Resumo
Analisam-se padrões geográficos de evolução e diferenciação (por pressão de mimetismo Mülleriano) em 162 espécies de Heliconiini e Ithomiinae na região neotropical (com revisão sistemática e biológica, e descrição de novos taxas), representando 905 entidades diferenciadas, um milhão de dados distribucionais e 2.832 localidades. Isto indica 50 principais centros de evolução e endemismo de floresta tropical (fenômenos biológicos empíricos e dedutivos). São empregados critérios climatológicos, topográficos, pedológicos e botânicos na proposição de 38 correspondentes refúgios florestais (fenômenos históricos indutivos), que atuaram na preservação e diferenciação de populações silvícolas durante o último período longo de clima frio e seco (20.000 — 13.000 anos a.p.). São analisadas as variações nas relações entre biotas em diferentes refúgios, no modo de ação dos refúgios sobre diferentes organismos, nas respostas das populações desses organismos, na conservação atual dos padrões de diferenciação em espécies diferentes, e na integridade passada e presente das áreas refugiais. Conclui-se que (1) a determinação de centros generalizados de evolução de biotas é relativamente fácil, desde que haja número suficiente de dados geográficos e uma sistemática adequada para identificação de linhas monofiléticas nos organismos vicariantes analisados; e (2) a determinação de refúgios florestais é muito mais complicada. Todas as informações disponíveis levam a crer que estes refúgios ocorreram em regiões diferentes durante diversos ciclos climáticos do passado, e que foram fenômenos quantitativos e não qualitativos, onde as condições ecológicas determinaram uma probabilidade maior de preservação e diferenciação do que de extinção da maioria das populações silvícolas. É discutida a estratégia mais indicada para melhor preservação da diversidade genética neotropical, que deverá combinar elementos teóricos e pragmáticos. Dos 38 refúgios propostos, apenas 15 já incluem parques nacionais ou reservas biológicas efetivas, enquanto 22 são muito modificados pela ação do homem, e um (Guaporé) poderá ser totalmente destruído antes de serem minimamente conhecida sua flora e fauna endêmicas.