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CONTRIBUIÇÕES DA CLÍNICA DE LINGUAGEM PARA UMA DISCUSSÃO PSICANALÍTICA SOBRE A CONTRADIÇÃO NOS DIZERES

CONTRIBUTIONS OF THE LANGUAGE CLINIC FOR A PSYCHOANALYTIC DISCUSSION ON CONTRADICTION IN SPEECH

RESUMO:

A partir da constatação de contradições cotidianas e de sua recepção na lógica clássica, onde não são admitidas, este trabalho teórico interroga, junto a outros campos, fenômenos linguageiros considerados indesejáveis e, consequentemente, descartáveis em descrições e análises. A discussão reconhece na Lógica paraconsistente avanços importantes para a abordagem das contradições em sistemas lógicos. Na Clínica de Linguagem, tropeços e embaraços são tratados como dados de subjetividade relevantes para elaborações teórico-clínicas; ali encontramos contribuições para discutir a contradição na Psicanálise. Resta dizer que o interesse pela questão decorre da afirmação de Freud de que a vida psíquica é composta de contradições.

Palavras-chave:
contradição; inconsciente; Psicanálise; Clínica de Linguagem; lógicas paraconsistentes

ABSTRACT:

Based on the observation of everyday contradictions and their reception in classical logic, where they are not admitted, this theoretical work interrogates, together with other fields, linguistic phenomena considered undesirable and disposable in descriptions and analyses. The discussion recognizes in Paraconsistent Logic important advances for the approach of contradictions in logical systems. At the Language Clinic, stumbling blocks and embarrassments are treated as relevant subjectivity data for theoretical-clinical elaborations; there we find contributions to discuss the contradiction in Psychoanalysis. It remains to be said that the interest in the question stems from Freud’s assertion that psychic life is made up of contradictions.

Keywords:
contradiction; the unconscious; Psychoanalysis; Language Clinic; paraconsistent logics

1 INTRODUÇÃO

No presente trabalho,1 1 Este artigo foi desenvolvido a partir de discussão proposta em dissertação de mestrado de Amanda Mont’Alvão Veloso Rabelo defendida em 2020, no programa de pós-graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da PUC-SP, com fomento da Capes e orientada por Maria Francisca Lier-DeVitto. desenvolvemos algumas reflexões sobre pontos de convergência e distinção entre duas clínicas interessadas por manifestações de linguagem que são habitualmente descartadas ou colocadas à margem dos falantes, como indícios de equívocos e de ausência de coerência.

Interessam-nos, sobretudo, as manifestações de contradição e suas inescapáveis aparições na fala do sujeito, colocando-o, como escreve Pasolini (apudBUAES, 2009BUAES, A. G. (2009) Protegido pelas contradições: coletânea de crônicas jornalísticas de Pier Paolo Pasolini (1960 a 1965). Dissertação (Mestrado em Língua e Literatura Italiana) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em: Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8148/tde-03022010-173749/pt-br.php . Acesso em: 6 jan. 2019.
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), em situações embaraçosas. Como veremos a seguir, falas contraditórias não são subestimadas, elas convocam a escuta psicanalítica, que é sensível ao que surpreende em uma fala. Em paralelo, destacamos neste trabalho uma transformação teórica ocorrida dentro da Lógica para demarcar um campo em que, assim como na Psicanálise, as contradições insuperáveis podem ser recolhidas.

A partir da observação, na clínica psicanalítica e em conversas do dia a dia, da recepção tida pelas contradições nos dizeres, surge o questionamento acerca de outras ocorrências consideradas indesejáveis e que importam a alguns campos que valorizam a linguagem. Como consequência da busca que este questionamento provocou, a partir de um estudo teórico, localizamos na Clínica de Linguagem2 2 Abordagem teórico-clínica proposta por Lier-DeVitto em 1997 e voltada ao atendimento de pessoas que apresentam cristalizações sintomáticas na fala - as chamadas “patologias de linguagem”. O sujeito deste campo é o sujeito do inconsciente. Remetemos os leitores às discussões sobre o campo presentes no livro Aquisição, patologias e clínica de linguagem (Educ/Fapesp, 2006). uma abordagem teórico-clínica que reconhece tropeços e “erros”3 3 As aspas representam nossa consonância com as reflexões trazidas por De Lemos (1982; 1992; 2002) acerca do ideal de fala da criança na aquisição de linguagem, em que os erros são aquilo que foge às categorias descritivas predeterminadas. Recomendamos ainda o trabalho de Glória Maria Monteiro de Carvalho Erro de pessoa: levantamento de questões sobre o equívoco em aquisição da linguagem (CARVALHO, 1995). na fala como indícios de subjetividade e motores de uma nova teorização.

Adiantamos que, apesar de a Clínica de Linguagem oferecer inspiração para o estudo do problema da contradição na clínica psicanalítica, na medida em que teoriza sobre o sintoma na fala, a relação é de parentesco com o que na Psicanálise é da esfera do “equívoco” e da emergência do inconsciente nos dizeres de um falante. Cabe sublinhar que “parentesco não é identidade” (LIER-DEVITTO, 1995LIER-DEVITTO, M. F. Novas contribuições da linguística para a fonoaudiologia. Distúrbios da comunicação, v. 7, n. 2, 1995.): Psicanálise e Clínica de Linguagem são campos heterogêneos, que podem se afetar, mas não dissolver a borda que os separa. Detêm pontos de encontro e diferenciações igualmente importantes para a sustentação de ambos em seus objetivos próprios e autonomias. Reservamos a elucidação destas fronteiras e distanciamentos para um segundo momento deste trabalho.

Começamos pela confecção de um percurso sobre como a contradição é considerada pelo falante em suas relações cotidianas, de modo a identificar como uma ocorrência corriqueira passou a constituir uma questão para este trabalho. Tomemos por ponto de partida um pequeno fragmento clínico do atendimento registrado por Freud no texto Análise da fobia de um garoto de cinco anos - ‘O pequeno Hans’, publicado em 1909.

Em uma conversa com Hans, o pai lhe pergunta o motivo pelo qual fala com frequência sobre filhos. O pequeno então se justifica: “Por quê? Porque eu quero muito ter filhos, mas não desejo nunca isso, não quero ter eles” (FREUD, 1909/2015FREUD, S. Charcot (1893). Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 21-34. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 3), p. 225, grifos nossos).

O diálogo, presente em um dos mais emblemáticos casos da fundação da Psicanálise, circula a contradição presente na fala da criança, que afirma, simultaneamente, que quer e não quer ter filhos.

A experiência de escuta na clínica psicanalítica, norteada por um acompanhamento flutuante, ou seja, uma escuta não direcionada4 4 No método psicanalítico, a escuta opera de forma oposta ao método científico: guiada por um foco, investiga uma questão específica. das falas dos analisandos (FREUD, 1912/2017FREUD, S. Sobre o início do tratamento (1913). Belo Horizonte: Autêntica, 2017, p. 121-150. (Obras incompletas de Sigmund Freud)), permite a constatação de afirmações contraditórias, uma vez que a regra da associação livre, instituída por Freud (1913/2017CONTRADIÇÃO. In: Michaelis moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2015. Disponível em: Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/contradi%C3%A7%C3%A3o/ . Acesso em:10 jan. 2020.
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), estimula o paciente a falar aquilo que vier à cabeça e, por conseguinte, expressões conflitantes vêm à tona.

São falas que expressam incoerências e inconsistências, rachaduras discursivas que explicitam ao falante a ausência do domínio do que se diz. Enquanto os atos falhos “forçam” o encontro do sujeito com aquilo que acabara de dizer, mas que não reconhece como seu, as contradições, ainda que o surpreendam, desfrutam de reconhecimento de autoria. Apontada ou não pelo analista, a contradição permanece nos dizeres do analisando, sem a necessidade de que este identifique qual das afirmações é a verdadeira. Temos, assim, que a contradição ilumina a simultaneidade de opostos que não se invalidam.

Testemunha frequente da contradição colocada em palavra, a clínica psicanalítica não recebe o contraditório com estranhamento, dado que o sujeito, conforme a teoria criada por Sigmund Freud em 1900, é regido pelo inconsciente e, como consequência, responde ao funcionamento psíquico sob a forma de conflitos e ambivalências5 5 Esta discussão norteou a dissertação de mestrado identificada anteriormente. típicos da divisão constitutiva que o caracteriza. Ao se contradizer, o sujeito aparece em suas fissuras na linguagem, nas desmontagens entre a intenção e a fala.

Assim, Freud anuncia na primeira parte das Conferências introdutórias, de 1916:

É importante que se comece logo a levar em consideração que a vida psíquica é praça e campo de batalha para tendências opostas, ou, expresso em termos não dinâmicos, ela se compõe de contradições e pares de oposições. Comprovar a presença de determinada tendência não significa excluir outra, oposta a ela: há lugar suficiente para ambas. Tudo depende de como essas oposições se posicionam umas em relação às outras, que efeitos decorrem de uma e de outra. (FREUD, 2014FREUD, S. Conferências introdutórias à Psicanálise (1916-1917). São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 1-613. (Obras completas, 13)/1916, p. 103-104).

Se a contradição não é estrangeira à clínica psicanalítica e à constituição psíquica do sujeito, o mesmo não pode ser afirmado a respeito de determinados contextos que exigem relações de veracidade e coerência; nestes, a fala ou escrita contraditórias resultam forasteiras e indesejáveis, não coincidentes com o terreno das intenções. Tornam-se indicadores de que aquele que se contradiz é capaz de estremecer a própria credibilidade por meio de suas afirmações.

São contextos como o da verificação de fatos na imprensa, em que a contradição aponta para inconsistências de dados, falas ou atitudes e, desta forma, assinala a ausência de verdade. Ou no âmbito jurídico, em que as versões apresentadas pelas partes em um litígio precisam ser isentas de elementos contraditórios para que não culminem em uma hipótese de deficiência probatória (RABELO, 2020RABELO, A. M. V. Inconsistências no dizer: contradição e psicanálise. Dissertação. (Mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. 2020.).

Ainda há também as exigências da linguística textual para que um texto produza sentido e coerência; do contrário, segundo Val (2006VAL, M. G. C. Redação e Textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 2006.), a contradição fere princípios lógicos básicos. Uyeno recorda que um dos sinônimos de contraditório no uso cotidiano é “ilógico”, aplicado a “ações, comportamentos e situações em geral, no sentido de tudo o que seja descabido, inaceitável” (UYENO, 2002UYENO, E. Y. A dogmatização da teoria: a contradição como negação da falta no discurso do professor de línguas. Tese de doutorado, Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Estadual de Campinas. 2002. Disponível em:Disponível em:http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/269763 . Acesso em:11 fev. 2019.
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, p. 114).

Este caráter não tolerado da contradição fica mais explícito no léxico, conforme constatamos no verbete abaixo:

  1. . Ato ou efeito de contradizer(-se); afirmação em contrário do que foi dito.

  2. . Incoerência entre afirmações atuais e anteriores, entre palavras e ações; antinomia, discrepância, incongruência.

  3. . Oposição entre duas proposições, das quais uma exclui necessariamente a outra.

  4. . Relação existente entre a afirmação e a negação de um mesmo elemento de conhecimento.

  5. . Afirmação e negação que não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo: A teoria dele tem contradições que a invalidam por completo.

  6. . Jur. Nos depoimentos de testemunhas, discordância que se verifica quando uma pessoa faz afirmações que se contradizem entre si. (CONTRADIÇÃO, 2015CONTRADIÇÃO. In: Michaelis moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2015. Disponível em: Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/contradi%C3%A7%C3%A3o/ . Acesso em:10 jan. 2020.
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    ).

Podemos ver que as definições aplicam-se a situações diferenciadas; porém, convergem para uma necessidade de superação ou exclusão da contradição. Este ponto comum deriva da mais tradicional acepção do fenômeno, cunhada por Aristóteles e basilar para a lógica clássica. O pensador grego elevou a contradição ao estatuto de princípio fundamental para atingir a verdade e o conhecimento ao postular sobre a impossibilidade de uma proposição ser verdadeira caso contradiga a si mesma (CIRNE-LIMA, 1996CIRNE-LIMA, C. R. V. Sobre a contradição. Porto Alegre: Edipucrs, 1996.).

As ideias de Aristóteles sobre a contradição são heterogêneas e estão espalhadas em suas obras sobre a Metafísica e também nos escritos sobre o que posteriormente se convencionou chamar de Lógica6 6 O conjunto das obras de Aristóteles sobre o assunto era denominado Órganon, vocábulo grego para “instrumento”. Ele não utilizava o termo “lógica”, mas, sim, “analíticos”. O nome apareceu séculos depois, empregado pelos estoicos e por Alexandre de Afrodísia (CHAUI, 2000; 2002). . Em um aprofundado estudo, Cirne-Lima reuniu e assim sintetizou algumas das noções aristotélicas sobre o tema:

Alguém se contradiz quando diz algo determinado mas simultaneamente se desdiz, afirmando a verdade do contrário. Contradição é afirmar simultaneamente a verdade de “p” e de “não p”. O “p” exclui a afirmação da verdade de “não p”. Uma antiga formulação da Lógica diz: duas proposições contraditoriamente opostas não podem ser simultaneamente verdadeiras, nem simultaneamente falsas. Se uma é verdadeira, a outra necessariamente é falsa. (CIRNE-LIMA, 1996CIRNE-LIMA, C. R. V. Sobre a contradição. Porto Alegre: Edipucrs, 1996., p. 16).

Vemos que o aparecimento da contradição impõe a necessidade de exclusão de uma das proposições, dada que apenas uma pode ser verdadeira. Trata-se do funcionamento observado nos contextos de imprensa, linguística textual e jurídico exemplificados no começo deste artigo, regidos pela tradição filosófica ocidental que tem a não-contradição como lei básica.

Temos, então, que a contradição é um fenômeno a ser superado. Sua manutenção em um sistema implicaria no comprometimento da verdade.

Por outro lado, a empiria advinda da clínica psicanalítica reporta a ocorrência de ditos contraditórios simultaneamente sustentados como válidos. Cabe, ainda, lembrar que, para Freud (1893/1996FREUD, S. Análise da fobia de um garoto de cinco anos (1909). São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 123-284. (Obras completas, 8)), em consonância com as orientações de Charcot, a clínica prevalece sobre a teoria, forçando esta última a uma constante atualização. É neste terreno que a escuta suscitou entre nós uma pergunta: o lugar da contradição nas falas deve ser o do descarte e da eliminação? Há alguma experiência clínica que comporte dados analogamente “descartáveis” por comprometerem ideais de legitimidade e veracidade?

Foram as indagações acima que nos conduziram a uma aproximação com a Clínica de Linguagem, cuja proposta de incorporação de dados marginalizados, como os tropeços e os “erros” na fala, dialogava com nossas questões.

2 UMA TEORIA PARA OS EMBARAÇOS

Tradicionalmente, no campo da Aquisição de Linguagem, os tropeços, desvios, “erros” e falhas nos enunciados infantis constituíam um material a ser eliminado, uma vez que o ideal a ser atingido era o de uma estruturação progressiva das sentenças na fala da criança.

No entanto, os trabalhos de De Lemos (1982DE LEMOS, C. T. G. Sobre aquisição de linguagem: e seu dilema (pecado) original. Boletim da Abralin, Campinas, n. 3, p. 97-136, 1982. Disponível em: Disponível em: https://www.abralin.org/site/wp-content/uploads/2018/12/boletim3a.pdf . Acesso em: 5 jan. 2019.
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; 1992DE LEMOS, C. T. G. Los procesos metafóricos y metonímicos como mecanismos de cambio. Substratum: temas fundamentales en psicología y educación, Barcelona, v. 1, n. 1, p. 121-135, 1992.; 2002DE LEMOS, C. T. G. Das vicissitudes da fala da criança e de sua investigação. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 42, p. 41-69, 2002. Disponível em:Disponível em:https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/863714 . Acesso em: 5 jan. 2019.
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) e Lier-DeVitto (1998LIER-DEVITTO, M. F. Os monólogos da criança: delírios da língua. São Paulo: Educ, Fapesp, 1998.; 2006LIER-DEVITTO, M.F.; ARANTES, L. (orgs.). Aquisição, patologias e clínica de linguagem. São Paulo: Educ, Fapesp, 2006.) inauguraram campos - o Interacionismo em Aquisição de Linguagem e a Clínica de Linguagem, respectivamente - em que os dados “descartáveis” daquelas falas assinalavam manifestações de subjetividade e, portanto, movimentavam as teorias sobre a transformação do infans em um falante:

[...] ambas as propostas convergem sobre a importância dos erros, tropeços e inconsistências discursivas. Esses fenômenos são entendidos pelo Interacionismo em Aquisição de Linguagem como movimentos inerentes ao processo de constituição do falante, cuja fala se articula com a fala do outro. A Clínica de Linguagem, por sua vez, lida com a cristalização desses fenômenos, ou seja, quando eles passam a ser sintomas e deixam a criança à margem da própria fala. (LIER-DEVITTO, 2020LIER-DEVITTO, M. F.; ANDRADE, L. A abordagem do erro na fala e na escrita: aquisição, alfabetização e clínica. Anais do SILEL, Uberlândia, EDUFU, v. 2, n. 2, 2011., p. 30).

Nota-se que, nestes campos, a relação entre falante e língua não prescinde do fato crucial de que ali há um sujeito, cuja fala é efeito de sua subjetivação.

O campo da Clínica de Linguagem tem seus pilares teóricos derivados do diálogo com o Interacionismo em Aquisição de Linguagem e com o estruturalismo europeu. É sabido que o pioneirismo de De Lemos com o Interacionismo tem por marco inicial o ano de 1982, quando a autora é suscitada por questionamentos acerca da higienização da fala de crianças e da suposição de um saber inato sobre a língua.

Quando analisada, a fala errática da criança, cheia de dizeres inclassificáveis, era submetida a critérios gramaticais que culminavam no descarte de quaisquer dados que contestassem as descrições de como o processo de aquisição de linguagem deveria transcorrer. Em direção distinta, a autora assumiu um compromisso com a fala do sujeito ao incorporar os erros ao processo de aquisição e assinalar a importância da fala do outro para a constituição do falante. Este movimento não só realçou a heterogeneidade da fala de criança, como também configurou um distanciamento da noção de um sujeito epistêmico e da suposição de que a aquisição deveria seguir um processo de desenvolvimento cognitivo.

Nos dez anos seguintes, De Lemos perseguiu sua ideia de que a determinação da fala da criança ocorria por meio de um jogo da linguagem sobre a própria linguagem e desenvolveu uma proposta de natureza linguística para a aquisição. Seu encontro com a leitura que Lacan fez de Freud a partir do estruturalismo europeu resultou em uma redefinição do processo de aquisição como estrutural, marcado por mudanças na posição da criança na relação com a linguagem e solidário à constituição subjetiva do falante.

A partir das teorizações de Saussure (1916/2012SAUSSURE, F. Curso de linguística geral (1916). São Paulo: Cultrix, 2012.) e Jakobson (2007JAKOBSON, R. Dois aspectos da linguagem e dois tipos de afasia. In: Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 2007.) sobre um funcionamento linguístico baseado em eixos relacionais, a autora passou a considerar que a relação das crianças com a linguagem respondia a processos metafóricos e metonímicos; ou seja, linguísticos.

As mudanças de posição da criança na estrutura implicavam a incorporação dos erros e tropeços que então eram destinados ao descarte, assim como propiciavam reformulações e correções de falas por parte do falante. Assim, emergia a cisão do sujeito, de forma que aquele que fala e aquele que escuta não coincidem.

Esta redefinição incidiu significativamente sobre o trabalho de Lier-DeVitto (1998DE LEMOS, C. T. G.; LIER-DeVITTO, M. F.; ANDRADE, L.; SILVEIRA, E. Le “saussurisme” en Amérique Latine au XXe siècle. Cahiers Ferdinand de Saussure - revue suisse de linguistique générale. Genève, Librairie Droz, v. 56, 2001.) com monólogos infantis: mesmo que a fala da criança careça de coerência, trata-se de uma produção coesa, avalizada pelo jogo paralelístico operado sobre a estrutura, com trocas e invenções de palavras. Ao situar a operação linguística nos monólogos, Lier-DeVitto pôs em cena esta posição em que o falante não tem escuta para o que diz.

O processo de aquisição, no entanto, não comporta manifestações de fracassos ou impossibilidades na fala, uma vez que presume que o infante um dia se tornará falante (LIER-DEVITTO; ANDRADE, 2011). Embaraços na linguagem, expressos por falas desarranjadas, que não passam a outra coisa (ALLOUCH, 1995ALLOUCH, J. Letra a Letra: transcrever, traduzir e transliterar. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1995.), situam o compromisso da Clínica de Linguagem, convocada por manifestações patológicas e que trazem sofrimento ao falante. Com esta proposta, o campo voltado para “falas de crianças” passou a compreender também as falas sintomáticas, mantendo o lugar privilegiado concedido aos erros e à heterogeneidade nas falas pelo Interacionismo.

O diálogo com o Interacionismo e com o estruturalismo europeu resultou na compreensão de que, mesmo sendo insólitas e ininteligíveis, as falas sintomáticas obedecem às leis de composição interna da linguagem e se articulam por meio das relações com os eixos metafórico e metonímico (DE LEMOS; LIER-DEVITTO; ANDRADE; SILVEIRA, 2001DE LEMOS, C. T. G.; LIER-DeVITTO, M. F.; ANDRADE, L.; SILVEIRA, E. Le “saussurisme” en Amérique Latine au XXe siècle. Cahiers Ferdinand de Saussure - revue suisse de linguistique générale. Genève, Librairie Droz, v. 56, 2001.). Disso resulta que a escuta na Clínica de Linguagem, assim como na clínica psicanalítica, considera que algo funciona embaixo do conteúdo manifesto, ou seja, dos enunciados sintomáticos.

Buscada por um falante que sofre por sua fala, a Clínica de Linguagem opera a partir do drama singular de cada sujeito; logo se vê que esta é mais uma característica herdada da clínica psicanalítica. Ambas são constantemente interrogadas pelo acontecimento contingente de cada paciente, baseadas na acepção de um sujeito do inconsciente que supõe controlar aquilo que diz, mas que se depara com o desconhecimento de si e a traição de seus propósitos.

As convergências entre as clínicas prosseguem: colocada em lugar central, a fala do paciente mobiliza a clínica e apresenta o sujeito, que não fica “entre parênteses” (FOUCAULT, 1977FOUCAULT, M. O nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 1977., p. 7). A singularidade, a imprevisibilidade e a heterogeneidade são incontornáveis, de modo que nem em uma, nem em outra é possível estabelecer uma relação estável entre uma causa etiológica e a fala sintomática. Esta aproximação entre as clínicas não é fortuita e advém do diálogo da Clínica de Linguagem com o referencial teórico do Interacionismo em Aquisição de Linguagem, exposto brevemente nos parágrafos anteriores.

Apesar do contato próximo estabelecido nas bordas dos campos, as trilhas inevitavelmente se separam: falas sintomáticas podem esbarrar nos limites da clínica psicanalítica (FONSECA; VORCARO, 2006FONSECA, S. C.; VORCARO, A. O atendimento fonoaudiológico e psicanalítico de um sujeito afásico. In: LIER-DEVITTO, M. F.; ARANTES, L. (org.). Aquisição, patologia e clínica de linguagem. São Paulo: Educ/Fapesp, 2006.). Isso significa que as falas sintomáticas que interrogam a Clínica de Linguagem não se confundem com as manifestações do inconsciente, expressas pela fala, que interessam à clínica psicanalítica. Em linhas gerais, a diferenciação fica assim mais explícita:

Na Psicanálise, a escuta é instituída pela teorização sobre o inconsciente, esta instância que Freud (1900/2019FREUD, S. A interpretação dos sonhos (1900). (). São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 1-707. (Obras completas, 4)) define como determinante na vida psíquica. O analisando procura esta clínica em busca de um tratamento do mal-estar na vida cotidiana (VORCARO, 2004VORCARO, A. Método psicanalítico e a clínica do laço mãe bebê. Estilos da Clínica, São Paulo, v. 9, n. 16, p. 70-79, jun. 2004. Disponível emDisponível emhttp://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71282004000100007&lng=pt&nrm=iso . Acesso em: 24 mar. 2019.
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), e não porque sua fala é estranha. Cabe ao analista, desde seu compromisso com o saber e a ética do inconsciente, escutar, por entre as contradições discursivas, lapsos e sonhos, as fontes do mal-estar daquele sujeito. (LIER-DEVITTO, 2020, p. 42).

Nesta breve recapitulação teórica, procuramos demonstrar como os embaraços e erros na fala, antes fadados ao descarte, encontraram espaço e fomentaram teorizações no ambiente subversivo dos campos do Interacionismo e da Clínica de Linguagem. A admissão da ocorrência de fenômenos que passam ao largo de um ideal baseado em noções de desenvolvimento e controle nos inspirou a problematizar a contradição não como dado marginalizante do sujeito, mas como inscrição de subjetividade.

Sendo a contradição uma manifestação impeditiva da verdade para a lógica clássica, e sendo a civilização ocidental herdeira da tradição filosófica e científica dos gregos (RUSSELL, 2016RUSSELL, B. História do Pensamento Ocidental: a aventura dos pré-socráticos a Wittgenstein. Edição especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1959.), restava descobrir se outros sistemas de pensamento poderiam abrigar afirmações contraditórias. Encontramos, na obra do lógico e filósofo brasileiro Newton da Costa (1986DA COSTA, N. C. A. On Paraconsistent Set Theory. In: Logique et Analyse, Bélgica, n. 115, p. 316-371, 1986. Disponível em:Disponível em:http://www.logiqueetanalyse.be . Acesso em: 27 abr. 2020.
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; 2000DA COSTA, N. C. A.; ABE, J. M. Paraconsistência em informática e inteligência artificial. In: Estudos Avançados, São Paulo, v. 14, n. 39, p. 161-174, 2000. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000200012&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 27 abr. 2020.
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; 2008DA COSTA, N. C. A. Newton da Costa: paixão e contradição. [Entrevista concedida a] Neldson Marcolin. Pesquisa Fapesp, São Paulo, ed. 148, 2008. Disponível em: Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/revista/ver-edicao-editorias/?e_id=146 . Acesso em:15 nov. 2019.
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e outros), o desenvolvimento de um sistema lógico inovador e receptivo às contradições. Passamos agora a um breve percurso sobre como se deu esta inovação.

3 A ADMISSÃO DA CONTRADIÇÃO PELA LÓGICA

O problema da contradição - o “mais fundamental e incontornável de toda a História da Filosofia” (SILVA, 2009SILVA, M. M. Pensar a contradição, a tarefa do presente! Contradictio, Curitiba, v. 2, n. 1, p. 1-13, 2009. Disponível em: Disponível em: https://revistas.ufpr.br/contradictio/issue/view/905 . Acesso em: 20 nov. 2019.
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, p. 1) - tem em Aristóteles o seu referencial soberano, mas, ao longo dos séculos, pôde desfrutar de discussões dissonantes que possibilitaram a ampliação de sua teorização. Alçada à categoria de princípio, a não-contradição ficou encarregada de validar o ser e as coisas (ABBAGNANO, 2007ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.) e dar suporte à construção de sentido do mundo, nossa História e nossas vidas (CIRNE-LIMA, 1996CIRNE-LIMA, C. R. V. Sobre a contradição. Porto Alegre: Edipucrs, 1996.).

Ainda que a unanimidade silenciosa em torno do princípio aristotélico inibisse críticas e especulações filosóficas (CIRNE-LIMA, 1996CIRNE-LIMA, C. R. V. Sobre a contradição. Porto Alegre: Edipucrs, 1996.), houve contestação por parte de autores como Hegel, Marx e Engels. Um dos argumentos para sua refutação era de que a realidade por si só era contraditória, em claro transbordamento das margens impostas pela não-contradição (MORA, 2001MORA, J. F. Dicionário de Filosofia: Tomo 1: A-D. São Paulo: Edições Loyola, 2001.).

No século 18, a não-contradição também se tornou um pilar para a lógica (ABBAGNANO, 2007ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.), sob a nomenclatura de “lei fundamental do pensamento”, ao lado do princípio de identidade e do princípio do terceiro excluído (CHAUI, 2002CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, v. 1, 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.). Similarmente, neste campo, a autoridade de Aristóteles intimidou avanços: segundo Russell (2016RUSSELL, B. História do Pensamento Ocidental: a aventura dos pré-socráticos a Wittgenstein. Edição especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1959.), as doutrinas lógicas permaneceram fincadas às raízes aristotélicas até o século 19, com pouco espaço para novos desenvolvimentos.

Antes associada à arte do pensar, a lógica passou por formalizações que estabeleceram uma ênfase dos caracteres universais e inconfundíveis, como os da matemática, sobre o conteúdo das proposições (CHAUI, 2000CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.). Transformações como essas abriram espaço para a produção de abstrações que viabilizavam o alargamento de teorias, como vinha acontecendo na matemática, de onde surgiram geometrias não-euclidianas e a teoria dos conjuntos de Cantor (D’OTTAVIANO; FEITOSA, 2003D’OTTAVIANO, I. M. L.; FEITOSA, H. A. Sobre a história da lógica, a lógica clássica e o surgimento das lógicas não-clássicas. Página Educacional do Cle, Campinas, p. 1-34, 2003. Disponível em:Disponível em:https://www.cle.unicamp.br/cle/content/publica%C3%A7oes-do-grupo-glta . Acesso em: 6 jan. 2020.
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).

Esses avanços sugeriam que outras lógicas, além da clássica, podiam ser aventadas. A teoria dos conjuntos, por exemplo, era regida pelas leis aristotélicas, mas apresentava paradoxos que pressionavam as extremidades daquela lógica. Soluções não-aristotélicas então irromperam, derrogando os princípios básicos da lógica clássica. Nas palavras de Gomes e D’Ottaviano (2017GOMES, E. L.; D’OTTAVIANO, I. M. L. Para além das Colunas de Hércules, uma história da paraconsistência: de Heráclito a Newton da Costa. Campinas: Editora da Unicamp, 2017.), o que vinha ocorrendo era uma revolução.

As novas sistematizações da lógica escancaravam as fronteiras do princípio da não-contradição, considerado inviolável e “o mais seguro de todos” (KRAUSE, 2017KRAUSE, D. Prefácio. In: GOMES, E. L.; D’OTTAVIANO, I. M. L. Para além das Colunas de Hércules, uma história da paraconsistência: de Heráclito a Newton da Costa. Campinas: Editora da Unicamp, 2017., p. 28). Certas teorias, então tidas como inconsistentes devido aos seus paradoxos, encontravam a confirmação de sua validade sob as lógicas paraconsistentes, que acomodavam as contradições ao admitir proposições em que uma fosse a negação da outra (KRAUSE, 2017KRAUSE, D. Prefácio. In: GOMES, E. L.; D’OTTAVIANO, I. M. L. Para além das Colunas de Hércules, uma história da paraconsistência: de Heráclito a Newton da Costa. Campinas: Editora da Unicamp, 2017.).

Neste inovador desenvolvimento das lógicas paraconsistentes, sistematizadas na década de 60, destacamos o protagonismo do lógico, matemático e filósofo brasileiro Newton da Costa, considerado seu fundador por Krause, Gomes e D’Ottaviano (2017KRAUSE, D. Prefácio. In: GOMES, E. L.; D’OTTAVIANO, I. M. L. Para além das Colunas de Hércules, uma história da paraconsistência: de Heráclito a Newton da Costa. Campinas: Editora da Unicamp, 2017.). Seu propósito não era o de soterrar a lógica clássica e cobri-la com um novo sistema, mas, sim, expandir possibilidades por meio de lógicas adicionais.

Curiosamente, a trajetória de Da Costa (1986DA COSTA, N. C. A. On Paraconsistent Set Theory. In: Logique et Analyse, Bélgica, n. 115, p. 316-371, 1986. Disponível em:Disponível em:http://www.logiqueetanalyse.be . Acesso em: 27 abr. 2020.
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; 2012DA COSTA, N. Newton Carneiro Affonso Da Costa: Entrevista. [Entrevista concedida a] Cesar Antonio Serbena. Revista da Faculdade de Direito - UFPR, Curitiba, n. 55, p. 185-204, 2012. Disponível em:https://revistas.ufpr.br/direito/article/view/31494. Acesso em: 14 mar. 2020.; 2014DA COSTA, N. Psicanálise & Lógica: entrevista com Newton C. A. da Costa. [Entrevista concedida a] Oscar Angel Cesarotto e Márcio Peter de Souza. Leitura Flutuante, São Paulo, v. 6, n. 2, fev. 2014. Disponível em:Disponível em:https://revistas.pucsp.br/leituraflutuante/article/view/20671 . Acesso em: 16 jul. 2019.
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) pela acomodação das contradições na lógica inclui o atravessamento da Psicanálise por meio de experiências pessoais de análise, como ele mesmo reconhece, de observação de elementos contraditórios nos sonhos e de sua admiração pelas teorizações de Lacan sobre o funcionamento do inconsciente, que também derrogavam princípios básicos da tradição aristotélica.

A teorização de Da Costa é de valor substancial para nosso trabalho, já que ela sustenta a manutenção de contradições em um sistema lógico. Reconhecemos as fronteiras entre os campos, especialmente quanto à filiação que a Lógica paraconsistente tem com a racionalidade, enquanto a Psicanálise introduz, desde sua fundação, uma ruptura com a primazia da razão (GARCIA-ROZA, 1985GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.). Trata-se da inauguração de um sujeito que não é definido pela consciência, mas por um “desconhecimento” constitutivo. O inconsciente substantivo, esta grande invenção freudiana, preside as manifestações que surpreendem o próprio sujeito; a surpresa e o inesperado se apresentam pela via da linguagem, como buscamos enfatizar no próximo tópico.

4 A FORÇA DA LINGUAGEM PARA FREUD

Freud dedica um texto metapsicológico e homônimo ao inconsciente em 1915, mas, já na fundação da Psicanálise, expõe, em três registros, os pontos fundamentais de emergência do inconsciente na linguagem, que alinhavam as bases teóricas e clínicas da Psicanálise: A interpretação dos sonhos (1900), Psicopatologia da vida cotidiana (1901) e O chiste e sua relação com o inconsciente (1905). Estes três livros jogam luz sobre a importância da linguagem como protagonista e como espaço material de manifestações do inconsciente. Trata-se do “equívoco” e da indicação do compromisso incondicional que a clínica psicanalítica estabelece com os dizeres do sujeito, sem submetê-los a ideais, correções ou descartes. Estas são manifestações privilegiadas de irrupção do inconsciente na fala, do valor da surpresa e do desconhecimento quando ele faz aparecimento.

Nas falas erráticas, esquecimentos, lapsos e trocas de nome, presentes no cotidiano, o inconsciente se manifesta, furando o ideal de que uma fala seja sempre estruturada e conscientemente controlada. Em outras palavras, as inconsistências nos dizeres de falantes receberam importância fundamental na Psicanálise, em direção oposta ao entendimento do discurso médico, como ressaltam Iannini e Tavares:

Tratando em cada um dos seus doze capítulos dos diferentes tipos de equívocos, até então concebidos, via de regra, como um mau funcionamento mental ou cerebral, mais do que psíquico, Freud aponta uma curiosa lógica que denuncia um grau de acerto por trás da aparente falha. Equívocos na escrita, na fala, na ação, nas lembranças etc. eram concebidos até então, e em muitos meios ainda hoje o são, como mero mau funcionamento de um aparelho neurocognitivo desprovido de aspectos subjetivos. (IANNINI; TAVARES, 2023IANNINI, G.; TAVARES, P. H. A ordinária desordem do sujeito comum. [Apresentação]. In: FREUD, S. Psicopatologia da vida cotidiana: sobre esquecimentos, lapsos verbais, ações equivocadas, superstições e erros (Obras incompletas de Sigmund Freud). Belo Horizonte: Autêntica, 2023., p. 12).

Em uma parte da Psicopatologia da vida cotidiana, recolhe-se a relevância, dada por Freud, aos erros, ditos de memória, flagrados em uma fala ou escrita. O autor escreve: “onde aparece um erro, por detrás se esconde um recalcamento. Melhor dizendo: há uma insinceridade, uma desfiguração que definitivamente se assenta sobre algo recalcado” (FREUD, 1901FREUD, S. Psicopatologia da vida cotidiana: sobre esquecimentos, lapsos verbais, ações equivocadas, superstições e erros (1901). Belo Horizonte: Autêntica, 2023, p. 1-368. (Obras incompletas de Sigmund Freud), p. 301). Note-se que o erro não é recebido como falha ou oposição a acerto: a “escuta flutuante” não deixa passar, não volta as costas para o material recalcado; ela opera uma escuta do pensamento latente, muitas vezes carreado por contradições na fala manifesta.

Não por acaso, destaca Milner (1992)MILNER, J. C. Linguística e Psicanálise (1992). Revista Estudos Lacanianos. Tradução de Paulo Sérgio de Souza Jr. Belo Horizonte, v. 3, n. 4, 2010. Disponível em: Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-07692010000100002&lng=pt&nrm=iso . Acesso em: 3 jul. 2023.
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, foi nos acontecimentos cotidianos de linguagem como o chiste, o sentido antitético das palavras primitivas, o esquecimento e o ato falho que Freud logrou obter a validação do inconsciente, ou seja, a corroboração de suas hipóteses em um território fora da prática clínica. Lacan (1953LACAN, J. Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise. In: LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1953.), de fato, vai na mesma direção ao sustentar a importância da “função e campo da linguagem na Psicanálise”.

Não deve surpreender, portanto, que a Psicanálise possa se interessar pelas contradições, uma manifestação de linguagem que expõe a divisão de um sujeito e que põe em relevo suas vastidões e conflitos subjetivos. O interesse de um psicanalista por campos em que erros e contradições são materiais e assuntos prestigiados não deve, igualmente, causar estranhamentos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entendemos que a eliminação das contradições, justificadamente pressuposta nas esferas que respondem à tradição ocidental de pensamento, esbarra em uma espécie de “fracasso cotidiano”, uma vez que recolhemos manifestações contraditórias do sujeito tanto na clínica psicanalítica quanto nas interações pessoais. Esta diferenciação no tratamento da contradição estabelece partições quanto à ideia de sujeito: de um lado, ele é presumido como indiviso, coerente e consistente; mas quem aparece no cotidiano e no sofrimento, dentro e fora da clínica, é o sujeito dividido, inconsistente, que deixa escapar na fala aquilo que marca sua subjetividade.

Dispostas a refletir sobre como a contradição assinala a validade daquilo que o sujeito fala, em oposição ao descarte da credibilidade do falante que se contradiz, abordamos a receptividade, em diferentes campos do saber, ao que é considerado um erro ou uma inconsistência desprezível a elaborações teóricas e clínicas. Iniciamos o trajeto deste artigo destacando o interesse comum, da Clínica de Linguagem e da Psicanálise, por manifestações que não correspondem aos ideais de “fala correta” ou de “unidade do sujeito”. Consideramos relevante mostrar que também na Lógica paraconsistente, com Newton da Costa, as contradições puderam ser incluídas.

Da Clínica de Linguagem, extraímos a valiosa aposta na subjetividade do falante a partir do que claudica e faz sintoma; da Lógica paraconsistente recolhemos experiências em que a “ameaça terrífica da contradição e da inconsistência” (GOMES; D’OTTAVIANO, 2017GOMES, E. L.; D’OTTAVIANO, I. M. L. Para além das Colunas de Hércules, uma história da paraconsistência: de Heráclito a Newton da Costa. Campinas: Editora da Unicamp, 2017., p. 255) não desencorajou a fundamentação de sistemas lógicos inovadores.

Desta forma, encontramos, tanto na Clínica de Linguagem quanto na Lógica paraconsistente, espaços de reflexão e diálogo que não prescindem de seus respectivos limites teóricos. Certamente não pretendemos esgotar as questões advindas destes encontros e distanciamentos; procuramos, por outro lado, apontar para direções interessadas em discutir inconsistências cotidianas, tal como testemunhamos na clínica psicanalítica.

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  • 1
    Este artigo foi desenvolvido a partir de discussão proposta em dissertação de mestrado de Amanda Mont’Alvão Veloso Rabelo defendida em 2020, no programa de pós-graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da PUC-SP, com fomento da Capes e orientada por Maria Francisca Lier-DeVitto.
  • 2
    Abordagem teórico-clínica proposta por Lier-DeVitto em 1997 e voltada ao atendimento de pessoas que apresentam cristalizações sintomáticas na fala - as chamadas “patologias de linguagem”. O sujeito deste campo é o sujeito do inconsciente. Remetemos os leitores às discussões sobre o campo presentes no livro Aquisição, patologias e clínica de linguagem (Educ/Fapesp, 2006).
  • 3
    As aspas representam nossa consonância com as reflexões trazidas por De Lemos (1982; 1992; 2002) acerca do ideal de fala da criança na aquisição de linguagem, em que os erros são aquilo que foge às categorias descritivas predeterminadas. Recomendamos ainda o trabalho de Glória Maria Monteiro de Carvalho Erro de pessoa: levantamento de questões sobre o equívoco em aquisição da linguagem (CARVALHO, 1995CARVALHO, G. M. M. Erro de pessoa: levantamento de questões sobre o equívoco em aquisição da linguagem. 155f. Tese (Doutorado em Linguística) - Instituto de Estudos Linguísticos, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 1995.).
  • 4
    No método psicanalítico, a escuta opera de forma oposta ao método científico: guiada por um foco, investiga uma questão específica.
  • 5
    Esta discussão norteou a dissertação de mestrado identificada anteriormente.
  • 6
    O conjunto das obras de Aristóteles sobre o assunto era denominado Órganon, vocábulo grego para “instrumento”. Ele não utilizava o termo “lógica”, mas, sim, “analíticos”. O nome apareceu séculos depois, empregado pelos estoicos e por Alexandre de Afrodísia (CHAUI, 2000; 2002).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    02 Maio 2021
  • Aceito
    28 Jul 2023
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