Caro Editor,
Segundo estudos recentes, cerca de 33% dos pacientes internados com a doença pelo coronavírus 2019 (COVID-19) devem requerer atendimento em unidades de terapia intensiva (UTI), além de até 20% do total de internados poder necessitar do uso de ventilação mecânica invasiva.(1) Tendo em vista a atuação de equipes multiprofissionais compostas por médicos, enfermeiros, dentistas, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde em UTI para o tratamento de pacientes com COVID-19(2-4) e a existência de evidências que apontam para uma diminuição da carga viral do coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) na saliva mediante o uso de colutórios,(5,6) alguns pontos inerentes a esse assunto merecem ser discutidos em mais detalhes, com foco em abordagens seguras para as equipes profissionais atuantes nesse contexto, bem como em relação à assistência adequada a esses pacientes.
Primeiro, com base nas evidências existentes, tem-se que, atualmente, sugere-se o uso de colutórios em pacientes com COVID-19 internados em UTI previamente à realização de procedimentos diários de rotina com risco potencial de gerar aerossóis e/ou emissão de gotículas durante a assistência a pacientes intubados e de emissão de gotículas a partir daqueles sem intubação, o que deve seguramente contribuir para a redução dos riscos de transmissão do vírus para a equipe de profissionais de saúde em UTI(5) (Tabela 1).
Colutórios utilizados no tratamento de pacientes com COVID-19 internados em unidade de terapia intensiva
Outro ponto importante diz respeito ao uso de colutórios nesse grupo de pacientes no intuito de contribuir para a melhora de problemas sistêmicos associados à flora microbiana bucal, assim como para a prevenção da ocorrência de pneumonia nosocomial associada à ventilação mecânica, levando à provável redução do tempo de internação(5) (Figura 1). É esperado também o benefício relacionado à possibilidade de redução do risco de infecção cruzada entre pacientes internados durante a pandemia.(6)
Recomendações para técnica de higienização bucal em pacientes com COVID-19 admitidos em unidade de terapia intensiva. Setas vermelhas: aplicáveis para pacientes dentados ou parcialmente dentados; setas verdes: aplicáveis para pacientes edêntulos; setas pretas: aplicáveis para ambos os grupos
Vale ressaltar que, para a realização de higienização bucal efetiva em pacientes com COVID-19 admitidos em UTI, alguns critérios devem ser cuidadosamente seguidos. É de suma importância que cada instituição de saúde se adeque dentro da sua realidade quanto à combinação de colutórios escolhidos. Na figura 1, descrevemos uma proposta de passos para a realização desse procedimento.
Destaca-se, além disso, dentro desta proposta, que a recomendação de posicionamento dos pacientes em decúbito elevado visa sobretudo evitar casos de pneumonia decorrente de infecções relacionadas à assistência à saúde, bem como prover melhoria dos parâmetros respiratórios.(7) Além disso, após a aspiração inicial de secreções acima do cuff nos pacientes intubados, recomenda-se o uso de tampão de gaze para complementar a proteção pulmonar, que deve ser realizada antes do uso de colutórios.(8)
Entretanto, mesmo com importantes avanços nos protocolos para o manejo de pacientes com COVID-19 internados em UTI, as equipes profissionais envolvidas devem sempre priorizar a realização de procedimentos com menor risco de gerar aerossóis ou emissão de gotículas, o que corrobora uma maior proteção no ambiente hospitalar. Ainda, a atuação de dentistas intensivistas torna-se essencial à assistência integral a esses pacientes.
Referências bibliográficas
- 1 Bastos GA, Azambuja AZ, Polanczyk CA, Gräf DD, Zorzo IW, Maccari JG, et al. Clinical characteristics and predictors of mechanical ventilation in patients with COVID-19 hospitalized in Southern Brazil. Rev Bras Ter Intensiva. 2020; 32(4):487-92.
- 2 Corrêa TD, Matos GF, Bravim BA, Cordioli RL, Garrido AP, Assuncao MS, et al. Intensive support recommendations for critically-ill patients with suspected or confirmed COVID-19 infection. einstein (São Paulo). 2020;18:eAE5793.
- 3 Pedersini P, Villafañe JH, Corbellini C, Tovani-Palone MR. COVID-19 pandemic: a physiotherapy update. Electron J Gen Med. 2021;18(1):em264.
- 4 Passarelli PC, Passarelli G, Charitos IA, Rella E, Santacroce L, D’Addona A. COVID-19 and oral diseases: how can we manage hospitalized and quarantined patients while reducing risks? Electron J Gen Med. 2020;17(6):em238.
- 5 Moosavi MS, Aminishakib P, Ansari M. Antiviral mouthwashes: possible benefit for COVID-19 with evidence-based approach. J Oral Microbiol. 2020;12(1):1794363. Review.
- 6 Vergara-Buenaventura A, Castro-Ruiz C. Use of mouthwashes against COVID-19 in dentistry. Br J Oral Maxillofac Surg. 2020;58(8):924-7. Review.
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7 Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Gerência de Vigilância e Monitoramento em Serviços de Saúde. Gerência Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde. Medidas de prevenção de infecção relacionada à assistência à saúde. v. 4. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2017. p. 92 [Série Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde] [citado 2020 Dez 26]. Disponível em: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/publicacoes/item/caderno-5
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8 Conselho Federal de Odontologia (CFO). Recomendações AMIB/CFO para atendimento odontológico COVID-19: Comitê de Odontologia AMIB/CFO de enfrentamento ao COVID-19. Brasília (DF): AMIB/CFO; 2020 [citado 2020 Dez 26]. Disponível em: http://www.crosp.org.br/uploads/arquivo/d45f45bec26af5e60711423292623321.pdf
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
24 Mar 2021 -
Data do Fascículo
2021
Histórico
-
Recebido
30 Dez 2020 -
Aceito
19 Jan 2021