Oncideres saga (DALMAN, 1823) (COLEOPTERA, CERAMBYCIDAE) E A ARBORIZAÇÃO URBANA EM SEROPÉDICA, RJ

Oncideres saga OCORRENCE IN THE UFRRJ ARBORIZATION

RESUMO

Este trabalho teve por base uma revisão de literatura e observações pessoais dos autores, contendo uma breve descrição sobre danos, controle, inimigos naturais e distribuição geográfica de Oncideres saga que ocorre em algumas espécies botânicas utilizadas na arborização do campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em Seropédica, RJ.

Palavras-chaves:
Oncideres saga; coleoptera; cerambycidae; arborização urbana

ABSTRACT

This work was basead on a literatury review and others personal observations, with a brief description about damages, control, naturals enemies and geografical distribution of Oncideres saga that occur in some botanic species adaptade for arborization of Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, in Seropédica, RJ, Brazil.

Key words:
Oncideres saga; beetle; urban arborization

INTRODUÇÃO

Para que a presença da árvore na via pública não seja inconveniente, há necessidade de seleção das espécies mais indicadas para cada rua ou cidade. Uma das características mais importante para uma perfeita arborização é a resistência às pragas; pois evita o uso de produtos fitossanitárlos, muitas vezes desaconselhados em vias públicas (SANTIAGO, 1977).

O cerambicídeo Oncideres saga, conhecido pelo nome comum de "serrador", tem sido considerado uma potencial ameaça à arborização urbana no Brasil, pois é citado causando danos em várias espécies botânicas ornamentais, prejudicando o desenvolvimento normal das mesmas pelo corte de ramos: abacateiro, Albizzia moluccana, Acacia sp., acácia aroma, acácia asiática, acácia negra (praga secundária), Acacia trinervia, açoita cavalo, angico, cajueiro, cedro, coração-de-negro, espinilho, Ficus sp., flamboyant, fruta do conde, guapuruvú, ingazeiro, jacaré, jurema, mangueira, Mimosa scabrella, pereira, pessegueiro, roseira, tamarindeiro e unha-de-boi (nomes científicos e populares conforme menção dos autores) (BONDAR, 1953; ARAUJO e SILVA et al., 1968; IEDE, 1981; LIMA e RACCA FILHO, 1996).

A distribuição geográfica de O. saga abrange os seguintes Estados: Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo (IEDE, 1981; MONNÉ, 1994).

Não existe ainda registro de produto químico para o controle de O. saga (LIMA e RACCA FILHO, 1996); mas um tipo de controle do inseto pode ser feito através de inspeções periódicas no plantio, com o intuito de coletar os ramos caídos no chão e eliminá-los através do fogo (COSTA LIMA, 1955; IEDE, 1981).

O “serrador” também é referenciado como uma das espécies mais polífagas, registrando-se maior amplitude de diâmetro dos ramos serrados, em várias espécies botânicas na região central do Rio Grande do Sul (COSTA & LINK, 1991).

Poucos trabalhos foram realizados sobre O. saga associado à espécies botânicas utilizadas na arborização urbana, existindo apenas algumas citações da ocorrência desse inseto sobre algumas plantas (ARAUJO e SILVA et al., 1968; IEDE, 1981; LIMA e RACCA FILHO, 1996). Em cidades com arborização homogênea, ou seja, com predominância de espécies suscetíveis ao ataque; este inseto pode vir a se tornar uma praga de suma importância. Daí, a necessidade de estudos sobre seu comportamento e danos que causa às espécies utilizadas na arborização; principalmente à Albizzia lebbeck, complementando-se, assim, os estudos iniciados por BONDAR (1953).

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no Campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ. Foi inspecionado um total de 61 árvores sendo: 25 Albizzia lebbeck Benth., 4 Acacia mangium Wil., 8 Cassia fistula Her., 4 Casuarina equisetifolia, 11 Delonix regia Raf., 4 Inga edulis Mart., 8 Leucaena leucocephala Benth. e 3 Parapiptadenia rigida Benth.; e que são utilizadas na arborização de ruas, estacionamentos e praças.

Foram feitas inspeções semanais, no período de março a dezembro de 1995, para verificar a ocorrência e danos de O. saga nas copas das citadas espécies botânicas e coletaramse ramos recém-cortados pelo inseto.

Cada ramo cortado foi mensurado quanto ao diâmetro, em centímetro, próximo à base, utilizando-se fita diamétrica; e o comprimento, em metro, medido com trena, da base até o ápice do ramo. Quando havia bifurcação do ramo principal, foi selecionado o ramo de maior extensão. O ramo que foi encontrado sob a copa da árvore ou preso à mesma, foi considerado como uma amostra.

Para efeito de análise calculou-se a frequência absoluta e relativa; a média de diâmetro e comprimento dos ramos serrados.

Em uma área de 15000 m² do Instituto de Zootecnia, as quatro espécies, que apresentaram freqüência significativa de ramos cortados, foram submetidas ao delineamento estatístico ínteiramente ao acaso; sendo os dados naturais transformados em x para a análise de variância e comparação das médias pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os ramos foram encontrados sob a copa de árvores, ou presos à mesma; situadas próximas do Instituto de Florestas e Zootecnia; Praça de Esportes e áreas verdes do Campus que margeiam a Rodovia BR 465 (Antiga Rio-São Paulo).

Pode-se observar, na Tabela 1, que os ramos cortados foram confirmados em oito espécies; e somente ramos de quatro delas: A. lebbeck, C. fistula, D. regia e P. rigida ocorreram com freqüência representativa.

Os demais ramos estão representados por um exemplar das seguintes espécies: A. mangium, C. equisetifolia, I. edulis e L. leucocephala, conferindo-lhes grande importância pelo menor nível de dano causado por O. saga e potencial para maior utilização na arborização de parques e jardins.

A média de diâmetro e comprimento de 89 ramos cortados está sumarizada na Tabela 2. Na espécie A. lebbeck, a média de diâmetro e comprimento observada foi de 3,55 cm (I.V. 2,30 a 5,70) e 1,96 m (I.V. 0,55 a 3,61), respectivamente, (Tabela 2). O diâmetro médio foi superior aos registrados por LINK & COSTA (1991) e CARVALHO et al. (1995) para Oncideres dejeani; que foram, respectivamente, de 2,58 cm e 3,28 cm, variando em função do estágio de desenvolvimento da árvore e do local onde encontrava-se a planta danificada.

A análise de variância revelou que existe diferença significativa entre o diâmetro médio dos ramos de A. lebbeck e P. rigida, cortados por O. saga, enquanto que o comprimento médio dos ramos cortados das espécies não diferiu significativamente (Tabela 3).

Os resultados das observações de campo evidenciaram que o diâmetro médio de A. lebbeck foi superior (3,55 cm), seguido de D. regia (3,47 cm), C. fístula (3,35 cm) e P. rigida (2,90 cm) (Tabela 3). Quanto ao comprimento médio, foram obtidos os seguintes resultados: D. regia (2,15 m), P rigida (2,04 m), A. lebbeck (1,96 m) e C. fistula (1,80 m).

Observou-se que 20% dos ramos cortados, apresentavam pelo menos um adulto fêmea de O. saga realizando incisão de postura. Cerca de 70% dos ramos foram encontrados sob a copa de árvores em estágio de senescência e/ou abundante frutificação; principalmente de A. lebbeck. Esta coincidência entre o aparecimento dos ramos cortados por O. saga e uma frutificação abundante, talvez possa ser atribuída à preferência deste inseto por árvores debilitadas, que têm uma grande tendência para a frutificação, em prejuízo do desenvolvimento vegetativo; como também observou NOGUEIRA (1968) no estudo sobre a ocorrência de Coroebus fasciatus Vill. (Coleoptera, Bruprestidae) em ramos do sobreiro.

Foi encontrada uma árvore jovem de L leucocephala com o fuste cortado na base, por O. saga; e ramos anelados de C. fistula, mas que permaneceram presos à árvore, com orifícios de emergência semelhantes aos de O. saga.

CONCLUSÕES

Em função dos dados coletados no período de março a dezembro de 1995, pode-se concluir que:

• a) houve ocorrência de ramos cortados por O. saga identificados em oito espécies botânicas que são utilizadas na arborização do Campus da UFRRJ: A. lebbeck, A. mangium, C. fistula, C. equisetifolia, D. regia, I. edulis, L. leucocephala e P. rigida.

• b) Houve influência do diâmetro dos ramos das espécies testadas para corte por O. saga.

• c) é necessário determinar a menor densidade populacional de O. saga que causa dano às espécies A. lebbeck, D. regia, C. fistula e P. rigida, compensando portanto, a aplicação de medidas de controle (custo); para posterior recomendação ou não destas essências na arborização de rua, estacionamento e margem de rodovia.

Tabela 1
Freqüência absoluta (F) e freqüência relativa (FR) de ramos de oito essências arbóreas, cortados por O. saga. Seropédica, RJ. 1995.

Nome Comum	Nome Científico	F	FR
Albizia	A. lebbeck	41	46,067
Angico	P. rigida	19	21,350
Chuva-de-Ouro	C. fistula	14	15,731
Flamboyant	D. regia	11	12,360
Casuarina	C. equisetifolia.	1	1,123
Ingá	I. edulis	1	1,123
Leucena	L. leucocephala	1	1,123
Acacia	A. mangium	1	1,123
Total		89	(100,000)

Tabela 2
Diâmetro médio (cm) e comprimento médio (m) dos ramos de quatro espécies arbóreas, cortados por O. saga. Seropédica, RJ. 1995 (Média±Erro padrão, Amplitude).

Espécie	Diâmetro médio (cm)	Comprimento médio (m)
Albizia	3,55±0,14	1.96±0,13
	2,30-5,70	0,55-3,61
Flamboyant	3,47±0,27	2,15±0,25
	2,38-4,62	0,76-3,60
Chuva-de-Ouro	3,35±0,24	1,80±0,23
	2,18-4,24	0,67-2,61
Angico	2,90±0,21	2,04±0,19
	1,37-5,45	0,43-4,27

Tabela 3
Freqüência absoluta, diâmetro médio (cm) e comprimento médio (m) dos ramos de quatro espécies arbóreas, cortados por O. saga. Seropédica, RJ. 1995.

Espécie	Freqüência	Diâmetro médio (cm)	Comprimento médio (m)
A. lebbeck	41	3,650 a	1,964 a
P. rigida	19	2,916 b	2,131 a
C. fistula	14	3,356 ab	1,804 a
D. regia	11	3,653 ab	2,151 a

Letras diferentes indicam diferença significativa entre as médias ao nível de significância de 5% de probabilidade.

LITERATURA CITADA

• ARAUJO e SILVA et al. Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil: seus parasitos e predadores. Parte II, 1º tomo. Rio de Janeiro; M.A., Laboratório de Patología Vegetal, 1968. 622 p.
• BONDAR, G. A biologia do gênero Oncideres (Col. Ceramb.) e descrição de nova espécie. Agronomia. Vol. 12. abr-jun 1953. 3 p.
• CARVALHO, A. G; RESENDE, A. S. & SILVA, C. A. M. Avaliação de danos de O. dejeani Thomson, 1868 (Coleoptera, Cerambycidae) em Albizzia lebbeck Benth. (Leguminosae; Mimosoideae) na região de Seropédica, RJ. In: Floresta e Ambiente, Instituto de Florestas/UFRRJ. Seropédica, Rio de Janeiro, 2, 1995. p.6-8.
• COSTA LIMA, A. Insetos do Brasil. Parte III, 9° tomo. Coleópteros. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Agronomia, 1955. 289 p.
• IEDE, E. T. Alguns aspectos sobre espécies de insetos que ocorrem na Bracatinga (Mimosa scabrella Benth.). In: SEMINÁRIO SOBRE ATUALIDADES E PERSPECTIVAS FLORESTAIS, 4. "Bracatinga uma alternativa para reflorestamento". Anais. Curitiba, EMBRAPA/URPFCS, 1981. p.91-102.
• LIMA, A. F. & RACCA FILHO, F. Manual de pragas e praguicidas: receituário agronômico. Rio de Janeiro: EDUR, 1996. 818 p.
• LINK, D. & COSTA, E. C. Diâmetro de galhos cortados por Oncideres spp. (Coleoptera, Cerambycidae) na região Central do Rio Grande do Sul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOLOGIA (18, Salvador, 1991). Resumos. Salvador: UFBA, 1991, p.169.
• MONNÉ, Miguel. Catalogue of the Cerambycidae (Coleoptera) of the Western Hemisphere, part XV, Subfamily Lamiinae: Tribes Onciderini, Laticraniini and Pteropliini. São Paulo: Sociedade Brasileira de Entomologia, 1994. p, 1-61.
• NOGUEIRA, C. T. S. Pragas do sobreiro - A “cobrilha dos ramos” Coroebus fasciatus Vill. Lisboa: Direcção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, Folhetos de Divulgação. 9, 1968. 13 p.
• SANTIAGO, A. C. Arborização das cidades. Campinas, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral-CATI, Boletim técnico 90, 1977. 24 p.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  26 Jan 2024
• Data do Fascículo
  Jan-Dec 1998