Open-access Desempenho de novilhos de corte alimentados com dietas contendo quantidades crescentes de concentrado associado à forragem de aveia (Avena strigosa) tratada com uréia

Performance of beef steers fed on diets containing increasing amounts of concentrate associated to oat (Avena strigosa) forage treated with urea

Resumos

Este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito dos níveis 40, 55 e 70% de concentrado associados a um volumoso de baixa qualidade sobre o consumo e ganho de peso de 16 novilhos mestiços, castrados, com 10 meses de idade e peso vivo inicial médio de 312kg, em delineamento inteiramente ao acaso, com três repetições, durante 63 dias. O volumoso usado foi a aveia (Avena strigosa), tratada com uréia e o concentrado era constituído de milho, farelo de arroz, farelo de soja e minerais. Todas as dietas foram ajustadas para conter 12% de proteína bruta. Houve resposta positiva e linear à proporção de concentrado na dieta, para as variáveis ganho de peso diário e consumo de matéria seca expresso em kg/animal/dia, em percentagem do peso vivo e em g por kg de peso metabólico em função da proporção de concentrado na dieta. Houve resposta linear negativa para conversão alimentar. O consumo de matéria seca e o ganho de peso diário aumentaram na medida em que se elevou a proporção de concentrado na dieta. O volumoso de baixa qualidade empregado possivelmente limitou o consumo e conseqüentemente o aporte de nutrientes.

Bovino; confinamento; desempenho; nível de concentrado


This experiment was undertaken to evaluate the effect of 40, 55 and 70% of concentrate, associated with a low-quality roughage, on the intake and weight gain of 16 crossbred steers, with an average age of 10 months and 312kg of initial liveweight in a completely ramdomized design with three replicates during 63 days. The roughage consisted of oat (Avena strigosa) treated with urea and the concentrate consisted of corn, rice bran, soybean meal and minerals. All diets contained 12% crude protein. A positive linear response was observed for daily weight gain and dry matter intake (expressed either as kg/animal/day, percentage of live weight or metabolic weight), and a negative linear response was observed for feed:gain ratio. The dry matter intake and daily weight gain increased as the concentrate content became higher. The low quality of the roughage possibly limited the feed and nutrient intake of the animals.

Cattle; feedlot; concentrate level; performance


Desempenho de novilhos de corte alimentados com dietas contendo quantidades crescentes de concentrado associado à forragem de aveia (Avena strigosa)tratada com uréia

[Performance of beef steers fed on diets containing increasing amounts of concentrate associated to oat (Avena strigosa) forage treated with urea]

F.M. Vargas Jr.1, L.M. Bonnecarrère Sanchez2, L.L. Pascoal2, M.V.M. Oliveira3,

P.A. Carvalho4, D. Montagner5, A. Weber5, I.T. Bolzan5

1Doutorando em Zootecnia - Departamento de Produção e Exploração Animal

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP - Botucatu

Distrito de Rubião Júnior, s/n

18618-000 – Botucatu, SP

2Departamento de Zootecnia da UFSM

3Doutorando em Zootecnia da UFV

4Mestrando do Departamento de Zootecnia da UFLA

5Mestre em Zootecnia

Recebido para publicação em 20 de março de 2001.

Recebido para publicação, após modificações, em 25 de março de 2002

E-mail: vargasjr@fca.unesp.br

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito dos níveis 40, 55 e 70% de concentrado associados a um volumoso de baixa qualidade sobre o consumo e ganho de peso de 16 novilhos mestiços, castrados, com 10 meses de idade e peso vivo inicial médio de 312kg, em delineamento inteiramente ao acaso, com três repetições, durante 63 dias. O volumoso usado foi a aveia (Avena strigosa), tratada com uréia e o concentrado era constituído de milho, farelo de arroz, farelo de soja e minerais. Todas as dietas foram ajustadas para conter 12% de proteína bruta. Houve resposta positiva e linear à proporção de concentrado na dieta, para as variáveis ganho de peso diário e consumo de matéria seca expresso em kg/animal/dia, em percentagem do peso vivo e em g por kg de peso metabólico em função da proporção de concentrado na dieta. Houve resposta linear negativa para conversão alimentar. O consumo de matéria seca e o ganho de peso diário aumentaram na medida em que se elevou a proporção de concentrado na dieta. O volumoso de baixa qualidade empregado possivelmente limitou o consumo e conseqüentemente o aporte de nutrientes.

Palavras-chave: Bovino, confinamento, desempenho, nível de concentrado

ABSTRACT

This experiment was undertaken to evaluate the effect of 40, 55 and 70% of concentrate, associated with a low-quality roughage, on the intake and weight gain of 16 crossbred steers, with an average age of 10 months and 312kg of initial liveweight in a completely ramdomized design with three replicates during 63 days. The roughage consisted of oat (Avena strigosa) treated with urea and the concentrate consisted of corn, rice bran, soybean meal and minerals. All diets contained 12% crude protein. A positive linear response was observed for daily weight gain and dry matter intake (expressed either as kg/animal/day, percentage of live weight or metabolic weight), and a negative linear response was observed for feed:gain ratio. The dry matter intake and daily weight gain increased as the concentrate content became higher. The low quality of the roughage possibly limited the feed and nutrient intake of the animals.

Keywords:Cattle, feedlot, concentrate level, performance

INTRODUÇÃO

A terminação de animais jovens em confinamento, além de melhorar a lucratividade, permite significativo aumento da produção e da qualidade da carne. Todavia, é necessário usar animais sadios que apresentem melhor capacidade de conversão alimentar e habilidade de ganhar peso, sendo ainda necessários manejo racional e alimentação balanceada (Vasconcelos, 1993). O confinamento que visa o abate de animais precoces com menos de 15 meses de idade é um desafio, pois trata-se de uma categoria que tem exigências nutricionais muito elevadas, devido à alta deposição de músculos e crescimento dos ossos (Lanna, 1997). Portanto, é necessário usar dietas com elevada densidade energética e protéica, ou seja, grande quantidade de concentrado para poder alcançar o peso de carcaça ideal e a quantidade mínima de gordura de cobertura (Restle, 1997).

Coelho da Silva (1980) adverte que os alimentos concentrados constituem a mais onerosa fração da ração dos ruminantes, devendo ser empregados com o intuito de corrigir as deficiências da dieta, ou seja, apenas para balanceá-la. Assim, é necessário determinar a quantidade ideal de concentrado na dieta para equilibrar a receita. Além disso, o excesso de concentrado também pode causar doenças metabólicas clínicas ou sub-clínicas, limitando o desempenho do animal.

O volumoso é o componente de mais baixo custo na dieta dos bovinos confinados, devendo-se dar atenção especial à sua qualidade nutritiva, pois ela está inversamente relacionada com a necessidade de concentrados na dieta (Ferreira et al., 1986). Para amenizar o problema da estacionalidade das forrageiras deve-se usar volumoso sob forma conservada, ou seja silagem ou feno, os quais permitem colher o material no ponto de melhor valor nutritivo (Pizarro, 1980).

Volumosos em avançado estado de maturação fisiológica podem ter seu valor nutritivo melhorado por tratamentos químicos, como amônia anidra ou uréia. Esses compostos, além de conservar a forragem, reagem com a fração fibrosa, solubilizando a hemicelulose (Fischer et al. 1985; REIS et al., 1995) e a lignina (Buettner et al., 1982) e aumentando a digestibilidade e o consumo desses alimentos (Fischer et al., 1985; Reis, 1989; Ferreira et al., 1990). O aumento do teor de nitrogênio é um dos efeitos mais acentuados (Bonjardim et al. 1992). Males (1987) e Grossi et al. (1993) comprovaram o benefício de volumosos tratados quimicamente ao verificarem aumento da eficiência alimentar.

De acordo com o NRC (1987), o consumo de dietas com alto teor de fibra é controlado por fatores físicos, como enchimento do rume e taxa de passagem da digesta, ao passo que dietas com altos níveis de concentrado (alta densidade energética) têm seu consumo controlado pela demanda energética do animal e por fatores metabólicos.

Assim, o objetivo deste trabalho foi verificar o desempenho de novilhos de corte submetidos a dietas constituídas de volumoso de baixa qualidade nutritiva, planta de aveia colhida tardiamente e tratada com uréia, associado a diferentes níveis de concentrado.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no setor de nutrição animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Usaram-se 16 novilhos mestiços (Nelore/Charolês/Red Angus), castrados, com 10 meses de idade e peso vivo médio inicial de 312kg distribuídos em três tratamentos de acordo com o nível de concentrado (40, 55 ou 70%) na MS da dieta. Os animais foram oriundos de um experimento no qual permaneceram confinados desde o desmame, o que explica o elevado peso vivo inicial. O período de adaptação à nova dieta foi de 21 dias, sendo a colheita de dados de desempenho realizada durante 63 dias.

A percentagem da matéria seca e proteína bruta dos alimentos e as proporções, em MS, dos ingredientes das dietas são apresentados na Tab. 1.

Os tratamentos foram ajustados para conter 12% de proteína bruta, sendo a dieta fornecida duas vezes ao dia. O concentrado era composto de grão de milho, farelo de arroz, farelo de soja, calcário calcítico, sal, enxofre e 1grama/animal/dia do ionóforo lasalocida sódica (utilizado como medida preventiva no combate à eimeriose). Como volumoso usou-se a planta de aveia tratada com uréia. A planta de aveia, em avançado estado de maturação fisiológica, foi ceifada e transportada até o silo, adicionando-se 5% de uréia diluída em água para melhorar a homogeneização, seguindo-se sua vedação por 60 dias. Antes do fornecimento aos animais, o conservado de aveia amonizado era retirado do silo, deixado à sombra por 24h e revolvido duas vezes para que ocorresse volatilização do excesso de amônia. O consumo era medido diariamente e a quantidade de ração ajustada, permitindo consumo à vontade e sobras dentro de um máximo de 5% do fornecido.

Os animais eram pesados após jejum total de sólidos e líquidos de 12-14h, em períodos de 21 dias. As variáveis avaliadas foram ganho de peso médio diário (GMD), consumo de matéria seca expresso em kg/animal/dia (CMS), em percentagem do peso vivo (CMSPV) e em g de MS por kg de peso metabólico (CMSPM), e conversão alimentar (CA).

As análises estatísticas foram realizadas segundo o delineamento experimental inteiramente ao acaso, sendo os novilhos agrupados dois a dois em oito baias, constituindo três repetições por tratamento, à exceção do tratamento com 55% de concentrado que foi composto somente por duas repetições. Os dados foram analisados pelo procedimento GLM do programa estatístico SAS (1990), desdobrando-se o efeito de tratamentos por meio de regressão. No modelo inicial foi colocado o peso inicial como covariável. Por não ter tido efeito significante, foi retirado do modelo final.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tab. 2 mostra as médias e os coeficientes de variação das variáveis GMD, CMS, CMSPV, CMSPM e CA, e as médias dos pesos vivos inicial e final. As Fig. de 1 a 5 referem-se às equações de regressão das variáveis GMD, CMS, CMSPV, CMSPM e CA, com seus respectivos coeficientes de determinação.


O GMD aumentou linearmente à medida que se elevou o nível de concentrado na dieta. Segundo os estudos de Bartle et al. (1994), Ferreira et al. (1997) e Oliveira et al. (1998), a resposta animal à adição de concentrado nas rações é linear, e para Araújo et al. (1997), Tibo et al. (1997) e Gesualdi Junior et al. (2000), a resposta animal é curvilínea. Isto indica que a partir num nível de concentrado, não alcançado neste experimento, chega-se a um ponto máximo de capacidade de resposta, a partir do qual decresce o desempenho animal mesmo com o aumento do nível de concentrado.

Observou-se efeito linear do nível de concentrado nas dietas sobre o CMS, à semelhança dos resultados obtidos por Ladeira et al. (1998) e Dias et al. (2000), os quais usaram níveis de até 75% de concentrado na dieta. Resposta quadrática foi encontrada nos estudos de Berchielli et al. (1989), Araújo et al.(1997), Oliveira et al. (1998) e Gesualdi Júnior et al. (2000). Na literatura tem-se observado que o CMS muitas vezes não é influenciado pelo nível de concentrado nas rações (Hussein et al., 1995; Carvalho et al., 1997; Büger et al., 2000; Cardoso et al., 2000).

Assim, verifica-se que a avaliação de dietas para animais com diferentes níveis de concentrado com vistas a identificar o nível ótimo de concentrado, considerando-se o desempenho animal e a eficiência econômica do sistema, apresenta respostas de GMD e CMS variáveis, que têm como fatores determinantes o sexo, a raça e a idade do animal, além de fatores nutricionais, como a qualidade do volumoso e do concentrado, entre outros.

Ferreira et al. (1986), ao usarem silagem de milho ou cana-de-açúcar associada com três níveis de concentrado (20, 35 e 50% na MS), verificaram que a qualidade do volumoso pode influenciar na resposta do animal. Assim, quando o volumoso empregado foi de baixa qualidade nutritiva, como a cana-de-açúcar, mesmo com o aumento no nível de concentrado na dieta, o GMD não foi influenciado. Quando se usou a silagem de milho, o GMD aumentou significativamente à medida que se elevou o nível de concentrado. Isto mostra a importância de se trabalhar com volumosos de média a alta qualidade, que poderão proporcionar melhor desempenho com o aumento no nível de concentrado na dieta.

As variáveis CMSPV e CMSPM também responderam de forma linear à inclusão de concentrado nas dietas. Ferreira et al. (1997), Ladeira et al.(1998) e Dias et al. (2000) também encontraram resposta linear ao aumento do concentrado na dieta. Oliveira et al. (1998), quando ajustaram o consumo em função do peso metabólico, não observaram efeito da inclusão de concentrado na dieta, e Veira et al. (1994), Araújo et al. (1997) e Tibo et al. (1997) verificaram decréscimo do consumo em relação ao peso vivo quando o nível de concentrado passou de 60%. Büger et al. (2000) encontraram resposta linear negativa para o CMSPV e CMSPM ao aumento do nível de concentrado na dieta.

A CA apresentou resposta linear negativa, ou seja, o aumento do nível de concentrado na dieta resultou em melhor capacidade de converter kg MS em kg de peso vivo. Oliveira et al. (1998), Ferreira et al. (1997) e Gesualdi Júnior et al.(2000) também encontraram resultados semelhantes. A CA entre as variáveis analisadas é a única que apresenta consenso entre os estudos encontrados na literatura, ou seja, com o aumento da inclusão de concentrado na dieta há melhora na CA.

A análise dos dados permite inferir que possivelmente o baixo desempenho encontrado neste experimento seja devido à baixa qualidade nutritiva do volumoso utilizado, apesar do tratamento com uréia ter proporcionado aumento no teor de proteína bruta e possíveis alterações na fração fibrosa. O consumo médio de 2,2% do peso vivo para todos os tratamentos está abaixo do recomendado pelo NRC (1996), de 2,7% do peso vivo.

Outro fato importante é o histórico nutricional que esses animais vinham apresentando antes de entrarem neste experimento. Seu desempenho foi publicado por Vargas Jr. et al. (1998), e, com base nele pode-se inferir que o animais vinham ganhando em média 1,5kg/dia e consumiam 3,5% do peso vivo com uma dieta altamente energética, apresentando portanto excelente estado corporal. Isto pode auxiliar na explicação do atual desempenho, ou seja, reduzido consumo e baixo ganho de peso.

A Tab. 3 refere-se ao consumo de concentrado, consumo de volumoso, custo/tonelada de concentrado, custo/tonelada de volumoso, benefício diário/animal (B), custo diário/animal (C), relação benefício/custo (B/C) e ganho necessário para que fosse obtido pelo menos custo igual ao benefício (B=C), dados em função do nível de concentrado na dieta. O tratamento com 40% de concentrado foi o único que igualou a relação benefício/custo. Os níveis de 55 e 70% apresentaram benefícios negativos, ou seja, o ganho foi inferior ao necessário para cobrir os custos com a alimentação. Os ganhos necessários para empatar o benefício com o custo foram bons, indicando que uma pequena melhora na CA e no ganho de peso possibilitariam uma relação benefício/custo acima de 1.0, o que talvez foi limitado pelo baixo consumo e aproveitamento total da dieta, principalmente no tocante ao volumoso.

CONCLUSÕES

O consumo de MS e o GMD foram baixos com o volumoso empregado, embora tenha ocorrido resposta linear com o aumento da quantidade de concentrado na dieta. Isto possivelmente foi influenciado pelo volumoso, o qual primeiramente limitou o consumo e conseqüentemente o aporte de nutrientes necessários para maior ganho de peso. Ao se trabalhar com uma categoria animal de alta exigência, antes de se elevar o nível de concentrado, deve-se ter em mente que o emprego de um volumoso de baixa qualidade pode limitar em parte o desempenho animal.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2002
  • Data do Fascículo
    Ago 2002

Histórico

  • Aceito
    25 Mar 2002
  • Recebido
    20 Mar 2001
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