Acessibilidade / Reportar erro

Pesquisa Usando Microalternância de Onda T na Doença de Chagas

Palavras-chave
Doença de Chagas; Eletrocardiografia; Estratificação de Risco; Arritmias; Morte Súbita Cardíaca; Batimentos Cardíacos Ectópicos

A T-wave alternans (TWA) visível não é na verdade um achado recente e tem sido relatada desde 1909.11 Rubart D, Zipes P. Mechanisms of sudden cardiac death. J Clin Invest. 2005;115(9):2305-15. Entretanto, é a TWA em microvolts, não visível e muito menos rara, que ganhou um lugar ao sol devido à sua associação com distúrbio elétrico e risco elevado de morte súbita cardíaca (MSC) ou eventos arrítmicos,22 Fabre A, Sheppard MN. Sudden adult death syndrome and other nonischaemic causes of sudden cardiac death. Heart. 2006;92(3):316-20.

3 Thompson PD, Franklin BA, Balady GJ, Blair SN, Corrado N, Estes NA rd, et al. Exercise and acute cardiovascular events: Placing the risks into perspective: A scientific statement from the American Heart Association Council on Nutrition, Physical Activity, and Metabolism and the Council on Clinical Cardiology - In collaboration with the American College of Sports Medicine. Circulation. 2007;115(17):2358-68.

4 Weiss JN, Karma A, Shiferaw Y, Chen PS, Garfinkel A, Chu Z. From pulsus to pulseless: The saga of cardiac alternans. Circ Res. 2006;98(10):1244-53.

5 Hering HE. Experimentelle studien an s¨augetieren ¨uber das elektrocardiogram. Zeitschrift f ¨ur experimentelle Pathologie und Therapie. 1909;7:363-78.
-66 Adam DR, Akselrod S, Cohen RJ. Estimation of ventricular vulnerability to fibrillation through T-wave time series analysis. Comput Cardiol. 1981;8:307-10. como tem sido avaliado em diversas pesquisas clínicas e estudos em populações: TWA na ICC,77 Zareba W, Piotrowicz K, McNitt S, Moss AJ, MADIT II Investigators. Implantable cardioverter-defibrillator efficacy in patients with heart failure and left ventricular dysfunction (from the MADIT II Population). Am J Cardiol. 2005;95(12):1487-91. ALPHA,88 Salerno-Uriarte JA, De Ferrari GM, Klersy C, Pedretti RF, Tritto M, Sallusti L, et al.Prognostic value of T-wave alternans in patients with heart failure due to nonischemic cardiomyopathy-results of the ALPHA study. J Am Coll Cardiol. 2007;50(19):1896-904. REFINE,99 Exner DV, Kavanagh KM, Slawnych MP, Mitchell LB, Ramadan D, Aggarwal SG, et al. Noninvasive risk assessment early after a myocardial infarction- the REFINE study. J Am Coll Cardiol. 2007;50(24):2275-84. FINCAVAS,1010 Nieminen T, Lehtimaki T, Viik J, Lehtinen R, Nikus K, Koobi T, et al. T-wave alternans predicts mortality in a population undergoing a clinically indicated exercise test. Eur Heart J. 2007;28(19):2332-7. Ikeda et al.,1111 Ikeda T, Yoshino H, Sugi K, Tanno K, Shimizu H, Watanabe J, et al. Predictive value of microvolt T-wave alternans for sudden cardiac death in patients with preserved cardiac function after acute myocardial infarction results of a collaborative cohort study. J Am Coll Cardiol. 2006;48(11):2268-74. (em um estudo colaborativo) e Bloomfield et al.,1212 Bloomfield DM, Steinman RC, Namerow PB, Paredes M, Davidenko J, Kaufman ES, et al. Microvolt T-wave alternans distinguishes between patients likely and patients not likely to benefit from implanted cardiac defibrillator therapy: A solution to the multicenter automatic defibrillator implantation trial (MADIT) II conundrum. Circulation. .2004;110(14):1885-9. (em uma pesquisa do tipo MADIT-II). Todos esses estudos têm em comum o fato de que trazem evidências sobre o alto valor preditivo negativo da TWA em relação a MSC ou a eventos arrítmicos, com valor preditivo positivo baixo a regular.

A microalternância de onda T consiste na análise, através de software especializado, de variações batimento a batimento que ocorrem na repolarização ventricular (segmento ST e onda T), muito pouco perceptíveis a olho nu.1313 Bloomfield D, Hohnloser SH, Cohen RJ. Interpretation and classification of microvolt T wave alternans tests. J Cardiovasc Electrophysiol. 2002;13(5):502-12.

14 Hohnloser SH. T wave alternans. In: Zipes D, Jalife J, eds. Cardiac electrophysiology, 6th ed. Philadelfia, PA: Elsevier Inc.; 2013. p.665-76.

15 Merchant FM, Armoundas AA. Role of substrate and triggers in the genesis of cardiac alternans, from myocyte to the whole heart: implications for therapy. Circulation. 2012;125(3):539-49.
-1616 Hagjoo M, Arya A, Sadr-Ameli MA. Microvolt T-wave alternans: a review of techniques, interpretation, utility, clinical studies and future perspectives. Int J Cardiol. 2006;109(3):293-306. A TWA permite acessar, de maneira indireta, o aspecto de aumento da dispersão dos potenciais de ação das células do coração, fator esse primordial em uma sequência de eventos que levarão a mecanismos de re-entrada e fibrilação ventricular que culminarão na MSC. Uma propriedade fundamental de sua análise é o alto poder preditivo negativo para o risco de MSC que um teste de TWA normal apresenta.1212 Bloomfield DM, Steinman RC, Namerow PB, Paredes M, Davidenko J, Kaufman ES, et al. Microvolt T-wave alternans distinguishes between patients likely and patients not likely to benefit from implanted cardiac defibrillator therapy: A solution to the multicenter automatic defibrillator implantation trial (MADIT) II conundrum. Circulation. .2004;110(14):1885-9.

A TWA apresenta, dentre diferentes metodologias de aferição, duas técnicas de destaque: a obtida pelo método espectral (Spectral Method - SM) e a que é obtida pela média móvel modificada (modified moving average - MMA), como as mais disseminadas e com relevância na literatura médica.1717 Garcia EV, Pastore CA, Samesima N, Pereira Filho HG. T-wave alternans: desempenho clínico, limitações, metodologias de análise. Arq Bras Cardiol. 2011;96(3):e53-e61.

O SM mede flutuações da onda T através da computação de diferenças ponto a ponto entre 128 locais equidistantes no ST-T, numa série de 128 batimentos consecutivos alinhados (já descartados os batimentos ectópicos e com ruído).1818 Smith JM, Clancy EA, Valeri CR,Ruskin JN, Cohen RJ. Electrical alternans and cardiac electrical instability. Circulation. 1988;77(1):110-21. Em outras palavras, há 128 tacogramas semelhantes àqueles usados na análise da variabilidade da frequência cardíaca. Depois, são computados 128 espectros de frequência (daí o nome da metodologia - SM), sendo calculada a média deles. O valor da TWA é então avaliado na frequência de 0,5 ciclo por batimento. Em 1994, foi publicada pela primeira vez a adaptação dessa técnica a pacientes humanos.1919 Rosenbaum DS, Jackson LE, Smith JM, Garan H, Ruskin JN, Cohen RJ. Electrical alternans and vulnerability to ventricular arrhythmias. N Engl J Med. 1994;330(4):235-41. Desde então, ela é o método de análise de TWA mais usado, com a mais ampla gama de aplicações.

A MMA cria, recursivamente, dois padrões (modelos) de batimentos, a partir de qualquer sequência de batimentos válidos (sendo um padrão associado somente aos batimentos pares, e o outro aos batimentos ímpares). Para explicitar cada um dos padrões de batimentos, o algoritmo iterativo é o seguinte: as diferenças de amplitude entre o padrão atual (de batimentos pares ou ímpares) e o próximo batimento válido (par ou ímpar) são medidas ao longo de diversos locais equidistantes no ST-T. Cada uma dessas diferenças é dividida em X partes iguais (onde X pode ser 8, 16, 32 ou 64) e a contribuição do batimento atual válido na atualização do batimento-padrão é então limitada a 1/X (chamado de fator de atualização ou fração limitante) das diferenças entre modelo e batimento. Finalmente, os valores da TWA são disponibilizados a cada 15 segundos, como a diferença entre os dois padrões representativos (e continuamente atualizados) dos batimentos pares e batimentos ímpares.2020 Nearing BD, Verrier RL. Modified moving average analysis of T-wave alternans to predict ventricular fibrillation with high accuracy. J Appl Physiol. 2002;92(2):541-9. Essa técnica foi avalizada em estudos acadêmicos com boa reprodutividade.2121 de Oliveira Antunes M, Samesima N, Pereira Filho HG, Matsumoto AY, Pastore CA, Arteaga-Fernandez E, et al. Exercise-induced quantitative microvolt T-wave alternans in hypertrophic cardiomyopathy. J Electrocardiol. 2017;50(2):184-90.

Em um trabalho em pacientes com doença de Chagas, apresentado nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia,2222 Odozynski G, Dal Forno AR, Lewandowski A, Nascimento HG, d’Avila A. Ablação de fibrilação atrial paroxística em mulheres:compreendendo a diferença entre gêneros. Arq Bras Cardiol. 2018; 110(5):412-417 portadores de cardiomiopatia chagásica crônica com história de arritmia ventricular maligna apresentaram maior frequência de resultado não negativo de microalternância de onda T quando comparados a pacientes sem ocorrência prévia de arritmias, sugerindo que a TWA pode ter um papel na estratificação de risco de MSC na doença de Chagas. O trabalho usou o software da Cambridge Heart, que utiliza eletrodos especiais (de alta resolução), com a metodologia SM. Seus resultados são expostos em termos de TWA negativa e não negativa (positiva + indeterminados), sendo essa comparada aos negativos. Esse trabalho reforça que a cardiomiopatia chagásica apresenta um verdadeiro substrato arritmogênico confirmado pela TWA.

  • Minieditorial referente ao artigo Associação entre Microalternância de Onda T e Arritmias Ventriculares Malignas na Doença de Chagas

References

  • 1
    Rubart D, Zipes P. Mechanisms of sudden cardiac death. J Clin Invest. 2005;115(9):2305-15.
  • 2
    Fabre A, Sheppard MN. Sudden adult death syndrome and other nonischaemic causes of sudden cardiac death. Heart. 2006;92(3):316-20.
  • 3
    Thompson PD, Franklin BA, Balady GJ, Blair SN, Corrado N, Estes NA rd, et al. Exercise and acute cardiovascular events: Placing the risks into perspective: A scientific statement from the American Heart Association Council on Nutrition, Physical Activity, and Metabolism and the Council on Clinical Cardiology - In collaboration with the American College of Sports Medicine. Circulation. 2007;115(17):2358-68.
  • 4
    Weiss JN, Karma A, Shiferaw Y, Chen PS, Garfinkel A, Chu Z. From pulsus to pulseless: The saga of cardiac alternans. Circ Res. 2006;98(10):1244-53.
  • 5
    Hering HE. Experimentelle studien an s¨augetieren ¨uber das elektrocardiogram. Zeitschrift f ¨ur experimentelle Pathologie und Therapie. 1909;7:363-78.
  • 6
    Adam DR, Akselrod S, Cohen RJ. Estimation of ventricular vulnerability to fibrillation through T-wave time series analysis. Comput Cardiol. 1981;8:307-10.
  • 7
    Zareba W, Piotrowicz K, McNitt S, Moss AJ, MADIT II Investigators. Implantable cardioverter-defibrillator efficacy in patients with heart failure and left ventricular dysfunction (from the MADIT II Population). Am J Cardiol. 2005;95(12):1487-91.
  • 8
    Salerno-Uriarte JA, De Ferrari GM, Klersy C, Pedretti RF, Tritto M, Sallusti L, et al.Prognostic value of T-wave alternans in patients with heart failure due to nonischemic cardiomyopathy-results of the ALPHA study. J Am Coll Cardiol. 2007;50(19):1896-904.
  • 9
    Exner DV, Kavanagh KM, Slawnych MP, Mitchell LB, Ramadan D, Aggarwal SG, et al. Noninvasive risk assessment early after a myocardial infarction- the REFINE study. J Am Coll Cardiol. 2007;50(24):2275-84.
  • 10
    Nieminen T, Lehtimaki T, Viik J, Lehtinen R, Nikus K, Koobi T, et al. T-wave alternans predicts mortality in a population undergoing a clinically indicated exercise test. Eur Heart J. 2007;28(19):2332-7.
  • 11
    Ikeda T, Yoshino H, Sugi K, Tanno K, Shimizu H, Watanabe J, et al. Predictive value of microvolt T-wave alternans for sudden cardiac death in patients with preserved cardiac function after acute myocardial infarction results of a collaborative cohort study. J Am Coll Cardiol. 2006;48(11):2268-74.
  • 12
    Bloomfield DM, Steinman RC, Namerow PB, Paredes M, Davidenko J, Kaufman ES, et al. Microvolt T-wave alternans distinguishes between patients likely and patients not likely to benefit from implanted cardiac defibrillator therapy: A solution to the multicenter automatic defibrillator implantation trial (MADIT) II conundrum. Circulation. .2004;110(14):1885-9.
  • 13
    Bloomfield D, Hohnloser SH, Cohen RJ. Interpretation and classification of microvolt T wave alternans tests. J Cardiovasc Electrophysiol 2002;13(5):502-12.
  • 14
    Hohnloser SH. T wave alternans. In: Zipes D, Jalife J, eds. Cardiac electrophysiology, 6th ed. Philadelfia, PA: Elsevier Inc.; 2013. p.665-76.
  • 15
    Merchant FM, Armoundas AA. Role of substrate and triggers in the genesis of cardiac alternans, from myocyte to the whole heart: implications for therapy. Circulation 2012;125(3):539-49.
  • 16
    Hagjoo M, Arya A, Sadr-Ameli MA. Microvolt T-wave alternans: a review of techniques, interpretation, utility, clinical studies and future perspectives. Int J Cardiol 2006;109(3):293-306.
  • 17
    Garcia EV, Pastore CA, Samesima N, Pereira Filho HG. T-wave alternans: desempenho clínico, limitações, metodologias de análise. Arq Bras Cardiol 2011;96(3):e53-e61.
  • 18
    Smith JM, Clancy EA, Valeri CR,Ruskin JN, Cohen RJ. Electrical alternans and cardiac electrical instability. Circulation. 1988;77(1):110-21.
  • 19
    Rosenbaum DS, Jackson LE, Smith JM, Garan H, Ruskin JN, Cohen RJ. Electrical alternans and vulnerability to ventricular arrhythmias. N Engl J Med. 1994;330(4):235-41.
  • 20
    Nearing BD, Verrier RL. Modified moving average analysis of T-wave alternans to predict ventricular fibrillation with high accuracy. J Appl Physiol. 2002;92(2):541-9.
  • 21
    de Oliveira Antunes M, Samesima N, Pereira Filho HG, Matsumoto AY, Pastore CA, Arteaga-Fernandez E, et al. Exercise-induced quantitative microvolt T-wave alternans in hypertrophic cardiomyopathy. J Electrocardiol. 2017;50(2):184-90.
  • 22
    Odozynski G, Dal Forno AR, Lewandowski A, Nascimento HG, d’Avila A. Ablação de fibrilação atrial paroxística em mulheres:compreendendo a diferença entre gêneros. Arq Bras Cardiol. 2018; 110(5):412-417

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Maio 2018
Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC Avenida Marechal Câmara, 160, sala: 330, Centro, CEP: 20020-907, (21) 3478-2700 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil, Fax: +55 21 3478-2770 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@cardiol.br