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É possível transformar em produção universitária a experiência psicanalítica?

RESENHAS

É possível transformar em produção universitária a experiência psicanalítica?

Iliana Horta Warchavchik; Luciana Saddi; Magda Guimarães Khouri

Psicanalistas da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP); ilianaw@dialdata.com.br; lucianasaddi@sbpsp.org.br; magdakouri@uol.com.br

Pesquisando com o método psicanalítico. Fabio Herrmann e Theodor Lowenkron (orgs.). São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004, 438 p.

O livro nasceu da II Jornada de Psicanálise e Pesquisa, da Associação Brasileira de Psicanálise (ABP), Jornada Pesquisando com o Método Psicanalítico, realizada na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), em maio de 2003. Foi organizado por Fabio Herrmann, membro efetivo da SBPSP e professor do programa de pós-graduação em psicanálise da PUC-SP, e Theodor Lowenkron, membro efetivo da SBPRJ, coordenador da Comissão de Pesquisa da ABP, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ e do Programa de Pós-graduação em Psiquiatria, Psicanálise e Saúde Mental do Instituto de Psiquiatria da UFRJ-Ipub.

Pesquisando com o método psicanalítico apresenta, principalmente, um retrato da produção de pesquisa psicanalítica feita na SBPSP. Está dividido em duas partes. Oferece, na primeira, ensaios que visam questionar o campo da pesquisa em psicanálise, contribuindo com subsídios para que o pesquisador compreenda e se posicione criticamente diante dessa prática, uma discussão relativamente nova em nosso meio. Seus autores, ligados à universidade, Theodor Lowenkron, João Frayze-Pereira e Fabio Herrmann dedicam-se a problematizar as questões relativas à pesquisa em psicanálise — que transita entre os fenômenos subjetivos e objetivos. Os ensaios interrogam a noção de método, noção que se caracteriza por levar o psicanalista a romper com um sentido preestabelecido e a recriar as idéias psicanalíticas.

Na segunda parte estão 28 trabalhos de pesquisa, sob a forma de artigos, com o objetivo de traçar um perfil da produção realizada por analistas da SBPSP. Aos autores foi pedido que selecionassem o processo de investigação, os procedimentos e os instrumentos utilizados no decorrer de suas pesquisas, bem como os impasses encontrados para que o método psicanalítico ganhasse destaque, sobressaindo-se aos resultados encontrados.

O leitor está diante de uma obra que serve como referência àqueles analistas e demais profissionais de saúde mental que pretendem fazer um trabalho investigativo e se sentem, de certa forma, insatisfeitos com a pesquisa tradicional. E encontrará um grande leque de temas, questões e formas criativas de abordá-las. O livro atende também às necessidades daqueles que gostariam de ampliar suas noções sobre o debate a respeito da natureza polêmica da pesquisa em psicanálise: ciência ou arte, clínica ou teoria? Quais as formas possíveis de transmissão e de publicação do nosso saber? Como legitimá-lo? Terá o analista de abandonar completamente sua prática quando quiser pesquisar, ou haverá uma zona de trânsito entre clínica e pesquisa?

Estas são importantes preocupações do analista na atualidade. Durante a maior parte do século XX, a pesquisa e a prática analíticas foram termos raramente associados, a não ser na Universidade. Agora, porém, a pesquisa psicanalítica está na ordem do dia. O desafio fundamental é o seguinte: deve o analista abandonar seu procedimento clínico ao pesquisar o método criado por Freud, substituindo-o por estatísticas, grupos de controle, comentário teórico, ou será possível converter em investigação universitária o próprio processo interpretativo?

Sabemos que pesquisa é algo que os analistas estão sempre a fazer: bastaria saber como transformar nosso trabalho diário em pesquisa comunicável. Neste livro, são apresentados muitos trabalhos práticos, de diferentes ambições e inserções acadêmicas, e de tamanhos e profundidades diferentes. E o objetivo do livro é mostrar como, valendo-se do método psicanalítico, os analistas conseguem perfazer o caminho que vai da clínica à pesquisa, do método às novas sugestões teóricas. Acreditamos que a psicanálise continuará a existir na medida em que puder ser reinventada dentro dela mesma.

Recebido em 2/3/2005

Aprovado em 4/4/2005

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Set 2005
  • Data do Fascículo
    Jan 2005
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