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SÍNDROME EM QUESTÃO

Você conhece esta síndrome?*

Fernanda de Oliveira VianaI; Luíza Helena dos Santos CavaleiroI; Clívia Maria Moraes de Oliveira CarneiroII; Maraya de Jesus Semblano BittencourtIII; Renata Silva BarrosIV; Diana Mendes da FonsecaI

IMédica residente do serviço de dermatologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) - Belém (PA), Brasil

IIMestra em doenças tropicais pela Universidade Federal do Pará (UFPA) - Professora-Adjunta do Serviço de Dermatologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) - Belém (PA), Brasil

IIIMestra em Doenças Tropicais pela Universidade Federal do Pará (UFPA) - Médica da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará - Belém (PA), Brasil

IVPreceptora da residência médica de dermatologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) - Belém (PA), Brasil

Correspondência Endereço para Correspondência: Fernanda de Oliveira Viana Rua Tibúrcio Cavalcante - 2777 - Ap 702 - Dionísio Torres CEP: 60125101 Fortaleza - CE E-mail: nandinhaviana@hotmail.com

RESUMO

Xeroderma pigmentoso é uma rara doença genética que se caracteriza por hipersensibilidade à radiação ultravioleta e defeitos da reparação do DNA, que favorece o desenvolvimento de neoplasias cutâneas e anormalidades oculares. Alguns indivíduos apresentam alterações neurológicas. Descreve-se o caso de criança de dois anos de idade a qual apresentava a síndrome de DeSanctis-Cacchione, com deterioração neurológica grave e associação com esquizencefalia. Na classificação clínica atual do xeroderma pigmentoso, este termo é reservado para casos com graves alterações neurológicas, associados a nanismo e desenvolvimento sexual imaturo. A associação de xeroderma pigmentoso e esquizencefalia ainda foi não relatada na literatura.

Palavras-chave: Enzimas reparadoras do DNA; Genes recessivos; Reparo do DNA; Xeroderma pigmentoso

RELATO DO CASO

Criança com dois anos e 10 meses, sexo masculino, apresentava ao exame dermatológico máculas acastanhadas (algumas ceratócisas e entremeadas por máculas hipocrômicas), na face, e lesão pápulo-eritematosa sangrante, no lábio superior, associada a lesões maculares puntiformes hipocrômicas e acastanhadas no abdome e membros (Figuras 1 e 2). Exame clínico demonstrou importante retardo do crescimento e desenvolvimento, microcefalia, hipotonicidade e hiporreflexia generalizadas, fotofobia, hipogonadismo e distensão abdominal. Perímetro cefálico de 38,5 cm, torácico de 38 cm e abdominal de 40 cm (Figuras 2 e 3). Apresentava, ainda, crises convulsivas desde o nascimento. Exame anatomopatólogico de lesão sangrante no lábio: granuloma piogênico. A tomografia computadorizada do crânio mostrou esquizencefalia de lábio aberto à direita, calcificações periventriculares, ausência de septo pelúcido e dilatação dos ventrículos laterais. Na RMN de crânio, foi evidenciada a dilatação supratentorial, esquizencefalia, agenesia do septo pelúcido e displasia septo-óptica. A avaliação oftalmológica, com reflexo vermelho positivo e simétrico, pouca resposta à luminosidade e alteração dos reflexos pupilares. O ECG e o ecocardiograma, normais. Cariótipo normal, 46XY. A endoscopia digestiva alta: hérnia hiatal de deslizamento. USG de bolsa escrotal não visualizou testículos e epidídimo, com ausência de testículos ectópicos. Sorologias para HIV, herpes, toxoplasmose e CMV negativas. Os achados clínicos e os exames complementares foram compatíveis com a síndrome de DeSanctis-Cacchione.




DISCUSSÃO

Xeroderma pigmentoso (XP) é doença de transmissão autossômica recessiva, rara, com frequência de um caso para 250.000 nascimentos, podendo afetar ambos os sexos e qualquer raça.1,2 Clinicamente, são caracterizados por eritema com descamação e hiperpigmentação difusa ou lesões semelhantes à efélides, principalmente, nas áreas fotoexpostas, que, em regra, iniciam-se nos primeiros anos de vida.1 As lesões apresentam alto risco de progressão para neoplasias, como carcinoma basocelular, espinocelular e melanomas. Há ainda maior predisposição para neoplasias, em órgãos internos, tais como: pulmão, rim e cérebro. Acredita-se que seu desenvolvimento ocorra a partir de um defeito no processo de excisão e reparação do ácido desoxirribonucléico.2,3 Existem oito tipos de XP: A, B, C, D, E, F, G e V, produzidos por mutações em diferentes genes. Os pacientes com os subtipos A, B, D, F e G apresentam associação com sintomas neurológicos.3 A forma mais severa é representada pela síndrome de DeSanctis-Cacchione, que se associa ao grupo A e apresenta alterações no gene, localizado no cromossomo 9q22.3, no qual codifica a proteína ligadora de DNA danificado 1.1,4 No passado, qualquer indivíduo, com XP e alterações neurológicas, fora descrito como portador da síndrome de DeSanctis-Cacchione. Atualmente, este termo é reservado para portadores de XP que apresentam severa doença neurológica, nanismo e desenvolvimento sexual imaturo. A síndrome completa é reconhecida em poucos indivíduos. Esta apresenta manifestações cutâneas de XP, microcefalia, deficiência mental progressiva, retardo no crescimento físico e no desenvolvimento sexual, perda da audição, a corioatetose, a ataxia e, eventualmente, a quadriparesia.1-5 Outras manifestações podem ocorrer, entre as quais: a epilepsia, a surdez neurossensorial, a espasticidade, a hiporreflexia ou a arreflexia, as paralisias, os tumores cerebrais e as alterações no eletroencefalograma.6 Como as lesões cutâneas, mucosas e oculares refletem a ação nociva da luz solar, o comprometimento do sistema nervoso central demonstra a heterogeneidade e a gravidade da doença. Destacamos, no nosso caso, a presença de esquizencefalia, a qual se define como fenda, com persistência de espessa e rica camada de substância cinzenta na profundidade, de extensão do córtex até o ventrículo e com orientação simétrica bilateralmente.7 É considerada uma anomalia da migração neuronal, e pode apresentar associação com heterotopias nodulares subependimais, septo pelúcido incompleto ou ausente e hipoplasia ou atrofia do tálamo. Anteriormente, os achados de tomografia computadorizada, descritos na síndrome de DeSanctis Cacchione, incluem: a atrofia cortical, a dilatação ventricular, a atrofia olivopontocerebelar e a microcefalia.1,8-10 Na literatura, a associação de esquizencefalia e XP ainda não foi referida. O prognóstico da síndrome é reservado, podendo inclusive haver risco de morte. Não há tratamento específico, porém o paciente deve evitar a exposição solar e outros fatores que causem alterações no DNA. Descrevemos um caso de síndrome de DeSanctis-Cacchione, que apresentava grave alteração neurológica e somática, destacando a raridade desta forma de XP, com apenas 60 casos descritos na literatura mundial e a associação, ainda não descrita, de esquizencefalia com XP.6

Recebido em 26.12.2010.

Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 06.04.2011.

Conflito de interesse: Nenhum

Suporte financeiro: Nenhum

Referências bibliográficas

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    Fernanda de Oliveira Viana
    Rua Tibúrcio Cavalcante - 2777 - Ap 702 - Dionísio Torres
    CEP: 60125101 Fortaleza - CE
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    Trabalho realizado no Serviço de dermatologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) - Belém (PA), Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Dez 2011
    • Data do Fascículo
      Out 2011
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