Acessibilidade / Reportar erro

10. Doenças da aorta, artéria pulmonar e veias

DOENÇAS DA AORTA, ARTÉRIA PULMONAR E VEIAS

10. Doenças da aorta, artéria pulmonar e veias

10.1 - Aorta torácica

A avaliação global da aorta torácica e da porção inicial da aorta abdominal pode ser obtida a partir da ecocardiografia, empregando as técnicas transtorácica e transesofágica. Podemos avaliar a raiz aórtica, os seios de Valsalva, a junção sinotubular, a porção inicial da porção tubular da aorta ascendente, a aorta transversa e as porções iniciais da aorta descendente torácica e abdominal pela técnica transtorácica na maioria dos pacientes, mas a ecocardiografia transesofágica é indubitavelmente a técnica preferível quando informações detalhadas destas estruturas são necessárias para o diagnóstico e manejo terapêutico dos pacientes. A rigor, a única porção da aorta torácica não visibilizada pelo ecocardiograma transesofágico é a região de transição entre as aortas ascendente e transversa pela interposição da traqueia entre o transdutor e a aorta1.

Aneurismas na aorta ascendente podem ser avaliados pela técnica transtorácica e possíveis complicações, como ruptura para cavidades cardíacas e refluxos aórticos, podem ser diagnosticadas pelo Doppler e Color Doppler. Nas aortas transversa e descendente, contudo, essa técnica tem limitações, e a ETE é claramente superior2.

O ETT pode diagnosticar dissecção aórtica quando as porções iniciais da aorta ascendente, a aorta transversa e as porções iniciais da aorta descendente torácica e abdominal estiverem acometidas. Entretanto, a ETE é mais acurada, sobretudo na avaliação do segmento descendente. A classificação da dissecção segundo os critérios de deBakey e de Stanford pode ser facilmente realizada, definindo a gravidade e extensão da dissecção. Locais de ruptura da íntima podem ser localizados, e isto tem implicações no planejamento do tratamento cirúrgico da patologia. Além disso, potenciais complicações, como rupturas aórticas, regurgitação aórtica, derrames pericárdico e pleural e disfunção do VE, podem ser diagnosticadas e monitoradas. A avaliação de comprometimento dos ramos do arco aórtico é incompleta e outras técnicas de imagem podem ser necessárias para tal finalidade3,4. Nos hematomas intramurais, o eco transesofágico é útil no diagnóstico diferencial com aneurismas verdadeiros com trombose mural associada, e pode caracterizar úlceras ateroscleróticas penetrantes e suas complicações. Eventualmente, mais de uma técnica de imagem pode ser necessária para fechar o diagnóstico5.

10.2 - Artéria pulmonar

Da mesma forma que a aorta, o tronco da artéria pulmonar e a porção inicial dos ramos pulmonares podem ser visibilizados tanto no ETT quanto na ETE. A ecocardiografia transesofágica aborda essa região mais facilmente, permitindo inclusive que uma extensão maior da artéria pulmonar direita seja analisada, o que permite melhor apreciação de trombos no território proximal da artéria pulmonar. Dilatações desses vasos também podem ser diagnosticadas. As dilatações da artéria pulmonar são lesões incomuns e podem estar associadas a diferentes etiologias, como cardiopatias congênitas, vasculites sistêmicas, colagenoses, infecções e traumas. Dilatação idiopática da artéria pulmonar é diagnosticada quando se exclui patologia concomitante.

10.3 - Veias

Anomalias nas porções distais das veias cavas superior e inferior podem ser diagnosticadas pelas técnicas transtorácica e transesofágica. A presença de trombos nesses trajetos e a extensão de tumores para as cavidades direitas (tumor de Wilms é o maior exemplo) podem ser avaliadas. A ETE é particularmente útil na identificação de trombos ou vegetações na veia cava superior em pacientes com cateteres de longa permanência. Outra anomalia facilmente diagnosticada é a persistência de veia cava superior esquerda, que deve ser suspeitada na presença de seio venoso coronariano dilatado e pode ser identificada a partir de um corte supraesternal modificado ou supraclavicular esquerdo, confirmada com o uso de contraste em veia do membro superior esquerdo. A identificação das 4 veias pulmonares é muito difícil na técnica transtorácica (o corte supraesternal transversal nem sempre é muito nítido), e mesmo na ETE a visibilização das 4 veias nem sempre é possível. O estudo do fluxo nessas veias ao Doppler e Color Doppler pode dar informações hemodinâmicas importantes, principalmente quanto à disfunção diastólica do VE e a gravidade da regurgitação mitral. Da mesma forma, a avaliação da cava inferior e das veias hepáticas pode dar informações importantes quanto à volemia, pressão venosa sistêmica, diagnóstico de constricção/restrição, função do VD e gravidade da regurgitação tricúspide.

Tabela 33 - clique para ampliar

  • 1. Cheitlin MD, Armstrong WF, Aurigemma GP, Beller GA, Bierman FZ, Davis JL, et al. ACC/AHA/ASE 2003 guideline update for the clinical application of echocardiography. A report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines (ACC/AHA/ASE Committee to Update the 1997 Guidelines for the Clinical Application of Echocardiography). J Am Coll Cardiology. 2003; 42: 954-70.
  • 2. Wiet SP, Pearce WH, McCarthy WJ, Joob AW, Yao JS, McPherson DD. Utility of transesophageal echocardiography in the diagnosis of disease of the thoracic aorta. J Vasc Surg. 1994; 20: 613-20.
  • 3. David TE. Aortic valve-sparing operations for aortic root aneurysm. Semin Thorac Cardiovasc Surg. 2001; 13: 291-6.
  • 4. Hagan PG, Nienaber CA, Isselbacher EM, Bruckman D, Karavite DJ, Russman PL, et al. The International Registry of Acute Aortic Dissection (IRAD): new insights into an old disease. JAMA. 2000; 283: 897-903.
  • 5. Maraj R, Rerkpattanapipat P, Jacobs LE, Makornwattana P, Kotler MN. Meta-analysis of 143 reported cases of aortic intramural hematoma. Am J Cardiol. 2000; 86: 664-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Jul 2010
  • Data do Fascículo
    Dez 2009
Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC Avenida Marechal Câmara, 160, sala: 330, Centro, CEP: 20020-907, (21) 3478-2700 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil, Fax: +55 21 3478-2770 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@cardiol.br