Open-access Eliminação de SARS-CoV-2 em nasofaringe e orofaringe após o uso de um protocolo adjuvante de gargarejo e bochecho com antisséptico bucal

Caro Editor,

É bem estabelecido na ciência que a boca é uma porta de entrada e sítio de replicação do coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), que causa a doença do coronavírus 2019 (COVID-19), tornando relevante a atenção aos cuidados com a saúde oral e a utilização de produtos de amplo espectro antimicrobiano.(1) Recentemente o uso de um antisséptico bucal contendo derivado de ftalocianina (ABF), vem sendo pesquisado, demonstrando atividade in vitro na redução da carga viral do SARS-CoV-2, bem como melhora clínica e menor gravidade da doença, sem relatos de efeitos adversos, em pacientes com COVID-19.(1,2) O presente estudo abordou o efeito do uso do ABF na redução da carga viral do novo coronavírus em uma série de casos formada por quatro pacientes adultos, colegas de trabalho, diagnosticados como positivos para a presença de SARS-CoV-2 entre os dias 16 e 21 de junho de 2021. O estudo seguiu os preceitos éticos e foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos (número do parecer: 4.273.068, CAAE: 36493520.1.0000.5417). Todos apresentaram exames de rotina negativos na semana anterior. O diagnóstico do SARS-CoV-2 e o monitoramento da carga viral foram realizados por reação em cadeia da polimerase em tempo real com transcriptase reversa (RT-PCR), utilizando sondas fluorescentes (Taqman) (Thermo Fischer Scientific). Os ácidos nucléicos foram extraídos a partir de 100μL de swab nasofaríngeo/orofaríngeo utilizando o vírus RNA + DNA Preparation Kit, seguindo as instruções do fabricante (Cellco, São Carlos, SP, Brasil). O ácido nucleico purificado foi transcrito reversamente em cDNA e amplificado usando o kit TaqPath™ COVID-19 CE- IVD RT - PCR (Comissão Européia - in vivo Diagnostics Real Time - Polymerase Chain Reaction) (Applied BiosystemsTM) no equipamento 7500 Fast Real-Time PCR Systems (Applied BiosystemsTM). A técnica utilizada foi o limite de ciclo (CT - ciclo threshold) de cada amostra, o que corresponde ao número de ciclos de PCR necessários para identificação do vírus. O kit utilizado avaliou marcadores para SARS-CoV-2 com sensibilidade maior que 99% e especificidade de 100% com limite de detecção de 2 cópias/mL. O RT-PCR foi considerado positivo quando dois ou mais genes avaliados (ORF1ab, N e S) apresentaram CT <37. Também foram investigadas as mutações localizadas no gene S do vírus, podendo ser uma das seguintes derivadas das linhagens originais: P1 (Manaus), P2 (Brasil), B1.1.7 (Britânica) e B1.351 (Sul Africana) (CDC-USA).(3)

A partir do diagnóstico, o tratamento médico estabelecido aos pacientes envolveu o uso de analgésico, antigripais, vitaminas C e D, além do uso do protocolo adjuvante de gargarejo/bochecho com ABF (5mL) durante 1 minuto/cinco vezes ao dia por sete dias.

Conforme tabela 1, os participantes não apresentavam comorbidades, exceto paciente D - hipertensão controlada por medicamento, e se encontravam assintomáticos ou com sintomas gripais leves um dia antes do exame positivo. A maioria dos participantes relatou histórico de COVID-19 leve, com destaque para o caso A que informou testar positivo por 22 dias consecutivos para o SARS-CoV-2 na primeira vez que se contaminou. Todos os pacientes foram diagnosticados com a cepa P1 do SARS-CoV-2, com carga viral que variou de 176 a 111.750 cópias/mL. Em até 72 horas após o primeiro exame positivo / início do protocolo ABF, 100% dos pacientes testaram negativo para um segundo exame de swab para RT-PCR de carga viral do SARS-CoV-2 em nasofaringe e orofaringe, e estavam assintomáticos.

Tabela 1
Dados clínicos e laboratoriais dos pacientes da série de casos

Estes resultados estão em consonância com a literatura atual, uma vez que existe evidência científica sobre a atividade de redução de carga viral do SARS-CoV-2 para alguns antissépticos orais.(1,4) Além disso, o uso de produtos de higiene oral capazes de inativar o SARS-CoV-2 têm sido recomendados e utilizado como medida preventiva adicional contra a COVID-19.(1,2) Variantes do SARS-CoV-2 tem surgido, dentre elas a variante gama (P1), conhecida como mais letal e de maior transmissibilidade devido a sua mutação no gene S.(5,6) Há relatos de episódios de reinfecções que podem estar associadas a diferentes cepas de SARS-CoV-2, ou ainda de que pacientes com COVID-19 de grau leve podem ter controlado a replicação do SARS-CoV-2 sem desenvolver imunidade humoral detectável. Nesta série de casos de SARS-CoV-2 variante P1 positivos, a maioria relatou histórico de COVID-19 leve anteriormente ao diagnóstico atual. Indivíduos assintomáticos podem propagar o vírus, o que demonstra a importância das corretas medidas epidemiológicas na identificação, isolamento e inativação dos contaminados. O tamanho amostral bem como a ausência de terapia adjuvante controle podem ser apontados como fatores limitantes desta série de casos. Entretanto, a rápida eliminação do vírus em nasofaringe e orofaringe em indivíduos que fizeram uso de protocolo de gargarejo/bochecho com ABF é um resultado promissor no controle da disseminação do SARS-CoV-2, e deve ser objeto de futuras pesquisas.

Referências bibliográficas

  • 1 Vilhena FV, Brito Reia VC, da Fonseca Orcina B, Santos CA, Zangrando M, Cardoso de Oliveira R, et al. The use of antiviral Phthalocyanine mouthwash as a preventive measure against COVID-19. GMS Hyg Infect Control. 2021;16:Doc24.
  • 2 da Fonseca Orcina B, Vilhena FV, Cardoso de Oliveira R, Marques da Costa Alves L, Araki K, Toma SH, et al. A phthalocyanine derivate mouthwash to gargling/rinsing as an option to reduce clinical symptoms of COVID-19: case series. Clin Cosmet Investig Dent. 2021:13:47-50.
  • 3 Centers for Disease Control and Prevention (CDC). SARS-CoV-2 variant classifications and definitions. Atlanta: CDC; 2021 [cited 2021 July 5]. Available from: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/variants/variant-info.html? CDC_AA_refVal=https%3A%2F%2Fwww.cdc.gov%2Fcoronavirus%2F2019-ncov%2Fcases-updates%2Fvariant-surveillance%2Fvariant-info.html
    » https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/variants/variant-info.html?» www.cdc.gov%2Fcoronavirus%2F2019-ncov%2Fcases-updates%2Fvariant-surveillance%2Fvariant-info.html
  • 4 de Toledo Telles-Araujo G, Caminha RD, Kallás MS, Sipahi AM, da Silva Santos PS. Potential mouth rinses and nasal sprays that reduce SARS-CoV-2 viral load: what we know so far? Clinics (São Paulo). 2020;75:e2328.
  • 5 Hahn G, Wu CM, Lee S, Lutz SM, Khurana S, Baden LR, et al. Genome-wide association analysis of COVID-19 mortality risk in SARS-CoV-2 genomes identifies mutation in the SARS-CoV-2 spike protein that colocalizes with P.1 of the Brazilian strain. Genet Epidemiol. 2021;45(7):685-93.
  • 6 Fintelman-Rodrigues N, da Silva AP, dos Santos MC, Saraiva FB, Ferreira MA, Gesto J, et al. Genetic evidence and host immune response in persons reinfected with SARS-CoV-2, Brazil. Emerg Infect Dis. 2021;27(5):1446-53.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    12 Set 2021
  • Aceito
    13 Out 2021
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