Open-access Religião e império na vida de um peregrino do século XVI

Religion and empire in the life of a 16th century pilgrim

Religión e imperio en la vida de un peregrino del siglo XVI

RESUMO

Com este estudo pretende-se observar a existência e a mundividência de Francisco Barbosa, que nasceu em meados do século XVI no seio de uma família do campesinato. Oriundo do meio rural, de famílias do 3º Estado do norte de Portugal, conheceu vários continentes (de Portugal ao Brasil, passando por África e Flandres). Acabou por se dedicar, em determinada fase da vida, à peregrinação jacobeia. O seu percurso foi marcado por dois vetores fundamentais: religião e império. A pretexto de se estudar a vivência e pensamento de Barbosa, pretende-se conhecer aspectos ligados à mundividência dos estratos populares, de famílias camponesas, que por norma são secundarizados pela historiografia em detrimento das elites ou instituições.

Palavras-chave: História; império; religião; peregrinos; Época Moderna

ABSTRACT

This paper intends to study the life and thoughts of Francisco Barbosa, who was born in the middle of the 16th century, in the midst of a peasantry family, in the rural areas of northern Portugal. He visited several continents having many different occupations, from Portugal to Brazil, passing through Africa and Flanders. At a certain stage in his life, he ended up dedicating himself to the Jacobean pilgrimage. His life path was determined by two fundamental vectors: religion and empire. Under the pretext of studying Barbosa’s existence, it is our aim to unveil aspects connected to the worldview of popular social strata, more specifically those of peasant families, which are usually understated by historiography in detriment of elites or institutions.

Keywords: History; empire; pilgrims; religion; Modern Period

RESUMEN

Con este estudio pretendemos observar la existencia y cosmovisión de Francisco Barbosa quien nació a mediados del siglo XVI, en el seno de una familia campesina. Procedente de zonas rurales, de familias del 3er Estado del norte de Portugal, visitó varios continentes (desde Portugal hasta Brasil, pasando por África y Flandes). Acabó dedicándose, en cierta etapa de su vida, a la peregrinación jacobea. Su camino estuvo marcado por dos vectores fundamentales: la religión y el imperio. Con el pretexto de estudiar la experiencia y el pensamiento de Barbosa, se pretende conocer aspectos relacionados con la cosmovisión de los estratos populares, de las familias campesinas, que suelen ser secundarias a la historiografía en detrimento de las élites o instituciones.

Palabras clave: Historia; imperio; religión; peregrinos; Era moderna

Introdução

Com este estudo almeja-se conhecer a existência e a mundividência de Francisco Barbosa. Trata-se de um indivíduo proveniente de famílias do campesinato do norte de Portugal, que viveu na segunda metade do século XVI e nos alvores do século XVII, num tempo marcado por transformações ligadas à renovação das práticas religiosas e pela afirmação da ideia de império na cultura portuguesa. A pretexto de se estudar a vivência e pensamento de Barbosa, pretende-se conhecer aspectos ligados à mundividência dos estratos sociais populares, de famílias camponesas, que por norma são secundarizados pela historiografia em detrimento das elites ou instituições.

Em termos metodológicos, não é possível entender o seu pensamento sem olhar para a história de vida que lhe está subjacente, numa perspectiva biográfica de forma cronológica, desde as origens até a idade adulta. Por se tratar de um indivíduo cuja existência é totalmente desconhecida - e tendo em consideração a relevância da história de vida, para se perceber a sua vivência - foi necessário utilizar a forma descritiva, sobretudo no que concerne à reconstituição biográfica. Por outro lado, torna-se fundamental considerar conceitos de reciprocidade entre níveis culturais diferenciados e culturas diversificadas, para se poder reconstituir aspectos de natureza cultural subjacentes ao pensamento, atitudes e comportamentos de um indivíduo proveniente do campesinato (GINZBURG, 1998, p. 24-25).

A fonte principal utilizada para a realização do trabalho foi um processo da Inquisição “de hum peregrino que disse chamarse Francisco Barbosa”1. Barbosa acabou por ser preso em 1602, pelo cometimento de práticas luteranas, superstições e outros desvios à fé católica, nomea­damente blasfêmias e santidade fingida. No processo, há referência ao fato de ter, igualmente, sido alvo das justiças episcopais de Portugal e Espanha, perseguido por se considerar que se tratava de um falso peregrino, um ocioso que vivia da caridade. Não é propósito deste artigo discutir a questão verdadeiro/falso peregrino. Essas classificações são redutoras. Os chamados falsos peregrinos não deixavam de ser peregrinos. Com efeito, Bluteau define peregrino como “O que vai peregrinando, o que anda fora da sua pátria [...] também se diz Peregrinar a alguma parte” (BLUTEAU, 1728, v. 6, p. 416). Por outro lado, não deixam de ser indivíduos imbuídos de marcas culturais e de assumir práticas religiosas, quer estas fossem ou não desviantes, realizadas de forma consciente ou inconsciente, de forma verdadeira ou dissimulada.

A relevância das fontes da Inquisição, para o estudo da cultura popular campesina, há muito tem sido destacada. Trata-se dos poucos registos que permitem revelar as ideias de pessoas que não integravam as elites ou os grupos mais privilegiados e favorecidos. As fontes inquisitoriais, de natureza processual, assentam num diálogo entre inquisidor e réu. As respostas aos inquisidores, vertidas nos processos, são muitas vezes automáticas, um eco das perguntas formuladas no interrogatório. Há, contudo, exceções, em que os diálogos são efetivamente reais (GINZBURG, 1991). No interrogatório de Francisco Barbosa, verifica-se discrepância entre as questões colocadas pelos inquisidores e as respostas do réu. Por isso, as respostas não podem ser atribuídas a sugestão ou tortura, aliás Barbosa jamais foi alvo de práticas de tortura. No interrogatório, asseverava que “numca disse palavras hereticas nem nas letras que faz acha heresia senao muita virtude e louvor”. Mas ao mesmo tempo afirmava que era eleito, possuidor de dons particulares que justificava pelo fato de o espírito de Deus habitar dentro de si; Deus falava diretamente com ele, comunicava-lhe os seus desígnios. Referia visões que o estimulavam a realizar penitências rigorosas (autoflagelando-se) e por isso levava uma vida dedicada à peregrinação. Não se coibiu, no final do processo, de dizer que, enquanto criança, chegou a fazer figas a Deus (que era considerado uma injúria) por, nesse período de vida, não ter sido ouvido nas suas preces, contrariamente ao que viria a suceder na idade adulta2. Em suma, falava do pensamento, vivência e existência ao arrepio de esquemas de resposta comuns da maioria dos réus da Inquisição, de forma mais ou menos espontânea. O interrogatório de Francisco Barbosa é, neste sentido, precioso por ser revelador do que Carlo Ginzburg chama estrato profundo das crenças populares (GINZBURG, 1998; GINZBURG, 1991).

Origens

Francisco Barbosa nasceu na Galiza, mais propriamente em Goyan, freguesia localizada nas proximidades de Tui, junto ao rio Minho, cerca de 1555. À época era conhecida por Vila da Barca de Goyan, porque dali partia o barco que fazia ligação com Vila Nova de Cerveira (BEDOYA, 1826, v. 4, p. 337). A despeito de ter nascido na Galiza, era filho de portugueses. O pai, Francisco Correia, era natural do Algarve, sendo a mãe de Vila Nova de Cerveira. Acabava por ser oriundo de uma família do 3º Estado. Com efeito, o pai vivia “da sua fazenda” e um cunhado seu exercia a profissão de ferrador. A família era cristã-velha, tendo fixado residência na região norte de Portugal e Galiza. A avó, Inês Barbosa, morava em Vila Nova da Cerveira e a irmã Ana Barbosa vivia em Tui, sendo que tinha ainda duas primas freiras no mosteiro de S. Clara em Caminha. Tinha também familiares no império; o tio António Barbosa foi para a Índia, cerca de 15603. À semelhança de muitos portugueses do século XVI era bilíngue, isto é, falava português e castelhano de forma fluente4.

Os primeiros anos de vida foram passados em Goyan. Começou por se dedicar à pastorícia, na guarda de ovelhas5. Entretanto ia sendo instruído na doutrina cristã pela mãe, frequentando a igreja aos domingos e dias santos. Conhecia, desde pequeno, os princípios básicos de doutrina, nomeadamente o Pai-Nosso, Ave Maria, Credo, Salve Rainha, Dez Mandamentos e a Confissão. Na idade adulta haveria de reconhecer que não sabia mais orações. Os rudimentos da doutrina foram, todavia, suficientes para que recebesse a confirmação das mãos do bispo de Tui6.

De ressaltar três aspectos que constituem o pano de fundo da infância de Francisco Barbosa. Em primeiro lugar, Barbosa vivia no campo, dedicando-se à pastorícia desde tenra idade, num país marcadamente rural e agrícola. Foi instruído, nos preceitos da religião, numa época de reforma da Igreja e renovação da prática religiosa (PAIVA, 2014, p. 13-40). Em segundo lugar, à semelhança de parte considerável das gentes da Galiza e norte de Portugal, foi marcado pelo culto jacobino; Goyan localiza-se numa região próxima de Compostela. O poder irradiador do culto a S. Tiago na região era enorme. S. Tiago peregrino, mas igualmente “Mata Mouros”, símbolo da luta contra os infiéis. Acresce que Tui, desde a Época Medieval, era local de passagem de inúmeros peregrinos (MORENO, 1986, p. 77-89). Em terceiro lugar, é verosímil que Barbosa tenha, igualmente, sido marcado pela ideia de império, pelas conquistas e expansão, pelas vicissitudes dos portugueses no além-mar; a ideia do império estava viva na sociedade portuguesa do século XVI, nos diversos estratos sociais que a compunham (COOPER, 2003, p. 25-26).

Pescador e marinheiro

Francisco Barbosa saiu do universo familiar, aos dez anos, com o propósito de ser marinheiro. Após a morte do pai, a mãe casara-se uma segunda vez, o que se traduziu em conflitos no seio da família. Com efeito, por “haver alguns desgostos e peleijas [...] a dita sua mae o tirou de sua casa e o entregou a hum mestre de hum navio”. O mestre chamava-se Álvaro Prestes e o navio estava ancorado em Caminha. Assumiu a tarefa de “se servir dele e o tratar como filho”. Prestes levou-o a Lisboa, para a sua casa, onde esteve ao serviço cerca de um ano7. Os portos de Entre - Douro e Minho, apesar da sua relevância no contexto do comércio marítimo, eram portos secundários servindo, maioritariamente, o porto de Lisboa (POLÓNIA, 1999, p. 435).

Em Lisboa, iniciou a atividade como pescador. A pesca abria-lhe a possibilidade de aceder às frotas mercantis de longo curso. E assim sucedeu. Fez tirocínio nas viagens a Mazagão, Madeira, Canárias, Cabo Verde e S. Tomé. Conheceu embarcações, os trejeitos do mar e as particularidades dos ventos. Na centúria de Quinhentos havia falta de recursos humanos - a atividade comercial marítima, no século XVI, suplantou em termos de importância a pesca e tornou-se num sorvedouro de recursos humanos. Era necessário recrutar homens de forma premente e os pescadores, pelo conhecimento que tinham do mar, constituíam-se como grupo privilegiado de recrutamento (BARROS, 2004, p. 254). O caso de Francisco Barbosa testemunha que alguns provinham de famílias de camponeses, que não apenas de famílias ligadas ao mar.

De mestre em mestre, de embarcação em embarcação, acabou por ir para o Brasil, mais concretamente para a Bahia, como grumete e por lá ficou cerca de dez anos, na prática comercial e tráfico negreiro, tornando-se marinheiro em viagens constantes a Angola e S. Tomé. No último quartel do século XVI, a atividade mercantil marítima era relevante, a demanda por escravos africanos cada vez maior (SCHWARTZ, 1998, p. 237-239). A vida no mar era dura (SILVA, 1992, p. 108). Francisco Barbosa vivia do que auferia enquanto marinheiro. Importa, todavia, notar que, como ele próprio afirma, “alguas vezes empregava algum dinheiro que tinha em mercadorias”, ou seja, dedicava-se ao pequeno comércio. Mas os estipêndios que auferia não lhe propiciavam a fortuna que tanto almejava. Decidiu então mudar de vida e fez-se soldado. Nos alvores da década de 1580, ou seja, após a batalha de Alcácer - Quibir e a consumação da União Ibérica, Francisco Barbosa embarcou na Bahia em direção a São Tomé. Aqui conheceu João Álvares Sardinha, capitão de galés, que o levou à Mina para abraçar a carreira das armas8.

Soldado

S. Jorge da Mina, nos finais do século XVI, constituía-se como um dos principais fortes portugueses da costa ocidental africana. Tinha jurisdição sobre os fortes de Axim e Shama e sobre entrepostos comerciais na Costa do Ouro e Costa dos Escravos. No plano administrativo era comandado por um governador, com incumbências administrativas, militares, judiciais e comerciais (SILVA, 2009, p. 35-47). Curiosamente, numa colina próxima do forte, havia uma capela cuja invocação era seguramente cara a Francisco Barbosa: S. Tiago (MOTA, 1985, v. 4, p. 303).

Sob a alçada do governador estava uma armada de defesa da costa composta por duas galés, designadas Vicente e Santo António, comandadas respectivamente por João Álvares Sardinha e Ambrósio de Barros. Na década de 1580, sucederam-se vários episódios de confrontos bélicos na Costa da Mina. Num desses episódios, as duas galés portuguesas foram ao encontro de uma nau francesa, tendo o confronto resultado na rendição da embarcação transpirenaica. O episódio ficou marcado por cenas de indisciplina entre os portugueses, tal era o afã de os capitães saquearem o barco e se apoderarem de um cofre com libras de ouro9. É crível que Francisco Barbosa, que estava sob o comando de João Álvares Sardinha, se tenha envolvido em alguns destes episódios. No decurso do século XVI, os ataques de franceses ao império português foram sistemáticos, mormente no Atlântico.

Após três anos como soldado, resolveu mudar de vida. Os motivos apresentados ao governador João Rodrigues Coutinho, irmão de Manuel de Sousa Coutinho, mais conhecido por Frei Luís de Sousa, foram os seguintes:

por se achar muito mal na Mina e servindo e ser muito enfermo prometeu se viesse a Espanha se meter em hua religiao por frade leigo e avendo licença do dito governador se veio e desembarcou no Algarve em Vila Nova e ahi tomou o habito de peregrino e se foi em Romaria a Santiago de Galiza10.

Cumpriu a promessa; tornou-se religioso no convento de S. Onofre da Golegã. O mosteiro havia sido fundado em 1515. Seguia a regra de S. Francisco “de stricta observância” cultivando a pobreza e o desapego aos bens materiais11, marca da reforma franciscana do tipo observante (REMA, 2001, v. 2, p. 139-161). No século XVI, a inclinação para formas de religiosidade de tipo eremítico estava em voga. A adesão de leigos ao hábito franciscano era comum (DIAS, 1960, v. 1, p. 65). Mas, ao contrário de Frei Luís de Sousa, seu ilustre contemporâneo que abandonou a vida militar e o século para passar os últimos anos de vida num cenóbio, o impulso conventual em Barbosa durou apenas seis meses “por nao poder sofrer o trabalho que era muito naquele tempo por ser só e por tentaçoes que teve deixou o habito”12.

Após a saída do mosteiro exercitou, por cerca de seis anos, a peregrinação em diversas regiões de Portugal e Galiza. Percorria os caminhos de Santiago em oração e “fazia penitencias em hermidas e outros lugares despovoados”13. A peregrinação continuou a ser vivida de forma efetiva após o período medieval, época em que se assiste ao reforço e afirmação desta forma de piedade. A Igreja Católica, a despeito das críticas provenientes de setores humanistas e protestantes, legitimou-a em Trento. Com a afirmação da prática sacramental, em especial da penitência, a peregrinação ganhou vigor nos séculos XVI e XVII14. Os que se dirigiam aos centros de peregrinação da Europa eram, na sua esmagadora maioria, clérigos e gente do 3º Estado (artesãos e lavradores). Faziam-no por motivos religiosos; a devoção, a salvação, as preces e os votos em contexto de perigo e morte, as indulgências, a proteção associada ao poder que as relíquias continuavam a ter na existência dos fiéis. Mas também havia propósitos temporais, nomeadamente a evasão, espírito de aventura e afirmação social. As guerras ou as conquistas motivavam peregrinos (cativos que faziam o voto caso saíssem do cativeiro; a vitória num determinado conflito). S. Tiago representava precisamente a vitória sobre outras crenças, sendo que a Europa e o mundo continuavam a ser marcados, na Época Moderna, por guerras de natureza religiosa. No que respeita ao gênero, sabe-se que eram majoritariamente homens e que, por norma, se serviam das instituições de assistência locais. Usavam frequentemente indumentária que os distinguia (LACARRA, 1966, p. 33-46.).

Todavia, as representações que Francisco Barbosa fazia da Índia determinaram que abandonasse a vida de penitente e se decidisse empreender a longa viagem para o Oriente. Em finais do século XVI, o império atlântico, sobretudo o Brasil, começava-se a afirmar no seio da cultura portuguesa ligada à expansão e descobrimentos (CURTO, 1998, v. 2, p. 459). Contudo, nos estratos populares, as representações do Oriente mantinham-se vigorosas, como o caso de Francisco Barbosa testemunha - já com cerca de 40 anos e depois de ter estado no Brasil cerca de dez anos, ainda sonhava com a Índia. E assim procedeu; dirigiu-se a Lisboa com o firme propósito de ir para a Índia, em finais da década de 1590. Contudo, ao invés do oriente, haveria de embarcar para a Flandres como soldado “na companhia do capitao Faria o qual lhe rogou que quisesse ir com elle e lhe fazia boa companhia e elle declarante deixou entao intento que tinha de ir pera a India e se foi com o dito capitao”15. A participação portuguesa na guerra da Flandres ainda está por estudar; em todo o caso, o recrutamento de tipo informal, era comum através de voluntários a troco de dinheiro e oportunidades de vida, sendo a deserção frequente (HUTTER, 2005, p. 168-169).

De Lisboa, a armada dirigiu-se a Ferrol. Nesta localidade, num assomo de arrependimento, resolveu desertar “com intento de tornar a fazer sua penitencia como dantes fazia e nao ir na dita armada”. Foi detido e obrigado a regressar ao navio. A armada fundeou no porto de Calais e deste porto se foi em marcha com os exércitos para a Flandres. Esteve na região cerca de seis meses, majoritariamente em Chatelet, mas igualmente em Bruxelas e Malinas para ver “uma torre mui alta que ali estava”16. A guerra que opôs Espanha a França, na década de 1590, insere-se no contexto da guerra dos 80 anos. Questões políticas e territoriais foram vetores do confronto, numa Europa dividida entre católicos e protestantes17. Aqui teve contatos com luteranos, como ele próprio afirma: “esteve na arroela ante luteranos”18.

Com a paz, Francisco Barbosa “saiu da dita companhia e veio em trajos de soldado enquanto passou por terras de Flandres e como entrou em França determinou vir fazendo penitencia aspera e se dispiu da cinta pera cima nu e assim veio caminhando com muito trabalho”19. Estava decidido a regressar à vida de religioso penitente. O propósito agora era ser ermitão e peregrino em definitivo.

Ermitão e peregrino

Da Flandres dirigiu-se a Santiago de Compostela, onde foi ermitão. Habitava junto a ermidas ou em choças que ele próprio construía, que eram buracos feitos no chão. Vivia de esmolas. Usava hábito comprido e não cortava o cabelo e a barba. Era malvisto pelas autoridades episcopais, que chegaram a prendê-lo por questões que tinham a ver com a imagem, bem como com a forma como vivia e expressava a religiosidade; afirmava que trazia um espírito dentro de si que lhe falava frequentemente. Os tribunais episcopais foram reforçados após o Concílio de Trento e os bispos estavam particularmente vigilantes na depuração de práticas religiosas (NUNES, 2006, p. 177-213). Cresceu, assim, o número dos considerados falsos peregrinos, gente que vestia o hábito para viver de forma errante, de esmolas, ou seja, da mendicidade. Vistos como ociosos, acabaram por ser perseguidos pelas autoridades. Nos séculos XVI e XVII, várias foram as disposições das autoridades religiosas e seculares que visavam distinguir verdadeiros dos falsos peregrinos e penalizar os que usavam a peregrinação para outros fins que não os estritamente religiosos (SINGUL, 1999, p. 219-222). A imagem que se queria projetar da peregrinação não era compatível com gente pobre que vivia de esmolas. A pobreza e mendicidade, em particular a vadiagem, passaram a ser vistas com particular desconfiança, olhadas de forma negativa no plano social (XAVIER, 1999, p. 59-60).

As perseguições das autoridades galegas levaram-no a Portugal. Esperava, porventura, encontrar no seu país uma existência mais tranquila. À semelhança do que fez em Compostela, começou por ser ermitão na região de Leiria, exercendo funções numa pequena ermida por cerca de um ano. Nesse tempo, era frequentemente acometido por visões e sinais que ele considerava divinos. Numa das vezes, viu um frontal vermelho no céu. Entendeu que se tratava de uma mensagem divina de que deveria ofertar o frontal da ermida a um pobre. Assim fez. As autoridades episcopais de Leiria, contudo, haveriam de o acusar de furto, tendo sido preso no aljube dois anos. Saiu da prisão com a firme decisão de se dedicar à peregrinação em exclusivo. Vivia da penitência, de esmolas e orações e da assistência dos hospitais e albergarias. Habitava choças de palha, lapas e pardieiros, exercitando a atividade em torno dos caminhos de Santiago, entre Portugal e Galiza, vestido com túnica e chapéu. No contexto da depuração da peregrinação de quaisquer práticas consideradas desviantes, foi novamente perseguido pelas autoridades episcopais galegas, tendo sido preso e “tosquiado”; chegaram, inclusive, a cortar-lhe o hábito de peregrino20. Nos alvores do século XVII, regressou a Portugal, para continuar a exercitar a peregrinação, esperando não ser perseguido. Vivia em pardieiros, da caridade e da penitência e expressava frequentemente a sua crença religiosa a quem se predispunha a ouvi-lo. Os traços mais relevantes do seu pensamento resultam da interseção de elementos da cultura e práticas religiosas veiculadas pela Igreja e formas culturais populares, bem como por aspectos que derivam da sua existência/experiências de vida.

O império e o impacto da cultura de império determinaram que vivesse em viagem constante - de pescador a marinheiro, de soldado na costa da Mina a militar na guerra da Flandres; de religioso na Golegã, a ermitão em Compostela e Leiria. Ser peregrino era o corolário de uma vida errante, sem vínculos. Por outro lado, o perigo de vida, que resultava de contextos de guerra, era suscetível de potenciar o fervor religioso. Francisco Barbosa tornou-se religioso, sublinhe-se, após experiências militares.

Considerava a penitência estrutural na existência dos fiéis. Penitência que devia passar pela oração, mas também pela mortificação. Quando viu uma cruz no céu em forma de nuvem negra entendeu:

que o mesmo Deus lhe mostrava aquele sinal pera com mais fervor e vontade continuar sua penitencia depois de fazer oraçao se lançou despido em cima de humas silvas que tinha na dita casa como alguas vezes ja dantes tinha feito e pediu entao a Deus que lhe perdoasse seus pecados e a todos os do mundo e que perdoasse tambem aos que estavam condenados no inferno21.

Todavia, a religiosidade em Barbosa não era estruturada; era uma reinterpretação da religiosidade em função de quadros culturais onde os astros, em particular a leitura que se fazia deles, tinham relevância na vida dos fiéis. Em todo o caso, a penitência impelia-o a ser peregrino; e ser peregrino era, para Barbosa, ser penitente.

Considerava os pobres representações da figura de Cristo. Enquanto ermitão em Leiria, referiu o seguinte a esse propósito:

hua noite estando na dita casinha veio ter com ele um pobre e por ser tempo frio e nao ter com que se agasalhar se foi com elle a hum pardieiro que estava ali perto onde se agasalhou ele declarante com o dito estando o dito pobre dormindo acordou elle declarante e ouviu hua voz que dizia este he o filho de Deus o que elle entendeu que se dizia pelo dito pobre e elle declarante se alevantou e foi benzer os pes ao dito pobre por que lhe parecer que Cristo Nosso Senhor em figura daquele pobre estava ali.22

O pensamento religioso de Francisco Barbosa fundava-se, assim, nos ideais de pobreza e caridade centrados na figura de Cristo; na Época Moderna a piedade cristológica e mariana substituiu o culto dos santos, através de uma fé despida e humilde (PALOMO, 2006, p. 93). Acresce como peregrino era, ele próprio, uma manifestação da pobreza que se assemelhava ao pobre peregrino vicentino, símbolo do sofrimento, dependente e doente, o pauper Christi. A pobreza vista como manifestação de fervor religioso e libertação, como caminho para a felicidade celeste e a caridade como preceito e dever evangélico (XAVIER, 1999, p. 62-82).

Acreditava na santidade e projetava uma imagem de si como santo. Quando um hortelão de Santarém lhe disse que só Cristo possuía o dom de adivinhar o futuro e entrar no coração das pessoas, Barbosa respondeu “aqui está”, apontando o dedo para si. E quando o hortelão passou por ele na rua e olhou para o céu, Francisco Barbosa disse-lhe, enfurecido, “para nao olhar para o ceu senão para mim porque aqui esta a misericordia e a mi aveis de pedir [...] e que sabia que o iriam prender mas que lhe bastavam sete ou oito discipulos”. Em Santarém, referiu-se que as suas vestes eram semelhantes “a túnica em que se pinta a imagem Santissma de Cristo” e que Francisco Barbosa havia confessado ter feito milagres (visão a um cego; andar a um coxo)23. A santidade fingida decorria de experiências individuais do sentir religioso leigo, potenciada pela Igreja através de afirmação de modelos de santidade. Era comum nos círculos beatos femininos ligados às ordens terceiras de S. Francisco (TAVARES, 1996, p. 163-215; PAIVA, 2000, p. 243-265). No caso de Francisco Barbosa, um dos primeiros casos conhecidos de santidade fingida masculina em Portugal, expressou-se através do hábito de peregrino.

A crença de Francisco Barbosa era ainda marcada por aspectos doutrinários, que para os inquisidores eram de cariz luterano. Como se afirma na acusação:

Que o reu tem andado por muitas terras suspeitas na Fe e aonde nao aprovao as religioes e costumes que os sumos pontifices aprovaram antes tratao e ensinao materias contra os religiosos e nossa santa Fe católica e he muito verosimil ter-se o reu apartado dela pois diz contra os religiosos muitas discortesias e irreverencias e pisando aos pes a cruz24.

Entre as “discortesias”, afirmava, por exemplo, que “os frades herao idiotas e não prestavao para mais que comer e beber que nao faziam nenhum fruto nem prestavao para nada”25. Acrescentava, ainda, que Maria não era virgem e que Deus lhe falava diretamente e lhe revelava mistérios divinos26. Menocchio, moleiro da região de Veneza, contemporâneo de Francisco Barbosa e queimado pela Inquisição em finais do século XVI por heresia, também pensava que vislumbrava os desígnios de Deus, não reconhecia autoridade à hierarquia eclesiástica e sustentava que não era possível que Maria tenha dado à luz continuando virgem (GINZBURG, 1998, p. 44).

Considerava-se eleito, pois achava que era habitado pelo espírito divino que se comunicava com ele através de duas formas; por via de sinais e através de uma voz. Os sinais eram, por norma, sinais do céu, através de formações de nuvens negras e respectivos trovões que às vezes se assemelhavam a símbolos cristãos, caso da cruz, que ele interpretava como sinais da cólera divina. A voz dizia-lhe o que deveria fazer, por exemplo, pregar, ou comunicava-lhe acontecimentos futuros. Nesse plano, realizava rituais com pedras que simbolizavam a virtude e o pecado, em que afirmava o poder que possuía legado pela “sabedoria divina pera penetrar todas as cousas que fossem ocultas”. Utilizava expressões latinas numa linguagem que ninguém conseguia perceber e que ele garantia provinha da voz do espírito. Escrevia e representava sinais no chão ininteligíveis27. As palavras e a “escrita” davam força a um ritual de afirmação de poder que, na Época Moderna, estava sobretudo ligado a práticas divinatórias em que se consubstanciava a união entre rituais mágicos e o culto cristão (PAIVA, 1997a, p. 118-122). Acreditava, ainda, que num determinado dia o sol ficaria negro e o céu toldado e quando tal acontecesse, ele próprio seria eleito rei. Era uma expressão do sebastianismo que, no século XVI, decorria de interesses sociais cruzados, muitas vezes afirmados de forma individual (CURTO, 1993, p. 167).

A cosmovisão de Barbosa era, para as autoridades religiosas, uma heresia. Foi também considerado “simulado confitente”. Passou dois anos nos calabouços da inquisição de Lisboa, tendo sido proibido de usar vestes de peregrino e fazer penitência, sendo obrigado a afirmar a crença na Igreja de Roma, no papa, na Santíssima Trindade e nos sacramentos. Quando saiu da prisão correu o boato de que era cristão-novo e havia fugido do cárcere. Chegou a ser preso em Alcobaça, mas acabou libertado, depois de se confirmar que se tratava de um boato falso. Em 1604 perde-se-lhe definitivamente o rasto28.

Nota final

A historiografia tem chamado a atenção para a relevância da circulação de pessoas no século XVI. A história de Francisco Barbosa comprova-o. Conheceu vários continentes. Ao longo da vida não se limitou a exercitar determinada função. Barbosa foi pastor, pescador, marinheiro, soldado, frade, ermitão e peregrino.

Acreditava na penitência, considerava ou projetava publicamente a pobreza e caridade, a santidade como valores religiosos. Influenciado pela doutrina protestante, não se coibia de criticar a Igreja, no que concerne a aspectos doutrinários que se prendem com a autoridade eclesiástica. Considerava-se eleito e afirmava-o, no plano social, através de rituais e práticas mágicas. Estava imbuído de crenças de cunho sebastianista. Aspectos da cultura popular entrecruzaram-se com a alta cultura de forma sincrética nas crenças de um iletrado, sem formação religiosa, que se consubstanciam em crenças e ritos particulares e as vivências, sobretudo as experiências do quotidiano, reforçaram ou conformaram aspectos da crença, à semelhança do que sucedeu com outros (PAIVA, 1997b, p. 63). Religião e império tiveram impacto na sua existência e mundividência. Nesse sentido, considerar Francisco Barbosa apenas como mero penitente, aventureiro ou vagabundo ou então afirmar que se tratava de um falso peregrino é redutor.

Portugal levou-o a uma vida em trânsito. O país tinha falta de recursos e era fundamental que a grei se predispusesse a tal; a participar ativamente na construção e defesa do império. Esse processo teve custos. Barbosa, que nunca deixou de ser pobre, tornou-se um desenraizado, incompreendido, solitário, perseguido e condenado a uma vida disruptiva. Era malquisto pelas autoridades, pois estas estavam determinadas em condenar certas manifestações de pobreza e religiosidade popular ou desvios à prática religiosa. Por outro lado, a religiosidade leiga, para a Igreja, devia obrigatoriamente ser enquadrada por formas e normas institucionais. Alguns estratos da população também não gostavam da figura dele, pela maneira como se apresentava e por aquilo que dizia. Francisco Barbosa chegou a afirmar que esteve na “guerra ante luteranos e que o nam trataram tam mal como em Santarem em o prenderem”29. Por isso, foi primeiramente considerado falso peregrino, para depois ser visto como herético, apesar de, como ele próprio afirmava “ter feito bõs serviços a el-rei em muitas partes e a Deus por muitas rezas”30. A existência de Barbosa esteve assim profundamente ligada a aspectos culturais da época, nomeadamente aspectos religiosos e à ideia de império tão em voga no século XVI, nas suas ordens e contradições (20, 2012, p. 339-347).

Fontes documentais

  • Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT)- Inquisição de Lisboa, proc. 12521.
  • Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT)- Chancelaria de D. Manuel I, liv. 17.
  • Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT)- Corpo Cronológico, Parte I, mç. 112, n. 3.
  • Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT)- Ministério das Finanças, Convento de Santo Onofre da Golegã, cx. 2218.
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  • 1
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521.
  • 2
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521.
  • 3
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fls. 65v-67.
  • 4
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 28.
  • 5
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 94.
  • 6
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fls. 67v-68. É verossímil que tenha sido o bispo Juan de San Millán a administrar-lhe o sacramento do crisma já que foi bispo de Tui entre 1547 e 1567. Era um bispo reformador, tendo inclusive feito parte dos trabalhos do Concílio de Trento (GUTIÉRREZ, 1981, p. 51).
  • 7
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fls. 68-68v. É verossímil que Álvaro Prestes, tendo em consideração o apelido, fosse familiar de António Prestes que em inícios do século XVI era “mestre de fazer navios” (ANTT - Chancelaria de D. Manuel I, liv. 17, fl. 70v.).
  • 8
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fls. 68-69.
  • 9
    ANTT - Corpo Cronológico, Parte I, mç. 112, n. 3.
  • 10
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 68.
  • 11
    O convento foi extinto em 1834 e o inventário testemunha que se tratava de um pequeno e humilde cenóbio avaliado nesta data em 480 mil réis (ANTT - Ministério das Finanças, Convento de Santo Onofre da Golegã, cx. 2218).
  • 12
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 69v.
  • 13
    Idem
  • 14
    Os peregrinos têm sido sobretudo estudados para a Época Medieval. Sobre o peregrino medieval, ver Cortázar (1993, p. 11-30). No que concerne à Época Moderna, apesar da longevidade dos trabalhos, continuam a merecer destaque os estudos de Rapp (1982, p. 210-243); Sauzet (1982, p. 235-258) e Lacarra (1966, p. 33-46).
  • 15
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 70.
  • 16
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 71.
  • 17
    Sobre as guerras travadas por Espanha do século XVI, ver Hernández (2018, p. 267-299).
  • 18
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 9v.
  • 19
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 71v.
  • 20
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 72v.
  • 21
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fls. 74v-75.
  • 22
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 75v.
  • 23
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fls. 12-24; 29-30v.
  • 24
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 88v.
  • 25
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 31.
  • 26
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 88.
  • 27
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fls. 74-76.
  • 28
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 88-105.
  • 29
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 9v.
  • 30
    ANTT - Inquisição de Lisboa, proc. 12521, fl. 105.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Ago 2022
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2022

Histórico

  • Recebido
    08 Dez 2020
  • Aceito
    18 Mar 2021
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