Resumos
São descritas duas novas espécies de Alstroemeria L. para o Brasil: A. amabilis do Paraná e Santa Catarina e A. capixaba do Espírito Santo. São apresentadas descrições, comentários e ilustrações das espécies.
Alstroemeriaceae; Alstroemeria; Brasil; espécies novas
Two new species of Alstroemeria L. from Brazil are described: A. amabilis from Paraná and Santa Catarina, and A. capixaba from Espírito Santo. Descriptions, comments and illustrations are presented.
Alstroemeriaceae; Alstroemeria; Brazil; new species
Duas novas espécies de Alstroemeria L. (Alstroemeriaceae) para o Brasil
Two new species of Alstroemeria L. (Alstroemeriaceae) from Brazil
Marta Camargo de Assis
Centro Nacional de Pesquisa de Monitoramento por Satélite (CNPM/EMBRAPA), Av. Dr. Júlio Soares de Arruda, 803, CEP 13088-300, Campinas, SP, Brasil (marta@cnpm.embrapa.br)
RESUMO
São descritas duas novas espécies de Alstroemeria L. para o Brasil: A. amabilis do Paraná e Santa Catarina e A. capixaba do Espírito Santo. São apresentadas descrições, comentários e ilustrações das espécies.
Palavras-chave: Alstroemeriaceae, Alstroemeria, Brasil, espécies novas
ABSTRACT
Two new species of Alstroemeria L. from Brazil are described: A. amabilis from Paraná and Santa Catarina, and A. capixaba from Espírito Santo. Descriptions, comments and illustrations are presented.
Key words: Alstroemeriaceae, Alstroemeria, Brazil, new species
Introdução
O gênero Alstroemeria L. abrange cerca de 90 espécies restritas à América do Sul. No Brasil o gênero é representado por 38 espécies de distribuição peri-amazônica, concentrada basicamente na porção leste do País. A maioria das espécies tem distribuição relativamente restrita (Assis 2001).
O gênero Alstroemeria é caracterizado principalmente por plantas herbáceas, eretas, rizomatosas, com raízes de reserva espessadas, folhas ressupinadas ou raramente não, inflorescências em cimeira umbeliforme e flores zigomorfas com padrões de manchas nas tépalas.
Bayer (1987) e Sanso (1996) publicaram a revisão de Alstroemeria para o Chile e Argentina, respectivamente. Para o Brasil, excluindo-se trabalhos taxonômicos de Schenk (1855), Baker (1877; 1888) e Ravenna (2000), pouco se conhecia sobre o gênero.
Durante o trabalho de revisão das espécies de Alstroemeria do Brasil, foram encontradas várias espécies novas para o gênero. Duas dessas espécies são aqui descritas.
Material e métodos
Este estudo foi baseado em revisão bibliográfica e dos materiais depositados nos herbários IAC, MBM, MBML, PACA, SP, SPF e UPCB, além dos materiais analisados no campo.
Resultados e discussão
Alstroemeria amabilis M.C.Assis sp. nov.
Tipo: BRASIL. Paraná: Guaratuba, Serra do Araçatuba, em campo graminoso com rochas, próximo ao cume, elev. 1.400m, 21/I/1994 (fl), R. Kummrow et al. 3387 (holótipo, MBM; isótipos, ESA, HUCS).
Herba foliis chartaceis vel coriaceis, supra pappilata ad glabrescentes; flores petalis externis sine maculis et internis rubro-fasciatis.
Erva ereta 0,6-1,1m alt.; ramos angulosos, ligeiramente papilosos no terço proximal. Folhas do ramo vegetativo não ressupinadas, cartáceas ou coriáceas, distribuídas na metade superior ou por todo o ramo, 7-9 × 1-2cm, oblongas a elípticas, ápice acuminado, base canaliculada, face adaxial glabrescente, abaxial glabra, nervação proeminente em ambas as faces. Folhas do ramo reprodutivo não ressupinadas, adpressas ou semi-amplexicaules, cartáceas a coriáceas, distribuídas por todo o ramo, 1,5-6,5 × 0,4-0,9cm, elípticas a elíptico-lanceoladas ou oblongo-lanceoladas, ápice agudo a acuminado, base cuneada; face adaxial papilosa, abaxial glabra, nervação proeminente em ambas as faces. Cimeira umbeliforme simples, raro composta; pedicelo glabro, 2,2-3,5cm compr. Brácteas foliosas, cartáceas, 1,5-2,5 × 0,30,7cm; bractéolas cartáceas, 0,6-1,7 × 0,20,4cm, elípticas a linear-lanceoladas. Flores patentes, sem odor, campanuladas, vermelhas ou alaranjadas, 2,5-3,5cm compr. Tépalas externas sem manchas, semelhantes entre si, obovais a espatuladas, ápice agudo a mucronado, base atenuada, a superior 3 × 1cm, as inferiores 3,3 × 1,1cm. Tépalas internas rubro-maculadas e listradas, semelhantes entre si, espatuladas, ápice acuminado, base atenuada, margem distal inteira ou ligeiramente crenulada, as superiores ca. 3 × 0,6cm, a inferior ca. 2,2 × 0,5cm. Estames inclusos, filetes glabros, ca. 3cm compr. Estigma incluso, estilete glabro, ca. 2,5cm compr. Cápsula globosa, 1-1,6 × 1,21,6cm.
Distribuição e fenologia: A. amabilis é encontrada em locais úmidos e elevados do Paraná e Santa Catarina, florescendo de dezembro a março e frutificando de março a maio.
Parátipos: BRASIL. Paraná:Guaratuba, Serra de Araçatuba, 31/XI/1960. fl., G. Hatschbach 6698 (MBM); 10/III/1959. fl. fr., G. Hatschbach 5553 (MBM); 13/IV/1983. fl., R. Kummrow 2282 (MBM). Santa Catarina. Campo Alegre:Serra do Quiriri, 14/I/1998 fl., O. S. Ribas et al. 2252 (MBM).
A. amabilis é muito semelhante a A. sellowiana Seub. ex Schenk, encontrada do Paraná ao Rio Grande do Sul, em regiões brejosas. No entanto, esta espécie tem folhas glabras em ambas as faces, flores odoríferas, tépalas internas e externas semelhantes entre si e tépalas internas rubro-punctadas, o que a diferencia de A. amabilis.
Alstroemeria capixaba M.C.Assis sp. nov.
Tipo: BRASIL. Espírito Santo: Santa Teresa, São João de Petrópolis, Escola Agrotécnica 12/II/1999 M. C. Assis et al. 569 (Holótipo, SPF; isótipo, UEC).
Herba gracilis, foliis membranaceis, ellpiticis, glabris. Flores omnibus tepalis maculatis, tepala interna spathacea, apicibus cuspidatis.
Erva 0,25-0,4m alt.; ramos cilíndricos, glabros. Folhas do ramo vegetativo ressupinadas, membranáceas, distribuídas no terço distal do ramo, 2,5-9,5 × 0,7-2,5cm, elípticas, ápice agudo, base atenuada, ambas as faces glabras, nervuras não proeminentes. Folhas do ramo reprodutivo ressupinadas ou não, não amplexicaules, membranáceas, esparsamente distribuídas pelo ramo, 0,6-3,5 × 0,1-0,4cm, linear-lanceoladas, ápice agudo, base atenuada, ambas as faces glabras, nervuras não proeminentes. Cimeira umbeliforme simples, pedicelo glabro, 0,7-2,5cm compr. Brácteas foliosas, membranáceas, 1-3,5 × 0,1-0,4cm; bractéolas não vistas. Flores patentes, sem odor, campanuladas, avermelhadas, 4-5cm compr. Tépalas externas rubro-maculadas, semelhantes entre si, oboval-espatuladas, ápice acuminado, base atenuada, a superior 3,7-4,8 × 0,7-1,2cm, as inferiores, 3,4-3,7 × 0,6-1cm. Tépalas internas rubro-maculadas, semelhantes entre si, espatuladas, ápice cuspidado, base atenuada, margem distal inteira, as superiores, 3,7-4,5 × 0,4-0,6cm, a inferior 3,2 × 0,6cm. Estames inclusos, filetes glabros, ca. 2m compr. Estigma incluso, estilete glabro, ca. 2,7m compr. Cápsula não vista.
Distribuição e fenologia: A. capixaba ocorre no interior das florestas estacionais semidecíduas do Espírito Santo, florescendo em junho.
Parátipos: BRASIL. Espírito Santo: Vitória, 5/VII/1938, fl., M. B. Foster s.n (SP 41439); Santa Teresa, São João de Petrópolis, Escola Agrotécnica Federal, 23/VI/1985, fl., H. Q. B. Fernandes 1337 (MBML, SPF).
Alstroemeria capixaba é caracterizada por seus ramos vegetativos e reprodutivos delicados, e pelas flores com todas as tépalas maculadas. Seus ramos vegetativos e reprodutivos são muito semelhantes aos de A. caryophyllaea Jacq. que ocorre em Minas Gerais e Rio de Janeiro. No entanto, A. caryophyllaea possui flores odoríferas e as tépalas externas sem manchas.
Agradecimentos
Este estudo fez parte do Doutorado realizado no Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e financiado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). A autora deseja manifestar seus agradecimentos à Fundação Margaret Mee pela bolsa concedida.
Recebido em 05/12/2001. Aceito em 13/06/2002
- Assis, M. C. 2001. Alstroemeria L. (Alstroemeriaceae) do Brasil Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo.
- Baker, J.G. 1877. On the Brasilian species of Alstroemeria Journal of Botany 15: 259-287.
- Baker, J.G. 1888. Handbook of Amaryllidaceae George Bells & Sons, London.
- Bayer, E. 1987. Die Gattung Alstroemeria in Chile. Mitteilungen der Botanischen Staatssammlung München 24: 1-362.
- Ravenna, P. 2000. New or interesting Alstroemeriaceae-I. Onira 4(10): 33-46.
- Sanso, A.M. 1996. El género Alstroemeria (Alstroemeriaceae) en Argentina: Darwiniana 34: 349-382.
- Schenk, A. 1855. Alstroemerieae. Pp.166-180. In C. F. P. Martius & A. W. Eichler (Eds.), Flora Brasilica Vol. 3. Part 1 Verlag von J. Cramer, New York.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
26 Ago 2003 -
Data do Fascículo
Jun 2003
Histórico
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Aceito
13 Jun 2002 -
Recebido
05 Dez 2001