A Ponta do Iceberg: Placa Coronária Não-Calcificada e o Tecido Adiposo Epicárdico

Palavras-chave
Tecido Adiposo / patologia; Doença Arterial Coronariana; Sinalização do Cálcio; Biomarcadores / análise; Cintilografia; Tomografia Computadorizada de Emissão

Ao Editor,

Foi com grande interesse que li o artigo "Relação entre o Escore de Cálcio e a Cintilografia Miocárdica no Diagnóstico da Doença Coronariana" de Siqueira et al.,¹ recentemente publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia 2016; 107:367-74. Os investigadores relataram a possibilidade da remoção de doença arterial coronariana (DAC) extensiva quando o escore se mostra gravemente aumentado, o que justifica o uso deste método na avaliação inicial ou conjunta em pacientes assintomáticos com suspeita de DAC e na estratificação de risco coronário. A avaliação de pacientes sintomáticos com baixo risco, apesar da evidência sugestiva, deveria ser reavaliada em futuras diretrizes.¹

O tecido adiposo epicárdico (TAE) é anatomicamente contíguo com o miocárdio e diversos estudos já o apontaram como fator que potencialmente contribui com aterosclerose coronária.² O TAE é um tipo de tecido adiposo visceral com efeitos paracrinos e endócrinos.³ O TAE funciona como fonte de energia para o miocárdio e secreta citocinas proaterogênicas.³ O aumento do TAE não está apenas associados a uma prevalência mais alta de DAC, mas é também um parâmetro do prognóstico para futuros eventos cardiovasculares, e, por fim, mortalidade cardiovascular.⁴ Hwang et al.⁵ relataram que um alto índice de volume de gordura epicárdica determinado por tomografia computadorizada apareceu como um fator de risco independente para o futuro desenvolvimento de placa coronária não-calcificada, mesmo após ajuste para fatores de risco cardiovascular tradicionais.

Com base nesses achados, a avaliação de TAE por tomografia computadorizada pode ser benéfica como parte de avaliações adicionais para futuros eventos cardiovasculares.

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Carta-resposta

Gostaríamos de agradecer o interesse e os comentários relacionados ao nosso recente artigo.¹ Acreditamos que o grande embasamento científico referente à quantificação do cálcio coronariano demonstra claramente a importância desse método na estratificação de pacientes assintomáticos e com risco cardiovascular de baixo a intermediário.^2-7

As recentes publicações relacionadas ao escore de cálcio (EC) continuam apontando para as falhas de classificação dos escores clínicos e reforçam sua capacidade de distinção dos diferentes grupos de risco de eventos cardiovasculares. O papel de reclassificação dos escores clínicos, quando implementado o EC, é um alerta para a sua aplicabilidade clínica.^2-7 Estudos populacionais com longos períodos de acompanhamento^2-7 demonstraram que o uso do EC é uma das melhores ferramentas para se determinar o risco cardiovascular, mesmo quando comparado a outros marcadores.⁷

A potencial utilização do EC não fica somente na avaliação de risco cardiovascular, pois já se mostrou uma ferramenta útil na prevenção primária e no tratamento adequado das formas sub-clínicas da doença arterial coronariana.^8-15 A presença de um EC zero é um indicativo de risco muito baixo, muitas vezes isentando o paciente de tratamento precoce com estatinas de forma preventiva.^8-11 Enquanto por outro lado, na presença de EC diferente de zero, e principalmente > 100 Agatston, a introdução terapêutica pode ser indicada, mesmo nos pacientes que não se enquadram na indicação das atuais diretrizes para o uso de estatinas e de outras medicações, como os anti-hipertensivos.^10-15

Importantes mudanças nas diretrizes já podem ser notadas, posicionando o EC na classe de recomendação I para algumas de suas indicações.¹⁶ Entretanto, ainda existem recomendações divergentes,^17-20 assim como nas orientações sobre o início da terapia para redução do risco cardiovascular que ainda não incluem os dados da calcificação coronariana, mesmo com dados robustos sustentando esse posicionamento.^21-22

Por isso, acreditamos que nos próximos anos o método deverá assumir crescente importância nas diretrizes clínicas auxiliando no acompanhamento mais adequado dos pacientes de risco baixo e intermediário.

Atenciosamente,

Fabio Paiva Rossini Siqueira,

Claudio Tinoco Mesquita,

Alair Augusto Sarmet M. Damas dos Santos,

Marcelo Souto Nacif

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  Abr 2017

Histórico

• Recebido
  28 Out 2016
• Revisado
  19 Jan 2017
• Aceito
  19 Jan 2017