Resumo
Introdução A situação atual caracterizada por uma pandemia causada pela cepa de coronavírus 2019 (COVID-19) estabelece essa crise de saúde pública como uma calamidade de preocupação global, devido à alta virulência e ao elevado poder de disseminação desse novo vírus na população, fator este que está desencadeando grandes transtornos de ansiedade não só na população, mas também nos profissionais da área da saúde.
Objetivo Analisar os níveis de ansiedade em professores do curso de Odontologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) durante a pandemia da COVID-19.
Material e método Estudo transversal no qual foram avaliados os níveis de ansiedade de acordo com a presença de sintomas de ansiedade em 48 professores do curso de Odontologia da UFES que responderam a dois questionários autoaplicáveis: o questionário Beck Anxiety Inventory (BAI) e outro questionário que caracterizou o perfil sociodemográfico dos respondentes no período de 30 de agosto de 2020 a 30 de outubro de 2020. Foram utilizados estatística descritiva e os testes qui-quadrado e o exato de Fisher para analisar as associações entre as variáveis, e também o Odds Ration.
Resultado Os resultados demonstraram que a maioria dos docentes – n=20, (41,7%) – apresentam pelo menos um nível de ansiedade e sintomatologias referentes a essa condição, porém, sem diferenças estatisticamente significativas.
Conclusão Constata-se que, frente às demandas atuais, precisam estimular a construção crítica dos indivíduos para que aprendam a conviver na sociedade como sujeitos conscientes, reflexivos e participativos, mas para isso é fundamental que também estejam física e mentalmente saudáveis.
Descritores: Coronavírus; docentes de odontologia; ansiedade
Abstract
Introduction The current situation characterized by a pandemic caused by the coronavirus disease (COVID-19) establishes this public health crisis as a global calamity, due to the increased virulence and higher transmissibility of this new variant of the CoV virus, a factor which is triggering major anxiety disorders, not only in the general population, but also among health professionals.
Objective To analyze the levels of anxiety in professors of the Dentistry Course at the Federal University of Espírito Santo (UFES) during the COVID-19 outbreak.
Material and method This is a cross-sectional study, in which anxiety levels were evaluated according to the presence of symptoms in 48 professors of the Dentistry course at UFES who answered two self-administered questionnaires: the Beck Anxiety Inventory (BAI) scale and another survey that aimed to identify the sociodemographic profile of the participants, the present study was conducted from August 30, 2020 to October 30, 2020. Descriptive statistics, chi-squared and Fisher's exact tests were used to analyze the associations between the variables as well as the odds ratio.
Result The results showed that most professors - n=20, (41.7%) - do experience at least one level of anxiety and symptoms related to this condition, albeit, without statistically significant differences.
Conclusion It appears that in the face of current demands, we need to stimulate the construction of critical thinking so that people may learn to live in society as conscious, thoughtful and proactive individuals, furthermore, it is essential that they are both physically and mentally healthy.
Descriptors: Coronavirus; dentistry professors; anxiety
INTRODUÇÃO
A ansiedade é caracterizada como uma emoção própria da vida humana, sendo portanto considerada uma reação natural e fundamental à própria preservação, mesmo que ela gere sensações de apreensão e alterações físicas desagradáveis. Em sua condição patológica, por outro lado, apresenta-se de forma mais intensa e frequente com sintomas que podem gerar grande sofrimento e prejuízo na vida cotidiana, como evasão escolar, abandono de emprego e abuso de substâncias1.
Os vários tipos de transtornos de ansiedade trazem dificuldades ao convívio social e aos aspectos da vida em geral, além daqueles inerentes ao desempenho de acadêmicos. Nos últimos anos, a saúde mental dos estudantes universitários tornou-se foco de atenção não apenas de especialistas da área de saúde, mas da sociedade em geral, pois esses universitários da área da saúde geralmente não recebem formação adequada sobre os tópicos de saúde mental e frequentemente se expõem a situações estressantes, o que pode levá-los a um mau desempenho acadêmico, adoecimento psíquico, risco de suicídio ou dificuldade no tratamento de doentes1.
A situação atual caracterizada por uma pandemia causada pela cepa de Coronavírus 2019 (COVID-19) estabelece essa crise de saúde pública como uma calamidade de preocupação global, devido à alta virulência e ao elevado poder de disseminação desse novo vírus na população, o que vem gerando uma alta demanda por atendimentos hospitalares de alta complexidade, fator que está desencadeando grandes transtornos de ansiedade não só na população, mas também nos profissionais da área da saúde2.
As medidas que previnem o agravamento desse caos de ordem pública incluem a adoção de um estado de isolamento social. Com isso, surgiu a necessidade de implementação de mudanças no cenário da educação, como a prática do trabalho a distância e, consequentemente, a suspensão da prática das atividades acadêmicas presenciais em escolas, faculdades e universidades3.
Nesse sentido, esse novo panorama do sistema educacional ocasionado pela pandemia fez com que os gestores das faculdades e universidades necessitassem executar as normativas preconizadas pela Portaria nº 345/2020 do Ministério da Educação4, que autorizam, em caráter incomum, a substituição das disciplinas presenciais, em prosseguimento, por aulas que utilizem recursos tecnológicos de caráter informacional e de comunicação, dando continuidade ao semestre e, consequentemente, ao ano letivo5. Dessa forma, novos desafios surgiram principalmente para os docentes com relação ao aprendizado e ao manuseio das tecnologias da informação e comunicação na modalidade de ensino a distância (EaD), para estimular os alunos na construção e na busca pelo conhecimento, garantindo a finalização do ano letivo6.
Nessas circunstâncias, tornou-se cada vez mais evidente que muitos docentes não estão preparados para incluírem de forma rotineira práticas educacionais atreladas ao uso e ao domínio de novas tecnologias, considerando que sua formação não contempla o uso de tecnologias digitais e são necessárias incessantes atualizações, capacitações e adaptações que visam incansavelmente manter intacta a qualidade do ensino7,8.
A ocorrência de falhas por parte desses profissionais no cumprimento das metas impostas pelas instituições, além das diversas pressões relacionadas ao manuseio das tecnologias, gravações de aulas, acabam provocando danos em sua saúde mental. Estudos mostram que esse adoecimento dos professores universitários pode ser provocado pela existência de incertezas, estresse, ansiedade e depressão, levando à síndrome do esgotamento profissional9.
Dentro desse contexto, os docentes universitários encontram-se inseridos em um ambiente que propicia o adoecimento mental, considerando-se a ocorrência de impactos da COVID-19, ora por notícias jornalísticas de morbimortalidade, ora por situações de pressão provenientes das instituições de ensino superior interligadas com o uso das tecnologias digitais, junto com a administração da sua vida pessoal nos seguintes aspectos: conjugal, materna e doméstica, além de tantas outras atribuições que lhes possam ser conferidas10.
Assim, este estudo justifica-se na medida em que pretende analisar os níveis de ansiedade mensurados de acordo com a presença de sintomas de ansiedade pelo questionário Beck Anxiety Inventory (BAI) validado para a língua portuguesa e Brasil11 em professores do curso de Odontologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) durante a pandemia da COVID-19 e, desse modo, contribuir para a gestão dos atendimentos na busca de meios que auxiliem no processo de trabalho desses profissionais.
MATERIAL E MÉTODO
Este é um estudo analítico de delineamento transversal realizado com 48 professores que ministram disciplinas no curso de Odontologia da UFES, por meio de dois questionários autoaplicáveis: o questionário Beck Anxiety Inventory (BAI) validado para a língua portuguesa11 e outro questionário com perguntas sobre idade, sexo, estado civil, cidade de moradia e o estado de saúde pré-pandemia, com o intuito de caracterizar o perfil sociodemográfico dos respondentes. Foi feito um censo com todos os professores do curso de odontologia da UFES que estavam na ativa, enviando o convite para participarem da pesquisa pela plataforma Google Forms no período de 20 de agosto de 2020 a 30 de agosto de 2020. O convite foi enviado até 3 vezes para cada professor, e se nessas tentativas não se obtivesse resposta, esse docente era excluído da pesquisa. A coleta de dados ocorreu no período de 30 de agosto de 2020 até 30 de outubro de 2020, e os questionários também foram enviados por meio da plataforma Google Forms.
As respostas do BAI são classificadas em um escore total que representa o resultado da soma dos escores dos itens individuais11. O escore total permite a classificação em níveis de intensidade de ansiedade. O escore do BAI varia entre 0 e 63 pontos, sendo classificado nas faixas de perfil ansioso. A classificação recomendada é de nível mínimo para escores de 0 a 7; leve para escores de 8 a 15; moderado de 16 a 25; e grave para escores de 26 a 6311. Para que a realização da análise bivariada, foi feita uma categorização de forma dicotômica dos níveis de ansiedade em categorias de nível mínimo/leve de ansiedade e nível moderado/grave.
A variável dependente deste estudo são os níveis de ansiedade mensurados de acordo com a presença de sintomas de ansiedade pelo questionário Beck Anxiety Inventory (BAI) validado para a língua portuguesa e Brasil.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da UFES em parecer de número 4.197.898. E antes de responderem aos questionários, todos os participantes deste estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, portanto, a participação das pessoas foi voluntária.
Após a realização dos questionários e da coleta das informações, os formulários foram revisados para análise da completude e consistência das informações. Percebeu-se que nenhuma informação foi perdida durante a coleta de dados, em seguida os dados foram armazenados no programa “Statistical Package for the Social Sciences” (SPSS), versão 26. A análise dos dados foi realizada utilizando a estatística descritiva, por meio das frequências absoluta e relativa que serão demonstradas em forma de tabelas, sendo utilizados os testes Qui-quadrado e o exato de Fischer para avaliar a associação entre cada variável independente e a variável dependente (níveis de ansiedade).
RESULTADO
Foram identificados 70 professores universitários do curso de Odontologia da Universidade Federal do Espírito Santo, dos quais 22 foram eliminados porque não responderam aos questionários solicitados de ansiedade frente à pandemia de COVID-19.
Na Tabela 1 pode ser observada a descrição dos dados sociodemográficos dos professores universitários, mostrando que a maioria deles é do sexo feminino (N=33; 68,8%), tem entre 35 e 49 anos de idade (N=23; 47,9%), é casada/união estável (N=40; 83,3%), reside em Vitória (N=34; 70,8%), com três pessoas no mesmo domicílio (N=23; 47,8%) e possui filhos (N=40; 83,3%).
Dados sociodemográficos de professores de Odontologia da Universidade Federal do Espírito Santo frente à pandemia de COVID-19
A Tabela 2 descreve os sinais e sintomas provenientes da ansiedade nos docentes, ou seja, a distribuição das respostas do BAI, e pode-se observar que os sintomas mais comuns presentes de forma leve são de estar amedrontado (N=20; 41,7%), nervoso ou apreensivo (N=20; 41,7%), inseguro ou indeciso (N=19; 39,6%) e apresentar indigestão ou desarranjo intestinal (N=17; 35,4%).
Distribuição das respostas do BAI de professores de Odontologia da Universidade Federal do Espírito Santo frente à pandemia de COVID-19
A Tabela 3 apresenta os níveis de ansiedade de professores de Odontologia da Universidade Federal do Espírito Santo frente à pandemia de COVID-19. Em relação a esses níveis, nota-se que a maioria dos professores apresentou um nível de ansiedade mínimo (N=20; 41,7%), seguido por um nível de ansiedade moderado (N=17; 35,3%).
Níveis de ansiedade de professores de Odontologia da Universidade Federal do Espírito Santo frente à pandemia de COVID-19
Como pode ser observado na Tabela 4, quanto à relação entre níveis de ansiedade e dados funcionais de professores de Odontologia da UFES frente à pandemia de COVID-19, nota-se que houve diferenças estatisticamente significativas entre os níveis de ansiedade mínimo/leve e o conhecimento de pessoas que faleceram em decorrência da COVID-19 (p=0,003).
Relação entre níveis de ansiedade e dados funcionais de professores de Odontologia da Universidade Federal do Espírito Santo frente à pandemia de COVID-19
DISCUSSÃO
Foi feita uma análise dos sintomas de ansiedade em professores do curso de Odontologia da UFES durante a pandemia de COVID-19. No que diz respeito à caracterização dos professores, o perfil dos participantes pesquisados (maioria casada, do sexo feminino, entre 35 e 49 anos) assemelha-se a outro estudo com professores de instituições públicas e privadas realizado em São Paulo12.
A ansiedade afeta diversas áreas da vida dos docentes universitários, atingindo grandes proporções e mostrando-se cada vez mais presente, principalmente em decorrência da pandemia causada pela COVID-19. Dessa forma, há uma preocupação crescente em relação ao estado de saúde mental desses profissionais da educação, que são incumbidos de uma série de práticas rotineiras de caráter educacional e ambulatorial.
Ao serem perguntados sobre os níveis de ansiedade, a maioria (41,7%) dos professores respondeu possuir pelo menos níveis mínimos de ansiedade, ou seja, afirmaram estarem enfrentando algum tipo de problema emocional durante a prática da docência na pandemia. Corroborando este trabalho, um estudo feito na China13 demonstrou que inúmeros docentes encontram-se em situações de adoecimento mental caracterizadas por transtorno depressivo leve, transtorno afetivo bipolar, transtorno de adaptação, dentre outros. Também foi encontrado resultado semelhante em pesquisa realizada em São Paulo12, na qual a maioria dos docentes participantes apresentavam níveis de ansiedade médios ou sintomas de ansiedade. Na maioria das vezes, é necessário um agravamento dos sintomas ou prejuízos pessoais e sociais para que ocorram esses distúrbios mentais, portanto, é importante que sejam implementados serviços que orientem e atendam às necessidades psicossociais desses profissionais de forma preventiva12.
Pressupondo que a docência é uma das ocupações mais estressantes, pois enfrenta constantemente circunstâncias desafiadoras históricas e atuais, é importante discorrer sobre transtornos mentais entre professores universitários14. Dito isso, o desempenho desses profissionais, assim como sua saúde física e mental, sofrem prejuízos15-17. Somado a essa situação, existe todo um cenário crítico causado pela nova pandemia do coronavírus, que piorou as condições de trabalho docente, gerando como resultado um maior sofrimento psíquico desses profissionais15,18,19.
Quando são analisadas as associações existentes entre níveis de ansiedade e dados funcionais de professores, percebe-se que a variável “Conhece alguém que faleceu de COVID-19” está associada ao desfecho (p=0,003), demonstrando que essa situação gera ansiedade em diferentes níveis na maior parte dos professores, pois trata-se de um novo tipo de vírus ainda em parte desconhecido e que provocou óbitos. Portanto, essa insegurança causada pelo fato de estarem diante de uma situação desconhecida e que poderia gerar risco de morte, provavelmente interferiu nos níveis de ansiedade dos docentes.
Já em relação às variáveis “Horas semanais de aula” e “Acesso a EPI”, observa-se que não foi encontrada associação com o desfecho, provavelmente devido ao fato de os professores estarem exercendo suas atividades respeitando as recomendações da Portaria nº 345/2020 do Ministério da Educação4, que autorizou, em caráter incomum, que as disciplinas presenciais fossem substituídas por aulas que utilizassem recursos tecnológicos de caráter informacional e de comunicação, permitindo a continuidade do ano letivo. Dessa forma, os professores puderam trabalhar em casa (na modalidade “Home Office”), portanto, não tinham contato com pessoas desconhecidas em seu ambiente de trabalho e reduziam a chance de contraírem a COVID-19, mesmo que tivessem uma carga horária elevada de horas semanais de aula. Com isso, também não precisariam de EPIs para desenvolverem o trabalho.
Ainda existe uma escassez de estudos sobre saúde mental em decorrência da pandemia por se tratar de um fenômeno recente, entretanto, as pesquisas existentes sugerem repercussões negativas20. A condição de saúde mental dos professores tem sido bastante discutida por alguns pesquisadores21, pois o contexto escolar tem se tornado um ambiente que provoca tensão e estresse, uma vez que apresenta intensas instabilidades nas relações humanas e rupturas para a educação, além de ampliar a nova conjuntura de trabalho que acentua quadros de adoecimento mental. Dessa forma, os docentes sentem-se cada vez menos estimulados nas atividades laborais, provocando um círculo vicioso de adoecimento, sofrimento e afastamento22.
A literatura mostra que a chance de professores desenvolverem estresse, depressão, ansiedade é duas vezes maior, comparado às demais profissões23. No Brasil, esses transtornos mentais ocupam o segundo lugar na categoria das doenças ocupacionais23, além disso, foram tomadas medidas, como o isolamento social, para conter a propagação do coronavírus. Com isso, foi autorizada a continuação do ano letivo em universidades por meio de ensino remoto15, e consequentemente professores do ensino superior tiveram que se atualizar para atender às exigências do cenário de crise, bem como das instituições. Isso acabou acarretando muitas vezes comprometimento da saúde mental, uma vez que vários apresentam dificuldades de manuseio das tecnologias de informação e comunicação15,18.
Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), desde 1983 a categoria docente é a segunda categoria profissional, em nível mundial, a ser afetada por doenças de caráter ocupacional, incluindo desde reações alérgicas a giz, distúrbios vocais, gastrite e até mesmo esquizofrenia16. O estresse que acomete professores é considerado pela OIT não somente como um fenômeno isolado, mas um risco ocupacional significativo da profissão16. É importante ressaltar que previamente ao desencadeamento de uma doença mental associada ao trabalho pode-se observar a presença de um sofrimento psíquico relacionado a um conjunto de dificuldades presentes no dia a dia profissional24.
A saúde mental dos docentes tem sido foco de investigação de diversas áreas do conhecimento, sugerindo interesse de caráter multidisciplinar e coerência com a relevância do papel social deste profissional. Além disso, é possível identificar lacunas metodológicas a serem preenchidas na produção de conhecimento sobre o assunto, demonstrando uma necessidade de desenvolvimento de estudos de delineamento experimental, os quais permitem a coleta de evidências para avaliação das relações de causa e efeito dos fenômenos25, bem como de estudos qualitativos, com o propósito de compreender e interpretar a forma como os professores vivenciam suas experiências laborais e lidam com o adoecimento oriundo delas.
O fato de a coleta de dados ter sido realizada em uma Universidade Federal poderia representar uma limitação deste estudo, entretanto, ressalta-se que no Estado do Espírito Santo essa é a única Universidade pública, por isso representa uma referência do ensino público do curso de Odontologia no Estado.
O delineamento transversal desta pesquisa também poderia representar uma limitação, pois como os dados são coletados em um único momento, nesse tipo de desenho não é possível estabelecer relação de causa/efeito, devido ao fato de os participantes não serem acompanhados, contudo o assunto estudado é bem recente, atual e original, o que aumenta a importância deste estudo, mesmo tratando-se de um estudo transversal.
CONCLUSÃO
Diante da problemática discutida, percebeu-se que a saúde e a educação são condições preponderantes para o desenvolvimento humano e social, e dentro desse contexto é importante destacar os professores, cuja maioria no presente trabalho apresentou pelo menos níveis mínimos (n=20, 41,7%), seguidos por níveis moderados de ansiedade (n=17, 35,3%), isto é, eles afirmaram que estão passando por problemas emocionais durante a prática do trabalho docente na pandemia. Este é um sinal de alerta para gestores, pois diante da situação e demandas atuais, esses profissionais precisam de competência pedagógica, social e emocional e precisam estimular a construção crítica dos indivíduos para que aprendam a ser e a conviver na sociedade como sujeitos conscientes, reflexivos e participativos. Mas para isso é fundamental que também estejam física e mentalmente saudáveis.
Desse modo, é perceptível a fragilidade desses profissionais em decorrência dos sintomas e/ou adoecimentos psíquicos frente às constantes cobranças e pressões profissionais, possibilitando estimular a reflexão sobre a saúde mental nessa categoria e direcionar novas pesquisas.
É relevante que sejam realizados outros estudos que busquem elucidar melhor essa questão entre ansiedade e docência, principalmente em condições de acontecimentos adversos, como durante pandemias, já que a ansiedade pode impedir e interferir negativamente no desenvolvimento do docente no meio acadêmico, e consequentemente em sua qualidade de vida.
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Como citar: Velten DB, Thomes CR, Miotto MHMB. Presença de ansiedade em docentes universitários do curso de Odontologia da Universidade Federal do Espírito Santo em tempos de pandemia. Rev Odontol UNESP. 2022;51:e20220001. https://doi.org/10.1590/1807-2577.00122
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
12 Set 2022 -
Data do Fascículo
2022
Histórico
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Recebido
09 Jan 2022 -
Aceito
28 Jun 2022