Open-access O Nosso Papel ao Advogarmos por Pessoas Idosas

Hoje escrevo como uma gerontologista, como a Presidente da Sociedade Internacional para o Estudo do Desenvolvimento Comportamental e como a atual Secretária-Geral da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria (IAGG, sigla em inglês), mas acima de tudo como uma cidadã engajada no mundo. Escrevo para advogar por mais engajamento de todos os cidadãos e, especialmente, delinear o que gerontologistas e geriatras poderiam ou deveriam fazer e, eu até diria, seria uma obrigação fazer ao olhar para 2021 e o futuro. No mundo inteiro, estamos vivendo tempos muito difíceis. Estamos enfrentando uma variedade de problemas significativos com implicações atuais e de longo prazo. Certamente, esse é o caso do Brasil, onde o coronavírus ocorre fortemente, e onde os problemas econômicos e políticos estão em nível de crise. Claro, o Brasil não está sozinho. Crises semelhantes estão sendo enfrentadas no meu próprio país (EUA) e em vários outros países ao redor do mundo. Portanto, essa é mais uma razão para enfatizar que nós estamos nisso juntos e precisamos trabalhar juntos se quisermos ter sucesso no enfrentamento das crises pelas quais estamos passando.

Os meus comentários e minhas recomendações vêm da minha experiência como diretora da equipe da IAGG das Nações Unidas. Como a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia é membro da IAGG, isso significa que a equipe da IAGG da ONU também é sua equipe. A maioria da equipe está centralizada na sede da ONU em Nova Iorque, e eu espero que vocês fiquem orgulhosos de saber que um de nossos membros mais longevos é a brasileira Dra. Laura Machado. O principal objetivo da equipe é advogar pelas pessoas mais idosas nas questões que estão sendo abordadas pela ONU. Nós participamos na Comissão de Desenvolvimento Social da ONU; da Comissão de Mulheres da ONU; do Grupo de Trabalho Aberto da ONU sobre o Envelhecimento; do Fórum Político de Alto Nível da ONU; do Dia Internacional das Pessoas Idosas (IDOP, sigla em inglês) da ONU; do Grupo de Stakeholders sobre Envelhecimento; e da Assembleia Geral de Parceiros Engajados com as Pessoas Idosas, Comitê sobre Envelhecimento. Como resultado, quando um desses grupos abraça uma causa, a nossa equipe frequentemente cria ou copatrocina um evento paralelo complementar da ONU, ou elabora uma declaração formal escrita ou oral abordando como as pessoas idosas são afetadas por aquela questão. Geralmente, as questões abordadas são baseadas nos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável (SDGs, sigla em inglês)1,2. Os SDGs delinearam um plano de ação abrangente para a construção de uma parceria global para o desenvolvimento sustentável para melhorar a vida humana e proteger o meio ambiente (https://sdgs.un.org/goals). Os brasileiros talvez saibam que as origens desses objetivos remetem à Conferência ECO-92, no Rio de Janeiro, onde a Agenda 21 foi adotada por mais de 178 países.

Recentemente, as comissões da ONU têm focado nos SDGs. Os temas que a equipe da ONU tem abordado incluem o papel e a relevância das pessoas idosas em relação a: Mudanças Climáticas; Apoio e Cuidados de Longo Prazo; os Desabrigados; Progresso Global por meio da Educação, Treinamento e Aprendizado Contínuo; o Dia Internacional das Pessoas Idosas: Década de Envelhecimento Sadio; IDOP/IAGG - Envelhecimento Sadio Durante o COVID-19.

Eu não tenho experiência como desenvolvedora de políticas públicas. No entanto, enquanto nós preparamos esses programas para a ONU, eu fiquei particularmente impressionada em relação ao tanto que os conhecimentos dos gerontologistas e geriatras são relevantes à política. Nós vemos as necessidades das pessoas mais velhas e como as suas necessidades afetam os seus parentes; porém, também vemos essas pessoas contribuírem para as suas famílias e para a nossa sociedade - um ponto que é frequentemente ignorado pelos dirigentes públicos, que com demasiada frequência acreditam que os idosos são apenas um peso. Certamente, a pandemia tem mostrado a vulnerabilidade dos idosos, mas também as suas contribuições às suas famílias durante esse momento difícil. Embora eu não esteja recomendando que vocês mudem de carreira, visto que precisamos de vocês onde vocês estão, eu quero ressaltar que nós deveríamos abraçar todas as oportunidades para advogarmos pelos direitos dos idosos sempre que pudermos. Além disso, eu acredito que reconhecermos o nosso papel como defensores é importante, não apenas para os idosos, como também para suas famílias e para nossa sociedade. Cada questão mencionada acima envolve não apenas a pessoa idosa, mas também uma fatia mais ampla da sociedade.

A elaboração das declarações da ONU deu-me uma lucidez que eu gostaria de compartilhar com vocês. Enquanto nós, gerontologistas e geriatras, nos preocupamos com os idosos, também nos preocupamos com pessoas de todas as idades. Os gerontologistas e geriatras brasileiros e a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia têm papéis importantes a desempenhar na garantia do futuro das pessoas mais velhas, incluindo por meio do sucesso da Década do Envelhecimento Sadio e na defesa de uma Convenção Internacional dos Direitos dos Idosos. Defender e reconhecer tanto os pontos fortes quanto as vulnerabilidades dos idosos pode beneficiar gerações presentes e futuras e, portanto, seria um investimento nos direitos humanos de todos, criando uma Sociedade para Todas as Idades.

REFERENCES

  • 1 Antonucci T, Bial M, Cox C, Finkelstein R, Marchado L. The role of psychology in addressing worldwide challenges of poverty and gender inequality. Zeitschrift Für Psychologie. 2019;227(2):95-104. Disponível em: https://doi.org/10.1027/2151-2604/a000360 .
  • 2 Antonucci TC. Gerontology and geriatrics, sustainable development goals, and the United Nations. In: Angel JL, Ortega ML, editors. New Frontiers in population aging and mental health: Mexico and the United States. Springer: Cham, SW. No prelo (202-?).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Abr 2021
  • Data do Fascículo
    2020
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