr.org.br/referencia-mundial-paulo-freire-faria-101-anos-por-que-os-extremistas-o-temem-tanto/
» https://apufpr.org.br/referencia-mundial-paulo-freire-faria-101-anos-por-que-os-extremistas-o-temem-tanto/ - 2 AUERBACH, Bruno. Publish and perish. La définition légitime des sciences sociales au prisme du débat sur la crise de l’édition SHS. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, v. 164, n. 4, 2006, p. 75-92.
-
3 AUERBACH, Bruno. Travail éditorial et marché du livre. In: ANHEIM, É.; FORAISON, L. (org.). L’édition en Sciences Humaines et Sociales Enjeux et défis. Paris : Éditions de l’École des Hautes Études en Sciences Sociales, 2020. p. 29-37. https://books.openedition.org/editionsehess/28768
» https://books.openedition.org/editionsehess/28768 - 4 AVRITZER, Leonardo. O pêndulo da democracia no Brasil: uma análise da crise (2013 - 2018). In: AVRITZER, L. et al (Org.). Pensando a democracia, a república e o estado de direito no Brasil 1. ed. Belo Horizonte: Projeto República, 2019. p. 17-38.
- 5 AVRITZER, Leonardo. Operação Lava Jato, Judiciário e Degradação Institucional. In: KERCHE, F.; FERES Jr., J. (org.). Operação Lava Jato e a democracia brasileira 1. ed. São Paulo: Contracorrente, 2018. p. 37-53.
- 6 BARLUET, Sophie. Édition de sciences humaines et sociale : le cœur en danger. Paris: PUF, 2004.
-
7 BUREAU INTERNATIONAL DE L’ÉDITION FRANÇAISE – BIEF. L’édition au Brésil en chiffres. Fiche pays, ago. 2021. https://www.bief.org/fichiers/operation/4031/media/10638/FICHE%20BIEF_2021_BRE%CC%81SIL.pdf
» https://www.bief.org/fichiers/operation/4031/media/10638/FICHE%20BIEF_2021_BRE%CC%81SIL.pdf -
8 BOJADSEN, Angel. Les sciences humaines et sociales au Brésil. Comment elles dialoguent avec la France. Bief.org, mar. 2015. https://www.bief.org/Publication-3501-Articles/Les-sciences-humaines-et-sociales-au-Bresil-Comment-elles-dialoguent-avec-la-France.html
» https://www.bief.org/Publication-3501-Articles/Les-sciences-humaines-et-sociales-au-Bresil-Comment-elles-dialoguent-avec-la-France.html -
9 BOOK CENTER BRAZIL. Balanço dos 30 anos do programa de tradução (1991-2021). Book Center Brazil, 7 maio 2021. https://bookcenterbrazil.wordpress.com/2021/05/07/balanco-dos-30-anos-do-programa-de-traducao/
» https://bookcenterbrazil.wordpress.com/2021/05/07/balanco-dos-30-anos-do-programa-de-traducao/ - 10 BOURDIEU. Pierre. Les Règles de l'art Genèse et structure du champ littéraire. Paris: Seuil, 1992.
- 11 BOURDIEU, Pierre. Le marché des biens symboliques. L’Année sociologique (1940-1948-) Troisième série, v. 22. Paris : Presses Universitaires de France. 1971. p. 49-126
-
12 BRAZILIAN PUBLISHERS. Bolsa de Apoio à Tradução do Brazilian Publishers promove o lançamento de obras brasileiras nos mercados do Egito, México, Moçambique e França. Brazilian Publishers, 24 ago. 2021. https://brazilianpublishers.com.br/noticias/bolsa-de-apoio-a-traducao-do-brazilian-publishers-promove-o-lancamento-de-obras-brasileiras-nos-mercados-do-egito-mexico-mocambique-e-franca/
» https://brazilianpublishers.com.br/noticias/bolsa-de-apoio-a-traducao-do-brazilian-publishers-promove-o-lancamento-de-obras-brasileiras-nos-mercados-do-egito-mexico-mocambique-e-franca/ - 13 BUENO, Luís; SALES, Germana; AUGUSTI, Valéria (org.). A tradição literária brasileira entre a periferia e o centro Chapecó: Argos; Editora da Unochapecó, 2013.
-
14 CRONOSHARE. Quanto custa uma tradução? Cronoshare, 16 jan. 2022. https://www.cronoshare.com.br/quanto-custa/traducao
» https://www.cronoshare.com.br/quanto-custa/traducao -
15 CARNEIRO, Teresa D. A tradução de obras francesas no Brasil na primeira metade do século XX. Cerrados Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, v. 16, n. 23, p. 53-57, 2007. https://periodicos.unb.br/index.php/cerrados/article/view/1235
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Abr 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
12 Jan 2023 -
Aceito
22 Fev 2023