RESUMO
Este estudo tem como objetivo fornecer contribuições para o tratamento lexicográfico de topônimos, com foco na produção de um dicionário de topônimos de Mato Grosso do Sul. Fundamenta-se, para tanto, em pressupostos teórico-metodológicos da Toponímia – Dick (1990a, 1990b, 1995, 2001, 2004), Dauzat (1947), Backheuser (1952) – e da Lexicografia – Biderman (1984), Krieger (2006), Porto Dapena (2002), Haensch e Omeñaca (2004). O corpus , constituído por 85 nomes de distritos subordinados aos 79 municípios do estado, foi extraído do Sistema de Dados do Projeto ATEMS. Entendendo-se que um dicionário de topônimos pode abrigar informações linguísticas e enciclopédicas para atender a um público diversificado, elegeu-se como foco principal deste artigo a discussão de itens que devem compor os verbetes dessa categoria de dicionário, particularmente os relativos a topônimos de acidentes humanos: a taxionomia (DICK, 1990b) e as causas denominativas (DICK, 1990a, 1990b). Entre os resultados, destaca-se que, no corpus examinado, em relação à taxionomia, sobressaem as de natureza antropocultural – especialmente as ligadas à religiosidade e à homenagem a pessoas; enquanto, em se tratando de causas denominativas, observa-se uma tendência significativa de translação toponímica (DICK, 2001), considerando-se que muitos dos topônimos dos distritos são também nomes de outros acidentes geográficos físicos ou humanos do mesmo município.
Toponímia; lexicografia; taxionomia; causas denominativas; acidentes humanos
ABSTRACT
The objective of this study is to provide contributions to the lexicographic treatment of toponyms, focusing on the production of a dictionary of toponyms for Mato Grosso do Sul. It is thus based on theoretical-methodological assumptions of Toponymy – Dick (1990a 1990b 1995 2001 2004) Dauzat (1947) Backheuser (1952) Biderman (1984) Krieger (2006) Porto Dapena (2002) Haensch and Omeñaca (2004). The corpus, made up of 85 names of districts subordinate to the 79 municipalities in the state, was extracted from the Data System of the ATEMS Project. Understanding that a dictionary of toponyms can contain linguistic and encyclopedic information to serve a diverse audience, the main focus of this article is the discussion of items that should make up the entries in this dictionary category, particularly those relating to human feature toponyms: taxonomy (DICK, 1990b) (DICK, 1990a) (1990b). The results highlighted that, among the taxonomy of the examined corpus, those of an anthropocultural nature stand out – especially those linked to religiosity and homage to people; while, when it comes to denominative causes, a significant trend of toponymic translation is seen (DICK, 2001), considering that many of the toponyms of the districts are also names of other physical or human geographic features in the same municipality.
Toponymy; lexicography; taxonomy; denominative causes; human features
Introdução
A Toponímia, uma das subdivisões da Onomástica, que, por sua vez, integra a área da Linguística, tem como objetivo o estudo de nomes de lugares, de acidentes físicos e humanos, e parte de um pressuposto básico de que, nos topônimos de uma região, estão refletidos aspectos da história, da cultura, do pensamento dos grupos humanos que ali vivem ou viveram.
Os nomes próprios de lugar, como itens lexicais de uma língua, podem e devem receber tratamento lexicográfico. Em relação à toponímia brasileira, existem algumas obras publicadas e alguns trabalhos acadêmicos que tiverem como foco a apresentação de produto de caráter lexicográfico de um conjunto de topônimos a partir de diferentes recortes, como a língua de origem, o tipo de motivação ou o tipo de acidente, por exemplo. Ainda assim, no Brasil, existe uma lacuna no que se refere à produção de dicionários onomástico-toponímicos mais amplos que tenham como público-alvo não só especialistas, mas também e, principalmente, alunos e professores da Educação Básica.
Dessa forma, considerando que, no estado de Mato Grosso do Sul, os estudos toponímicos encontram-se relativamente avançados graças às pesquisas vinculadas ao Projeto ATEMS (2019) – Atlas Toponímico do Estado de Mato Grosso do Sul, e considerando também que esse Projeto já dispõe de um Sistema de Dados informatizados que abriga cerca de 18 mil topônimos, previamente analisados, a equipe de pesquisadores do Projeto DTMS – Dicionário de Topônimos de Mato Grosso do Sul trabalha, atualmente, na ampliação, tanto do acervo de topônimos já analisados que estão sendo inseridos no sistema, quanto de informações sobre os nomes já catalogados, em especial as de caráter enciclopédico, campo que consta na ficha lexicográfico-toponímica ( DICK, 2004 ). Paralelamente a essa meta relacionada ao Sistema de Dados, outra está sendo buscada: a produção do dicionário de topônimos do estado. Na fase atual, estão em discussão aspectos da macro e da microestrutura desse dicionário que, por sua vez, abrigará em sua nomenclatura toda a toponímia de acidentes físicos (rios, córregos, morros...) e acidentes humanos do estado (municípios, distritos, povoados...).
Nesse contexto, este texto apresenta resultados de estudo1 que teve como objetivo geral discutir a questão da microestrutura de dicionários de topônimos como uma forma de contribuição para o projeto mais amplo (DTMS), em andamento, e como objetivos específicos realizar uma discussão sobre dois itens que poderão integrar os verbetes do dicionário em questão: a motivação e a causa denominativa ( DICK, 1990a , 1990b ). Busca-se, enfim, ampliar informações a respeito da motivação dos nomes dos distritos tomados como objeto de análise.
No que se refere aos procedimentos metodológicos, registra-se que os dados foram coletados a partir do Sistema de Dados do Projeto ATEMS e, posteriormente, conferidos por meio de consulta ao documento do IBGE (2019) referente à atualização da divisão administrativa dos estados brasileiros. A coleta atualizada resultou em 85 topônimos que foram examinados, especialmente, a partir dos pressupostos teóricos de Dick (1990a , 1990b , 2001 , 2004 ), entre outros, sobretudo no que se refere aos aspectos elencados nos objetivos definidos para este estudo. Registra-se que, para recuperação das causas denominativas, foram utilizadas informações históricas obtidas por meio de consulta a obras de história e geografia, em especial as de caráter regional, a trabalhos acadêmicos, a sites das prefeituras e do IBGE, entre outras. Já em relação às bases teóricas relativas à Lexicografia, recorreu-se, especialmente, às obras de Biderman (1984) , de Krieger (2006) , de Porto Dapena (2002) e de Haensch e Omeñaca (2004) .
Em termos estruturais, o texto está organizado em três seções principais: inicialmente, apresenta-se uma discussão a respeito da motivação toponímica, com foco na distinção entre taxionomias e causas denominativas; em seguida, pontuam-se alguns pressupostos da Lexicografia considerados importantes para a elaboração de dicionários onomásticos, além de se discutirem propostas de verbetes já elaborados; e, na sequência, apresenta-se a análise dos dados, que tem como propósito principal fornecer subsídios para a construção de verbetes relativos aos nomes analisados.
A motivação toponímica: taxionomias e causas denominativas
Para discussão da motivação dos topônimos do Brasil, Dick (1990b) propôs um modelo taxionômico. E, para a elaboração desse modelo, a autora considerou estudos2 de especialistas consagrados como Dauzat (1947) , Backheuser (1952) e Stewart (1954) , que também discutiram os motivos condicionantes do surgimento dos topônimos.
O linguista francês Dauzat (1947) , ao que consta, não apresenta um modelo de classificação sistematizado, mas elenca os principais elementos observados na toponímia francesa que também podem ser verificados em outros contextos geográficos. O autor mostra que esses elementos podem ser originados da geografia física ou da geografia humana . No primeiro grupo, estariam os nomes próprios motivados por acidentes orográficos, da hidrografia, da vegetação e da fauna; enquanto o segundo conjunto, conforme o mesmo autor, reuniria nomes motivados por elementos que remetem a lugares de passagem, estabelecimentos sedentários, vilas, cidades, indústrias, santuários, cores, características abstratas, além dos nomes de pessoas que são, com frequência, emprestados à toponímia.
Por sua vez, o geógrafo brasileiro Backheuser (1952) , também leitor de Dauzat, apresenta uma sistematização para o estudo dos topônimos a partir de três grandes grupos: substantivos comuns, substantivos próprios e adjetivos. Há também aqueles que não se encaixariam em nenhuma dessas categorias, como é possível visualizar no quadro 1 .
Ao argumentar em favor de sua proposta de sistematização, o autor apresenta exemplos de topônimos de várias partes do mundo, concluindo, com alguns encontrados em território brasileiro. Dick (1990a , p. 105) faz a seguinte ponderação a respeito do trabalho de Backheuser (1952):
Calcada [...] na elaboração de Dauzat, a formulação do autor brasileiro, pelo que foi possível observar do texto, assenta-se nas generalidades mais evidentes, e não pretende um aprofundamento melhor, quer no tocante aos topônimos mais usados, quer quanto a um exame das áreas geográficas onde se localizam.
Outra contribuição que merece destaque é a do historiador e toponimista americano Stewart (1954) , que sugere a classificação dos nomes geográficos em nove categorias: descriptive names, possessive names, incident names, commemorative names, euphemistic names, manufactured names, shift names, folk etymologies , e mistake names .
Dick (1990b , p. 52), com relação ao modelo de classificação de Stewart (1954) , conclui que, para aplicá-lo, seria necessário “[...] lançar mão de hipóteses explicativas da origem dos topônimos [...] por isso chega a necessitar, na maioria dos casos expostos, de um contínuo retorno ao passado histórico [...]”. Isso poderia não ser um problema para quem se propõe a realizar uma pesquisa toponímica, no entanto, nem sempre há disponibilidade de informações suficientes e seguras sobre as circunstâncias do surgimento da maioria dos nomes geográficos, sobretudo se o acidente for considerado “de pequeno porte” ou “pouco importante” em comparação a uma cidade ou a um rio de grande porte, por exemplo.
Partindo, então, do que entende como adequado a um estudo objetivo e científico dos topônimos, Dick (1990a , p. 58) considera “a existência do nome geográfico como expressão linguística, desvinculado de qualquer procedimento diacrônico”. E, a partir desse princípio teórico-metodológico, concebe um modelo taxionômico com 27 categorias3 , distribuídas em dois grandes grupos – motivações de natureza física e motivações de natureza antropocultural –, conforme o detalhamento apresentado no quadro 2 .
Esse é o modelo utilizado neste estudo e também o que tem sido adotado nos demais trabalhos vinculados aos projetos ATEMS e DTMS, ambos coordenados pela professora Aparecida Negri Isquerdo.
A inclusão dos topônimos em uma das categorias do modelo pressupõe uma análise dos tipos de elementos que os motivaram. No entanto, para se falar mais apropriadamente em motivação, é preciso entender que, no contexto das investigações sobre toponímia, ela pode ser tomada sob dois pontos de vista:
-
- Aquele do denominador e das razões que o levaram, dentro de um processo paradigmático de possibilidades, a selecionar uma delas, a que mais respondesse às suas necessidades momentâneas de opção;
-
- e o da natureza do produto dessa escolha, isto é, da substância mesma do topônimo, revelada pelos seus componentes linguísticos ( DICK, 1990a , p. 49).
Conforme já assinalado, o ponto de vista adotado, quando se trabalha com o modelo taxionômico, é o segundo, isto é, o da “natureza do produto”. Em outras palavras, parte-se do significado linguístico dos itens lexicais que se tornaram topônimos para, então, classificá-los de acordo com uma das categorias propostas. Esse procedimento, entretanto, não implica necessariamente que se descartem as pesquisas sobre as hipóteses a respeito das explicações da origem dos topônimos, ou seja, das razões do denominador para as escolhas – conforme o primeiro ponto de vista mencionado por Dick (1990a) .
É preciso esclarecer que recuperar possíveis razões do denominador não significa, necessariamente, discutir questões psicológicas mais profundas que possam ter incidido na escolha de um nome em detrimento de outro, pois isso demandaria um estudo mais complexo que talvez fugisse dos objetivos de uma pesquisa toponímica, considerando-se, sobretudo, a impossibilidade de recuperação desse tipo de informação, dado o distanciamento que separa o ato da nomeação do momento do estudo do topônimo. Assim, o que se intenta, quando se aventam hipóteses acerca de possíveis razões do denominador ou de causas denominativas, é trazer à tona um motivo que pode estar registrado em algum documento ou na memória coletiva da comunidade. Por isso, neste estudo,
[...] entende-se causa denominativa como o motivo encontrado para o surgimento do topônimo que pode ser buscado por meio de uma pesquisa histórica acerca do nome analisado [...] Enfim, a causa denominativa revela o porquê de um lugar ter recebido um determinado nome e não a taxionomia a que pertence esse designativo, uma vez que a taxe, conforme Dick, envolve o significado do topônimo como signo de língua registrado em dicionários ou em uso comprovado no âmbito de um léxico regional ( ISQUERDO; DARGEL, 2020 , p. 241).
Assim, nas investigações toponímicas, o pesquisador pode aplicar o modelo de classificação, discutir outras questões relativas aos topônimos (etimologia, estrutura formal, por exemplo) e apresentar, quando encontradas, causas denominativas. Expor as causas denominativas, faria, inclusive, que os resultados da pesquisa interessassem também ao público não especializado em Toponímia que desejasse informações sobre aspectos da história relacionada à nomeação.
No estudo de topônimos de acidentes humanos – municípios, distritos, povoados, fazendas etc. – quando se buscam as causas da nomeação, é comum constatar que o nome de um acidente físico (de um rio, córrego, morro...) pode ser resgatado/aproveitado também para a nomeação de um acidente humano. Nas palavras de Dick (2001 , p. 159), esse processo é explicado da seguinte forma:
[...] denominamos de translação toponímica , sempre que ocorrer o deslocamento do designativo de um acidente para outro. Esse esquema pode ser circular, seja do rio para o aglomerado nascente em suas margens ou deste para aquele, o que é mais raro. É princípio em Toponímia que os nomes de cursos d’água e de montanhas e serras são os mais primitivos ou as mais antigas denominações dadas pelo grupo.
Ao se examinarem topônimos que nomeiam municípios, é possível comprovar mais facilmente casos em que são originados do processo de translação porque, geralmente, há documentos históricos que atestam esse fenômeno. Entretanto, no exame de topônimos que identificam outros tipos de acidentes geográficos, como nomes de distritos, nem sempre será possível a recuperação de dados que comprovem se o processo ocorrido no ato da nomeação foi o de translação toponímica ou apenas de homonímia. Isso ocorre pela escassez de registros de informações acerca da história dos distritos, em especial sobre razões que impulsionaram o denominador na atribuição dos nomes. Por isso, na análise, opta-se neste trabalho por referir-se à “translação/ou possível translação” quando houver acidente físico com o mesmo nome no município a que se relaciona o distrito ou em municípios vizinhos.
Reflexões sobre o tratamento lexicográfico de topônimos
Quando o assunto é a produção de dicionários, é preciso, inicialmente, considerar a grande variedade tipológica existente. Muitos autores, dos mais clássicos aos mais contemporâneos, têm apresentado tipologias que, em razão dos critérios que tomam para análise, se diferenciam umas das outras. Entre os trabalhos que apresentam classificação ou, pelo menos, um rol de itens que costuma ser analisado na definição dos produtos lexicográficos, podem-se citar, dentre outros, os de Biderman (1984) , de Krieger (2006) , de Porto Dapena (2002) e de Haensch e Omeñaca (2004)4 .
Quando se toma a classificação de Biderman (1984) , é possível entender que um dicionário de topônimos seria o que autora chama de dicionário “de tipo especial”, enquanto na síntese de classificação mencionada por Krieger (2006) , um dicionário toponímico poderia se encaixar no tipo que aborda “temáticas específicas”; Porto Dapena (2002) , por sua vez, considera que um dicionário de topônimos seria um “dicionário enciclopédico”, isto é, uma obra do tipo híbrido, enquanto Haensch e Omeñaca (2004) advogam que o mesmo produto poderia ser incluído na categoria dos dicionários com “finalidades específicas”. Esses últimos autores, inclusive, citam o dicionário onomástico como exemplo dessa categoria.
A partir desses autores, entende-se, portanto, que um dicionário de topônimos é um dicionário de tipo especial, com temática e finalidades específicas e, por oferecer informações linguísticas e enciclopédicas, seria do tipo híbrido.
Considerada, então, a tipologia do dicionário de topônimos, o próximo passo é esclarecer o objetivo da obra e definir a que público ela se destina. A partir dessa resposta, decidem-se os itens que devem compor os verbetes.
Parte-se do pressuposto de que um consulente que recorre a um dicionário de topônimos pode estar procurando o significado do nome, a sua origem linguística, e informações sobre o referente nomeado. Pode ser ainda que, além dessas informações, mais frequentes em dicionários de nomes geográficos, o usuário queira saber sobre a estrutura do topônimo, a classificação da motivação (taxionomia) e os motivos da escolha do nome, ou seja, a razão de o acidente geográfico tem aquele nome.
Face ao exposto, entende-se que a finalidade de um dicionário de topônimos deve ser a de fornecer ao consulente informações básicas e especializadas, considerando que esse usuário pode ser do público leigo ou um pesquisador da área de Toponímia, por exemplo.
Convém registrar, nesse particular, que Dick (1995) , com base em análise de uma amostra de obras de caráter lexicográfico-toponímico, estrangeiras e brasileiras, conclui que a organização dessas obras, do ponto de vista definicional, não obedece a “uma planificação unitária”, ou seja, são muito distintas quanto à estrutura dos verbetes. Conforme se depreende desse texto da autora, estava entre os seus projetos a produção de um glossário que complementaria os estudos do ATESP – Atlas Toponímico do Estado de São Paulo.
O referido glossário não chegou a ser produzido, mas a autora divulgou, em 2004, o modelo de Ficha Lexicográfico-toponímica concebida por ela para o registro das informações que deveriam figurar em um glossário toponímico, reproduzida a seguir.
Como se observa, na Ficha existem campos destinados ao registro da localização do topônimo, do tipo de acidente geográfico (A.G.), da taxionomia, da etimologia, da estrutura morfológica, das informações históricas, enciclopédicas e relativas ao contexto, entre outras. As informações referentes às possíveis razões da escolha do nome, quando localizadas, podem ser incluídas, principalmente, no campo relativo ao histórico ou às informações enciclopédicas.
Nesse sentido, no âmbito do Projeto DTMS, entende-se como adequado um verbete que inclua itens dessa ficha, considerados pertinentes ao tipo de dicionário e ao público-alvo definido para o dicionário de topônimos em processo de produção. Buscando aplicar essa proposta aos dados toponímicos em estudo, duas pesquisadoras que integram a equipe de pesquisa do projeto já apresentaram modelos de verbetes pautados nos itens da ficha proposta por Dick (2004): Castiglioni (2008 , 2014 ) e Cazarotto (2010) . O quadro 4 reúne três verbetes transcritos dos trabalhos dessas autoras.
Como se constata pelos exemplos, Castiglioni (2008) opta por não apresentar definição dos itens lexicais que compõem o topônimo; Cazarotto (2010) não informa a taxionomia porque trabalha apenas com um conjunto de fitotopônimos e, em 2014, Castiglioni inclui o termo genérico (cabeceira) juntamente com o termo específico (Aruranha) na entrada do verbete.
Nota-se que, nos exemplos transcritos, não há o registro de informações acerca das causas e/ou possíveis razões para a escolha do nome, o que pode ser justificado pelo fato de os três trabalhos contemplarem topônimos de acidentes físicos em que a recuperação de informações dessa natureza é, quase sempre, impossível, uma vez que registros escritos desse tipo de nome são raros e nem sempre é viável a pesquisa com fontes orais. Já em relação aos nomes de acidentes humanos, como municípios e distritos, em muitos casos, é possível apurar informações acerca das razões ou prováveis razões da escolha do nome.
Na sequência, expõe-se mais um modelo, desta vez, elaborado pelas autoras deste estudo.
Areado – Distrito de São Gabriel do Oeste, Região Geográfica Intermediária de Campo Grande, Região Geográfica Imediata de Campo Grande. “Cheio ou coberto de areia” ( AULETE, 2014 ). Taxionomia: litotopônimo. Estrutura: simples. Notas: Conforme o site da Prefeitura de São Gabriel do Oeste, as regiões circundantes são de arenito, com grande formação de erosão e assoreamento. Além disso, no município existe um córrego denominado Areado , de onde, provavelmente, originou-se o nome do distrito. Areado figura como distrito de São Gabriel do Oeste desde 1981. Código no IBGE: 500769510.
Nessa proposta, a localização é feita por meio da nova divisão territorial estabelecida pelo IBGE (2017) e, por tratar-se de nome de distrito, acrescenta-se, ainda, ao final do verbete, o geocódigo que auxiliaria na identificação e na localização do distrito. Além disso, o verbete seria constituído da definição do item lexical que se tornou topônimo, da taxionomia, da estrutura morfológica, das prováveis causas denominativas e outras informações enciclopédicas.
As possíveis causas denominativas subjacentes aos topônimos que nomeiam os municípios do estado de Mato Grosso do Sul foram investigadas por Isquerdo e Dargel (2020) e as relativas aos nomes dos distritos são apresentadas e discutidas na sequência deste trabalho. Reitera-se que a análise que segue, assim como a realizada pelas autoras citadas, configuram-se como subsídios para o dicionário de topônimos já desenhado e em processo de construção.
Discutindo a motivação dos topônimos: subsídios para estrutura de verbetes
No quadro 5 , na sequência, estão arrolados os nomes dos 85 distritos do estado de Mato Grosso do Sul que constituem o corpus deste estudo. Registra-se que somente os municípios que abrigam distritos estão listados na segunda coluna6 , e que a quantidade de distritos não está relacionada à dimensão da área territorial do município. Exemplos disso é o caso do município de Campo Grande que sedia a capital do estado com apenas dois distritos, e o de Itaporã, município do interior, cuja sede é de pequeno porte, que possui quatro distritos7 .
Conforme mencionado, analisar os topônimos do ponto de vista de seu significado para classificá-los em categorias relativas à motivação configura-se como um procedimento teórico-metodológico que auxilia o pesquisador na compreensão, de forma mais objetiva, da relação entre nomes e aspectos externos, sejam esses relacionados a sentimentos do denominador, a questões sociais, históricas e culturais ou ao ambiente físico em geral. Para este estudo, como esclarecido, utiliza-se o modelo taxionômico de Dick (1990b) para classificação dos topônimos quanto à motivação. Além disso, entendendo-se que a aplicação desse modelo não implica necessariamente a explicitação dos motivos que impeliram o denominador na escolha de cada topônimo, também foram levantadas prováveis causas denominativas que, conforme será observado, em muitos casos, estão relacionadas ao processo de translação toponímica ( DICK, 2001 ).
Motivações de natureza antropocultural
As taxes de natureza antropocultural ( DICK, 1990b ) foram as mais produtivas no corpus examinado. Na análise que segue, a ordem decrescente de produtividade não é seguida rigorosamente, uma vez que categorias consideradas semanticamente relacionadas foram discutidas no mesmo bloco.
É fato atestado que a religiosidade se encontra expressa na toponímia com certo destaque na maioria dos recortes tomados para estudo8 . Isso ocorre, sobretudo, pelo emprego de nomes de santos e santas (hagiotopônimos), entidades mitológicas (mitotopônimos) e outros nomes relacionados a diferentes crenças (hierotopônimos) de acordo com o que está definido no modelo de Dick (1990b). No corpus em estudo, foram apurados os seguintes topônimos de natureza religiosa: i) hagiotopônimos (nomes referentes a santos e santas): Santa Terezinha (Itaporã), São José (Vicentina), São João do Aporé (Paranaíba), São José do Sucuriú (Inocência); São Pedro (Dourados; Inocência) e São Romão (Coxim); ii) hierotopônimos: Bom Fim (Jaraguari), Cruzaltina (Douradina), Nossa Senhora de Fátima (Bela Vista) e Guadalupe do Alto Paraná (Três Lagoas), e iii) mitotopônimo: Tamandaré 11 (Paranaíba). Os dados atestam, pois, que a fé, a religiosidade, o culto do denominador a um determinado santo, a uma entidade religiosa motivam esses topônimos.
É preciso ter em vista, entretanto, que alguns desses topônimos podem ter como causa denominativa a existência de um outro acidente geográfico físico ou humano com o mesmo nome no seu entorno. Para citar alguns exemplos, em Bela Vista, há também a fazenda Nossa Senhora de Fátima e em Paranaíba há córrego, sítio e fazenda com o nome Tamandaré. Registra-se que, neste estudo, essa tendência – translação toponímica – foi verificada com mais evidência em relação aos topônimos associados a categorias de natureza física, como discutido mais adiante.
Os topônimos formados por nomes, sobrenomes e apelidos de pessoas, os antropotopônimos, aparecem, no conjunto dos designativos dos distritos, nos seguintes casos: Albuquerque (Corumbá), Amandina (Ivinhema) Juscelândia (Rio Verde de Mato Grosso), Nhecolândia (Corumbá), Prudêncio Tomaz (Rio Brilhante), Garcias (Três Lagoas) e Raimundo (Paranaíba).
É possível afirmar que alguns desses nomes, em razão da importância do homenageado para a história local, ganham projeção mais ampla e por isso informações históricas relativas a eles podem ser recuperadas um pouco mais facilmente em obras sobre a história e a geografia regional e em documentos escritos armazenados em centros de documentação. Sobre Albuquerque, por exemplo, Schneider (2002 , p. 144) relata:
O topônimo Albuquerque [...] parece ser uma homenagem ao governador da capitania do Mato Grosso, Luís de Albuquerque de Mello e Cáceres, cidadão que exerceu o cargo de governador no período de 13 de dezembro de 1772 a 20 de novembro de 1789, ou ainda pode ser ter sido uma homenagem ao Barão defensor do Forte Coimbra na Guerra do Paraguai, Hermegenildo de Albuquerque Portocarrero.
Na região, há também a Serra Albuquerque. Nesse caso, é possível supor que a serra (acidente geográfico já existente) pode ter sido renomeada após o surgimento do povoado. Assim, o nome teria passado do povoado/distrito para a serra, num processo de translação diferente do que comumente acontece.
Nhecolândia, que também nomeia uma sub-região do Pantanal, é uma homenagem a Joaquim Eugênio Gomes da Silva, conhecido pelo apelido de Nheco, um dos primeiros ocupantes da região, considerado como desbravador da sub-região da Nhecolândia ( SCHNEIDER, 2002 ). Garcias , por sua vez, configura-se como homenagem a membros da família que explorou e se apossou de terras na região em que hoje fica o município de Três Lagoas, conforme se depreende de informações históricas.
Por volta de 1828, Joaquim Francisco Lopes iniciou a exploração da região com uma expedição composta de 11 pessoas, organizada em Monte Alto, onde estavam os irmãos José Garcia Leal e Januário Garcia Leal [...]
Na década de 80, Protázio Garcia Leal , Antônio Trajano dos Santos e Luís Correia Neves Filho se fixaram na região com a criação de gado e atraíram comerciantes e peões. Eles se fixaram em três regiões do município trêslagoense, sendo o norte do rio Sucuriú, na região do Ribeirão Beltrão; o centro e atual perímetro urbano, na área das três lagoas e o sul, na área do Rio Verde (PREFEITURA MUNICIPAL DE TRÊS LAGOAS, 2021, grifo nosso).
No caso dos topônimos Amandina e Juscelândia , é possível apenas levantar hipóteses com base em uma informação histórica. A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros do IBGE (1958) , ao relatar aspectos da história dos municípios de Rio Brilhante e de Ivinhema, informa que vários casais doaram terras para compor um patrimônio municipal. Entre os casais, são citados Augusto Alves Nogueira e Amanda de Souza Nogueira e Italívio Pereira Martins e Amanda de Souza Martins. Assim, Amandina , distrito de Ivinhema, pode ser uma homenagem a uma dessas esposas. Em relação a Juscelândia , distrito de Rio Verde de Mato Grosso, a hipótese é a de que o nome seria uma homenagem ao ex-presidente Juscelino Kubitschek10 , mas a homenagem pode ser também a uma pessoa que não ficou muito conhecida e sobre a qual não se encontraram registros históricos escritos.
Já em relação aos topônimos Prudêncio Tomaz e Raimundo , não foram localizadas informações sobre os possíveis homenageados. Registra-se, ainda, que, em Paranaíba, há também o córrego Raimundo , de onde provavelmente veio o nome do distrito. O nome do córrego pode ser uma homenagem a um antigo morador cuja importância ficou circunscrita apenas ao local.
Outros nomes e sobrenomes foram verificados no corpus , mas incluídos na categoria dos historiotopônimos, uma vez que se reportam a personalidades conhecidas e vinculadas “a movimentos de cunho histórico-social”: É o caso dos topônimos Camisão e Taunay que identificam distritos de Aquidauana. Camisão presta homenagem ao coronel Carlos de Morais Camisão, conhecida figura histórica de Mato Grosso do Sul, que teria liderado a tropa da Retirada da Laguna, durante a Guerra do Paraguai (1864-1870); Taunay , por sua vez, é homenagem ao Visconde Alfredo Maria Adriano d’Escragnolle Taunay, autor do livro A Retirada de Laguna , que relata episódio da Guerra do Paraguai e também de outras obras de cunho regional, como romance (Inocência) e relatos de viagens (De Campo Grande a Aquidaban: Diário do Exército – Volume 2) .
Quando os nomes próprios, sobrenomes ou apelidos são precedidos de títulos e dignidades, são classificados como axiotopônimos. Esse foi o caso de Presidente Castelo (Deodápolis), referência a Humberto de Alencar Castelo Branco, o primeiro presidente do Brasil do período da ditadura militar.
Em relação a essas categorias que prestam homenagem a pessoas – antropotopônimos, historiotopônimos e axiotopônimos – constataram-se poucos casos de existência de outros acidentes geográficos com o mesmo nome no entorno. Isso pode indicar que a maioria tem como causa denominativa a homenagem direta à pessoa, seja de importância restrita ao local, seja de projeção regional ou nacional. Assim a ocorrência de translação toponímica é pequena nessas categorias, comparando-se com outras.
Na taxe dos animotopônimos, foram incluídos os seguintes nomes: Bela Alvorada (Paraíso das Águas), Velhacaria (Paranaíba) e Vista Alegre (Maracaju). Essa taxe contempla nomes relativos à vida psíquica, não pertencente à cultura física. Em geral, os topônimos dessa categoria evocam conteúdos positivos, agradáveis, traduzindo desejos do denominador de imprimir esse tipo de conteúdo semântico ao local, sendo essa, portanto, a causa denominativa. Destaca-se, entretanto, Velhacaria , que é um nome derivado de “velhaco”, entendido como “aquele que engana, trapaceia”; esse topônimo nomeia outros acidentes geográficos no mesmo município, um córrego e uma fazenda. É possível, portanto, que esse seja mais um caso de translação.
Topônimos constituídos pelas lexias “vila”, “aldeia”, “cidade”, “povoação”, “arraial” integrando o elemento específico são, conforme o modelo seguido, poliotopônimos. Todos os topônimos, deste estudo, incluídos nessa categoria, são constituídos pela lexia “vila”: Vila Formosa (Dourados) Vila União (Deodápolis), Vila Rica (Vicentina) e Vila Vargas (Dourados). Desses quatro nomes, três sugerem impressões positivas e eufóricas ( formosa, união, rica ). Em Dourados, existe também a fazenda Formosa , que pode ter sido a causa de um desses nomes. Vila Vargas , por sua vez, homenageia o ex-presidente Getúlio Vargas em cujo governo foi criada a Colônia Agrícola Nacional de Dourados, que teria propiciado significativo desenvolvimento para a região de Dourados e, anos mais tarde, a criação de mais distritos.
Os topônimos que recuperam atividades profissionais, locais de trabalho e pontos de encontro de uma comunidade são incluídos na taxe dos sociotopônimos. Essa categoria também foi verificada nos seguintes nomes de distritos: Amolar 13 (Corumbá), Culturama (Fátima do Sul), Porto Esperança (Corumbá), Porto Vilma (Deodápolis), Porto XV de Novembro (Bataguassu). Vale registrar que Amolar é também o nome de uma importante e conhecida serra do Pantanal (serra do Amolar), de onde provavelmente se origina o nome do distrito. Sobre Culturama localizou-se a seguinte informação em um jornal digital – Fatimanews – do município de Fátima do Sul: “O nome da Vila foi decidido através de uma eleição em praça pública, quando se elegeu o nome de Culturama pelo fato de ser uma terra boa para a cultura de grãos e alimentos [...]12 ”.
Entre esses sociotopônimos, destacam-se os formados pela unidade lexical porto que, entre seus vários sentidos, conforme registra Aulete (2014) , há o de “Lugar construído à beira do mar, rio ou baía para embarcações atracarem”. É comum que a existência de um porto resulte no desenvolvimento de um aglomerado humano no seu entorno e que este passe a ser conhecido pelo nome desse porto, incluindo-se a forma porto como parte do nome próprio do lugar.
Não foi possível encontrar informações detalhadas a respeito de todos esses designativos geográficos. Entretanto, a respeito do topônimo Porto VX de Novembro , a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros ( IBGE, 1958 , p. 90) registra que a embocadura do rio Pardo aumentava a largura do rio Paraná “apresentando um belo panorama”. Esse local se chamava Porto XV de Novembro e era o único ponto de ligação do sul de Mato Grosso com São Paulo. Nesse local, teria surgido o povoado que hoje é distrito de Bataguassu. Sobre a possível causa do surgimento desse nome, encontrou-se o seguinte relato no site da Prefeitura de Bataguassu13:
Os primeiros homens civilizados a fixar-se nas terras de Bataguassu, foram Manoel da Costa Lima e sua expedição, partindo de Campo Grande para estabelecer a ligação de Campo Grande e o Estado de São Paulo, conseguindo seu intento em 1904, onde chegaram à foz do rio Pardo no rio Paraná, onde encontraram um local apropriado para um Porto Fluvial, e por ser aquele o dia 15 de novembro, batizaram-no como Porto XV de Novembro.
Outras categorias de natureza antropocultural foram menos recorrentes no corpus em estudo. Os designativos constituídos pelos adjetivos novo/nova, ou seja, os cronotopônimos, por exemplo, foram representados por Nova América (Caarapó), Nova Casa Verde (Nova Andradina) e Nova Esperança (Rio Negro). O primeiro nome apresenta uma estrutura recorrente para casos em que o denominador deseja atribuir ao local um topônimo já existente – no caso, América (em homenagem ao continente ou aos Estados Unidos); o segundo nome surge, conforme informações de Torres (2016 , p. 90), de um assentamento denominado Casa Verde iniciado em 1987; mas já havia, na localidade, “[...] o posto de abastecimento de gasolina Casa Verde, na época de propriedade do senhor Antonio Di Benedetto e que permanece nesta [ sic ] localidade há mais de quarenta anos”. O terceiro nome, Nova Esperança , expressa estado anímico positivo, e está incluído na categoria por seu constituinte inicial nova .
Coimbra (Corumbá) e Montese (Itaporã) foram classificados como corotopônimos, categoria reservada aos designativos que já eram nomes de outras cidades, estados, países, conforme Dick (1990b). A causa do primeiro é o Forte Coimbra – edificação construída pelos portugueses no século XVIII – localizado às margens do rio Paraguai; o segundo pode ter origem no nome da fazenda que, por sua vez, pode ser uma referência à comuna italiana onde ocorreu a Batalha de Montese , episódio bélico em que atuaram tropas brasileiras. Uma outra hipótese é que Montese seja uma referência aos povos Guarani que vivem na região, já que, conforme informa o Site do Instituto Socioambiental (2021), “[...] os Guarani são conhecidos por distintos nomes chiripa, Kainguá, Monteses, Baticola, Apyteré, Tembekuá, entre outros”.
Topônimos relativos a elementos étnicos – etnotopônimos – também foram identificados no corpus: Baianópolis (Corguinho) e Paiaguás (Corumbá). Sobre Baianópolis , é preciso registrar que, no município vizinho, Rio Negro, existe o córrego dos Baianos de onde o nome pode ter se originado. Outra hipótese é a de que, considerando que baiano é também sinônimo de nortista ( AULETE, 2014 ), o nome seja uma referência à origem de trabalhadores que se instalaram na região, considerando-se que, conforme o IBGE Cidades@14 , a existência de pedras preciosas na região do município de Corguinho, nas primeiras décadas do século XX, atraiu muitos garimpeiros do Norte e do Nordeste do Brasil. Paiaguás, por sua vez, é nome também de uma sub-região do Pantanal, e se reporta ao nome da etnia indígena considerada característica de regiões pantaneiras em razão de sua tradicional familiaridade com o regime das águas.
Os nomes motivados pelas vias de comunicação, passagens e caminhos, como Picadinha (Dourados) e Ponte Vermelha (São Gabriel do Oeste) são classificados como hodotopônimos. A acepção considerada para a classificação do primeiro topônimo foi: “Caminho aberto em mata fechada a golpes de facão ou foice; ATALHO; PIQUE; TRILHA” ( AULETE, 2014 ). O distrito e seu nome teriam se originado de um antigo povoado denominado Picada do Romualdo em referência ao fundador do povoado. A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros ( IBGE, 1958 ), ao citar as aglomerações urbanas pertencentes ao município de Dourados, registra, entre outros, o povoado Picadinha do Romualdo . Em relação a Ponte Vermelha , foi constatado que, em São Gabriel do Oeste, existe também o córrego Ponte Vermelha , de onde viria o nome do distrito.
O designativo Baús (Costa Rica), apesar de remeter a um objeto da cultura material, foi incluído na categoria dos morfotopônimos, uma vez que essa é categoria dos nomes geográficos que refletem o sentido das formas geométricas. No mesmo município, encontra-se o acidente físico denominado Chapadão dos Baús , que teria sido motivado pela similaridade com a forma do objeto baú. Como se entende que o nome do acidente físico passou para o acidente humano, tem-se mais um caso de translação toponímica.
De acordo com Dick (1990b , p. 31), “topônimos relativos a posições geográficas em geral” são classificados como cardinotopônimos. Esse foi o caso de Pontinha do Cocho (Camapuã), também atribuído a um córrego e a uma fazenda no mesmo município.
Em relação ao topônimo Quebra Coco (Sidrolândia), até o fechamento deste texto, não foi possível apurar causas motivadoras desse designativo. Do ponto de vista linguístico, tomando-se por base as características estruturais do topônimo em tela, foi aqui classificado como dirrematotopônimo – categoria que diz respeito aos “topônimos constituídos por frases e enunciados linguísticos” ( DICK, 1990b , p. 33). Esse topônimo tem ocorrência única no Sistema de Dados do Projeto ATEMS e uma busca nos dados oficiais disponibilizados pelo IBGE e na Internet (de modo geral) não evidenciou outros registros desse topônimo em território sul-mato-grossense. O topônimo, entretanto, é atribuído a acidentes físicos e humanos em outros estados, como, por exemplo, um rio e um bairro no Rio de Janeiro (RJ), um bairro em Pompeia (SP), um córrego em Itamarandiba (MG), entre outros. Assim, é possível que algum morador, familiarizado com o nome em outro local, o tenha trazido para a vila que, depois, se tornou distrito.
Concluídas as considerações sobre os nomes motivados por aspectos de natureza antropocultural, apresenta-se a imagem 1 , que mostra o resultado quantitativo da distribuição dos dados analisados, dispostos em ordem alfabética dos nomes das categorias.
Produtividade de topônimos de natureza antropocultural na nomeação de distritos de Mato Grosso do Sul
Do conjunto de topônimos analisados, 50 foram incluídos em categorias de natureza antropocultural, o que representa 59% do total do corpus em análise. Destacaram-se, como se constata pela imagem, os antropotopônimos e os hagiotopônimos com o mesmo índice de registros (8,2%).
Cotejando-se os resultados deste estudo com os de Isquerdo e Dargel (2020) , sobre os nomes dos municípios de Mato Grosso do Sul, nota-se que, no que se refere à motivação, as autoras verificaram que essas duas categorias também estão entre as mais produtivas em relação aos nomes dos municípios sul-mato-grossenses.
Respeitando-se a definição de cada uma das taxes do modelo adotado, os topônimos Debrasa, Indápolis e Pana não foram incluídos em nenhuma delas. Como fazem alusão a empreendimentos humanos, entende-se que devem ser considerados como topônimos motivados por elementos de natureza antropocultural. Debrasa é uma sigla que também nomeia uma usina instalada no mesmo município – DEBRASA Usina Brasilândia Açúcar e Álcool; Indápolis tem origem no nome Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (INDA), criado em 1964 e responsável pelo desenvolvimento de atividades agrárias na região; Pana é composto pelas letras iniciais de Programa Assentamento Nova Alvorada.
Como se nota, os três topônimos são formados por letras ou sílabas iniciais de unidades lexicais que compõem um nome composto. Por essa razão, podem ser classificados como acronimotopônimos ( FRANCISQUINI, 1998 )15 . As causas denominativas desses topônimos seriam, então, a usina, o instituto e o assentamento, respectivamente.
Motivações de natureza física
As motivações de natureza física, no recorte de dados aqui analisados, são menos frequentes e menos diversificadas, se comparadas com as de cunho antropocultural como é possível constatar pela imagem 2 . Entre os elementos de natureza física, sobressaíram a vegetação, os animais, os recursos hidrográficos, as formas do relevo, e as características mineralógicas, especialmente, como se constata na sequência.
Produtividade de topônimos de natureza física na nomeação de distritos em Mato Grosso do Sul
Os nomes de lugares relativos à vegetação, os fitotopônimos, identificados no corpus foram os seguintes: Bálsamo (Ribas do Rio Pardo), Bocajá (Douradina), Campestre (Antônio João), Capão Seco (Sidrolândia), Cipolândia (Aquidauana), Congonhas (Bandeirantes), Indaiá do Sul (Cassilândia), Ipezal (Angélica), Morangas (Inocência), Palmeiras (Dois Irmão do Buriti) e Taquari (Coxim).
Costuma-se considerar que a presença de determinado elemento vegetal ou a sua importância pode fazer dele um elemento motivador de nome geográfico. Mas, assim como em relação a nomes de outras categorias, a maioria desses já existia como topônimos no mesmo município ou nas proximidades do município. Conforme é possível constatar no Sistema de Dados do Projeto ATEMS, o topônimo Bocajá , por exemplo, se espraiou para oito outros acidentes geográficos do estado (córregos e fazendas); em relação a Capão Seco , há também uma fazenda com o mesmo nome no município em que se localiza o distrito.
Apenas Ipezal e Indaiá do Sul têm registros únicos no Sistema de Dados do Projeto ATEMS. No caso do último, entretanto, ainda há o rio Indaiá no mesmo município do distrito, ficando a diferenciação somente pelo acréscimo do especificador “do sul”. Em relação a Ipezal , não foram identificados outros acidentes geográficos com o mesmo nome em Mato Grosso do Sul. Moradores do município de Angélica informam que o nome é motivado pela grande quantidade de árvores ipê nativas na região. Inclusive, na época do abate dessas árvores, três delas teriam sido preservadas no distrito16 .
Em síntese, sobre os fitotopônimos, é possível afirmar que apenas Ipezal tem causa denominativa diretamente associada à presença de um elemento vegetal no local nomeado. Os demais passam a nomear os distritos por já serem designativos de outros acidentes físicos ou humanos existentes na mesma área geográfica, especialmente de córregos.
A fauna também costuma figurar entre os fatores motivadores mais frequentes na toponímia. Assim, neste estudo, incluídos na categoria dos zootopônimos – relativos aos nomes que fazem referência a animais – estão os seguintes nomes de distritos: Anhanduí (Campo Grande), Arapuá (Três Lagoas), Carumbé (Itaporã), Jacareí (Japorã), Jauru (Coxim), Morumbi (Eldorado), Panambi (Dourados), Piraporã (Itaporã), Piraputanga (Aquidauana). As mesmas considerações apresentadas em relação às causas denominativas dos nomes classificados como fitotopônimos se aplicam aos zootopônimos. Com exceção de Piraporã , todos nomeiam também córregos ou rios no mesmo município ou em municípios circunvizinhos.
O topônimo Piraporã (peixe bom, em Guarani), distrito de Itaporã, pode ser uma alusão ao fato de o município ser conhecido como “cidade do peixe” e ter na piscicultura uma das suas principais fontes de economia17 .
Nomes geográficos motivados por elementos hídricos são classificados como hidrotopônimos (DICK, 1990a). Entre os nomes de distritos em análise, representam essa categoria os seguintes designativos: Águas de Miranda (Bonito), Cabeceira do Apa (Ponta Porã); Cristalina (Caarapó); Lagoa Bonita (Deodápolis) e Sanga Puitã 20 (Ponta Porã). Águas de Miranda seria uma referência ao rio Miranda que banha a região; Boqueirão pode ter tido origem no nome da fazenda localizada no mesmo município; Cabeceira do Apa localiza-se na região onde nasce o rio Apa; Cristalina , além do distrito, nomeia córrego e fazenda no mesmo município; Lagoa Bonita também nomeia córrego no mesmo município. A julgar pelas informações históricas e geográficas, Sanga Puitã (Ponta Porã) faz fronteira com Sanja Pytá , (distrito paraguaio) e provavelmente o primeiro nome seja uma alteração (e equivalência) do segundo. De acordo com informações do site do Departamento de Governo de Amambay19 , a área que compreende os dois distritos teria recebido esse nome em decorrência de um paredão de areia argilosa vermelha que se estendia do lado brasileiro ao paraguaio.
As formas topográficas ou as características do relevo também motivam a criação de nome próprios, que são denominados de geomorfotopônimos. Representam essa categoria, no corpus analisado, Boqueirão (Jardim), Ilha Comprida (Três Lagoas) e Morraria do Sul (Bodoquena). Convém esclarecer que, para classificar Boqueirão como um geomorfotopônimo, foi considerado o sentido de “vale” ou “abertura no terreno”20 . Ilha Comprida , por sua vez, nomeia o distrito que é, de fato, uma ilha no rio Paraná; nesse caso, é possível que a causa denominativa seja a própria natureza (e o formato longo, comprido) do território do distrito. Há também a possibilidade de ser uma referência ao município paulista de mesmo nome. Morraria do Sul , possivelmente, é uma alusão aos morros e serras da região, sendo essa a sua causa denominativa.
Os topônimos de índole mineral, relativos também à constituição do solo, são classificados como litotopônimos. Esse tipo de motivação foi constatado em Areado (São Gabriel do Oeste), Itahum (Dourados) e Rochedinho (Campo Grande). O primeiro pode ter como causa as características do solo do município e a presença do córrego do mesmo nome em São Gabriel do Oeste. Itahum parece ser uma alusão à estação ferroviária do mesmo nome. Nascimento e Queiroz (2014 , p. 3), recuperando a pesquisa de Santos (2006) , registram que o distrito tem origem no povoado denominado Eldorado e se desenvolveu graças à construção de uma estação ferroviária: “Mais tarde, com a chegada dos trilhos, essa colônia deu origem a um povoado, formado em torno da estação, dos dois lados dos trilhos, e aos poucos a antiga vila Eldorado adotou o mesmo nome dado à estação ferroviária [...]”. Em relação a Rochedinho , analisando-se a formação administrativa de Campo Grande, verifica-se que o município de Rochedo pertenceu a Campo Grande até 1948, quando se elevou a município; em 1953, é criado o distrito de Rochedinho , antigo povoado (IBGE Cidades@). Entende-se, então, que o topônimo é alusivo a Rochedo , nome do município já existente.
Guaçu (Dourados) e Guaçulândia (Glória de Dourados) são nomes que representam os dimensiotopônimos, que são aqueles que, conforme o modelo taxionômico adotado, fazem referência às características dimensionais dos acidentes geográficos. No Sistema de Dados do Projeto ATEMS, há mais de uma dezena do topônimo Guaçu que nomeiam diferentes acidentes geográficos, em vários municípios do estado – arroio, cabeceira, córrego, fazenda. A lexia aparece também combinada com outras, como em fazenda Potreiro Guaçu (Dourados), de onde possivelmente se originou o nome do distrito. Um desses vários acidentes nomeados anteriormente pode ter motivado também o topônimo Guaçulândia .
Na sequência, apresenta-se, na imagem 2 , uma síntese em relação à produtividade de taxionomias de natureza física.
A análise demonstrou que 35 topônimos (41%) do corpus têm motivação em elementos da natureza física e, desse conjunto, as categorias mais produtivas são os fitotopônimos (11,7%), os zootopônimos (10,5%) e os hidrotopônimos (8,2%)21 .
Isquerdo e Dargel (2020) constataram que, entre os nomes de municípios de Mato Grosso do Sul, os mais produtivos são os hidrotopônimos, os fitotopônimos e os litotopônimos. Assim, observa-se coincidência em relação ao destaque das motivações relativas à vegetação e à água. As autoras afirmam que a análise realizada “[...] revelou que predominam na macrotoponímia sul-mato-grossense os designativos de referencial de natureza antropocultural [...] mas que, mesmo assim, a ocorrência de topônimos de referencial de natureza física é bastante produtiva” ( ISQUERDO; DARGEL, 2020 , p. 268). Essa última constatação também se aplica aos resultados deste estudo.
No que se refere às causas denominativas, o cotejamento dos resultados é mais complexo, uma vez que cada topônimo pode ter uma causa específica. No entanto, verifica-se que há uma tendência de se atribuírem aos distritos nomes de acidentes físicos (e algumas vezes, de acidentes humanos) já existentes na região, especialmente no mesmo município, ou seja, ocorre um “deslocamento” dos nomes dos rios, dos córregos, dos morros, das fazendas, das empresas entre outros empreendimentos humanos. Ainda que não seja possível comprovar que todos os casos sejam de translação toponímica – nos termos de Dick (2001) –, a pesquisa verificou que 69% dos nomes de distritos são também nomes de outros acidentes geográficos.
Como já mencionado, há pouco material com informações sobre os distritos – geralmente encontra-se, nos documentos, apenas a data da criação e da respectiva incorporação ao município sede. Por isso, é possível que, em alguns casos, o acidente físico tenha sido nomeado após o surgimento e a nomeação do aglomerado humano de seu entorno. Entretanto, quando não se têm informações que comprovem isso, parte-se do pressuposto de que os acidentes físicos são nomeados anteriormente aos acidentes humanos.
O processo de translação também foi verificado por Isquerdo e Dargel (2020) , ao explicitarem as causas dos topônimos dos municípios. A título de exemplos, citam-se, do trabalho das autoras, Jaraguari, Maracaju, Nioaque e Sete Quedas , que já nomeavam, respectivamente, um córrego, uma serra, um rio e as extintas cataratas, o que foi apontado como causa denominativa.
Considerações finais
Conforme estabelecido, este estudo pretendeu examinar uma amostra de topônimos do estado de Mato Grosso do Sul, no caso, os nomes de distritos vinculados à malha municipal do estado. Para além de analisar o recorte toponímico selecionado, o estudo também teve como propósito ampliar as discussões e fornecer uma contribuição para o projeto que tem como objetivo a elaboração do dicionário de topônimos de Mato Grosso do Sul, focalizando, mais especificamente, a taxionomia e as possíveis causas denominativas, informações que poderão, reitera-se, figurar em verbetes do dicionário de topônimos no campo das informações enciclopédicas.
Além de fornecer essa contribuição ao projeto do dicionário, o estudo contemplou a análise quantitativa dos dados apurados em relação à taxionomia e à causa denominativa considerando o conjunto total dos topônimos do corpus .
Assim, no que se refere à motivação ( DICK, 1990b ), constatou-se que as categorias de natureza antropocultural se sobressaíram em relação às de natureza física, com percentuais de 59% e 41%, respectivamente. Do primeiro grupo, destacaram-se, especialmente, os nomes relacionados a religiosidades (santos, santas e outros elementos religiosos) e a homenagens a pessoas; do segundo grupo, o destaque ficou para a vegetação, os animais e os recursos hídricos. Esses resultados consideram apenas a classificação objetiva dos nomes geográficos, conforme esclarecido no referencial teórico, isto é, a análise fundamenta-se no significado dos “componentes linguísticos” dos topônimos.
A análise da motivação, no entanto, foi complementada pela discussão das possíveis razões que teriam motivado o denominador no momento da escolha do nome. Conforme pontuado na introdução, como já se presumia, não foi possível recuperar a causa denominativa de todos os topônimos do corpus em exame. Apesar disso, os resultados da pesquisa em relação a esse aspecto se mostraram bastante produtivos.
A discussão das possíveis causas da nomeação permitiu evidenciar, por exemplo, que, apesar da presença de grande quantidade de fitotopônimos e de zootopônimos não são, “diretamente”, na maioria dos casos, a vegetação e os animais os motivadores da escolha dos nomes. Ou seja, muitos distritos são nomeados a partir do nome de um córrego, de um rio, de um morro, de uma fazenda, de um outro empreendimento humano. Como demonstrado, esse processo, chamado de translação, foi constatado em relação à maioria dos topônimos analisados: 69% do corpus .
Referenda-se, então, que o ambiente continua se refletindo nos nomes dos acidentes humanos, o que é pressuposto básico dos estudos toponímicos, mas, quando se observa a translação, o processo é distinto daquele que ocorre com os nomes de acidentes físicos em geral.
Assim, constata-se que, para uma melhor compreensão do processo de nomeação de um determinado conjunto de acidentes geográficos, distinguir a classificação objetiva da motivação, a partir da taxionomia adotada, das causas denominativas pode representar um procedimento enriquecedor para uma pesquisa toponímica.
Registra-se ainda que o conhecimento acerca de um conjunto de topônimos e de suas motivações será sempre um processo em construção, por isso pode ser revisto a qualquer tempo com base no acesso a novas informações e a partir outras reflexões teóricas. A propósito, como se observou, no caso de alguns topônimos do corpus analisado, foi possível a análise somente a partir da taxionomia, por ausência de dados minimamente aceitáveis sobre as razões da escolha feita pelo denominador.
Frente ao exposto, considera-se que, a despeito das lacunas apontadas no que diz respeito à elucidação das causas denominativas, acredita-se que este estudo, além de fornecer subsídios para a elaboração de verbetes do dicionário no que diz respeito ao registro de informações enciclopédicas, avança na temática tratada, constituindo-se como mais uma contribuição para a construção do conhecimento sobre a toponímia em geral, especialmente a do estado do Mato Grosso do Sul.
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1
O estudo é parte das atividades desenvolvidas durante a realização de Estágio de Pós-Doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGLETRAS/UFMS/CPTL, sob a supervisão da professora Dra. Aparecida Negri Isquerdo.
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2
Na história da disciplina Toponímia, várias outras propostas de classificação têm sido elaboradas como, por exemplo, a do filólogo português Leite de Vasconcelos (1931) e a do antropólogo venezuelano Salazar-Quijada (1985) , dentre outras.
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3
As categorias que aparecem neste estudo estão definidas na seção de análise dos dados, conforme surgem no texto. O modelo completo, com definições e exemplos, pode ser consultado em Dick (1990b) .
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4
É possível citar ainda as contribuições de Shcherba (1940 apudNEVES, 2015 ), que teriam influenciado as classificações posteriores, e a de Rey (1970) , que não chega a propor um modelo tipológico, mas apresenta sete itens, sobre os quais o lexicógrafo deve tomar decisões ao planejar uma obra lexicográfica.
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5
Os números referem-se a um sistema conceitual elaborado pela autora. Nesse exemplo, os números têm a seguinte indicação: 1. hidrônimo, 2. águas correntes, 2. cabeceira, 1. taxionomia de natureza física, 2. zootopônimo, 1. Cabeceira Aruranha.
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6
São os seguintes os municípios que não possuem distritos em sua divisão administrativa, ou seja, são constituídos apenas do distrito sede, conforme a nova divisão administrativa do IBGE (2019): Água Clara, Alcinópolis, Amambai, Anastácio, Anaurilândia, Aparecida do Taboado, Aral Moreira, Batayporã, Caracol, Coronel Sapucaia, Figueirão, Guia Lopes da Laguna, Iguatemi, Itaquiraí, Jateí, Juti, Ladário, Laguna Carapã, Miranda, Mundo Novo, Naviraí, Nioaque, Novo Horizonte do Sul, Pedro Gomes, Porto Murtinho, Selvíria, Sonora, Tacuru, Taquarussu e Terenos.
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7
Apenas para comparação: Campo Grande tem mais de 900 mil habitantes e uma área territorial de mais de oito milhões de km enquanto Itaporã tem pouco mais de 25 mil habitantes e uma área territorial de 1.342,764 km. Fonte: https://cidades.ibge.gov.br/ Acesso em: 16 ago.2021.
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8
Sobre a religiosidade na toponímia, ver, por exemplo, Ananias (2018) , Ribeiro (2015) e Carvalho (2014) .
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9
Tamandaré foi classificado como mitotopônimo com base no significado relativo à lenda: “[...] o nome de Noé da lenda do dilúvio entre o gentio brasílico. Pode proceder de Tamoindaré ( tab-moi-inda-ré ): aquele que fundou povo, isto é, o repovoador da terra” ( SAMPAIO, 1987 , p. 320).
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10
O município de Juscimeira (MT) foi formado pela junção de dois povoados: Juscelândia e Limeira. O nome do primeiro é uma homenagem ao ex-presidente Juscelino Kubitschek e o segundo a um dos primeiros habitantes da região. Fonte: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/juscimeira/historico . Acesso em: 16 ago. 2021. Dessa forma, aventa-se a hipótese que Juscelândia, distrito de Rio Verde de Mato Grosso (MS), seja também uma homenagem ao ex-presidente.
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11
Para classificar Amolar como sociotopônimo, considerou-se o sentido seguinte: “Fazer ficar (mais) cortante, afiado o gume de (faca, espada, navalha etc) [...]” ( AULETE, 2014 ), que se aproxima de uma atividade de trabalho.
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12
Fonte: https://www.fatimanews.com.br/cidades/culturama/culturama-completa-55-anos-com-uma-historia-linda-de-um-povo-ordeiro-e/200433/ . Acesso em: 13 jan. 2021.
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13
Fonte: https://www.bataguassu.ms.gov.br/municipio/ . Acesso em: 11 jan. 2020.
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14
Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/ . Acesso em: 20 jul. 2021.
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15
Essa taxe não aparece na imagem 1 porque, no âmbito deste estudo, foram consideradas apenas as taxes propostas por Dick (1990a) .
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16
Informação obtida junto à moradora de Angélica/MS, Suely Aparecida Cazarotto, professora da Educação Básica e também pesquisadora da área de Toponímia.
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17
Fonte: https://www.itapora.ms.gov.br/institucional/historia . Acesso em: 20 jan. 2021.
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18
Em relação à sanga, foi considerada, para a taxionomia, a acepção “Córrego que seca facilmente.” ( AULETE, 2014 ).
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19
Fonte: https://amambay.gov.py/zanja-pyta . Acesso em: 11 ago. 2021.
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20
Dentre outras acepções, foi considerada aqui a que define boqueirão como “abertura, grande boca de um rio ou de um canal. || Quebrada entre montes, rotura larga em valados ou em muralhas de defvsa” ( AULETE, 2014 ). (verbete original).
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21
Registra-se que essas são também as categorias mais produtivas quando se analisam os topônimos de acidentes físicos do estado, conforme foi constatado pelas pesquisas produzidas no âmbito do Projeto ATEMS – Atlas Toponímico do Estado de Mato Grosso do Sul.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Nov 2022 -
Data do Fascículo
2022
Histórico
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Recebido
29 Set 2021 -
Aceito
3 Jan 2022