Resumos
O ácido úrico, um produto metabólico das purinas, pode exercer um papel na cicatrização de tecidos. Nesta revisão, será explorado o seu papel no alarme inicial do processo inflamatório que é necessário para o reparo tissular, bem como a sua atuação neutralizadora de radicais livres de oxigênio, mobilizadora de células endoteliais progenitoras e favorecedora da atuação do sistema imunológico adaptativo.
Ácido úrico; Cicatrização; Radicais livres de oxigênio; Inflamação
Uric acid, a metabolic product of purines, may exert a role in tissue healing. In this review we will explore its role as an alarm initiating the inflammatory process that is necessary for tissue repair, as a scavenger of oxygen free radicals, as a mobilizer of progenitor endothelial cells and as supporter of adaptive immune system.
Acid; Cicatrization; Oxygen free radical; Inflammation
INTRODUÇÃO
Danos nos tecidos podem ocorrer a partir de uma variedade de estímulos nocivos: infecções, trauma, insultos químicos, radiação, falta de oxigênio e nutrientes. A cicatrização adequada requer uma resposta coordenada onde os eventos são rapidamente organizados e ocorrem sequencialmente, envolvendo vários tipos de células. Plaquetas, células do sistema imunológico, fibroblastos, células endoteliais e queratinócitos trabalham de forma encadeada para restaurar homeostase1515. Ostvar O, Shadvar S, Yahaghi E, Azma K, Fayyaz AF, Ahmadi K et al. Effect of platelet-rich plasma on the healing of cutaneous defects exposed to acute to chronic wounds: a clinico-histopathologic study in rabbits. Diagn Pathol. 2015; 10:85-91..
Logo após o dano tissular, as plaquetas são envolvidas na formação do coágulo para limitar a perda de sangue e fornecer proteção para os tecidos subjacentes; as plaquetas também são um reservatório de fatores de crescimento e de citocinas liberados mediante degranulação1515. Ostvar O, Shadvar S, Yahaghi E, Azma K, Fayyaz AF, Ahmadi K et al. Effect of platelet-rich plasma on the healing of cutaneous defects exposed to acute to chronic wounds: a clinico-histopathologic study in rabbits. Diagn Pathol. 2015; 10:85-91.,2525. Soneja A, Drews M, Malinski T. Role of nitric oxide, nitroxidative and oxidative stress in wound healing. Pharmacol Rep. 2005; 57 Suppl:108-19.,2929. Weibric G, Buch RS, Kleis WK, Hafner G, Hitzler WE, Wagner W. Quantification of thrombocyte growth factors in platelet concentrates produced by discontinuous cell separation. Growth Factors. 2002; 20:93-7.. O sistema imune inato desencadeia a inflamação, promovendo infiltração local dos leucócitos cujo papel principal é o de eliminar os micro-organismos invasores, fagocitar restos celulares e ativar queratinócitos e fibroblastos2525. Soneja A, Drews M, Malinski T. Role of nitric oxide, nitroxidative and oxidative stress in wound healing. Pharmacol Rep. 2005; 57 Suppl:108-19.. Sequencialmente, os queratinócitos migram para a derme ferida e proliferam formando o tecido de granulação que tem por finalidade restaurar a função de barreira da pele. Os fibroblastos invadem o coágulo e ocorre a angiogênese. Depois disso, em um processo mais lento, a remodelação de tecidos, comandada pelos fibroblastos que produzem colágeno, leva à formação da cicatriz2525. Soneja A, Drews M, Malinski T. Role of nitric oxide, nitroxidative and oxidative stress in wound healing. Pharmacol Rep. 2005; 57 Suppl:108-19..
A ocorrência desses eventos requer um trabalho coordenado no qual existe, por primeiro, um sistema de detecção, contenção e reparação dos danos causados às células. Este sistema é composto por sinais que iniciam o processo de aviso e por células que respondem a eles através de receptores e sinalizadores das vias adequadas2525. Soneja A, Drews M, Malinski T. Role of nitric oxide, nitroxidative and oxidative stress in wound healing. Pharmacol Rep. 2005; 57 Suppl:108-19.. Neste sistema o ácido úrico (AU) parece desempenhar vários papéis.
O AU é gerado pelo metabolismo das purinas na maior parte dos mamíferos2828. Watanabe S, Kang DH, Feng L, Nakagawa T, Kanellis J, Lan H, et al. Uric acid,hominoid evolution and the pathogenesis of salt hypersensitivity. Hypertension 2002; 40: 355-60.. Em espécies inferiores, a alantoína é degradada por uma enzima chamada uricase existente no fígado, resultando em níveis muito baixos de ácido úrico no soro2828. Watanabe S, Kang DH, Feng L, Nakagawa T, Kanellis J, Lan H, et al. Uric acid,hominoid evolution and the pathogenesis of salt hypersensitivity. Hypertension 2002; 40: 355-60.. No entanto, nos seres humanos, uma mutação genética ocorrida na escala evolutiva, provavelmente na fase tardia do período do Mioceno, tornou a uricase não functionante2828. Watanabe S, Kang DH, Feng L, Nakagawa T, Kanellis J, Lan H, et al. Uric acid,hominoid evolution and the pathogenesis of salt hypersensitivity. Hypertension 2002; 40: 355-60.. Acredita-se que esta seleção ocorreu por causa dos efeitos benéficos do ácido úrico como antioxidante e pelo seu papel na defesa contra tumores1212. Maes BC, Cathcart R, Schwiers E, Hochstein P. Uric acid provides an antioxidant defense in humans against oxidant and radical causing aging and cancer. Proc Natl Acad Sci USA, 1981; 78:6658-62.. Além disso, a capacidade do AU para reter sódio e aumentar a pressão sanguínea pode ter sido considerada benéfica em situações de escassez de alimentos1212. Maes BC, Cathcart R, Schwiers E, Hochstein P. Uric acid provides an antioxidant defense in humans against oxidant and radical causing aging and cancer. Proc Natl Acad Sci USA, 1981; 78:6658-62.,2828. Watanabe S, Kang DH, Feng L, Nakagawa T, Kanellis J, Lan H, et al. Uric acid,hominoid evolution and the pathogenesis of salt hypersensitivity. Hypertension 2002; 40: 355-60.. No entanto, com a mudança dos hábitos alimentares da dieta moderna, que são ricas em precursores de sal e de ácido úrico, tais como a frutose, tem-se observado que AU está associado com hipertensão, doença arterial coronária, doença vascular periférica, insuficiência renal e acidentes vasculares cerebrais88. Feig DI, Kang DH, Johnson RJ. Uric acid and cardiovascular risk. N Engl J Med. 2008; 359:1811-21.,1616. Panoulas VF, Milionis HJ, Douglas KM, Nightingale P, Kita MD, Klocke R, et al. Association of serum uric acid with cardiovascular disease in rheumatoid arthritis. Rheumatology 2007; 46: 1466-70..
Portanto, o AU parece desempenhar um papel duplo no estresse oxidativo: como antioxidante no espaço extracelular e pró-oxidante dentro da célula44. Daoussis D, Kitas GD. Uric acid and cardiovascular risk in rheumatoid arthritis Rheumatology 2011; 50: 1354-5.,1616. Panoulas VF, Milionis HJ, Douglas KM, Nightingale P, Kita MD, Klocke R, et al. Association of serum uric acid with cardiovascular disease in rheumatoid arthritis. Rheumatology 2007; 46: 1466-70.. O AU é solúvel no interior das células, mas precipita-se facilmente no meio extracelular formando microcristais de urato monossódico (MSU) 1313. Marco E. Bianchi. DAMPs, PAMPs and alarmins: all we need to know about danger. J Leukoc Biol. 2007; 81:1-5..
Nesta revisão, será explorada a ação do AU na cicatrização de tecidos.
O ÁCIDO ÚRICO COMO SINAL DE ALERTA
Nosso organismo precisa distinguir se as suas células estão saudáveis ou danificadas e deve ser capaz de detectar quando existe invasão por micro-organismos para, assim, desencadear os mecanismos de defesa e reparação. Como esses mecanismos são ativados e orquestrados ainda não é completamente compreendido, mas sabe-se que uma série de receptores nas células dendríticas são responsáveis ?pelo in?cio do processo. Alguns dos receptores melhor estudados s?o os receptores para PAMPS e DAMPSpelo início do processo. Alguns dos receptores melhor estudados são os receptores para PAMPS e DAMPS1313. Marco E. Bianchi. DAMPs, PAMPs and alarmins: all we need to know about danger. J Leukoc Biol. 2007; 81:1-5..
PAMPs ou Padrão Molecular Associado a Patógeno é um conjunto diversificado de moléculas compartilhadas por vários micro-organismos e que são vitais para a sua sobrevivência. Os PAMPs são reconhecidos principalmente através de receptores toll-like (TLRs), presentes em células apresentadoras de antígenos e que ativam tanto a resposta imune inata como a adaptativa1313. Marco E. Bianchi. DAMPs, PAMPs and alarmins: all we need to know about danger. J Leukoc Biol. 2007; 81:1-5.
Quando a lesão não é causada por um micro-organismo, mas por outro agente, tal como um trauma, este processo é iniciado por uma alarmina1010. Janeway Jr CA, Medzhitov R. Innate immune recognition. Annu. Rev. Immunol. 2002; 20: 197-216.,1313. Marco E. Bianchi. DAMPs, PAMPs and alarmins: all we need to know about danger. J Leukoc Biol. 2007; 81:1-5.. Assim, as alarminas podem ser consideradas como o "equivalente estéril de dos PAMPs". O grupo formado por alarminas e PAMPS são reconhecidos, em seu conjunto, como DAMPS ou Padrão Molecular Associados a Danos1313. Marco E. Bianchi. DAMPs, PAMPs and alarmins: all we need to know about danger. J Leukoc Biol. 2007; 81:1-5..
As alarminas consistem, normalmente, em um grupo de moléculas intracelulares que são liberadas rapidamente após a morte não programada de células (necrose), mas não por apoptose1313. Marco E. Bianchi. DAMPs, PAMPs and alarmins: all we need to know about danger. J Leukoc Biol. 2007; 81:1-5.. Elas ativam células que expressam o receptor específico (geralmente uma célula dendrítica) e que recrutam o sistema imune inato, levando a inflamação - que é um evento necessário para promover a reconstrução tecidual1010. Janeway Jr CA, Medzhitov R. Innate immune recognition. Annu. Rev. Immunol. 2002; 20: 197-216.,1313. Marco E. Bianchi. DAMPs, PAMPs and alarmins: all we need to know about danger. J Leukoc Biol. 2007; 81:1-5..
O AU é considerado como sendo uma alarmina importante lançada na circulação pelas células necróticas2222. Shi Y, Evans JE, Rock KL. Molecular identification of a danger signal that alerts the immune system to dying cells. Nature 2003; 425: 516-21.. Esta molécula estimula a maturação das células dendríticas que desencadeiam inflamação1313. Marco E. Bianchi. DAMPs, PAMPs and alarmins: all we need to know about danger. J Leukoc Biol. 2007; 81:1-5.. O aumento do AU no soro após dano tissular foi demonstrado em ratos por Patschan et al.1717. Patschan D, Patschan S, Gobe GG, Chintala S, Goligorsky MS. Uric acid heralds ischemic tissue injury to mobilize endothelial progenitor cells. J Am Soc Nephrol. 2007; 18:1516-24 em um modelo de lesão renal induzida por isquemia. Eles descreveram que, após um período de isquemia de 30 min, a concentração sistêmica de AU estava elevada significativamente, mas, que foi restaurada ao normal no prazo de 1 h, indicando que este é um processo rapidamente reversível.
O ÁCIDO ÚRICO COMO NEUTRALIZADOR DE ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO
Várias células inflamatórias, tais como os neutrófilos, macrófagos, células endoteliais e fibroblastos, produzem espécies reativas de oxigênio (ROS) durante o processo de cicatrização tecidual2525. Soneja A, Drews M, Malinski T. Role of nitric oxide, nitroxidative and oxidative stress in wound healing. Pharmacol Rep. 2005; 57 Suppl:108-19.. ROS são todos os radicais de oxigênio que têm um grande potencial oxidativo e maior reatividade do que o oxigênio molecular. Os principais membros deste grupo são: o oxigênio singlet, o ânion superóxido, o peróxido de hidrogênio e o radical hidroxila (OH-)2525. Soneja A, Drews M, Malinski T. Role of nitric oxide, nitroxidative and oxidative stress in wound healing. Pharmacol Rep. 2005; 57 Suppl:108-19..
Os agentes oxidantes são importantes no processo de coagulação porque aumentam o recrutamento de a ativação de plaquetas induzida pelo colágeno33. Chung AW, Radomski A, Alonso-Escolano D, Jurasz P, Stewart MW, Malinski TR, et al. Platelet-leukocyte aggregation induced by PAR agonists: regulation by nitric oxide and matrix metalloproteinases. Br J Pharmacol. 2004; 143: 845-55.,99. Herkert O, Diebold I, Brandes RP, Hess J, Busse R, Gorlach A. NADPH oxidase mediates tissue factor-dependent surface procoagulant activity by thrombin in human vascular smooth muscle cells. Circulation 2002; 105: 2030-6.,2121. Sen CK. The general case for redox control in wound repair. Wound Rep Reg, 2003; 11: 431-438.,2525. Soneja A, Drews M, Malinski T. Role of nitric oxide, nitroxidative and oxidative stress in wound healing. Pharmacol Rep. 2005; 57 Suppl:108-19.. Eles também afetam a quimiotaxia de neutrófilos e facilitam a aderência de neutrófilos e monócitos na matriz extracelular e endotelial1414. Nakamura H, Herzenberg LA, Bai J, Araya S, Kondo N, Nishinaka Y, Yodoi J. Circulating thioredoxin suppresses lipopolysaccharide induced neutrophil chemotaxis. Proc Natl Acad Sci USA 2001; 98: 15143-8.. Os ROS ajudam na re-epitelização, por ativar a expressão da colagenase e mediar produção de EGF (fator de crescimento epidérmico). Além disso, eles favorecem a angiogênese por melhorar a afinidade do FGF-2 (fator de crescimento de fibroblastos) ao seu receptor1818. Peus D, Vasa RA, Meves A, Pott M, Beyerle A, Squillace K, Pittelkow MR. H2O2 is an important mediator of UVB-induced EGF-receptor phosphorylation in cultured keratinocytes. J Invest Dermatol. 1998; 110: 966-71.,2121. Sen CK. The general case for redox control in wound repair. Wound Rep Reg, 2003; 11: 431-438.,2525. Soneja A, Drews M, Malinski T. Role of nitric oxide, nitroxidative and oxidative stress in wound healing. Pharmacol Rep. 2005; 57 Suppl:108-19..
No entanto, os agentes oxidantes têm que ser neutralizados para evitar danos às células hospedeiras. Se o delicado equilíbrio entre a quantidade de oxidante e antioxidantes produzida falhar, ocorrem alterações na homeostase que levam ao estresse oxidativo3030. Yeoh-Ellerton S, Stacey MC. Iron and 8-isoprostane levels in acute and chronic wounds. J Invest Dermatol. 2003 ; 121: 918-25..
Estresse oxidativo tem sido demonstrado em feridas crônicas, como úlceras venosas3030. Yeoh-Ellerton S, Stacey MC. Iron and 8-isoprostane levels in acute and chronic wounds. J Invest Dermatol. 2003 ; 121: 918-25.. Yeoh et ai Ellerton3030. Yeoh-Ellerton S, Stacey MC. Iron and 8-isoprostane levels in acute and chronic wounds. J Invest Dermatol. 2003 ; 121: 918-25. provaram que, em secreções de úlcera venosa crônica, há altos níveis de 8-isoprostano - que é derivado de prostaglandinas gerado pela ação de ROS sobre os ácidos graxos a partir de fosfolípideos de membrana. O estresse oxidativo prolonga a inflamação e prejudica tanto a migração como as propriedades sintéticas de fibroblastos dérmicos e queratinócitos2525. Soneja A, Drews M, Malinski T. Role of nitric oxide, nitroxidative and oxidative stress in wound healing. Pharmacol Rep. 2005; 57 Suppl:108-19.
O AU é um poderoso neutralizador de radicais livres e responde por 60% da capacidade de eliminação dos mesmos no plasma77. Fabbrini E, Serafini M, Baric IC, Hazen SL, Klein S. Effect of plasma uric acid on antioxidant capacity, oxidative stress, and insulin sensitivity in obese subjects. Diabetes 2014; 63:976-81.. É considerado um dos antioxidantes mais poderosos no sangue de seres humanos e em pássaros11. Ames BN, Cathcart R, Schwiers E, Hochstein P. Uric acid provides an antioxidant defense in humans against oxidant- and radical-caused aging and cancer: a hypothesis. Proc Natl Acad Sci USA 1981; 78: 6858-62.,1919. S, Mughal MR, Chan SL, Arumugam TV, Baharani A, Tang SC, et al. A synthetic uric acid analog accelerates cutaneous wound healing in mice. PLoS One. 2010 6;5:e10044.. Alguns estudos demonstraram que existe benefício na administração intraperitoneal ou intravenosa de AU em modelos experimentais de várias desordens que envolvem aumento do estresse oxidativo, incluindo esclerose múltipla55. DC, Bagasra O, Marini JC, Zborek A, Ohnishi ST, et al. Prevention of experimental allergic encephalomyelitis by targeting nitric oxide and peroxynitrite: implications for the treatment of multiple sclerosis. Proc Natl Acad Sci USA 1997; 94: 2528-33., Alzheimer1111. Keller JN, Kindy MS, Holtsberg FW, St Clair DK, Yen HC, et al. Mitochondrial manganese superoxide dismutase prevents neural apoptosis and reduces ischemic brain injury: suppression of peroxynitrite production, lipid peroxidation, and mitochondrial dysfunction. J Neurosci 1998; 18: 687-97., acidentes vasculares cerebrais3131. Yu ZF, Bruce-Keller AJ, Goodman Y, Mattson MP. Uric acid protects neurons against excitotoxic and metabolic insults in cell culture, and against focal ischemic brain injury in vivo. J Neurosci Res 1998; 53: 613-25. e lesões da medula espinhal2020. Scott GS, Cuzzocrea S, Genovese T, Koprowski H, Hooper DC. Uric acid protects against secondary damage after spinal cord injury. Proc Natl Acad Sci USA 2005; 102: 3483-8.. Infelizmente, o AU é relativamente insolúvel e forma cristais tóxicos, o que reduz a sua aplicabilidade clínica. Chigurupati et al.1919. S, Mughal MR, Chan SL, Arumugam TV, Baharani A, Tang SC, et al. A synthetic uric acid analog accelerates cutaneous wound healing in mice. PLoS One. 2010 6;5:e10044. desenvolveram um análogo de AU, com maior solubilidade e com uma atividade antioxidante potente e demonstraram que ele tem bom efeito na cicatrização de úlceras em modelos animais.
O PAPÈL DO ACIDO URICO COMO MOBILIZADOR DE CÉLULAS PROGENITORAS ENDOTELIAIS (EPCS)
Tem sido demonstrado que o AU pode acelerar o recrutamento de EPCs (células progenitoras endoteliais)1717. Patschan D, Patschan S, Gobe GG, Chintala S, Goligorsky MS. Uric acid heralds ischemic tissue injury to mobilize endothelial progenitor cells. J Am Soc Nephrol. 2007; 18:1516-24. Em um estudo muito elegante, Patschan et al.2424. Shi Y, Zheng W, Rock KL. Cell injury releases endogenous adjuvants that stimulate cytotoxic T cell responses. Proc Natl Acad Sci USA. 2000; 97: 14590-5., utilizando camundongos tratados com diferentes doses de AU identificaram que esta molécula atua como mediadora endógena da mobilização de EPC, atuando rapidamente em resposta à isquemia de tecidos. Este efeito era dependente da dose e do tempo da elevação do AU. Estes autores sugeriram que o AU pode ser usado para o pré-condicionamento farmacológico de EPCs.
O ÁCIDO ÚRICO E O SEU PAPEL NO SISTEMA IMUNOLÓGICO ADAPTATIVO
A depleção do AU pelo alopurinol reduz a imunidade aos antígenos de células transplantadas2424. Shi Y, Zheng W, Rock KL. Cell injury releases endogenous adjuvants that stimulate cytotoxic T cell responses. Proc Natl Acad Sci USA. 2000; 97: 14590-5.. Quando o AU é co-injetado com antígenos in vivo, aumenta significativamente a produção de respostas de células T CD8+ 2323. Shi Y, Galusha SA, Rock KL. Cutting edge: elimination of an endogenous adjuvant reduces the activation of CD8 T lymphocytes to transplanted cells and in an autoimmune diabetes model. J Immunol. 2006; 176: 3905-8.. Acredita-se que o AU promove aumento de resposta das células T devido ao seu papel na ativação da apresentação de antígeno2323. Shi Y, Galusha SA, Rock KL. Cutting edge: elimination of an endogenous adjuvant reduces the activation of CD8 T lymphocytes to transplanted cells and in an autoimmune diabetes model. J Immunol. 2006; 176: 3905-8.,2424. Shi Y, Zheng W, Rock KL. Cell injury releases endogenous adjuvants that stimulate cytotoxic T cell responses. Proc Natl Acad Sci USA. 2000; 97: 14590-5..
Os linfócitos desempenham um papel fundamental na defesa tumoral através da indução da morte de células neoplásicas por citotoxicidade e por inibir a proliferação e migração das células tumorais22. Caserta S, Borger JG, Zamoyska R. Central and effector memory CD4 and CD8 T-cell responses to tumor-associated antigens. Crit Rev Immunol. 2012; 32:97-126.. Assim, um nível elevado de AU está associado a um melhor prognóstico no câncer, o que, de fato, foi encontrado por Dziaman et al.66. Dziaman T, Banaszkiewicz Z, Roszkowski K, Gackowski D, Wisniewska E, Rozalski R, et al. Oxo-7,8-dihydroguanine and uric acid as efficient predictors of survival in colon cancer patients- Int J Cancer. 2014; 134: 376-83.. Estes autores demostraram que o tempo de sobrevida de pacientes com câncer colorretal é maior naqueles com níveis mais elevados de AU no soro. Além disso, eles mostraram em um grande estudo de 1.823 homens com câncer de pulmão, colorretal e próstata que os níveis séricos AU elevados, protegem contra a mortalidade por câncer2727. Taghizadeh N, Vonk JM, Boezen HM.Serum uric acid levels and cancer mortality risk among males in a large general population-based cohort study. Cancer Causes Control. 2014 ; 25: 1075-80.. No entanto, esta ação de proteção tumoral do AU não é aceita por todos2626. Stotz M, Szkandera J, Seide J, Stojakovic T, Samonigg H, Reitz D, et al. Evaluation of uric acid as a prognostic blood-based marker in a large cohort of pancreatic cancer patients. PLoS One. 2014; 9: e104730..
CONCLUSÕES
Existem várias lacunas no conhecimento sobre o papel do AU no microambiente das feridas. Apesar disso, existem claras sugestões de que a continuidade de estudos sobre o papel inflamatório e imunológico desta molécula pode oferecer novas maneiras de compreender a base da cicatrização do tecido e de como manipulá-lo para o benefício dos pacientes.
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Fonte de financiamento: não há
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Nov-Dec 2015
Histórico
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Recebido
10 Mar 2015 -
Aceito
18 Jun 2015