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Gene de virulência cagA de Helicobacter pylori e doenças esogastroduodenais severas: existe uma associação?

RESUMO

CONTEXTO:

Helicobacter pylori coloniza aproximadamente metade da população humana mundial. A presença do microrganismo na mucosa gástrica está associada a um risco aumentado de adenocarcinoma gástrico, linfoma gástrico e úlcera péptica. No Brasil, a alta prevalência de infecção por H. pylori é um grave problema de saúde. Os fatores de virulência de H. pylori estão associados a risco aumentado de distúrbios gastrointestinais severos. O gene cagA codifica um antígeno associado à citotoxina A (CagA) que está envolvido na patogenicidade bacteriana. As cepas de H. pylori portadoras da ilha de patogenicidade cag (cag-PAI) estão significativamente associadas a desfechos clínicos severos e alterações histopatológicas.

OBJETIVO:

O presente estudo tem como objetivo investigar a prevalência do gene cagA entre isolados de H. pylori de pacientes com diferentes desordens gástricas, bem como verificar sua associação com desfechos clínicos. Além disso, a análise filogenética foi realizada em cepas de H. pylori cagA-positivas de pacientes com doenças severas e não severas.

MÉTODOS:

Amostras gástricas foram coletadas por meio de biópsia gástrica de 117 pacientes com diferentes doenças esogastroduodenais. O DNA foi extraído das amostras e utilizado para amplificar os fragmentos gênicos correspondentes aos genes RNA ribossomal 16S e cagA, através da reação em cadeia da polimerase. Os produtos da reação em cadeia da polimerase de amostras selecionadas positivas para cagA foram sequenciados e as sequências foram alinhadas com sequências de referência do National Center for Biotechnology Information (NCBI) (Bethesda/EUA). As análises filogenéticas foram realizadas a partir do sequenciamento e construção da árvore filogenética.

RESULTADOS:

H. pylori foi detectado em 65,9% (77/117) dos pacientes brasileiros com diferentes distúrbios gastroduodenais. No total, 80,5% (62/77) das cepas foram cagA-positivas. As idades dos pacientes com cepas cagA-positivas (15 homens e 47 mulheres) variaram de 18 a 74 anos. As lesões foram categorizadas como não severas e severas de acordo com o laudo endoscópico e histopatológico. A lesão esogastroduodenal não severa mais prevalente foi gastrite 54/77 (70,12%), seguida de esofagite 12/77 (15,58%) e duodenite 12/77 (15,58%). Em contraste, as lesões severas mais prevalentes foram atrofia 7/77 (9,09%), seguida de metaplasia 3/77 (3,86%) e adenocarcinoma gástrico 2/77 (2,59%). As análises filogenéticas realizadas com as sequências parciais do gene cagA obtidas de cepas locais foram agrupadas no mesmo clado. Nenhuma diferença na distribuição filogenética foi detectada entre doenças severas e não severas.

CONCLUSÃO:

O gene cagA é altamente prevalente entre isolados de H. pylori de lesões gástricas em pacientes brasileiros. A presença do gene cagA não foi considerada um marcador de severidade das lesões esogastroduodenais no presente estudo. Este é o primeiro estudo a investigar a estrutura filogenética da população de cepas de H. pylori em uma capital brasileira. Esses resultados irão contribuir para o entendimento sobre o desfecho clínico da infecção por H. pylori.

Palavras-chave:
Epidemiologia molecular; filogenia; fatores de virulência; gene bacteriano

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