CARTA AO EDITOR
Disfunção vascular e autonômica cardíaca em pacientes com diabete melito tipo 1
Eduardo Maffini da RosaI,II; Bruno Garcia RestelattoI; Verônica PoyerI
IUniversidade de Caxias do Sul, RS, Brasil
IIInstituto de Cardiologia do RS - Fundação Universitária de Cardiologia, IC-FUC, Brasil. Instituto de Pesquisa Clínica para Estudos Multicêntricos (IPCEM) do CECS-UCS, RS, Brasil. Liga Acadêmica de Estudos e Ações em Cardiologia da Universidade de Caxias do Sul. Caxias do Sul, RS, Brasil
Correspondência Correspondência: Marcelo Nicola Branchi Rua Alfredo Chaves, 547, ap 52, Centro 95020-460 - Caxias do Sul, RS, Brasil E-mail: marcelonicolabranchi@hotmail.com
Palavras-chave: Disautonomias primárias/complicações, diabete melito tipo 1.
Prezado Editor,
Nosso grupo de estudos em Cardiopatia Isquêmica gostaria de parabenizar os autores do artigo "Complicações Microvasculares e Disfunção Autonômica Cardíaca em Pacientes com Diabete Melito Tipo 1"1, que trata sobre diagnóstico de disautonomia subclínica. No nosso entender, pacientes diabéticos no estágio de nefropatia e/ou retinopatia também têm uma grande chance de apresentar lesões na micro e na macrovasculatura. A doença do nó sinusal tem sua origem frequentemente em isquemias originárias de lesões na coronária direita2-4. Tal acometimento tem como uma de suas manifestações o comprometimento no ganho de frequência cardíaca máxima no esforço5,6. No presente estudo, observamos que a Frequência Cardíaca (FC) submáxima no grupo de pacientes com nefropatia e retinopatia (considerando a idade média dos grupos apresentados nas tabelas 1 e 2, menos 195) foi de 154 bcm. Entretanto, esses pacientes atingiram a FC submáxima de 148 bcm. Então gostaríamos de saber se o teste ergométrico usado na seleção dos pacientes também deu origem aos dados de FC submáxima que foram utilizados na análise dos dados, ou se foram feitos dois testes ergométricos. A documentação de ausência de coronariopatia foi feita apenas com o teste ergométrico da seleção como apresentada nas tabelas 1 e 2? Caso tenha sido, os resultados obtidos seriam os mesmos ao excluir os pacientes com coronariopatia?
Carta-resposta
Prezado Editor,
Agradecemos os comentários realizados em relação ao nosso estudo publicado recentemente nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia1. De fato, pacientes com diabetes e doença microvascular têm maior risco de doença macrovasculardo que aqueles sem essas complicações. Durante a realização do estudo, pacientes reconhecidamente com diagnóstico de cardiopatia isquêmica foram excluídos, e aqueles que foram submetidos ao teste ergométrico eram clinicamente assintomáticos para a presença de doença arterial coronariana. Três pacientes, contudo, apresentaram critérios eletrocardiográficos durante o exame e foram excluídos do estudo. Assim, foram avaliados 81 indivíduos assintomáticos e com teste de esforço sem alterações sugestivas de isquemia, conforme descrito no artigo. Realizamos apenas um teste de esforço e esse exame foi utilizado para as análises do estudo. Para os pacientes com retinopatia (n=44) a média da frequência cardíaca máxima foi de 153 bpm, e para os pacientes com nefropatia (n=23) a média da frequência cardíaca máxima foi de 149 bpm. Pacientes com nefropatiaapresentaram mais frequentemente fatores de risco como hipertensão e tabagismo que os pacientes com retinopatia. Portanto, podem ter mais Neuropatia Autonômica Cardíaca (NAC), uma complicação frequente da neuropatia em pacientes com diabetes tipo 11. A etiologia da doença cardíaca em pacientes com diabetes pode envolver muitos fatores, incluindo NAC, Cardiopatia Isquêmica (CI) e cardiomiopatia diabética1-3. Apesar disso, acreditamos que, nesse caso, a provável causa para o não alcance da frequência cardíaca máxima prevista no grupo com nefropatia foi a presença de NAC, e não CI.
Atenciosamente,
Ticiana C. Rodrigues
Fernando K. Almeida
Jorge L. Gross
Referências (Resposta)
Artigo recebido em 18/07/11; revisado recebido em 03/10/11; aceito em 03/10/11.
Referências bibliográficas
- 1. Almeida FK, Gross JL, Rodrigues TC. Microvascular complications and cardiac autonomic dysfunction in patients with diabetes mellitus type 1. Arq Bras Cardiol. 2011;96(6):484-9.
- 2. Antman EM, Rutherford JD. Coronary care medicine: a practical approach. Boston: Nijhoff; 1986.
- 3. Dreifus LS, Fisch C, Griffin JC, Gillette PC, Mason JW, Parsonnet V. Guidelines for implantation of cardiac pacemakers and antiarrhythmia devices. A report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Assessment of Diagnostic and Therapeutic Cardiovascular Procedures (Committee on Pacemaker Implantation). J Am Coll Cardiol.1991;18(1):1-13.
- 4. Di Chiara A. Right bundle branch block during the acute phase of myocardial infarction: modern redefinitions of old concepts. Eur Heart J. 2006;27(1):1-2.
- 5. Gallagher KP, Matsuzaki M, Osakada G, Kemper WS, Ross J Jr. Effect of exercise on the relationship between myocardial blood flow and systolic wall thickening in dogs with acute coronary stenosis. Circ Res. 1983;52(6):716-29.
- 6. Matsuzaki M, Guth B, Tajimi T, Kemper W, Ross J Jr. Effect of the combination of diltiazem and atenolol on exercise-induced regional myocardial ischemia in conscious dogs. Circulation. 1985;72(1):233-43.
- 1. Almeida FK, Gross JL, Rodrigues TC. Microvascular complications and cardiac autonomic dysfunction in patients with diabetes mellitus type 1. Arq Bras Cardiol. 2011;96(6):484-9.
- 2. Retnakaran R, Zinman B. Type 1 diabetes, hyperglycaemia, and the heart. Lancet. 2008;371(9626):1790-9.
- 3. Airaksinem KJ. Silent coronary artery disease in diabetes - a feature of autonomic neuropathy or accelerated atherosclerosis? Diabetologia. 2001;44(2):259-66.