Resumos
O nevo de Meyerson ocorre quando uma rara erupção eczematosa focal e transitória surge ao redor de lesões melanocíticas. O mesmo fenômeno também foi observado em lesões não melanocíticas. O caso relatado é o de um doente masculino, 25 anos, que há dois meses notara surgimento de eritema e prurido, circundando dois nevos, localizados no abdome. As lesões eram atípicas à dermatoscopia e procedeu-se à excisão cirúrgica dos dois nevos. O exame histopatológico revelou nevos melanocíticos compostos displásicos, envolvidos por espongiose e vesículas intraepidérmicas. O presente relato sugere que o fenômeno de Meyerson não modifica as características dermatoscópicas dos nevos.
Dermoscopia; Nevo; Nevo pigmentado
Meyerson nevi occur whenever a rare focal and transitory eczematous eruption arises around melanocytic lesions. The same phenomenon has also been observed in non-melanocytic lesions as well. Herein we report the case of a 25 year old, male patient, who had noticed, two months before, the arising of a pruriginous and erithematous halo around two nevi localized on his abdomen. The lesions were found to be atypical on dermoscopic examination and he was submitted to surgical excision of both nevi. Histopathological examination revealed displastic compound melanocytic nevi, surrounded by intraepidermical vesicles and spongiosis. Present report suggests that Meyerson phenomenon does not seem to alter dermoscopic features of nevi.
Dermoscopy; Nevus; Nevus, pigmented
CASO CLÍNICO
Avaliação clínica, dermatoscópica e histopatológica do nevo de Meyerson - relato de caso* * Trabalho realizado na Divisão de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) - São Paulo (SP), Brasil.
Tatiana Villas Boas GabbiI; Erick D. OmarII; Paulo R. CriadoIII; Neusa Y. S. ValenteIV; José Eduardo C. MartinsV
IMédica especialista assistente da Divisão de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) - São Paulo (SP), Brasil
IIMédico ex-residente da Divisão de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) - São Paulo (SP), Brasil
IIIMédico supervisor-doutor da Divisão de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) - São Paulo (SP), Brasil
IVMédica pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica 53 Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) - São Paulo (SP), Brasil
VProfessor titular da Divisão de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) - São Paulo (SP), Brasil
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Tatiana Villas Boas Gabbi Divisão de Clínica Dermatológica do Hospital das Clínicas da FMUSP Av. Enéas de Carvalho Aguiar, 255- 3o. andar 05403-000 São Paulo - SP Tel/Fax 11 5044 1008 / 3237 2419 Email: gabbi@uol.com.br
RESUMO
O nevo de Meyerson ocorre quando uma rara erupção eczematosa focal e transitória surge ao redor de lesões melanocíticas. O mesmo fenômeno também foi observado em lesões não melanocíticas. O caso relatado é o de um doente masculino, 25 anos, que há dois meses notara surgimento de eritema e prurido, circundando dois nevos, localizados no abdome. As lesões eram atípicas à dermatoscopia e procedeu-se à excisão cirúrgica dos dois nevos. O exame histopatológico revelou nevos melanocíticos compostos displásicos, envolvidos por espongiose e vesículas intraepidérmicas. O presente relato sugere que o fenômeno de Meyerson não modifica as características dermatoscópicas dos nevos.
Palavras-chave: Dermoscopia; Nevo; Nevo pigmentado
INTRODUÇÃO
Em 1971, Meyerson descreveu dois pacientes os quais apresentavam eritema, descamação e prurido, envolvendo exclusivamente nevos, localizados no tronco e nas extremidades proximais, e após a terapêutica com corticosteroides tópicos1, apresentaram melhora. Desde então, esse mesmo fenômeno vem sendo descrito em diversas lesões pigmentadas, incluindo nevos juncionais, nevos de Sutton, nevos atípicos2 e congênitos.3 Em lesões não melanocíticas, também foi documentado, tais como: carcinomas basocelulares, carcinomas espinocelulares, queratoses seborreicas, queloides, histiocitofibromas e picadas de insetos.4 A seguir, relataremos o caso de um paciente jovem segundo o qual apresentou clinicamente dois nevos de Meyerson e no qual, naquele instante, pôde-se documentar os achados dermatoscópicos e histopatológicos deste raro fenômeno.
RELATO DE CASO
Um paciente do sexo masculino, hígido, de 25 anos de idade, branco, procurou o serviço de Dermatologia do nosso hospital, queixando-se de erupção, sendo que, dois meses antes, ele havia notado dois nevos localizados no abdome. (Figura 1A). Além disso, o indivíduo não apresentava outras queixas ou comorbidades e negava uso de medicações. Ao exame dermatológico, notavam-se duas lesões papulosas e acastanhadas, localizadas na região abdominal, circundadas por um halo de eritema e edema e encimadas por crostas (Figura 1A). Havia outros poucos nevos comuns, distribuídos em todo o corpo, porém estes estavam poupados. A dermatoscopia sugeriu o diagnóstico de lesão melanocítica, com atipia nos dois casos (Figuras 1B e 2). Um dos nevos (Figura 2) apresentava assimetria em dois eixos, quatro cores diferentes e presença de áreas amorfas e glóbulos periféricos, levando a um escore (TDS) de 5.3, de acordo com a regra do ABCD, descrita por Stolz et al.5 A outra lesão mostrou aspecto semelhante e uma combinação de padrões: globular no centro e reticular na periferia, com discreta assimetria e presença de mais de uma coloração (Figura 1B). A excisão cirúrgica foi realizada nos dois nevos. O exame histopatológico confirmou os achados dermatoscópicos e revelou nevos melanocíticos, com espongiose e vesiculação na epiderme, ao redor e no componente epidérmico dos nevos (Figuras 3 e 4). Havia ninhos de melanócitos, localizados na junção dermoepidérmica e na derme superior, além de pontes de melanócitos entre as cristas epiteliais e fibroplasia na derme papilar (Figura 3). No maior aumento, era possível visualizar alguns melanócitos atípicos. Os nevos foram diagnosticados como nevos compostos atípicos, com dermatite espongiótica associada (Figura 4).
DISCUSSÃO
A fisiopatologia envolvida nesses casos permanece desconhecida. Hipóteses como: pitiríase rósea restrita ao nevo,1 exposição solar, dermatite subaguda alérgica e reação imunológica3 foram sugeridas. O nosso doente negava exposição solar ou alergias. O fenômeno de Meyerson tende a afetar adultos jovens, sem doenças associadas, como parece ser o caso do nosso paciente.
Os aspectos clínicos do nevo de Meyerson são de um halo eczematoso, simétrico, pruriginoso, o qual surge ao redor de uma lesão pigmentada. Na literatura, um halo assimétrico também já foi descrito.2 Recentemente, Longo e colaboradores6 publicaram um caso de nevo de Meyerson atípico que não apresentava sinais claros de eczema, apesar do paciente se queixar de prurido leve no local. O eczema associado pode ou não resolver após o tratamento com corticosteroides tópicos em creme. O clareamento do eczema, assim que ocorre a excisão apenas do nevo, também já foi descrita.7 Ao contrário do nevo de Sutton, o nevo de Meyerson persiste, depois que há a resolução do halo de eczema.3
A histopatologia mostra um nevo, geralmente composto, com dermatite associada.3 No presente caso, os dois nevos excisados eram compostos.
A inflamação presente no eczema pode ser vista como áreas hipopigmentadas e de aspecto cicatricial na dermatoscopia.2,6 No mesmo artigo mencionado anteriormente,6 Longo e colaboradores optaram por remover cirurgicamente um nevo de Meyerson, baseados na dermatoscopia - que havia revelado uma lesão suspeita: áreas hipopigmentadas multifocais e áreas de regressão, com alguns pontos marrons esparsos.
O presente relato denota que o fenômeno de Meyerson não modifica as características dermatoscópicas dos nevos. Nosso paciente foi submetido à cirurgia em face da forte suspeita de nevos atípicos, baseada nos achados do exame dermatoscópico, o que foi posteriormente confirmado pela histopatologia.
AGRADECIMENTO
Agradecemos ao Dr. Gustavo Alonso Pereira, médico colaborador do Ambulatório de Tumores - HCFMUSP, pela análise e descrição do exame dermatoscópico das lesões apresentadas neste trabalho.
Recebido em 09.04.2008.
Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 30.04.2010.
Conflito de interesse: Nenhum / Conflict of interest: None
Suporte financeiro: Nenhum / Financial funding: None
- 1. Meyerson LB. A peculiar papulosquamous eruption involving pigmented nevi. Arch Dermatol. 1971; 103:510-2.
- 2. Elenitsas R, Halpern AC. Eczematous halo reaction in atypical nevi. J Am Acad Dermatol. 1996; 34:357-61.
- 3. Kus S, Ince U, Candan I, Gurunluoglu R. Meyerson phenomenon associated with dysplastic compound nevi. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2006; 20:350-1.
- 4. Tegner E, Björnberg A, Jonsson N. Halo dermatitis around tumours. Acta Derm Venereol. 1990;70:31-4.
- 5. Braun RP, Rabinovitz HS, Oliviero M, Kopf AW, Saurat JH. Dermoscopy of pigmented skin lesions. J Am Acad Dermatol. 2005; 52:10-21.
- 6. Longo C, Segura S, Cesinaro AM, Bassoli S, Seidenari S, Pellacani G. An atypical Meyerson's naevus: a dermoscopic, confocal microscopic and immunohisto chemical description of one case. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2007; 21:414-6.
- 7. Cox NH, Bloxham CA, Lawrence CM. Halo eczema: resolution after excision of the central naevus alone. Clin Exp Dermatol. 1991; 16:66-7.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
02 Dez 2010 -
Data do Fascículo
Out 2010
Histórico
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Aceito
30 Abr 2010 -
Recebido
09 Abr 2008