Resumos
Estudo transversal, quantitativo, cujo objetivo foi identificar situações de vulnerabilidade vivenciadas pelos adolescentes do ensino médio da rede pública de Cuiabá, Mato Grosso, no segundo semestre de 2009. Utilizou-se questionário fechado. Os resultados revelaram que 10,5% dos meninos e 5,8% das meninas já fizeram uso de drogas ilícitas, aos 15 anos, sendo a cocaína (28,9%) e a maconha (15,7%) as mais relatadas; 45,2% dos meninos e 52,4% das meninas consomem bebidas alcoólicas, sendo a cerveja a mais comum. Entre os que se declararam fumantes (16,0%), a maioria iniciou o consumo aos 15 anos. Houve relato de violência sexual, dos quais somente 33,3% dos meninos e 25,0% das meninas procuraram ajuda. Entre os que não procuraram ajuda, o motivo relatado foi medo e vergonha. Destaca-se a necessidade de serviços específicos para prevenção e tratamento de adolescentes em situações de vulnerabilidade, tendo em vista a ocorrência e consequências destes agravos.
Vulnerabilidade; Comportamento do adolescente; Drogas ilícitas; Alcoolismo; Violência sexual
Este estudio transversal tuvo por objetivo identificar las situaciones de vulnerabilidad vivenciadas por adolescentes de la escuelas públicas de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. Los resultados revelan que el 10,5% de los varones y el 5,8% de las chicas ya han usado drogas ilícitas a los 15 años (40,0% de los varones y 27,7% de las chicas); 45,2% de los varones y 52,4% de las chicas consume bebidas alcohólicas. Entre los que declararon que fuman (16,0%), la mayoría se inició a los 15 años. Hubo relatos de violencia sexual por parte de un 3,0% de los varones y 1,2% de las chicas, de los cuales solamente el 33,3% de los varones y 25,0% de las chicas buscaron ayuda. Teniendo en vista la ocurrencia y consecuencias de los hechos constatados, se destaca la necesidad de servicios específicos para la prevención y tratamiento de adolescentes en situaciones de vulnerabilidad.
Vulnerabilidad; Conducta del adolescente; Drogas ilícitas; Alcoholismo; Violencia sexual
This transversal study aims to identify vulnerability experienced by adolescents of public secondary schools in Cuiabá, Mato Grosso, Brazil. The results show that 10.5% of the boys and 5.8% of the girls have already used illicit drugs - at the age of 15, cocaine (28.9%) and marijuana (15.7%) being the most reported; 45.2% of the boys and 52.4% of the girls consume alcoholic beverages, being beer the most common. Among those who declared to be smoker (16.0%), the majority began smoking at the age of 15. Sexual violence was reported, out of which only 33.3% of the boys and 25.0% of the girls sought help. Among those who did not seek help, the referred motive was fear and shame. The need for specific prevention and treatment services for adolescents in vulnerable situations is stressed, in view of the occurrence and consequences of this kind of harm.
Vulnerability; Adolescent behavior; Street drugs; Alcoholism; Sexual violence
ARTIGO ORIGINAL
Vulnerabilidade na adolescência: a experiência e expressão do adolescente
Vulnerabilidad en la adolescencia: la experiencia y expresión del adolescente
Vulnerability in adolescence: the experience and expression of the adolescent
Flávia Barbosa de JesusI; Fernanda Cristina Aguiar LimaII; Christine Baccarat de Godoy MartinsIII; Karla Fonseca de MatosII; Solange Pires Salomé de SouzaIV
IGraduanda de Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cuiabá, Mato Grosso, Brasil
IIMestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da UFMT, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil
IIIDoutora em Saúde Pública, Docente da Faculdade de Enfermagem da UFMT, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil
IVDoutora em Enfermagem em Saúde Pública, Docente da Faculdade de Enfermagem da UFMT, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil
Endereço da autora Dirección del autor / Author's address Endereço da autora / : Christine Baccarat de Godoy Martins Rua Fortaleza, 70, Jardim Paulista 78065-350, Cuiabá, MT E-mail: leocris2001@terra.com.br
RESUMO
Estudo transversal, quantitativo, cujo objetivo foi identificar situações de vulnerabilidade vivenciadas pelos adolescentes do ensino médio da rede pública de Cuiabá, Mato Grosso, no segundo semestre de 2009. Utilizou-se questionário fechado. Os resultados revelaram que 10,5% dos meninos e 5,8% das meninas já fizeram uso de drogas ilícitas, aos 15 anos, sendo a cocaína (28,9%) e a maconha (15,7%) as mais relatadas; 45,2% dos meninos e 52,4% das meninas consomem bebidas alcoólicas, sendo a cerveja a mais comum. Entre os que se declararam fumantes (16,0%), a maioria iniciou o consumo aos 15 anos. Houve relato de violência sexual, dos quais somente 33,3% dos meninos e 25,0% das meninas procuraram ajuda. Entre os que não procuraram ajuda, o motivo relatado foi medo e vergonha. Destaca-se a necessidade de serviços específicos para prevenção e tratamento de adolescentes em situações de vulnerabilidade, tendo em vista a ocorrência e consequências destes agravos.
Descritores: Vulnerabilidade. Comportamento do adolescente. Drogas ilícitas. Alcoolismo. Violência sexual.
RESUMEN
Este estudio transversal tuvo por objetivo identificar las situaciones de vulnerabilidad vivenciadas por adolescentes de la escuelas públicas de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. Los resultados revelan que el 10,5% de los varones y el 5,8% de las chicas ya han usado drogas ilícitas a los 15 años (40,0% de los varones y 27,7% de las chicas); 45,2% de los varones y 52,4% de las chicas consume bebidas alcohólicas. Entre los que declararon que fuman (16,0%), la mayoría se inició a los 15 años. Hubo relatos de violencia sexual por parte de un 3,0% de los varones y 1,2% de las chicas, de los cuales solamente el 33,3% de los varones y 25,0% de las chicas buscaron ayuda. Teniendo en vista la ocurrencia y consecuencias de los hechos constatados, se destaca la necesidad de servicios específicos para la prevención y tratamiento de adolescentes en situaciones de vulnerabilidad.
Descriptores: Vulnerabilidad. Conducta del adolescente. Drogas ilícitas. Alcoholismo. Violencia sexual.
ABSTRACT
This transversal study aims to identify vulnerability experienced by adolescents of public secondary schools in Cuiabá, Mato Grosso, Brazil. The results show that 10.5% of the boys and 5.8% of the girls have already used illicit drugs - at the age of 15, cocaine (28.9%) and marijuana (15.7%) being the most reported; 45.2% of the boys and 52.4% of the girls consume alcoholic beverages, being beer the most common. Among those who declared to be smoker (16.0%), the majority began smoking at the age of 15. Sexual violence was reported, out of which only 33.3% of the boys and 25.0% of the girls sought help. Among those who did not seek help, the referred motive was fear and shame. The need for specific prevention and treatment services for adolescents in vulnerable situations is stressed, in view of the occurrence and consequences of this kind of harm.
Descriptors: Vulnerability. Adolescent behavior. Street drugs. Alcoholism. Sexual violence.
INTRODUÇÃO
A adolescência é um período marcado por intensas mudanças, dúvidas e indecisões, principalmente em relação à sexualidade. Desta forma, o adolescente encontra-se mais vulnerável à gravidez não planejada, às doenças sexualmente transmissíveis (DST), à experimentação de drogas, exposição aos acidentes em decorrência do comportamento desafiador, além de diferentes formas de violência(1).
Assim como o uso de drogas ilícitas, o álcool também constitui uma das principais causas desencadeadoras de situações de vulnerabilidade na adolescência. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta o álcool como a substância psicoativa mais consumida no mundo e também como a droga de escolha entre crianças e adolescentes. No Brasil, o álcool também é a droga mais usada em qualquer faixa etária e o seu consumo entre adolescentes vem aumentando, principalmente entre os mais jovens de 12 a 15 anos de idade(2).
O abuso sexual é outra situação a que o adolescente é vulnerável, sendo considerado pela OMS como um dos maiores problemas de saúde pública. Estudos realizados em diferentes partes do mundo sugerem que 36% das meninas e 29% dos meninos sofrem abuso sexual. Entretanto, sua real prevalência ainda é desconhecida, visto que muitas crianças não revelam o abuso, somente conseguindo falar sobre ele na idade adulta(3).
Frente aos prejuízos como contaminação por DST, gravidez não planejada, desistência da escola e violência, além de outras vulnerabilidades, se faz necessário conhecer estas situações vivenciadas pelos adolescentes, o que contribui para o planejamento e implantação de serviços específicos de prevenção e atendimento.
Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo identificar o consumo de drogas, álcool, tabaco e situações de violência sexual, vivenciadas pelos adolescentes do primeiro ano do ensino médio da rede pública de ensino de Cuiabá, Mato Grosso.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de corte transversal, com análise quantitativa. Foram selecionadas para a amostra cinco escolas estaduais de Cuiabá, Mato Grosso, dentre as quais priorizou-se as turmas do primeiro ano do ensino médio (22 turmas). A amostra foi selecionada juntamente com a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) de Mato Grosso, de forma aleatória. A população de estudo foi composta por 499 adolescentes (alunos das cinco escolas selecionadas), cujos critérios de inclusão foram: ser alunos do primeiro ano do ensino médio da rede pública e estar na faixa etária de 11 a 19 anos, período considerado pela Organização Mundial da Saúde como adolescência.
Para a coleta dos dados foi utilizado um questionário fechado e auto-aplicável, composto por 15 questões, aplicado à população de estudo pela própria pesquisadora, auxiliada por uma equipe de voluntários, no período de julho a dezembro de 2009. As categorias de análise foram: perfil sócio-econômico-familiar (com quem reside, se considera amado pelos pais) e vulnerabilidades (uso de drogas ilícitas e bebidas alcoólicas, tabagismo e violência sexual).
Os dados foram processados eletronicamente através do programa Epi-Info, versão 3.5.1, e analisados por meio de frequência absoluta e relativa. Foram realizadas algumas análises bivariadas, em que se considerou o valor de p<0,05.
Os adolescentes participaram da pesquisa de forma voluntária, após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo-lhes assegurado o anonimato absoluto das informações, assim como a privacidade.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Julio Müller (CEP-HUJM), conforme protocolo número 613/CEP-HUJM/09, e autorizado pela Secretaria de Estado de Educação (SEDUC), bem como pelas Diretorias das respectivas escolas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 499 questionários analisados, 56,0% dos adolescentes moravam com os pais, 30,2% com a mãe e apenas 6,2% com parentes. O fato de a maior parte dos adolescentes morarem com os pais é destacado por alguns autores como um fator positivo, visto que não residir com a família aumenta a chance de consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e outras drogas ilícitas(4). Destaca-se, neste sentido, que a relação dos pais com os filhos constitui-se elemento essencial, tanto pela possibilidade de diálogo quanto pela responsabilidade cobrada pela família(5).
A maioria dos adolescentes (62,4% dos meninos e 72,4% das meninas) tem certeza de serem amados pelos pais, enquanto 21,7% dos meninos e 14,2% das meninas apenas acham que sim, 7,9% dos meninos e 6,5% das meninas deixaram em branco, 5,3% dos meninos e 3,9% das meninas não sabiam, 2,1% dos meninos e 1,3% das meninas acham que não, 0,5% dos meninos e 0,6% das meninas têm certeza de não serem amados pelos pais e 0,5% dos meninos e 1.0% das meninas não responderam (p=0,22).
Ter certeza de serem amados pelos pais constitui-se fator considerado essencial para a redução da vulnerabilidade, pois para estudiosos, a separação dos pais, rejeição pelos mesmos, problemas de relacionamento, conflitos familiares, uso de álcool ou drogas por pais e irmãos, ausência de normas e regras claras (limites), falta de apoio, de diálogo e de orientação, relações afetivas precárias e falta de monitoramento constante dos filhos por parte dos pais contribui diretamente para que o adolescente se envolva ou não com drogas ilícitas, bebidas alcoólicas e tabagismo(1,6).
Poucos adolescentes (10,5% dos meninos e 5,8% das meninas) já fizeram uso de droga ilícita (Tabela 1), na idade de 15 anos, com diferença estatisticamente significativa entre os sexos (p=0,0028).
Entre as drogas utilizadas, 28,9% já fizeram uso de cocaína, bem como mais de uma droga, e 15,7% utilizaram maconha. A maioria dos meninos (60,0%) e 33,3% das meninas faziam uso de droga eventualmente (p=0,0162). Grande parte dos adolescentes (44,4% dos meninos e 47,1% das meninas) fazia uso de drogas ilícitas há menos de 6 meses (p=0,3373).
O relato de uso de drogas entre os adolescentes pesquisados é apontado como um evento associado à falta de lazer, às condições de vida dos jovens, ao envolvimento familiar, à ausência dos pais, à violência doméstica, aos amigos que usam droga e à baixa percepção de apoio dos pais(7). Neste sentido, é preciso desenvolver programas voltados para o lazer desses adolescentes como atividades recreativas extracurriculares que mantenham o aluno um período maior na escola, construção de quadras esportivas na comunidade e educação em saúde sobre drogas e suas consequências, desenvolvendo a cultura do não consumo.
A idade em que os adolescentes da presente casuística iniciaram o uso de drogas ilícitas coincide com outro estudo, no qual se observou o uso de drogas pela primeira vez aos 15 anos(7). Contudo, há um estudo que encontrou que o início de uso de drogas entre os adolescentes foi de 10 a 12 anos, evidenciando a precocidade da experimentação das drogas(8). A escola, juntamente com o serviço de saúde, deve desenvolver ambientes de discussão entre pais e alunos sobre o tema, para que através dessa ação os pais aumentem o acompanhamento e diálogo com os filhos.
O uso da cocaína e da maconha como as drogas mais utilizadas pelos adolescentes pesquisados é concordante com o estudo de revisão bibliográfica a partir das bases de dados no intervalo de 1996 a 2006, em que a maconha também foi apontada como droga de escolha dos adolescentes(9). A escolha da droga, muitas vezes, está relacionada aos aspectos socioeconômicos, pois grande parte dos adolescentes não trabalha e não tem renda própria, o que permite consumir apenas drogas de baixo custo como a maconha.
Quanto à frequência de uso de drogas ilícitas na presente pesquisa, foi encontrado o uso eventual e por um período curto (inferior a 6 meses). Ressalta-se que, apesar de não encontrarmos estudos que pudessem fazer comparações nesse sentido, é necessário destacar que mesmo sendo um período curto é relevante para a dependência, pois essa não é decorrente do tempo e sim do simples consumo. Ressalta-se, ainda, a repercussão do uso de drogas na saúde, acarretando em acidentes de trânsito, comportamentos de risco como transmissão de DST, agressões, depressões clínicas e gravidez não planejada(10).
A Tabela 2 mostra que a maioria dos adolescentes (45,2% dos meninos e 52,4% das meninas) fazia uso de bebidas alcoólicas (p=0, 2589), cujo início se deu aos 15 anos (p=0, 0320), sendo a cerveja a mais comum.
Em relação à frequência do consumo de bebidas alcoólicas, 50,0% dos meninos e 67,9% das meninas a consumiam eventualmente (p=0, 0073), há menos de 6 meses (17,4% dos meninos e 19,1% das meninas) (p=0,0061).
O uso de álcool entre os adolescentes estudados, com maior frequência entre as meninas e em idades precoces, concorda com estudo sobre o perfil sociodemográfico, comportamento e consequências do consumo de álcool, com estudantes de quinta série de ensino fundamental a terceira série de ensino médio de escolas públicas e privadas de Paulínia, São Paulo(2). É importante ressaltar que, nas últimas décadas, observa-se uma maior exposição das adolescentes em relação ao uso de álcool, através da mídia e da liberdade não vigiada, o que chama a atenção de alguns estudiosos, pois há algumas peculiaridades em relação às mulheres, resultando em dependência química mesmo em menores quantidades e com maiores consequências, quando comparado ao sexo masculino(11).
Destaca-se, entre as bebidas utilizadas pelos adolescentes na presente casuística, a facilidade com que a cerveja é adquirida em estabelecimentos comerciais, festas, casas noturnas, postos de gasolina e quiosques perto da escola. Vale ressaltar que nem sempre o estabelecimento pede identificação para menores de 18 anos, apesar de a Lei Federal nº 8.069/90, art. 81, do Estatuto da Criança e do Adolescente determinar obrigatório(12). Para alguns autores, diversos fatores influenciam o consumo do álcool na adolescência, tais como: contexto familiar e social, expectativas e crenças, preço acessível, disponibilidade comercial, facilidade de acesso, além do acesso dentro de casa, o que pode resultar em dependência na idade adulta(2,13). A presente pesquisa identificou o consumo de álcool aos 15 anos, dado semelhante foi encontrado em outra pesquisa na qual a idade da primeira experimentação do álcool está entre 15 a 20 anos(4). Outro estudo encontrou ainda idades mais precoces de 11 a 13 anos, consumo este que aumenta gradativamente com o tempo(11). É necessário que os órgãos responsáveis pela fiscalização efetivem-na em estabelecimentos comerciais, evitando assim o consumo entre os adolescentes, além de campanhas de prevenção nas escolas e junto às famílias.
Quanto à frequência de uso de bebidas alcoólicas na presente investigação, outro estudo avaliou o consumo de álcool entre estudantes do ensino médio de uma cidade do interior do estado de São Paulo e encontrou que o nível de consumo dos adolescentes dos três anos de ensino médio foi equivalente, sugerindo que o início do uso de álcool acontece no ensino fundamental, concluindo que o período de consumo é de no mínimo um ano(14).
A Tabela 3 mostra que a maioria dos adolescentes (58,4% dos meninos e 67,6% das meninas) não fumava (p=0, 0800), sendo que entre os fumantes 40,6% dos meninos 53,7% das meninas haviam iniciado o uso de tabaco aos 15 anos e 26,7% dos meninos e 24,0% das meninas aos 16 anos (p= 0, 5322). Dos adolescentes que faziam uso de tabaco, 36,3% dos meninos e 37,0% das meninas o faziam de forma eventual, enquanto 27,2% dos meninos e 15,2% das meninas faziam uso diário (p=0,4570). Em relação ao tempo de tabagismo, 33,3% dos meninos e 42,2% das meninas fumavam há menos de 6 meses (p=0,5646).
Quanto ao uso de tabaco pelos adolescentes, chama a atenção a problemática da indústria do tabaco que desenvolve propagandas voltadas para satisfazer determinados anseios, enfatizando autoconfiança e independência para que possam aderir ao seu consumo(15). Sabe-se que algumas situações contribuem para o hábito de fumar entre os adolescentes, como o costume de fumar entre irmãos e amigos, familiar fumante, exposição à fumaça do tabaco fora de casa e objeto com logotipo da marca de cigarro(16).
Apesar da eventualidade no consumo do tabaco verificada no presente estudo, pesquisa realizada em Portugal(17) mostrou que os adolescentes fumam com regularidade. Alguns autores apontam que a nicotina é o componente responsável pela dependência ao fumo, sendo caracterizada pelo uso progressivo e abusivo de tabaco(18). É interessante que a escola juntamente com a família, a comunidade e os profissionais de saúde desenvolvam ações de prevenção ao tabagismo e contribuam com medidas para interrupção do hábito de fumar.
Houve relato de violência sexual em 3,0% dos meninos e 1,2% das meninas (Tabela 4). Dos que sofreram o abuso, 33,3% dos meninos e 25,0% das meninas procurou ajuda, sendo que 16,6% dos meninos e 75% das meninas não contou a ninguém. Entre os que procuraram ajuda, recorreram à mãe, ao tio e padrasto. Entre os que não procuraram, o motivo relatado foi por medo e vergonha dos pais e sociedade. Entre as mudanças relatadas após o abuso, a desconfiança em relação aos homens por parte das meninas e as mudanças de comportamento foram as mais frequentes.
O relato de violência sexual em ambos os sexos e o fato de não procurarem ajuda por medo ou vergonha é apontado por estudiosos como fenômeno característico da violência sexual, pois é praticada na sua maioria por pessoas ligadas diretamente às vítimas, sobre as quais exercem alguma forma de poder e dependência(3). A vítima, portanto, sente-se desprotegida e ameaçada por aquele de quem depende física e emocionalmente. Por imaginar que realmente não será ouvida, ou mesmo acreditada, além de envergonhada pelo que passa, a criança/adolescente fica impossibilitada de denunciar. Apesar de na presente pesquisa as meninas terem relatado o evento em menos proporção em relação aos meninos, estudos mostram(19,20) o sexo feminino mais vulnerável a este tipo de abuso, o que nos faz refletir sobre a possibilidade das meninas pesquisadas não terem tido coragem de relatar a violência. Neste sentido, a família e a escola precisam estar atentas às mudanças de comportamento do adolescente e buscar meios de ajuda junto aos órgãos responsáveis.
CONCLUSÕES
Frente aos resultados, é possível apontar para a necessidade de políticas e estratégias voltadas para o diálogo, em que se possam compartilhar dúvidas e curiosidades, alertando os jovens quanto às diversas situações de risco nessa fase. Nesse sentido, movimentos intersetoriais podem trazer bons resultados, como a atuação conjunta da Saúde, Educação, Antropologia, Serviço Social, entre outras áreas, unificando e efetivando programas que incluam os adolescentes na prioridade da prevenção. Destaca-se a escola e a família como duas instituições importantes na adesão dos adolescentes a esses programas.
Ao identificar as situações de vulnerabilidade vivenciadas pelos adolescentes do ensino médio da rede pública de ensino de Cuiabá, Mato Grosso, o presente estudo contribui para a reflexão dos profissionais que lidam com este grupo etário no sentido de visualizar caminhos que reduzam estes eventos nesta fase tão importante do desenvolvimento humano.
Destaca-se a necessidade de estudos que aprofundem o tema a fim de orientar programas específicos de prevenção e tratamento.
O estudo apresenta limitação por se tratar de um estudo de corte transversal, faz-se necessário destacar que a realidade constatada pode se modificar na medida em que intervenções e políticas de atenção forem implantadas.
Recebido em: 21/10/2010
Aprovado em: 25/05/2011
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
15 Ago 2011 -
Data do Fascículo
Jun 2011
Histórico
-
Recebido
21 Out 2010 -
Aceito
25 Maio 2011