Acessibilidade / Reportar erro

A Cilindromania em Valvopatia de Volta para o Futuro

Doenças das Valvas Cardíacas; Estetoscópios / utilização; Auscultação Cardíaca / tendências

Chamei o instrumento de cilindro e experimentei modos de construir [...] Paris tornou-se um centro de treinamento estetoacústico [...] a cilindromania se espalhou [...] pacientes de vários países preferiam ser examinados por quem estivesse capacitado ao cilindro1Grinberg M. Laënnec e o estetoscópio. Símbolos da clínica moderna. Arq Bras Cardiol. 1995;65(1):65-72..

Preâmbulo

A progressiva queda do glamour de ser propedeuta restringiu a aplicação da cardioestetoausculta de excelência em valvopatia (CEAEV).

O Brasil preserva grupos de "Stethophyllus sp" (STH), espécimes raros de cardiologistas que formam colônias de prática de CEAEV, em ambientes cercados de tecnologia por todos os lados. Incluo-me.

Esclareça-se: o STH não é antiquário, a CEAEV não é jurássica e o estetoscópio não é peça que falta no museu. Súdito da clínica soberana, o STH crê na vitaliciedade do estetoscópio e no forte poder integrador do ponto de partida da CEAEV com os demais achados do multissensorial exame físico, conceitos da ciência e informações pela tecnologia2Lembo NJ, Dell'Italia LJ, Crawford MH, O'Rourke RA. Bedside diagnosis of systolic murmurs. N Engl J Med. 1988;318(24):1572-8.,3Rappaport MB, Sprague HB. Physiologic and physical laws that govern auscultation and their clinical application: the acoustic stethoscope and the electrical amplifying stethoscope and stethosgraph. Am Heart J. 1941;21:257-318..

O STH aceita que a época áurea do cilindro de Laënnec morreu junto com William Bart Osler, há cerca de 100 anos4Markel H. The stethoscope and the art of listening. N Engl J Med. 2006;354(6):551-3.. Mas ele entende que a fidelidade deve persistir. Não há por que conjeturar que a CEAEV diante da ecodopplercardiografia terá o destino que a percussão cardíaca teve, superada pela radiografia.

Presente do Passado

A CEAEV é herança "tombada". Um início possível da formação do patrimônio é a profecia de Robert Hooke (1653-1703): "Ouvi claramente o batimento do coração humano [...] quem sabe, pelos sons dos movimentos dos órgãos internos possamos descobrir as tarefas efetuadas em vários escritórios e lojas do corpo humano, e daí reconhecermos que instrumento ou máquina está com defeito5McKusick VA, Sharpe WD, Warner AO. An exhibition oh the history of cardiovascular sound including the evolution of the sthetoscope. Bull Hist Med. 1957;31(5):463-87.."

Cerca de um século depois, a invenção do estetoscópio facilitou observar que variedades de ruídos cardíacos correlacionavam-se com peculiaridades anatômicas valvares encontradas post mortem6Leatham A. Auscultation of the heart. Lancet. 1958;272(7050):757-66.,7Reynolds HY. President's address: R.T.H. Laënnec, M.D.--clinicopathologic observations using the sthetoscope, made chest Medicine more scientific. Trans Am Clin Climatol Assoc. 2004;115:1-29. e influenciou o modo pelo qual o clínico passou a interagir com o paciente7Reynolds HY. President's address: R.T.H. Laënnec, M.D.--clinicopathologic observations using the sthetoscope, made chest Medicine more scientific. Trans Am Clin Climatol Assoc. 2004;115:1-29..

O cilindro de Laënnec tornou-se símbolo das chamadas técnicas cognitivas6Leatham A. Auscultation of the heart. Lancet. 1958;272(7050):757-66.. E do médico, por ser objeto pessoal disponível 24 horas de todos os dias, portátil, leve e maleável, que dispensa ambiente especial e dá presteza à exteriorização da ruidosa fonte sonora em que o coração se transforma pela ocorrência de valvopatia. E mais, não está atrelado a orientações de aplicação em diretrizes. Livros compactaram as informações, mas não desprezaram as sistematizações.

A ausência de comunicações originais recentes sobre novos ruídos cardíacos revela esgotamento da geração do conhecimento e um "nada a acrescentar" à utilidade semiológica8Vukanovic-Criley JM, Criley S, Warde CM, Boker JR, Guevara-Matheus L, Churchill WH et al. Competency in cardiac examination skills in medical students, trainees, physicians and faculty: a multicenter study. Arch Intern Med. 2006;166(6):610-6.,9Hanna IR, Silverman ME. A history of cardiac auscultation and some of its contributors. Am J Cardiol. 2002;90(3):259-67.. O primeiro aconteceu após pesquisas sobre bases fisiológicas, e não há previsão do aparecimento de uma inédita modalidade de valvopatia acompanhada por um sopro ainda desconhecido. O segundo é atestado como: "O ponto de partida é a realização de anamnese e exame físico completos, com destaque para a ausculta cardíaca1010 Tarasoutchi F, Montera MW, Grinberg M, Barbosa MR, Piñeiro DJ, Sánchez CR, et al. Diretriz brasileira de valvopatias. SBC 2011 / I Diretriz Interamericana de Valvopatias - SIAC 2011. Arq Bras Cardiol. 2011;97(5 supl. 3):1-67.."

Certos comportamentos de privação do raciocínio clínico, no decorrer .da anamnese e do exame físico, resultaram de conhecidas mudanças do ser médico e, por conseguinte, do ser cardiologista1111 Fred HL. Hyposkillia: deficiency of clinical skills. Tex Heart Inst J. 2005;32(3):255-7.. Não é difícil perceber, nas cinco gerações que convivem atualmente na cardiologia brasileira, amplas variações da construção de hipóteses diagnósticas pari passu com cada fato ou dado recolhido.

A documentação apressada, sem o uso da razão para aprofundamentos, pôs ladeira abaixo a concentração e a atenção seletiva sobre cada ruído cardíaco, paciente a paciente. Em consequência, a curva do aprendizado e a linha de manutenção das habilidades em propedêutica por audição ficaram altamente imobilizadas. Além disso, os "manuais de uso", livros detalhados sobre a CEAEV, deixaram de ser reeditados há décadas por carência de demanda, levando à contingência do conhecimento ao saber do professor e aos livros gerais de cardiologia.

Uma premissa pedagógica é cruel: o que não se aprendeu não há como ensinar. E o efeito dominó ficou notório entre nós: a derrubada, geração sobre geração de cardiologistas, da hipocrática transmissão por professores referências. É fenômeno universal. Nos Estados Unidos, por exemplo, a queda da proficiência na ausculta cardíaca alertou para o alto potencial de prejuízos na expertise para o diagnóstico à beira do leito1212 Mangione S, Nieman LZ, Gracely E, Kaye D. The teaching and practice of cardiac auscultation during internal Medicine and cardiology training: A Nationwide Survey. Ann Intern Med. 1993;119(1):47-54.. É obscuro, contudo, se houve efeitos positivos da inquietação8Vukanovic-Criley JM, Criley S, Warde CM, Boker JR, Guevara-Matheus L, Churchill WH et al. Competency in cardiac examination skills in medical students, trainees, physicians and faculty: a multicenter study. Arch Intern Med. 2006;166(6):610-6.,1313 Mangione S, Nieman LZ. Cardiac auscultation skills of internal medicine and family practice trainees: a comparison of diagnostic proficiency. JAMA. 1997;278(9):712-22..

Explicações para a decaída do zelo com a CEAEV giram em torno do fator tempo, da não compensação financeira e da visão de "terceirização" da destreza diagnóstica para exames de imagem, como a ecodopplercardiografia8Vukanovic-Criley JM, Criley S, Warde CM, Boker JR, Guevara-Matheus L, Churchill WH et al. Competency in cardiac examination skills in medical students, trainees, physicians and faculty: a multicenter study. Arch Intern Med. 2006;166(6):610-6.,1313 Mangione S, Nieman LZ. Cardiac auscultation skills of internal medicine and family practice trainees: a comparison of diagnostic proficiency. JAMA. 1997;278(9):712-22.

14 Tavel ME. Cardiac auscultation: a glorious past and it does have a future! Circulation. 2006;113(9):1255-9.
-1515 Craige E. Should auscultation be rehabilitated? N Engl J Med. 1988;318(24):1611-3..

Por outro lado, a ampliação tecnológica do estetoscópio, com o objetivo de trazer ganho ao ensino por meio de amplificação, gravação, reprodução, visual gráfico e simultaneidade de auscultadores, não se tornou disponível para a continuidade assistencial do aprendizado.

Não há como negar, a CEAEV nutre-se do interesse em praticá-la. O "treino do ouvido" apoiado em outros dados do exame físico cardiovascular reproduz como os antigos faziam e, integrado com os demais métodos disponíveis, é vantagem sobre os antigos1414 Tavel ME. Cardiac auscultation: a glorious past and it does have a future! Circulation. 2006;113(9):1255-9.. A CEAEV, pois, é guia da beira do leito para "diálogos" com métodos complementares.

O Brasil do início do século XXI presencia a convivência da cardiopatia reumática do jovem, não decrescente, e da estenose aórtica do idoso, crescente, nos ambulatórios de valvopatia. A CEAEV dá padronização observacional às várias faixas etárias. É uma das razões pelas quais a CEAEV desatenciosa deprecia: a) explicação para dados da anamnese; b) encaminhamento da positividade diagnóstica; c) alerta de valvopatia até então desconhecida. Ademais, desatenção com os ruídos cardíacos abrevia, por tabela, o acolhedor e pró-terapêutico vínculo médico-paciente9Hanna IR, Silverman ME. A history of cardiac auscultation and some of its contributors. Am J Cardiol. 2002;90(3):259-67.,1515 Craige E. Should auscultation be rehabilitated? N Engl J Med. 1988;318(24):1611-3.

16 Sackett DL. The rational clinical examination: a primer on the precision and accuracy of the clinical examination. JAMA. 1992;267(19):2638-44.
-1717 Sackett DL, Rennie D. The science of the art of the clinical examination [Editorial.] JAMA. 1992;267(19):2650-2..

O STH

O STH pode esgotar um diagnóstico com rapidez, completude, alta especificidade, excelente relação de custo-benefício e satisfação pessoal - por exemplo, a insuficiência importante da valva mitral causada pela rotura de corda tendínea. Ele não tem necessidade de muito mais ação propedêutica para explicar a insuficiência cardíaca aguda e grave, e para conjeturar a terapêutica etiopatogênica.

O STH não é saudosista. Ele enxerga benefício renovado no patrimônio propedêutico construído por notáveis mestres da semiótica3Rappaport MB, Sprague HB. Physiologic and physical laws that govern auscultation and their clinical application: the acoustic stethoscope and the electrical amplifying stethoscope and stethosgraph. Am Heart J. 1941;21:257-318., muitos deles eternizados como epônimos e transformados em metonímia (auscultei um Austin Flint, o Rivero Carvallo desapareceu, o Gallavardin esclareceu).

O STH destaca que a CEAEV pode ter papel relevante na aplicação de inovações. Na década de 1980, foi o aparecimento de um sopro sistólico no decorrer da sequência de dilatações na valvoplastia mitral por cateter-balão que passou a marcar a finalização terapêutica, a fim de evitar o desenvolvimento da insuficiência mitral aguda no afã de maximizar a área valvar mitral.

O STH reconhece, todavia, que a modernidade tecnológica dispensa certas etapas da CEAEV clássica e, inclusive, as elimina dos programas de capacitação. É o caso da quantificação do período de tempo entre a segunda bulha e o estalido de abertura da mitral - 0,04-0,10 s -, como índice do grau de hipertensão atrial esquerda e, ipso facto, da gravidade da estenose mitral.

Com esse conceito, e ciente das limitações de captação dos ruídos e do silêncio de morfologias de vulto, como trombos e vegetações, o STH empenha-se pela segurança em se posicionar sobre não raras dissociações de informações. Exemplo desse compromisso ético "revisor" da tecnologia é o juízo sobre a chance de uma identificação de regurgitação valvar discreta ao Doppler, não por ele auscultada, ser achado verdadeiro ou falso positivo.

Uma Questão Essencial

Vale formular: STH, qual é o papel atual da CEAEV no diagnóstico da lesão valvar no Brasil (subtendendo o uso do estetoscópio convencional)?

O STH que faz "válvula", especialmente o que associa deveres de ensino, responderá com um categórico indispensável. Claro, ele sabe que é minoria na cardiologia, mas justificará que, para dar um sólido núcleo ao diagnóstico, a CEAEV não é nem um exame complementar nem um exame supérfluo para admitir opções de nível de aplicação. A tecnologia não é um inimigo da CEAEV, a preocupação é com o mau uso da mesma1818 Mangione S. The stethoscope as a metaphor. Cleve Clin J Med. 2012;79(8):545-6..

O STH aproveitará a ocasião e se manifestará solidário e à disposição de colegas que, embora fora da ilha, responderiam de modo semelhante a ele, lamentando razões pelas quais não adquiriram a expertise ou vieram a atrofiar pelo desuso. Mas ele enxergará reducionista se o argumento for que é a sobrecarga de trabalho que sacrifica o empenho do cardiologista pela CEAEV.

Advogados do diabo não faltam fora das ilhas. Eles apregoam que há apologia da CEAEV nas "desculpas" pelas imprecisões com variações individuais e efeitos de janela acústica1515 Craige E. Should auscultation be rehabilitated? N Engl J Med. 1988;318(24):1611-3., que ela é um luxo para poucos e uma perda de tempo para muitos, e que há mais qualidade de informações quantitativas e hemodinâmicas em outros métodos8Vukanovic-Criley JM, Criley S, Warde CM, Boker JR, Guevara-Matheus L, Churchill WH et al. Competency in cardiac examination skills in medical students, trainees, physicians and faculty: a multicenter study. Arch Intern Med. 2006;166(6):610-6.,1313 Mangione S, Nieman LZ. Cardiac auscultation skills of internal medicine and family practice trainees: a comparison of diagnostic proficiency. JAMA. 1997;278(9):712-22..

Diante das opiniões sobre rebaixamento da hierarquia da CEAEV, o STH lembra que é complexo atribuir causas a uma "não ausculta" ou a uma "ausculta esquisita", que o incomum e o áfono nunca deixarão de existir. E reforça o lema do profissionalismo do STH: boa ausculta, melhor diagnóstico.

O subjetivismo sobre veracidades e falsidades da CEAEV, embora criticável, sempre acompanhou o estado da arte. É histórico como a caracterização da CEAEV originou-se em casos isolados verdadeiramente positivos e se desenvolveu na constatação da baixa chance de falso negativo em pequenos grupos afins de pacientes, tendo como referências necropsia, cateterismo cardíaco e fonomecanocardiografia.

Empecilhos a conjeturas de estudos randomizados, duplo-cegos, multicêntricos mantêm o clima de alto enfoque observacional nas ilhas - recorde-se que Austin Flint (1812-1886) celebrizou-se pela observação de dois casos, e José Manuel Rivero Carvallo (1905-1993) relatou 11 casos, 10 positivos.

Alguns poucos estudos, até por vieses de variedade de etiopatogenia e de diversidade de padrão de referência para grau de gravidade8Vukanovic-Criley JM, Criley S, Warde CM, Boker JR, Guevara-Matheus L, Churchill WH et al. Competency in cardiac examination skills in medical students, trainees, physicians and faculty: a multicenter study. Arch Intern Med. 2006;166(6):610-6.,1313 Mangione S, Nieman LZ. Cardiac auscultation skills of internal medicine and family practice trainees: a comparison of diagnostic proficiency. JAMA. 1997;278(9):712-22.,1919 Babu AN, Kymes SM, Carpenter Fryer SM. Eponyms and the diagnosis of aortic regurgitation: what says the evidence? Ann Intern Med. 2003;138(9):736-42., não forneceram resultados para a construção de evidências. Como traduzir para a prática a sensibilidade do sopro de Austin Flint variando de 0-50% em insuficiência aórtica discreta a moderada e de 52-100% em insuficiência aórtica moderada a importante?1919 Babu AN, Kymes SM, Carpenter Fryer SM. Eponyms and the diagnosis of aortic regurgitation: what says the evidence? Ann Intern Med. 2003;138(9):736-42.

Por outro lado, a CEAEV apresenta alta sensibilidade e alta especificidade para a identificação de portadores assintomáticos de valvopatia com as finalidades de check-up, liberação para procedimentos cirúrgicos, admissão de trabalho e planejamento de atividades esportivas2020 Roldan CA, Shively BK, Crawford MH. Value of the cardiovascular physical examination for detecting valvular heart disease in asymptomatic subjects. Am J Cardiol. 1996;77:1327-31..

A rotina "que satisfaz" o STH rejuvenesce a CEAEV. A jovialidade, por sua vez, é ímã da vontade de ferro da mocidade pelas boas práticas da cardiologia. A atração já deu passos promissores.

Perspectivas

O STH está esperançoso. Ele tem motivos para crer nas comemorações do bicentenário da invenção do estetoscópio, a acontecer em 2016, além de uma protocolar reverência histórica ao período entre dois criativos: o clínico bretão Réné Théophile Hyacinte Laënnec (1721-1826) e o cardiologista David Littmann (1906-1981), da Harvard Medical School. O STH prevê espaço para celebrar a reconquista do gosto pela CEAEV na força jovem do ser médico brasileiro.

Um bem tomado pode ser retomado, nos ensinou Lúcio Aneu Sêneca (4 a.C.-65 d.C.). Em medicina, o atavismo hipocrático providencia. O STH sente o sopro de ventos favoráveis, dando movimento à percepção de que existir como médico requer a capacitação para extrair por si próprio o maior número possível de informações do paciente. Jovens ainda na graduação ou já na pós-graduação aproveitam a oportunidade de estágio opcional e vão ao encontro do STH.

Entre março de 2012 e dezembro de 2013, por exemplo, o expressivo número de 175 jovens, entre estudantes e residentes provenientes de 70% dos estados brasileiros, frequentaram ad libitum uma movimentada colônia universitária de STH de atenção terciária a portadores de valvopatia.

Sabe-se como a motivação dá agudeza aos sentidos e a dedicação diuturna eleva a autoestima. Ficou nítido como essa combinação teve o mérito de despertar nos aprendizes de STH, a cada lição apreendida com os próprios órgãos dos sentidos, a vontade de chegar ao máximo da captação dos ruídos, debruçar-se mais e mais sobre o paciente, percorrer focos, procurar posições, fazer manobras e o anseio pelo ouvido do STH - mestre para descobrir o ainda inaudível ou esclarecer o já auscultado.

O Brasil mantém as vantagens da garimpagem e da lapidação das variadas preciosidades semióticas em valvopatia "diretamente da fonte" e não em frios manequins providos de gravadores. As circunstâncias reais de cada exame provocam pontos de referência facilitadores e reforçadores da retenção e recordação. Dessa forma, torna-se natural o acúmulo da riqueza sonora da representação da normalidade ou anormalidade do ritmo cardíaco, da abertura (estalido de abertura da mitral, sopro de Austin Flint) e do fechamento das valvas (primeira e segunda bulhas), do enchimento ventricular (terceira e quarta bulhas), do deflúvio atrioventricular, da ejeção e da regurgitação (sopros característicos, estalidos, manobras de Valsalva e Rivero-Carvallo), da contração atrial (acentuação pré-sistólica) e da inflamação (atrito pericárdico, sopro de Carey Coombs, sopro contínuo na fístula por endocardite infecciosa).

Oxalá cada um desses jovens - e muitos mais - se torne um multiplicador. Que seus estetoscópios sejam real metáfora da medicina arte e ciência1818 Mangione S. The stethoscope as a metaphor. Cleve Clin J Med. 2012;79(8):545-6.. É a hipocrática contribuição do STH para o ressurgimento da CEAEV pelo Brasil afora. Será a cilindromania de volta para o futuro!

  • Contribuição dos autores
    Concepção e desenho da pesquisa, Obtenção de dados, Redação do manuscrito e Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Grinberg M.
  • Potencial conflito de interesse
    Declaro não haver conflito de interesses pertinentes.
  • Fontes de financiamento
    O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.
  • Vinculação acadêmica
    Não há vinculação deste estudo a programas de pós-graduação.

References

  • 1
    Grinberg M. Laënnec e o estetoscópio. Símbolos da clínica moderna. Arq Bras Cardiol. 1995;65(1):65-72.
  • 2
    Lembo NJ, Dell'Italia LJ, Crawford MH, O'Rourke RA. Bedside diagnosis of systolic murmurs. N Engl J Med. 1988;318(24):1572-8.
  • 3
    Rappaport MB, Sprague HB. Physiologic and physical laws that govern auscultation and their clinical application: the acoustic stethoscope and the electrical amplifying stethoscope and stethosgraph. Am Heart J. 1941;21:257-318.
  • 4
    Markel H. The stethoscope and the art of listening. N Engl J Med. 2006;354(6):551-3.
  • 5
    McKusick VA, Sharpe WD, Warner AO. An exhibition oh the history of cardiovascular sound including the evolution of the sthetoscope. Bull Hist Med. 1957;31(5):463-87.
  • 6
    Leatham A. Auscultation of the heart. Lancet. 1958;272(7050):757-66.
  • 7
    Reynolds HY. President's address: R.T.H. Laënnec, M.D.--clinicopathologic observations using the sthetoscope, made chest Medicine more scientific. Trans Am Clin Climatol Assoc. 2004;115:1-29.
  • 8
    Vukanovic-Criley JM, Criley S, Warde CM, Boker JR, Guevara-Matheus L, Churchill WH et al. Competency in cardiac examination skills in medical students, trainees, physicians and faculty: a multicenter study. Arch Intern Med. 2006;166(6):610-6.
  • 9
    Hanna IR, Silverman ME. A history of cardiac auscultation and some of its contributors. Am J Cardiol. 2002;90(3):259-67.
  • 10
    Tarasoutchi F, Montera MW, Grinberg M, Barbosa MR, Piñeiro DJ, Sánchez CR, et al. Diretriz brasileira de valvopatias. SBC 2011 / I Diretriz Interamericana de Valvopatias - SIAC 2011. Arq Bras Cardiol. 2011;97(5 supl. 3):1-67.
  • 11
    Fred HL. Hyposkillia: deficiency of clinical skills. Tex Heart Inst J. 2005;32(3):255-7.
  • 12
    Mangione S, Nieman LZ, Gracely E, Kaye D. The teaching and practice of cardiac auscultation during internal Medicine and cardiology training: A Nationwide Survey. Ann Intern Med. 1993;119(1):47-54.
  • 13
    Mangione S, Nieman LZ. Cardiac auscultation skills of internal medicine and family practice trainees: a comparison of diagnostic proficiency. JAMA. 1997;278(9):712-22.
  • 14
    Tavel ME. Cardiac auscultation: a glorious past and it does have a future! Circulation. 2006;113(9):1255-9.
  • 15
    Craige E. Should auscultation be rehabilitated? N Engl J Med. 1988;318(24):1611-3.
  • 16
    Sackett DL. The rational clinical examination: a primer on the precision and accuracy of the clinical examination. JAMA. 1992;267(19):2638-44.
  • 17
    Sackett DL, Rennie D. The science of the art of the clinical examination [Editorial.] JAMA. 1992;267(19):2650-2.
  • 18
    Mangione S. The stethoscope as a metaphor. Cleve Clin J Med. 2012;79(8):545-6.
  • 19
    Babu AN, Kymes SM, Carpenter Fryer SM. Eponyms and the diagnosis of aortic regurgitation: what says the evidence? Ann Intern Med. 2003;138(9):736-42.
  • 20
    Roldan CA, Shively BK, Crawford MH. Value of the cardiovascular physical examination for detecting valvular heart disease in asymptomatic subjects. Am J Cardiol. 1996;77:1327-31.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Set 2014

Histórico

  • Recebido
    28 Jan 2014
  • Revisado
    28 Jan 2014
  • Aceito
    29 Abr 2014
Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC Avenida Marechal Câmara, 160, sala: 330, Centro, CEP: 20020-907, (21) 3478-2700 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil, Fax: +55 21 3478-2770 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@cardiol.br