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Avaliação da qualidade de vida em pacientes idosos com doença inflamatória intestinal em atividade leve ou remissão

RESUMO

Contexto:

Doença inflamatória intestinal (DII), representada pela doença de Crohn (DC) e retocolite ulcerativa (RCU), é uma condição crônica e progressiva que afeta todas as faixas etárias, embora predomine em indivíduos jovens. Atualmente, tem sido documentado um aumento na prevalência de DII, de forma paralela ao aumento da população idosa. O escasso número de estudos que melhor caracterizem o impacto da DII na qualidade de vida (QV) em idosos motivou o presente estudo.

Objetivo:

Avaliar o impacto da DII na QV de idosos atendidos em um centro terciário de DII.

Métodos:

Estudo prospectivo transversal que incluiu pacientes idosos (idade ≥60 anos) com DII, atendidos pelo Centro de DII do HU-UFJF, entre março de 2019 a dezembro de 2022, e que apresentavam remissão clínica ou atividade leve de doença. Acompanhantes idosos sem comorbidades graves que compareceram à consulta com os pacientes foram incluídos como grupo controle. Foram registradas características sociodemográficas e relativas a DII. A QV foi avaliada por meio de questionários previamente validados (WHOQOL-BREF e IBDQ). Pacientes com DII com atividade moderada a grave, história de hospitalização recente ou iminente, infecções graves ou oportunistas nos últimos 6 meses, neoplasia prévia, demência, dificuldade de compreensão/ preenchimento dos questionários foram excluídos.

Resultados:

Foram incluídos 123 pacientes (74 com DII e 49 no grupo controle), com idade média de 67±6,2 anos, sendo 52,7% com DC e 47,3% com RCU. Atividade leve da doença foi observada em 31,1%. Ambos os grupos (pacientes com DII e controle) foram comparáveis com base na idade, sexo, IMC e Índice de Comorbidade de Charlson. Pacientes com DII e controle apresentaram escores de QV similares nos diferentes domínios avaliados pelo WHOQOL-BREF. Por outro lado, quando avaliada a faceta geral de QV, pacientes com DII apresentaram escores significativamente menores na QV geral (3,71±0,87 versus 4,02±0,62, respectivamente; P=0,021) e na saúde geral (3,32±1,05 versus 3,69±0,94, respectivamente; P=0,035). A presença de atividade leve impactou negativamente nos escores de saúde geral e de domínio físico do WHOQOL-BREF quando comparados com pacientes em remissão (2,91±0,99 versus 3.47±1,04, respectivamente; P=0,035 e 12,27±2.63 versus 13,86±2,61, respectivamente; P=0,019). Não foi observado impacto na QV com a aplicação do questionário IBDQ no que se refere ao tipo de DII (161±38.5 versus 163.1±42,6 para DC e RCU, respectivamente; P=0.84) ou a presença de atividade (152.5±38.8 versus 166.4±40.5, respectivamente; P=0.17).

Conclusão:

Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre pacientes idosos com DII em atividade leve ou quiescente e pacientes idosos sem DII quando observados os escores globais de QV. Porém, a DII impactou negativamente a faceta geral de QV, assim como a presença de atividade leve esteve associada a menores escores na saúde geral e no domínio físico avaliado pelo WHOQOL-BREF. Pacientes com DII tratados com terapia biológica apresentaram melhor QV do que aqueles em terapia convencional. Estudos futuros são necessários para escolha de ferramenta mais adequada para avaliação de QV nessa população.

Palavras-chave:
Qualidade de vida; doenças inflamatórias intestinais; idosos

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