RESUMO
Objetivo identificar, coletar e analisar, na literatura científica, evidências da existência de protocolos fonoaudiológicos de levantamento da história clínica, conforme classificação de risco, especialmente para distúrbios oromiofuncionais, em lactentes e pré-escolares.
Estratégia de pesquisa foram selecionados estudos publicados, sem delimitação temporal, nas bases de dados eletrônicas LILACS, SciELO e PubMed e na literatura cinza (Google Acadêmico).
Critérios de seleção estudos disponíveis na íntegra nas línguas portuguesa e inglesa, que identificassem protocolos fonoaudiológicos de história clínica aplicáveis a lactentes (6 a 23 meses de vida) e pré-escolares (24 a 71 meses de vida). Foram excluídas as revisões narrativas e de literatura (integrativa, sistêmica e escopo).
Resultados foram encontradas 1371 publicações brasileiras no período de 1980 a 2022. Destas, foram identificadas apenas cinco que tratavam de protocolos fonoaudiológicos para levantamento de dados pregressos a partir da história clínica da faixa etária de 6 a 71 meses. Apenas um desses protocolos possuía classificação de risco para distúrbios fonoaudiológicos, distribuídos na área de linguagem e fluência. Os outros três eram da área de motricidade orofacial (MO) e não continham classificação de risco para distúrbio miofuncional orofacial.
Conclusão existem poucos protocolos fonoaudiológicos para levantamento da história clínica de lactentes e pré-escolares que contenham, ou não, classificação de risco, publicados em revistas de acesso aberto e que passaram por processos completos de validação, sendo necessário ampliar estudos e publicações desses instrumentos, inclusive na área de MO.
Palavras-chave:
Coleta de dados; História clínica; Protocolos clínicos; Fonoaudiologia; Lactentes; Pré-escolares; Anamnese; Fatores de risco
ABSTRACT
Purpose to identify, collect and analyze in the scientific literature evidence of the existence of speech therapy protocols for collecting clinical history, according to risk classification, especially for oromyofunctional disorders, in infants and preschoolers.
Research Strategy We selected published studies, without temporal delimitation, in the electronic databases LILACS, SciELO and PUBMED; and in the gray literature (Google Academic).
Selection criteria available in full in Portuguese and English, which identify speech-language pathology protocols of clinical history applicable to infants (6 to 23 months of age) and preschoolers (24 to 71 months of age). Narrative and literature reviews (integrative, systemic, and scope) were excluded.
Results 1371 Brazilian publications were found in the period from 1980 to 2022. Of these, only five publications on speech therapy protocols were identified for collecting previous data from the clinical history of the age group between 6 and 71 months. Only two of these protocols have a risk classification for speech-language disorders, distributed in the areas of language and fluency. The other three are from the Orofacial Motricity (OM) area and do not carry a risk classification for orofacial myofunctional disorder.
Conclusion There are few speech therapy protocols for surveying the clinical history of infants and preschoolers, whether or not they contain risk classification, published in open access journals that have a complete validation process.Therefore there is a need for more research and publication of these instruments, including in the area of OM.
INTRODUÇÃO
Historicamente, a anamnese foi adotada na Grécia Clássica como abordagem investigativa(1). Sua estrutura é uma entrevista semidirigida, baseada em perguntas norteadoras a partir da queixa ou motivo da consulta. Obtém dados necessários para o conhecimento cronológico do desenvolvimento da doença do sujeito, direcionando para uma possível hipótese diagnóstica(2), sendo tradicionalmente utilizada na medicina ocidental.
A entrevista inicial se caracteriza como momento da escuta, que privilegia o histórico de vida e da saúde do sujeito, incluindo aspectos sociais, culturais, econômicos, inerentes ao reconhecimento da queixa que o levou até a consulta(3). Constitui-se como início do processo terapêutico, auxiliando o clínico a compreender e desenvolver o raciocínio sobre o sujeito e seus sintomas(2), sendo fundamentada pelo modelo utilizado na Psicologia.
Existe uma diversidade de instrumentos para uso na saúde, que se diferenciam conforme suas características. O rastreio identifica uma doença/ fator de risco não conhecido, por meio de procedimentos aplicados rapidamente (exames físicos e laboratoriais)(4), enquanto a triagem se caracteriza por identificar um risco para determinadas condições em que o indivíduo se encontra(5). O uso de instrumentos de diagnóstico, muitas vezes, abrange questões de acurácia e medidas estatísticas, além do olhar clínico a respeito da doença/distúrbio(6).
Na prática clínica fonoaudiológica, é importante que exista o levantamento da história clínica que, juntamente com o exame clínico, irá compor o raciocínio que norteia a obtenção da hipótese diagnóstica. O fonoaudiólogo poderá escolher o instrumento que considerar mais adequado(7), e que permita a construção do plano/planejamento terapêutico individualizado.
A clínica fonoaudiológica na área de motricidade orofacial (MO) abrange avaliação, diagnóstico e habilitação/reabilitação das estruturas orofaciais e funções do sistema estomatognático(8). Alterações nesse sistema podem trazer impactos significativos para a saúde do indivíduo, sendo necessário o acompanhamento fonoaudiológico junto aos distúrbios miofuncionais orofaciais.
Para melhor compreender o surgimento e desenvolvimento desses distúrbios, preconiza-se o levantamento da história clínica do sujeito, buscando as possíveis causas de alterações miofuncionais orofaciais que afetam morfologicamente e funcionalmente o sistema estomatognático. Para esse fim, têm-se abordado sobre a necessidade do uso de protocolos padronizados na Fonoaudiologia(9-11).
Sendo assim, justifica-se a busca na literatura sobre o reconhecimento de protocolos de história clínica existentes na Fonoaudiologia, que poderão auxiliar na prática clínica dos profissionais da área e alavancar futuras pesquisas para desenvolvimento de novos instrumentos.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo foi revisar, na literatura científica, a existência de protocolos fonoaudiológicos de história clínica, conforme classificação de risco, especialmente para distúrbios oromiofuncionais, na faixa etária de lactentes e pré-escolares.
ESTRATÉGIA DE PESQUISA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, fundamentada no método que descreve seis fases para estudos dessa natureza: formulação da questão norteadora, pesquisa na literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa(12).
As perguntas norteadoras para a presente revisão integrativa consistiram em: 1) “Existem protocolos para levantamento da história clínica na Fonoaudiologia para a faixa etária de lactentes e pré-escolares?”; 2) “Os protocolos de avaliação sobre história clínica apresentam classificação de risco de distúrbio para a faixa etária de lactentes e pré-escolares?”.
A busca dos estudos na literatura foi realizada no período de outubro de 2021 a janeiro de 2022, nas bases de dados eletrônicos: Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (NIH) via PubMed e na literatura cinza, por meio do Google Acadêmico.
De maneira oportuna, houve a preocupação de que instrumentos já reconhecidos no meio fonoaudiológico não fossem excluídos equivocadamente do presente estudo. Assim, também foi realizada manualmente a pesquisa de protocolos internacionais e nacionais conhecidos pelos pesquisadores, a partir do título do artigo, via base de dados Sage Journals, e revistas AshaWire e CEFAC-Saúde e Educação(13) até o ano de 2015 e ABRAMO(14) a partir de 2016).
Para investigação, as bases de dados foram escolhidas em razão da relevância nacional e internacional, por serem da área da saúde e contemplarem pesquisas da Fonoaudiologia. A busca ocorreu sem delimitação temporal, pois pretendeu identificar, coletar e analisar a produção científica produzida ao longo dos anos.
Foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde/Medical Subject Headings (DeCS/MeSH)(15) na língua portuguesa: “levantamento”, “história clínica”, “protocolos”, “fonoaudiologia”, “lactentes”, “pré-escolares”, “anamnese”, “fatores de risco”; e na língua inglesa: “medical history taking”, “protocols”, “language and hearing sciences speech”, “infant”, “child preschool”, “risk factors”.
Os descritores e seus termos foram combinados entre si por meio da utilização de operadores booleanos AND e OR e o filtro utilizado foi texto completo via on-line em todas as bases de dados, conforme Quadro 1.
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO
Foram considerados como critérios de inclusão: estudos da Fonoaudiologia, em língua portuguesa e inglesa, publicados na íntegra, que abordassem protocolos fonoaudiológicos de história clínica aplicáveis às faixas etárias de lactentes (6 a 23 meses) e pré-escolares (24 a 71 meses).
Foram excluídos os estudos que não atendiam aos critérios de inclusão, que não estavam disponibilizados na íntegra, estudos de revisões narrativas, revisões de literatura (integrativa, sistêmica e de escopo), além de teses e dissertações.
ANÁLISE DOS DADOS
Na primeira etapa da pesquisa, foram lidos todos os títulos e resumos dos resultados encontrados por meio da busca pelos descritores, com análise crítica para delimitar se estariam classificados quanto ao tema. A partir disso, deu-se a leitura dos textos completos.
Na leitura dos textos completos, foram observadas características gerais e realizadas extrações dos seguintes dados: ano de publicação, tipo de estudo, objetivo do estudo, ocorrência de levantamento da história clínica, classificação de risco, faixa etária de lactentes e pré-escolares. Foram observados, também, os resultados dos estudos e suas limitações. Os resultados foram reunidos conforme informações sumarizadas dos estudos e analisados de forma descritiva.
RESULTADOS
Os resultados referentes aos estudos da revisão integrativa, segundo as etapas de coleta de dados, podem ser sumariamente observados no fluxograma (Figura 1).
Fluxograma da seleção dos estudos, com descrição do quantitativo, conforme as etapas de coleta de dados
Foram encontradas 1371 publicações realizadas no Brasil e datadas de 1980 a 2022, conforme as bases de dados. BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) - LILACS: 58 artigos; SciELO: 605 artigos; PubMed: 500 artigos e Google Acadêmico: 208 artigos. Do total de estudos, 1322 foram excluídos por não responderem às perguntas norteadoras, conforme título e resumo. Foram selecionados 49 artigos para leitura na íntegra. Destes, 44 foram excluídos por não abordarem o levantamento da história clínica e/ou não serem destinados à faixa etária de lactentes e/ou pré-escolares. Ao final, 5 artigos foram incluídos na presente revisão. Todos eles abordavam protocolos fonoaudiológicos que coletam dados pregressos da história clínica e contemplam a faixa etária de 6 meses a 71 meses de vida (Tabela 1).
Os estudos selecionados apresentaram instrumentos da Fonoaudiologia em especialidades distintas, sendo 1 de linguagem(16), 1 de fluência(17) e 3 de motricidade orofacial(9,11,18). Quanto à faixa etária, os instrumentos se dividiram em apenas 1 instrumento de avaliação para a idade neonatal até lactente(18), 1 protocolo de avaliação exclusivo para lactentes(9), 1 instrumento para triagem e outro de rastreio, voltados exclusivamente para pré-escolares(16,17), e 1 protocolo de avaliação para ambos os públicos: lactentes e pré-escolares(11).
Os estudos variaram quanto ao delineamento do desenho, distribuindo-se em estudos de tipo observacional(17), descritivo(11,16) e transversal(11,18), incluindo 3 estudos do tipo validação(9,11,17). Vale dizer que todos esses abordaram a etapa de validação de conteúdo do instrumento.
Sobre os instrumentos pesquisados manualmente, já reconhecidos no meio fonoaudiológico, Protocolo de Acompanhamento Fonoaudiológico - Aleitamento Materno(19); Escala de Proficiência Oral e Motora Infantil (chOMPS)(20) e Avaliação da Alimentação Pediátrica (Pedi-EAT)(21), não foram encontrados conteúdos sobre o levantamento da história clínica na faixa etária de lactente e/ou pré-escolar, sendo, portanto, excluídos da presente revisão.
Quanto aos conteúdos abordados nos 5 protocolos, todos apresentaram dados de identificação(9,11,16-18) e a maioria (80%) abordou antecedentes familiares(11,16-18). Três (60%) abordaram queixa, intercorrências gestacionais e pós-parto, e/ou desenvolvimento geral, motor e fala(11,16,17), e/ou aspectos alimentares(9,11,18), e/ou funções orais e hábitos deletérios(9,11,16), e/ou aspectos respiratórios e sono(9,11,17). Dois (40%) abordaram audição e problemas de saúde(11,16), e/ou aspectos linguísticos e psicossociais(16,17) e apenas 1 (20%) abordou temperamento da criança(16) e outro, comunicação oral e voz(11).
Tratando do levantamento de fatores de risco, foram identificados 3 instrumentos(16-18) em áreas distintas da Fonoaudiologia (Tabela 1). Na área de MO, o protocolo de avaliação(18) indica a alteração do frênulo da língua no bebê e define condutas necessárias de intervenção, a partir da pontuação obtida por escores. Na área de fluência(17), o instrumento de rastreio classifica risco para gagueira do desenvolvimento a partir de características individuais e história pregressa dos sinais e sintomas. Na área de linguagem, o protocolo(16) de triagem identifica fatores de risco para distúrbios da linguagem e fala para eventual encaminhamento para avaliação fonoaudiológica e conduta.
Em um dos instrumentos de avaliação de MO, o Protocolo de Avaliação Miofuncional Orofacial com Escores Expandido (AMIOFE-E Lactentes)(9), existem quadros relativos ao levantamento do histórico de alimentação, em que o fonoaudiólogo registra modo (método) de oferta, conforme os períodos (em meses) de ocorrência. Apesar de não serem atribuídos escores, os autores referiram que a interpretação desses dados iniciais são fundamentais para compor a avaliação e o diagnóstico da condição miofuncional orofacial.
Ainda na área de MO, para avaliação, existe o Protocolo MMBGR - Lactentes e pré-escolares: instrutivo e história clínica(11), que aborda a investigação da história clínica, com objetivo de auxiliar o profissional no diagnóstico oromiofuncional. Apesar de o protocolo específico da história clínica não atribuir escores, este aborda dados essenciais para a compreensão da história pregressa do indivíduo e de sua família.
Salienta-se, ainda, que 2 dos instrumentos da área de MO(9,11) são de avaliação e possuem manual operacional(9) ou instrutivo(11), para auxiliar no modo de aplicação dos protocolos.
Sobre as limitações apontadas pelos autores, 3 (60%) dos estudos analisados(9,11,17) incluíram a questão da necessidade de ampliar, avançando as etapas dos processos de validação dos respectivos instrumentos (Tabela 1).
DISCUSSÃO
Dentre os protocolos incluídos no presente estudo, todos têm em comum abordarem o levantamento de dados de história clínica em lactentes e/ou pré-escolares, dado o critério de inclusão da pesquisa.
Sobre os modos de levantamento das informações propostas nos instrumentos analisados, considerando as diferenças entre os modelos de anamnese e entrevista inicial, foi notório que os protocolos incluídos nesta revisão utilizam perguntas mais diretivas, relacionadas à queixa principal, se aproximando dos moldes da anamnese, paradigma preconizado historicamente pela medicina ocidental(2).
A maioria (60%) dos estudos passou por alguma etapa de validação(9,11,17) nos parâmetros descritos na literatura(10). Parece não haver na história mais remota da Fonoaudiologia uma preocupação com a validação de sua produção científica. O fato de nos estudos mais recentes (2021(9), 2022(11) e 2021(17) constarem as etapas de validação dos instrumentos, demonstra a preocupação mais atual dos pesquisadores em atestar maior cientificidade à Fonoaudiologia, por meio dos processos de validação dos instrumentos da clínica, conforme preconizado na literatura fonoaudiológica(10).
Vale ressaltar que o protocolo de avaliação do frênulo da língua com escores para bebês(18) passou posteriormente pelo processo completo de validação(22) . Entretanto, o estudo que contém o processo de validação(22) não foi incluído na presente revisão por não conter no seu corpo o protocolo propriamente dito, o qual já tinha sido apresentado na publicação de 2013(18), inserida na presente revisão. O uso desse instrumento tem fundamental importância junto à amamentação, já que a língua é uma das estruturas do sistema estomatognático com habilidade de distensão/movimentação que é fundamental para extração do leite(23).
Além disso, o outro protocolo desta revisão integrativa que não passou por nenhuma etapa de validação(16) também tem data mais antiga (2013). Mesmo assim, os autores abordaram e procuraram analisar a causalidade e risco para alterações fonoaudiológicas na área de linguagem, na faixa etária pré-escolar, o que pode ser considerado um diferencial importante do estudo.
O levantamento de dados de identificação(9,11,16-18) foi comum em todos os instrumentos incluídos nesta revisão, correspondentes a nome, idade, data de nascimento, gênero, nome dos responsáveis, endereço e telefone, revelando o que é preconizado pelo Ministério da Saúde nos atendimentos nos serviços de saúde, estabelecendo princípios de segurança e cuidado à pessoa para qual se destinam(24). O atendimento se torna confiável, do ponto de vista de identificação e individualização dos usuários no ambiente de saúde(25).
Sobre os demais conteúdos dos protocolos, a maioria abordou antecedentes familiares(11,16-18), queixa, intercorrências gestacionais e pós-parto e/ou aspectos do desenvolvimento geral, motor e fala(11,16,17). Considerando que os protocolos são voltados para a faixa etária de lactentes e pré-escolares, notou-se a preponderância de itens que impactam diretamente o desenvolvimento infantil, conforme indicadores de qualidade de vida infantil, que poderão servir para delineamento de condutas e políticas públicas relacionadas aos aspectos socioeconômicos, ambientais e culturais/populacionais da criança(26).
Ainda sobre os conteúdos, a maioria abordou aspectos alimentares(9,11,18) e/ou funções orais e hábitos deletérios(9,11,16) e/ou aspectos respiratórios e sono(9,11,17). Nesse aspecto, vale ressaltar a predominância (60%) dos instrumentos analisados na área de MO, o que justificaria a ênfase às questões inerentes ao desenvolvimento oromiofuncional.
Quanto à análise de classificação de risco, apenas um instrumento identificado para levantamento da história clínica contém classificação de risco para distúrbio fonoaudiológico e é da área de fluência. O Instrumento de Rastreio para a Gagueira do Desenvolvimento (IRGD)(17) apresenta classificação de risco na primeira infância, abrangendo a faixa etária de pré-escolares, mediante atribuição de escores na história clínica.
A escassez de instrumentos de rastreio nas demais áreas da Fonoaudiologia, talvez possa ser justificada pela maior preocupação dos autores em criar instrumentos que sirvam de medidas acurácias para os fonoaudiólogos, auxiliando nos diagnósticos (instrumentos de diagnósticos) das disfunções.
Na área de linguagem, o Protocolo de Identificação de Fatores de Risco para Alteração de Linguagem e Fala (PIFRAL)(16) evidencia os aspectos inerentes para alteração de linguagem: filho único, antecedentes familiares relativos a alterações fonoaudiológicas, prematuridade, internações por períodos longos e hábitos orais deletérios, indicando para o profissional que uma criança que possui esses riscos apresenta indicativos para alterações fonoaudiológicas.
De modo geral, os instrumentos da área da MO são para avaliação e não possuem classificação de risco oromiofuncional(9,11,18), embora o Protocolo de Avaliação de Frênulo Lingual para Bebês(18) possibilite o diagnóstico da alteração do frênulo da língua, ressaltando, inclusive, que essa alteração impacta as funções orais e, consequentemente, a vida do bebê.
Ainda sobre a área de MO, foi importante constatar que alguns instrumentos(9,11) construíram manuais e/ou instrutivos de utilização e já iniciaram(9,11) ou concluíram(18) o processo de validação de instrumentos. Todos esses fatores apontam para uma evolução e preocupação em atestar maior cientificidade à Fonoaudiologia, especificamente à MO.
É importante ressaltar que existe, na Fonoaudiologia, uma abrangência de áreas de atuação na infância, como é o caso das especializações em audiologia, voz, fonoaudiologia educacional. Em todas essas áreas, o conhecimento da história pregressa é preconizado para indicar eventual risco para determinadas alterações/distúrbios/patologias.
Apesar disso, não foram encontrados mais instrumentos das diversas áreas da Fonoaudiologia na revisão integrativa aqui realizada. Considerou-se que esse fato se deu porque existe a utilização de instrumentos próprios às realidades dos serviços de assistência distribuídos no país, que não estão publicados em meio aberto e nem foram submetidos ao processo de validação de instrumentos.
Os autores também consideraram que protocolos que eventualmente tenham sido desenvolvidos a partir de estudos em teses e dissertações, muito possivelmente seriam também publicados em revistas científicas, a partir da conclusão e defesa dos trabalhos, e estariam cobertos no levantamento da presente revisão integrativa de literatura. Esse levantamento é considerado uma limitação deste estudo.
Espera-se que a esta revisão evidencie a necessidade de que os instrumentos utilizados em serviços específicos, nas diversas áreas de atuação junto à faixa etária de lactentes e pré-escolares, sejam apresentados e submetidos aos respectivos processos de validação, contribuindo, tanto para a ampliação de pesquisas, como da instrumentalização da clínica fonoaudiológica.
O presente estudo apresentou algumas limitações, porque a busca em base de dados aberta não promove a cobertura de protocolos que, eventualmente, estejam publicados em capítulos de livros e tratados da Fonoaudiologia. Também não possibilita o acesso aos instrumentos que investigam a história clínica, que estejam sendo utilizados nos ambulatórios de clínicas e universidades/faculdades, ainda não publicados em periódicos científicos. A mesma limitação diz respeito aos protocolos eventualmente desenvolvidos em teses e dissertações, mas que não foram publicados em revista de acesso aberto.
CONCLUSÃO
Existem poucos protocolos fonoaudiológicos para levantamento da história clínica de lactentes e pré-escolares e apenas um deles possui classificação de risco para distúrbios fonoaudiológicos, não sendo para aspectos oromiofuncionais.
A maioria dos instrumentos estudados possui alguma etapa de validação(9,11,17,18), evidenciando rigor científico e maior cientificidade à Fonoaudiologia. São necessárias pesquisas que proponham e validem instrumentos direcionados aos lactentes e pré-escolares, sobretudo para investigação da história clínica junto aos seus responsáveis.
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Trabalho realizado no Curso de Fonoaudiologia, Universidade Federal de Sergipe - UFS - São Cristóvão (SE), Brasil.
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Financiamento: Nada a declarar.
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