CARTA AO EDITOR
Baixas doses incrementais de amrubicina para o tratamento de metástase na medula óssea, proveniente de câncer de pulmão de pequenas células
Nobuhiro AsaiI; Yoshihiro OhkuniII; Masanori MatsudaIII; Makoto NaritaIV; Norihiro KanekoV
IResidente, Kameda Medical Center, Kamogawa, Japão
IIChefe, Kameda Medical Center, Kamogawa, Japão
IIIChefe, Kameda Medical Center, Kamogawa, Japão
IVChefe, Kameda Medical Center, Kamogawa, Japão
VChefe, Kameda Medical Center, Kamogawa, Japão
Ao Editor:
O câncer de pulmão ainda é a principal causa de morte por câncer, e aproximadamente 13% de todos os pacientes com câncer de pulmão recebem diagnóstico de câncer de pulmão de pequenas células (CPPC).(1) Embora o CPPC seja altamente sensível à quimioterapia de primeira linha e à radioterapia, a maioria dos pacientes com CPPC apresenta recidiva dentro de dois anos e morre de metástase sistêmica.(2,3) Embora se saiba bem que a medula óssea é um dos órgãos afetados por metástase,(4) ainda não se estabeleceu o tratamento para metástase na medula óssea, proveniente de CPPC.
Até onde sabemos, este é o primeiro relato de caso de CPPC extenso e metástase na medula óssea tratado com sucesso com baixas doses de amrubicina apenas. Foi encaminhado a nós um paciente de 71 anos de idade com fadiga geral havia uma semana e desorientação eventual. Testes laboratoriais revelaram hiponatremia (104 mEq/L) e pancitopenia (leucócitos: 1.900/µL; hemoglobina: 8,0 g/dL e plaquetas: 1,9 µg/mL). Além disso, tanto a radiografia como a TC de tórax revelaram uma sombra anormal com múltiplos linfonodos aumentados (Figura 1). A aspiração da medula óssea revelou metástase proveniente de CPPC (Figura 2). O paciente recebeu diagnóstico de CPPC extenso (cT4N3M1, estágio IV, segundo o sistema de estadiamento tumor-nódulo-metástase) e metástase na medula óssea. A ressonância magnética cerebral com realce não mostrou nenhuma evidência de metástase cerebral. O tratamento foi iniciado com uma dose baixa de amrubicina (30 mg/m2) e transfusão de plaquetas (100.000 unidades). Tanto a pancitopenia como a desorientação melhoraram após dois ciclos de amrubicina. Administramos doses crescentes de amrubicina (de 30 mg/m2 para 35 mg/m2) com base no performance status (estado de desempenho) do paciente. No total, foram administrados seis ciclos de amrubicina (dois ciclos de 30 mg/m2 e quatro ciclos de 35 mg/m2), os quais resultaram em resposta completa, segundo Critérios de Avaliação de Resposta em Tumores Sólidos. Após um período de seis meses de acompanhamento, o CPPC permaneceu em remissão completa.
A amrubicina é uma 9-aminoantraciclina completamente sintética, que se converte em amrubicinol no organismo por meio da redução da cetona na posição 13. O amrubicinol tem maior atividade antitumoral do que a molécula original. Embora sejam considerados antraciclinas, a amrubicina e o amrubicinol exercem efeitos citotóxicos como inibidores da topoisomerase II do DNA, e não como intercaladores do DNA.(5-7) No Japão, um estudo de fase II apresentou os resultados da administração intravenosa de 40 mg/m2 de amrubicina como agente único durante três dias consecutivos em pacientes com CPPC tratados previamente. A taxa global de resposta foi de 52% nos casos de CPPC sensível e de 50% nos casos de CPPC refratário/recidivo, e a média de sobrevida foi de 11,6 meses nos casos de CPPC sensível e de 10,3 meses nos casos de CPPC refratário/recidivo.(5) O estudo em questão demonstrou que a amrubicina foi superior ao topotecano no que tange às taxas de resposta e à sobrevida global. Entretanto, foram observadas neutropenia grau 3-4, trombocitopenia, anemia e neutropenia febril em 83%, 20%, 33% e 5% dos pacientes, respectivamente.(8) Relatou-se recentemente a eficácia da terapia com baixas doses de amrubicina, que foi considerada um agente quimioterápico de primeira linha para idosos(9) e um agente quimioterápico de terceira linha para casos de CPPC refratário/recidivo.(10) Apesar de sua toxicidade hematológica, a amrubicina é segura e eficaz quando são usadas técnicas de modulação da dose baseadas na doença do paciente.
Ainda não se estabeleceu a terapia para metástase na medula óssea. O melhor tratamento de suporte tem sido comumente prescrito em nosso serviço. Entretanto, doses incrementais de amrubicina podem ser usadas para tratar a doença.
Uma limitação foi o fato de que a modulação da dose de amrubicina baseou-se na avaliação que o médico assistente fez da doença do paciente. Esse protocolo ainda não está estabelecido.
Em suma, tratamos com sucesso um paciente com CPPC e metástase na medula óssea. A amrubicina usada isoladamente pode ser útil para o tratamento de CPPC extenso com metástase na medula óssea. São necessárias mais investigações.
Agradecimentos
Agradecemos ao Sr. John Wocher, Vice-Presidente Executivo e Diretor, Assuntos Internacionais/Serviços para Pacientes Internacionais, Kameda Medical Center, Japão, a leitura crítica diligente e minuciosa de nosso manuscrito.
Recebido para publicação em 17/04/2012.
Aprovado, após revisão, em 06/06/2012.
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- 4. Govindan R, Page N, Morgensztern D, Read W, Tierney R, Vlahiotis A, et al. Changing epidemiology of small-cell lung cancer in the United States over the last 30 years: analysis of the surveillance, epidemiologic, and end results database. J Clin Oncol. 2006;24(28):4539-44. PMid:17008692. http://dx.doi.org/10.1200/JCO.2005.04.4859
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
11 Mar 2013 -
Data do Fascículo
Fev 2013