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Crioulização em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe: divergências históricas e identitárias

Resumos

Cabo Verde e São Tomé e Príncipe foram as primeiras sociedades crioulas do mundo atlântico. Inicialmente, em muitos aspetos, a colonização dos dois arquipélagos pelos portugueses era muito semelhante. Contudo, a diferente posição geográfica e as divergências do clima e do meio ambiente condicionaram o desenvolvimento de economias distintas e diferenças no grau da miscigenação nos dois arquipélagos. Diferente desenvolvimento socioeconómico no século XIX, marcado, em São Tomé e Príncipe, pela recolonização e pelo restabelecimento da economia de plantação e, em Cabo Verde, pela consolidação da sociedade crioula e pela emigração, reforçou as divergências existentes. As diferenças refletem-se em distintas afirmações identitárias das duas sociedades crioulas. Cabo Verde afirma uma singularidade da sua sociedade crioula, enquanto, em São Tomé e Príncipe, domina uma identidade africana.

crioulização; miscigenação; mundo atlântico; Cabo Verde; São Tomé e Príncipe


Cape Verde and São Tomé and Príncipe were the first Creole societies in the Atlantic world. Initially, the colonization of the two archipelagos by the Portuguese was very similar in many aspects. However, the different geographic position with differences in climate and the natural environment conditioned the development of distinct economies and unequal degrees of miscegenation in the two archipelagos. Different socioeconomic developments in the nineteenth century, in São Tomé and Príncipe, marked by the re-colonization and the reestablishment of the plantation economy and, in Cape Verde, by the consolidation of the Creole society and by emigration, reinforced existing divergences. The differences are reflected in distinct identity statements in the two Creole societies. Cape Verde claims the singularity of its Creole society while, in São Tomé and Príncipe, an African identity dominates.

Creolization; miscegenation; Atlantic world; Cape Verde; São Tomé and Príncipe


  • 3 Jaqueline Knörr, Towards Conceptualizing Creolization and Creoleness Working Paper No. 100. Halle/Saale: Max Planck Institute for Social Anthropology, 2008, p. 5.
  • 4 Robert Chaudenson, Creolization of Language and Culture, Londres/Nova Iorque: Routledge, 2001, p. 306.
  • 6 Sidney W. Mintz e Richard Price, An Anthropological Approach to the Afro-American Past: a Caribbean Perspective, Filadelfia: Institute for the Study of Human Issues, 1976, p. 31.
  • 7 Gabriel Fernandes, Em busca da nação: notas para uma reinterpretação do Cabo Verde crioulo, Florianópolis: Editora da UFSC, 2006, p. 60.
  • 9 Sobre a colonização de Cabo Verde, ver: Elisa Silva Andrade, As ilhas de Cabo Verde: da «descoberta» à independência nacional (1460-1975), Paris: L'Harmattan, 1996;
  • António Carreira, Cabo Verde: formação e extinção de uma sociedade escravocrata (1460-1878), Praia: Instituto de Promoção Cultural, 2000;
  • 10 Sobre a colonização de São Tomé e Príncipe, ver: Robert Garfield, A History of São Tomé Island 1470-1655: The Key to Guinea, São Francisco: Mellen Research University Press, 1992;
  • Arlindo Manuel Caldeira, Mulheres, sexualidade e casamento no arquipélago de S. Tomé e Príncipe (séculos XV a XVIII), Lisboa: Grupo de Trabalho do Ministério de Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997; Isabel Castro Henriques, São Tomé e Príncipe: a invenção de uma sociedade, Lisboa: Vega, 2000;
  • Artur Teodoro de Matos (coord.), A colonização atlântica, tomo 2 (Lisboa: Estampa, 2005);
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  • 11
    11 Francisco Tenreiro, "Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe: esquema de uma evolução conjunta", Boletim de Propaganda e Informação, v. 5, n. 76 (1956), pp. 12-7.
  • 13 António Leão Correia e Silva, Histórias de um Sahel insular, Praia: Spleen, 1996, p. 40.
  • 14 António Carreira, Panaria Cabo-Verdiano-Guineense: aspectos históricos e sócio-económicos, Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1968, p. 21.
  • 15 Pablo B. Eyzaguirre, "Small Farmers and Estates in São Tomé, West Africa" (Tese de Doutorado, Yale University, 1986), p. 92.
  • 16 Francisco Tenreiro, A ilha de São Tomé, Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1961, pp. 63, 69.
  • 20 Augusto Nascimento, "S. Tomé e Príncipe", in Valentim Alexandre e Jill Dias (coords.), O império africano, 1825-1890 (Lisboa: Estampa, 1998), p. 287.
  • 26 Manuel Veiga, "O crioulo de Cabo Verde: emergência e afirmação", in Descoberta das ilhas de Cabo Verde, Praia: Arquivo Histórico Nacional, 1998, p. 116.
  • 29 John Ladham, "The Formation of the Portuguese Plantation Creoles" (Tese de Doutorado, University of Westminster, 2003), pp. 144, 155.
  • 32 Carlos Agostinho das Neves, S. Tomé e Príncipe na segunda metade do séc. XVIII, Funchal: Região Autónoma da Madeira, 1986, p. 177.
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  • 38 Vicente Pinheiro, S. Thome e Príncipe, Lisboa: Academia Real das Ciências, 1884, p. 6.
  • 41 Gil Tomás et al., "The Peopling of São Tomé (Gulf of Guinea): Origins of Slave Settlers and Admixture with the Portuguese", Human Biology, v. 74, n. 3 (2002), p. 408.
  • 46 Luís Batalha, The Cape Verdean Diaspora in Portugal Colonial Subjects in a Postcolonial World, Lanham: Lexington Books, 2004, p. 27.
  • 47 António Leão Correia e Silva, Cabo Verde: combates pela história, Praia: Spleen, 2004, p. 40.
  • 48 Francisco Mantero, A mão d'obra em S.Thomé e Príncipe, Lisboa: Edição do Autor, 1910, p. 60.
  • 53 Francisco Tenreiro e Mário Pinto de Andrade (orgs.), Poesia negra de expressão portuguesa, Linda-a-Velha: África - literatura, arte e cultura, 1982 [1953], p. 82.
  • 56 Cláudia Castelo, O modo português de estar no mundo: o luso-tropicalismo e a ideologia colonial portuguesa, Porto: Afrontamento, 1998, p. 81.
  • 58 Gilberto Freyre, Aventura e rotina: sugestões de uma viagem à procura das constantes portuguesas de carácter e ação, Rio de Janeiro: José Olympio/MEC, 1980 [1953], p. 311.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Jul 2014
  • Data do Fascículo
    Jun 2014
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