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Efeito do meloxicam sobre a lesão de isquemia e reperfusão em músculo esquelético de ratos

Effect of meloxicam on ischemia-reperfusion injury in skeletal muscle of rats

Resumo

Os antiinflamatórios não esteroidais, derivados do piroxicam, agem como varredores de radicais livres de oxigênio em experimentos in vitro. O objetivo deste trabalho foi analisar o efeito do meloxicam em músculos esqueléticos de ratos submetidos à isquemia e reperfusão com base na análise de liberação de malondialdeído da membrana celular ( indicador de peroxidação lipídica provocada pelos radicais livres). Dezoito ratos Wistar foram divididos em 2 grupos de 9. O grupo I (grupo sham) foi tratado previamente com 3g/kg de peso de solução fisiológica e o grupo II com 3g/kg de peso de meloxicam por via peritoneal. Após 5 min os ratos foram submetidos a 3h de isquemia total ( torniquete) e 45 min de reperfusão das patas posteriores esquerdas. Colheram-se biópsias dos músculos isquêmicos e reperfundidos e das patas controles (contralaterais) para a dosagem de malondialdeído. A análise das diferenças de concentração do malondiadeído nas patas controles e reperfundidas no grupo I (43,7± 60,7; n=9) em relação ao grupo II (21,7± 49,5; n=9) não mostrou alteração significante (p=0,3). Os dados obtidos, neste trabalho, mostram que o meloxicam não protege a musculatura esquelética dos danos causados pela isquemia e reperfusão, com base na análise do malondialdeído tissular após 3h de isquemia e 45 min de reperfusão.

isquemia; músculo esquelético; malondialdeido; meloxicam


EFEITO DO MELOXICAM SOBRE A LESÃO DE ISQUEMIA E REPERFUSÃO EM MÚSCULO ESQUELÉTICO DE RATOS

EFFECT OF MELOXICAM ON ISCHEMIA-REPERFUSION INJURY IN SKELETAL MUSCLE OF RATS

Vitor A. Uhle1 1 Aluno PIBIC (CNPq) 2Professor Associado da Divisão de Cirurgia Vascular 3Professor Associado do Departamento de Medicina Social 4Professor Doutor da Divisão de Cirurgia Vascular , Carlos E. Piccinato2 1 Aluno PIBIC (CNPq) 2Professor Associado da Divisão de Cirurgia Vascular 3Professor Associado do Departamento de Medicina Social 4Professor Doutor da Divisão de Cirurgia Vascular , Antonio D. Campos3 1 Aluno PIBIC (CNPq) 2Professor Associado da Divisão de Cirurgia Vascular 3Professor Associado do Departamento de Medicina Social 4Professor Doutor da Divisão de Cirurgia Vascular e Jesualdo Cherri4 1 Aluno PIBIC (CNPq) 2Professor Associado da Divisão de Cirurgia Vascular 3Professor Associado do Departamento de Medicina Social 4Professor Doutor da Divisão de Cirurgia Vascular

DIVISÃO DE CIRURGIA VASCULAR - DEPARTAMENTO DE CIRURGIA E ANATOMIA

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP

Unitermos: isquemia, músculo esquelético, malondialdeido, meloxicam

Key Words: ischemia, skeletal muscle, malondialdehyde, meloxicam

Resumo: Os antiinflamatórios não esteroidais, derivados do piroxicam, agem como varredores de radicais livres de oxigênio em experimentos in vitro. O objetivo deste trabalho foi analisar o efeito do meloxicam em músculos esqueléticos de ratos submetidos à isquemia e reperfusão com base na análise de liberação de malondialdeído da membrana celular ( indicador de peroxidação lipídica provocada pelos radicais livres).

Dezoito ratos Wistar foram divididos em 2 grupos de 9. O grupo I (grupo sham) foi tratado previamente com 3g/kg de peso de solução fisiológica e o grupo II com 3g/kg de peso de meloxicam por via peritoneal. Após 5 min os ratos foram submetidos a 3h de isquemia total ( torniquete) e 45 min de reperfusão das patas posteriores esquerdas. Colheram-se biópsias dos músculos isquêmicos e reperfundidos e das patas controles (contralaterais) para a dosagem de malondialdeído.

A análise das diferenças de concentração do malondiadeído nas patas controles e reperfundidas no grupo I (43,7± 60,7; n=9) em relação ao grupo II (21,7± 49,5; n=9) não mostrou alteração significante (p=0,3).

Os dados obtidos, neste trabalho, mostram que o meloxicam não protege a musculatura esquelética dos danos causados pela isquemia e reperfusão, com base na análise do malondialdeído tissular após 3h de isquemia e 45 min de reperfusão.

Introdução: Trabalho recente realizado neste laboratório mostrou que as lesões provocadas pelos radicais livres do oxigênio são mais intensas na fase de reperfusão, em músculo esquelético isquêmico de ratos4.

Os radicais livres produzem efeitos deletérios por peroxidação de lipídios, alterando a integridade estrutural ou reagindo com proteínas e lipídios da membrana ou separadamente5. Desencadeia-se uma série de reações, sendo que um dos produtos dessas reações é o malondialdeído (MDA), que pode ser usado como marcador da peroxidação lipídica7.

Administrando-se varredores de radicais livres do oxigênio ao músculo isquêmico, antes da reperfusão, observa-se redução da lesão1. Descrevem-se, na literatura, inúmeros varredores de radicais livres de oxigênio que têm demonstrado algumas ações protetoras nas lesões de isquemia e reperfusão de músculo esquelético1. Dentre esses citam-se alguns anti-inflamatórios não esteroidais.

O meloxicam, um antiinflamatório não esteroidal derivado do oxicam, e análogo ao tenoxicam, tem a vantagem de ser um inibidor seletivo da ciclooxigenase 2 (Cox 2), com menor efeito na inibição da Cox 1 6. Não há relato sobre a ação antioxidante dessa droga em músculo esquelético isquêmico.

O objetivo desse trabalho foi analisar o efeito do meloxicam na liberação do MDA (produto de degradação do fosfolípide de membrana celular) em músculo esquelético de ratos submetidos a 3h de isquemia total (torniquete) e 45 min de reperfusão.

Material e Métodos: Ratos Wistar, no total de 18, com peso aproximado de 300g, foram divididos em dois grupos: Grupo I (grupo sham ) no qual 9 ratos foram tratados previamente com uma injeção de 3g/kg de peso de solução fisiológica e Grupo II, no qual 9 ratos receberam uma injeção de 3g/kg de peso de meloxicam(Movatecâ Boehringer-Ingelheim). A via de administração, tanto da droga como da solução fisiológica foi a intraperitoneal. Antes do tratamento os ratos foram anestesiados, por via endovenosa , com tionembutal.

Após cinco minutos da administração do meloxicam ou da solução fisiológica, todos os ratos foram submetidos à isquemia total da pata posterior esquerda, segundo o modelo clássico do torniquete. Decorridas 3h de isquemia o torniquete foi retirado e então permitiu-se a reperfusão. Após 45 min de reperfusão foram colhidas biópsias dos músculos bíceps das patas isquêmicas e reperfundidas e das patas contralaterais (utilizadas como controle), para o estudo dos níveis de malondialdeído tissular.

A determinação do malondialdeído foi feita de acordo com a técnica descrita por Buege e Aust (1978)2.

A análise dos dados de MDA foi feita com base no teste de Wilcoxon, com nível de significância a 5%.

Resultados: As concentrações tissulares médias de MDA observadas nas patas isquêmicas e reperfundidas (I-R) e controles (PC) dos dois grupos de ratos encontram-se na tabela 1.

A análise do efeito do meloxicam foi feita com base na diferença das concentrações de MDA da pata controle em relação à isquêmica e reperfundida nos 2 grupos. A tabela 2 resume os resultados dessas diferenças.

A análise estatística das diferenças de concentrações de MDA mostrou que não há diferença entre os 2 grupos de ratos, ou seja, não há influência da ação do meloxicam sobre a liberação de MDA pelo músculo esquelético isquêmico e reperfundido.

Discussão: Sugerem-se atualmente três mecanismos básicos das lesões de isquemia e reperfusão em músculo esquelético: àquelas produzidas por radicais livres, à sobrecarga de cálcio e à degradação de fosfolípides da membrana celular.

As lesões provocadas pelos radicais livres de oxigênio produzem dano à membrana celular pela reação de peroxidação lipídica ou por reagirem com as proteínas da membrana celular.

Relata-se na literatura que um antiinflamatório não esteroidal derivado do piroxicam, o tenoxicam, age como varredor de radicais livres do oxigênio em experimentos in vitro. Também sabe-se que o tenoxicam inibe a geração de ânions superóxidos pelos neutrófilos1.

Os dados obtidos, neste trabalho, mostram que o meloxicam não protege a musculatura esquelética dos danos causados pela isquemia e reperfusão, com base na análise do MDA tissular após 3 h de isquemia total 45 min de reperfusão.

  • 1. Akimitsu T, Gute DC, Jerome SN, Korthuis RJ: Reactive oxigen metabolites and their consequences. In: Fantini, G.A. Ischemia-Reperfusion Injury of Skeletal Muscle, 1st Ed., R G Landes Company, Austin, 1994, p.5-20.
  • 2. Buege JA, Aust SD: Microsomal lipid peroxidation. Methods Enzymol 1978;52:302-10.
  • 3. Gardiner HW: Oxygen radical chemistry of polynsaturated fatty acids. Free Radicals Biol Med 1989;7:65.
  • 4. Grisotto PC, Santos AC, Coutinho-Netto J, Cherri J, Piccinato CE: Indicators of oxidative injury and alterations of the cell membrane in skeletal muscle of rats submitted to ischemia and reperfusion. J Surg Res 2000;32:1-6.
  • 5. Kako, KJ: Free radical effects on membrane protein in myocardial ischemia/reperfusion injury. J Mol Cell Cardiol 1987; 19:209-12.
  • 6. Ogino K, Hatanaka K, Kawamura M, Katori M, Harada Y: Evaluation of pharmacological profile of meloxicam as anti-inflammatory agent, with particular reference to its relative selectivity for cyclooxygenase-2 over cyclooxygenase-1. Pharmacol 1997;55:44-53.
  • 7. Slater, TF: Free radical mecanism in tissue injury. Biochem J 1984; 222(1):1-15.
  • 1
    Aluno PIBIC (CNPq)
    2Professor Associado da Divisão de Cirurgia Vascular
    3Professor Associado do Departamento de Medicina Social
    4Professor Doutor da Divisão de Cirurgia Vascular
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Mar 2001
    • Data do Fascículo
      2000
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