1-EDITORIAL
Emérito, Departamento de Cirurgia, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Na pesquisa há algumas manifestações, a saber:
falsificação de resultados
resultados repetidos
resultados sem valor
resultados positivos
resultados extraordinários
resultados revolucionários ou que mudam uma era ou um conceito, historicamente considerado imutável.
As cinco primeiras são imanentes, são terrenas, são da espécie humana, desde a mentira até a contribuição que transforma as condutas.
A sexta é transcendente. É a crença. É a fé. Sai do chão, do húmus, do humilde e do homem. É o pesquisador transcendendo, em ordem crescente, talvez, para a metafísica (regras fundamentais do pensamento e o estudo do ser enquanto ser); a teofilosofia ou teofania (manifestação de Deus); o preternatural e finalmente o sobrenatural (divindade).
O que tem a ver este glossário com a pesquisa realizada por nós humanos?
No meu entender de cirurgião, o diferencial do verdadeiro pesquisador, que não se integra ao fatalismo ou ao fundamentalismo, é a transcendência de trabalho, idéias, ideais, espírito de sacrifício e de entrega a uma causa maior, ou seja, a de deixar a marca da qualidade, alçando vôo para além do arco-íris, numa certeza de utopia e ucronia.
O que marca a transcendência , no pesquisador, não é o terreno, os dados colhidos de uma investigação ou a disputa de idéias entre seus pares no plano material e humano, mas sim o propósito de realizá-la mudando-se e mudando também conceitos ou conhecimentos tidos como verdades absolutas.
Como médico atento aos fatos que transformam pessoas e conceitos, posso afirmar que esta reflexão procede porque a pesquisa responsável e verdadeira dá-nos realização pessoal e humanística, ficando como um legado referencial àqueles que vêm depois de nós.
É a tradição. É o repassar traduzindo-se em idéias, esforços, galhardia, trabalho, sonhos, desprendimento do que é terreno e o crescimento para atingirmos um mundo melhor, no imanente que fica, e no transcendente, que se eleva e deixa marcas indeléveis através das gerações que se sucedem e se eternizam no aprender e no transferir com ou sem a nossa presença.
Não importa como se faz, se o realizamos com a verdade. O que legitima a pesquisa é o que fica, é o que se transforma, é o que se tradicionaliza, é o que se eterniza, é o que se diviniza mesmo na nossa ausência.
Por isto é que a pesquisa há de sempre imperar nas ações, nas intenções, nas traduções de cultura e no permanente daquilo que fazemos bem. Não faz parte do jogo natural dos pares, mas da intervenção de um princípio que supera todas as vontades. É o divino se revelando ao ser humano que realiza, sonha e fica para sempre.
O mundo é recriado todos os dias. A obra da Criação não terminou. Deus precisa das mãos dos homens para continuá-la. Fomos eleitos seus colaboradores queiramos ou não. Sendo assim, todas as pessoas, agnósticas ou crentes, materialistas ou espiritualistas, somos convidadas a ser instrumentos de Deus na evolução e na melhoria do mundo. O que não dizer então, dos pesquisadores quando têm ao seu alcance as condições físicas, materiais e intelectuais para fazê-lo? O que dizer do mundo antes e depois de: Alexander Fleming com a penicilina; o dentista William T.G. Morton e o médico Horace Wells com a anestesia e Ignaz Phillip Semmelweis e Louis Pasteur com a bacteriologia? Independentes da fé que professavam, estes homens transcenderam como pesquisadores e seus trabalhos beneficiaram a humanidade toda. "Quem salva uma vida salva uma geração inteira e quem mata uma vida mata uma geração inteira".
Concluindo, a pesquisa é imanente e a atitude do pesquisador pode se tornar transcendente se exorbitar-se em espiritualidade orientadora da ontoética que assiste e promove o ser humano.
Pesquisa e a espiritualidade
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
08 Abr 2009 -
Data do Fascículo
Abr 2009