Resumo:
Neste artigo, debato, a partir da definição freudiana de pulsão enquanto limite entre o psíquico e o somático, como o conceito de corpo, tal qual aparece na psicanálise, inscreve-se em um processo em curso de desconstrução dos binarismos que estruturam o pensamento ocidental e cada vez mais contaminam o pensamento hegemônico. Neste percurso, apresento o conceito de desconstrução e corpo-limite de Jean-Luc Nancy que pode contribuir para uma reflexão sobre a clínica do limite e a experiência com o estrangeiro na análise.
Palavras-chave:
corpo; desconstrução; limite; psicanálise; binarismo
Abstract:
In this article I discuss, from the Freudian definition of drive as a limit between the psychic and the somatic, how the concept of body, as it appears in psychoanalysis, signs up in an ongoing process of deconstruction of binarisms that structure the western thought and more and more contaminate the hegemonic thought. In this path, I present Jean-Luc Nancy’s concept of deconstruction and limit-body that can contribute to a reflection on the clinic of limit and the experience with the foreigner in the analysis.
Keywords:
body; deconstruction; limit; psychoanalysis; binarism
psyche ist ausgedehnt: weiss nichts davon.
Sigmund Freud
A pulsão, para Freud, existe no limite entre o psíquico e o somático. É o local onde os pressupostos “corpo” e “palavra” encontram-se formando um nó produtor de deslocamentos: não restritos aos aspectos ditos “corporais”, nem aos ditos “psíquicos”. Mais do que isso, a pulsão coloca em questão - ou ao menos nos possibilita colocar - todo o dualismo antropológico do pensamento ocidental, abrindo horizonte para outras compreensões não mais pautadas na oposição tradicional corpo-alma ou sujeito-objeto. A pulsão nos faz pensar para além do psíquico e do somático, para além da vida e da morte: pensar o próprio estatuto epistemológico do limite. E é justamente no limite, da vida e da morte, que se apresenta aquilo que não se inscreve no campo das representações, aquilo que não cessa de não se escrever: irrepresentado, espaçamento, pulsão de morte, real, estes são diferentes nomes e aspectos dessa abertura, dessa diferença que abre espaço para transformações. Nomes do finito que abre espaço para o infinito de novas construções, ligações e fluxos de energia.
Tradicionalmente, o corpo é entendido como aquilo que todos os existentes possuem em comum, sejam eles animais humanos, animais não-humanos, minerais ou vegetais, ou seja, toda a “natureza” se apresenta enquanto espaço próprio dos corpos. De outro lado, a alma seria reservada apenas para alguns seres “excepcionais”: aqueles dotados de razão, de consciência, de linguagem e todas as determinações que marcam uma ruptura entre o natural e o cultural, entre o natural e o artificial, entre os corpos da natureza e a técnica do homem que, para o ocidental, seria capaz de suplementar a natureza e produzir cultura.
Cremos que a psicanálise, junto da antropologia estrutural, é um espaço central para que uma desconstrução da metafísica opere, tanto na crítica a conceitos como consciência quanto na recolocação da oposição entre natureza e cultura a partir de conceitos-limite que não se enquadram simplesmente na forma como esta oposição foi construída. Por mais que a epistemologia que sustenta a psicanálise esteja, também, marcada por essa tradição, é do seu interior, de maneira autoimune, para falar como Derrida (Coelho, 2020), que um deslocamento opera e que o vivo e pulsante pensamento ocidental é atravessado pela sua própria destruição-desconstrução, pela sua finitude - morte.
O que nos interessa é ver como o pensamento da psicanálise transgride estes limites ao tematizar o inconsciente enquanto anterior às produções de sentido e introduzir o conceito de pulsão (Trieb) que nos dá um aparato conceitual completamente novo para interpretarmos os sintomas para além da oposição clássica entre objetos naturais e sujeitos culturais.
Falando da “doutrina das pulsões” como da nossa “mitologia”, Freud demarca-se de toda a filosofia e, mais geralmente, de toda a doutrina, precisamente como ele queria que a sua “metapsicologia” se demarcasse de toda metafísica ao mesmo tempo que de toda a psicologia. (Nancy, 2014, p. 89).
Como sabemos e nos reafirmam Winograd (2013) eDunker (2021), o corpo nunca foi um conceito desenvolvido sistematicamente por Freud, como foram diversos outros conceitos (inconsciente, pulsão, transferência, libido etc.), mas ele foi presumido. Contudo, há no pensamento freudiano uma ambivalência. De um lado, ele repercute o dualismo antropológico supracitado, mas, ao mesmo tempo, seu pensamento traz, para além da não problematização direta do conceito de corpo na sua concepção cartesiana, uma série de conceitos que não podem ser exatamente situados em nenhum dos dois lados. São conceitos-membrana que atestam, apesar de podermos diferenciar realidade material da realidade psíquica a partir de certo aparelho epistemológico, que, para Freud, não há como pensar estas duas realidades de maneira autônomas. Existe, aí, uma codependência no interior da qual a psicanálise, em si mesma, seria resultado deste encontro: deste limite. Conceitos como “isso”, “afeto” e “pulsão” ocupariam justamente a função de apontar para este limite entre o “corporal” (material) e o psíquico (Winograd, 2013).
Para além de uma fetichização do conceito de alma e de linguagem que apagaria qualquer lastro material (“corporal”), e para além de uma redução ao aspecto “meramente” biológico (“corporal”) dos sintomas, o aparato freudiano nos oferece uma desconstrução dessa oposição que trazemos desde o seu interior. Como sempre repete o franco-magrebino Jacques Derrida, toda desconstrução é um processo autoimune, ou seja, acontece desde o interior de um pensamento. Para Freud, a pulsão é justamente
[...] um conceito fronteiriço [Grenzbegriff] entre o anímico e o somático, como representante psíquico dos estímulos oriundos do interior do corpo que alcançam a alma, como uma medida da exigência de trabalho imposta ao anímico em decorrência de sua relação com o corporal. (Freud, 2013, p. 25).
Como nos mostramWinograd e Costa Mendes (2009), esta definição freudiana da pulsão enquanto conceito fronteiriço traz consigo uma ideia dupla marcada na palavra Grenzbegriff. “Grenz significa fronteira ou limite, e Begriff quer dizer conceito” (Winograd; Costa Mendes,2009, p. 214). A ideia de fronteira, como detalham as autoras, mostra, de um lado, o contorno e as margens de um território (seus limites), e, ao mesmo tempo, nos locais em que há controle militar da fronteira ou que a fronteira apresenta certa extensão de terra, esta extensão pertence simultaneamente a ambos os territórios, marcados neste limite.
Segundo Dunker:
Fronteiras são locais tipicamente conflituosos e dados a proliferação de equívocos. Na fronteira entre psicanálise e medicina, na fronteira entre psicanálise e religião ou entre psicanálise e psicologia, surge esta neolíngua, este programa orientado para o estudo do corpo e de certas doenças qualificadas de psicossomáticas. (Dunker, 2021, p. 80).
A psicossomática permite que “aquilo que não tem lugar seja enviado para o lugar daquilo que não tem lugar” (Dunker, 2021, p. 81). É no interior deste campo problemático e de uma definição ambivalente (ou ausente de corpo) que a psicanálise encontra o seu terreno mais (im)próprio. De um lado, colocando as implicações ontológicas imbricadas nessa questão, de outro, pensando a escuta de corpos dissidentes do dualismo e a posição do analista diante deste limite.
Lá onde “o corpo-organismo foi colonizado pela medicina e o psiquismo desencarnado foi entregue à psicanálise” (Birman, 2000, p. 59), o que colocamos em questão é como se apresenta este limite entre corpo e alma, entre o psíquico e o somático na psicanálise, ou, ainda, entre o espaço natural e o cultural para pensar a psicanálise enquanto espaço paradigmático de escuta (abertura ao outro enquanto outro) deste corpo-limite sem lugar (que todo corpo é, apesar das denegações implicadas) que se manifesta como sintoma.
A hipótese de que a psicanálise se constrói sob a recusa do corpo médico se mantém ainda no interior da dualidade que colocamos aqui em questão e, como sustentaDunker (2021), envelheceu. Estas marcas de excesso que a metapsicologia freudiana carrega, inscritas no seu corpus mesmo, transbordam o dualismo antropológico ocidental e as epistemologias da ciência tradicionais, pois “Freud fundou a psicanálise como domínio de saber não redutível à biologia e à psicologia. Aqui estaria a originalidade epistêmica do campo psicanalítico” (Birman, 2000, p. 60).
Para isso, articulamos o conceito de corpo na psicanálise com o pensamento da desconstrução, especialmente com a ontologia do corpo presente na obra de Jean-Luc Nancy, para quem tudo é corpo, mas o corpo tem todo outro sentido: ele é o “próprio” limite. Autor que faleceu em 2021 e que, durante toda a sua obra, produziu debates profícuos com a psicanálise, sobretudo através das figuras de Lacan e de Freud.
Neste contexto, perguntamos: como pode surgir, diante do analista, algo como um corpo singular para além das estruturas que o determinam e produzem a sua localidade histórico-social?
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Jean-Luc Nancy é designado por Jacques Derrida como o maior pensador do corpo e do tato na história da filosofia (Derrida, 2000). Para o filósofo magrebino, “o tocar resta para Nancy como o motivador de um realismo absoluto, irredentista e pós-desconstrutivo” (Derrida, 2000, p. 60). Dentre os aliados de Nancy em sua empreitada pela desconstrução do conceito de corpo, Freud ocupa lugar de destaque, mas também Derrida marca esta história de herança inscrita no corpus nacyniano. Enquanto um pensador inscrito na tradição da desconstrução, Derrida ofereceu a Nancy não um método, mas uma diferença (différance) diante da tradição, uma forma outra de se relacionar com o texto, ou, ainda, um caminho, o caminho da brisura, permitindo-o pensar aquilo que não é nem visível nem invisível, nem sensível nem inteligível, ou seja, o entre, o espaçamento, o limite (Derrida, 1967, p. 15-108)1.
Freud, por sua vez, é o pensador que abriu portas para Nancy pensar o inteligível e todas as derivações deste (sentido, espírito, consciência, razão, língua etc.) como afecções corporais - táteis -, porquanto “psyche ist ausgedehnt: weiss nichts davon” [a psique é estendida, nada sabe a respeito] (Freud [1938]1974, p. 189). Esta nota de Freud é fundamental para a reflexão de Nancy a propósito da psicanálise, e também para a crítica que faz a certa teoria que se restringe a pensar o corpo enquanto discurso, esvaziando-o de sua arealidade (ao mesmo tempo sua área e uma realidade não presente a si). Para Nancy, “toda a psicanálise tem o seu verdadeiro programa, ainda por vir, nessa única nota de Freud” (Nancy, 2000, p. 94). Ao pensar a questão do corpo e do real, o filósofo está pensando uma desconstrução que já está em curso, tanto na filosofia quanto em outras áreas de pensamento, como, por exemplo, na psicanálise.
É justamente neste ponto que a desconstrução de Nancy e a teoria psicanalítica começam a encontrar seus pontos comuns, ou seja, fazem comunidade, mas comunidade que não se reduz à unidade (não produz um corpo único presente a si). “A procura por uma espécie de teoria psicanalítica unificada sobre o corpo e suas afecções é um gênero desnecessário de metafísica” (Dunker, 2021, p. 79).
Como argumentaDunker (2021), isso não implica dizer que os fenômenos ditos corporais não existam, que quadros, síndromes ou sintomas não se apresentam nisso que nomeamos “o corpo”, “a linguagem”, “a mente” etc., mas significa dizer que estas diferentes semiologias não convergem sobre um mesmo objeto, que a polissemia que se apresenta nesses diferentes contextos não pode ser reduzida a uma mesma verdade, a um mesmo corpo presente a si. A psicanálise, na medida em que se coloca enquanto uma clínica sobre as pulsões e, por conseguinte, sobre este limite mesmo que elas são, ataca o cerne do “delírio” (Coelho, 2021) que sustenta a busca por uma teoria unificada do corpo e de suas afecções.
Ao falar do limite da clínica ou limite da psicanálise, Freud busca mostrar que a psicanálise se inventa no limite, isto é, que estamos sempre no limite de algo que se atualiza na relação transferencial, que insiste e que empurra adiante. Dentro dessa perspectiva, o limite da clínica é, então, o que torna o fazer psicanalítico singular, único. (Herzog, 2011, p. 78).
Nesta busca (comum) pela singularidade, a relação entre as obras de Nancy e de Freud é marcada pelo amor, no sentido mesmo que Nancy dá a ele (em inspiração freudiana), a saber: quando dois “corpos”, diante da impossibilidade do toque e da presença plena, tentam comprimir-se um contra o outro, em um impulso (mordaz) e fadado ao fracasso de tornarem-se Um. Ou seja, o peso de ambos os pensamentos pode pesar um sob o outro, mas sem fundar unidade. Há sempre a busca por um retorno a um estado anterior “perdido” de unidade que orienta a vida e que é vetado pela morte. Temática de Nancy, temática fulcral à psicanálise.
É neste movimento que Nancy e Freud, ao formularem suas próprias questões, vão (hiperbolicamente) mais além do pensamento tradicional do corpo (em oposição à alma), e é por isso que Derrida considera Nancy um pensador “de um realismo absoluto, irredentista e pós-desconstrutivo” (Derrida, 2000, p. 60), e que Freud é central neste processo, enquanto alguém que abriu e segue abrindo o campo de outro continente de pensamento.
Lá onde Freud desenvolveu uma série de conceitos-limite entre o corpo e o sentido, entre o natural e o cultural, e produz uma técnica que versa justamente sobre estas fronteiras ao tratar o sofrimento, Nancy vai pensar o corpo enquanto limite e pensar o pensamento enquanto pesagem de corpos - corpos que não são em si mesmos, mas têm o seu sentido “mesmo” no endereçamento entre os corpos que produzem mundo(s), que abrem espaço, através de uma negatividade necessária (Tamborindeguy; Winograd, 2019), para a produção de “novas” organizações psíquicas.
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O filósofo francês é um crítico da tradição metafísica que, segundo ele, nunca conseguiu dar conta da questão do corpo. Seja por se limitar à distinção metafísica entre o visível e o invisível, seja por, na tentativa de superação desta distinção, afirmar que só podemos apreender o corpo como significante.
Desde Platão - filósofo que defende a primazia da ideia sobre o corpo, afirmando, entre outras coisas, que “estamos realmente mortos e temos por sepultura o corpo” (Gorgias, 492e-493a) - até teorias contemporâneas que pregam a impossibilidade de acesso ao real, pois a coisa mesma sempre escapa (Derrida, 1967), passando por teorias do corpo de matriz francesa que, talvez em um movimento antifreudiano, pensam o corpo como corpo meramente significante, ou seja, como corpo subsumido ao sentido, temos dificuldade de pensar o corpo. Seja como consequência de uma defesa irrestrita do incorporal, por medo de um “reducionismo” materialista/biologizante presente na obra de Freud, encontrada na psicanálise pós-freudiana (Birman, 2000, p. 53), seja pelo medo de não responder à demanda de objetividade colocada pelas ciências da natureza, acabamos apagando a singularidade mesma do objeto de estudo da psicanálise, encontrado por Freud com seus Grenzbegriff.
Todavia, o que este suposto dilema mascara são as construções epistemológicas ocidentais no interior das quais essas construções binárias se inscrevem: ou a afirmação do real-corpo presente a si enquanto reino dos objetos (naturais/explicativos), ou um mundo de ficções e fantasias completamente desprendidas de qualquer corporeidade dos sujeitos (culturais/compreensivos). O pensamento freudiano não se enquadra em nenhum destes limites ocidentais, ou melhor, talvez se enquadre no limite (nas fronteiras) de ambos: instaurando as arestas deste pensamento dual e abrindo espaço para que diversos autores e autoras, além de outras ciências humanas, desenvolvessem-se neste espaço nebuloso.
Uma leitura cuidadosa dos escritos de Freud, principalmente dos textos sobre a afasia, pode ser bastante instrutiva quanto a isso. Num deles, Freud não hesita em afirmar que a afasia é antes de tudo uma enfermidade psíquica. Essa afirmação não deixa de ser surpreendente, se considerarmos que estamos no fim do século XIX. Isso nos revela que Freud havia começado a desconstrução do paralelismo psicofísico desde o início do seu percurso. (Birman, 2000, p. 55, grifo nosso).
Desta forma, estava inscrito no projeto (ainda por vir, segundo Nancy) de Freud e da psicanálise outro conceito(-limite) de corpo não mais marcado por essa narrativa dual: o corpo como unidade meramente discursiva, ou unidade meramente material.
A noção genérica de “corpo” representa uma unidade entre figuras heterogêneas, uma falsa unidade. A teoria psicanalítica da corporeidade deve explicar a constituição dessa falsa unidade, em termos metapsicológicos, lógicos e ideológicos, de tal forma a propiciar abordagens políticas e clínicas que possam libertar o conceito de corpo, se é que há um, de sua histórica compulsão à identidade e unidade. (Dunker, 2021, p. 77).
O corpo, então, que nunca foi objeto de descrição sistemática pela teoria freudiana, é aquele que não pode ser determinado em sua totalidade, pois ele é plural e multidimensional. Talvez seja justamente esta ausência de descrição sistemática um sintoma, o sintoma mesmo da psicanálise, pois os seus conceitos fundamentais, entre eles o de pulsão, operam no limite deste corpo-limite. Operam justamente no lugar daquilo que não tem lugar, ou seja, no vocabulário de Nancy, no corpo e no peso de seu pensamento.
Na metapsicologia, a pulsão aparece como conceito-limite, como conceito-membrana que une outros dois conceitos que também operam nesse limite, a saber, o isso e o afeto (Winograd, 2013). A pulsão aponta justamente para um ponto em que é impossível saber em qual terreno estamos pisando, ela opera na indiscernibilidade alma/corpo, corporal/psíquico, natural/cultural, representação/irrepresentado, se pensarmos na pulsão de morte (Tamborindeguy; Winograd, 2019). O conceito de pulsão une, como afirma Winograd (2013, p. 115), aquilo que foi separado por Descartes, mas sem manter essa oposição incólume a esse processo.
Todo processo de desconstrução conceitual opera de maneira autoimune, do interior de um pensamento, mas sempre respondendo a ele. Ao tematizar a pulsão enquanto limite, Freud aponta para uma desconstrução que opera nessas oposições que estão marcadas nas línguas ocidentais, mas faz isso desde o seu interior, tecendo e ampliando este fio muito antigo. Dito de outra forma, só é possível pensar o limite entre o psíquico e o somático no interior do mundo que se erigiu sobre essa oposição. Isso não implica em uma continuidade, mas abertura para a différance , ou para a negatividade necessária.
Ao unir aquilo que foi separado por Descartes e, ao mesmo tempo, trazer um novo aparato conceitual inédito para a história do pensamento, Freud opera não apenas uma reunião do separado, mas a fundação de um novo paradigma. Para falar no dialeto da desconstrução, não basta inverter a metafísica afirmando o termo rebaixado (o corpo, por exemplo), temos que inverter e deslocar, produzindo novas oposições e novas organizações - em relação de herança (e traição) com a tradição.
Sendo a causa última de toda a atividade, para além da pulsão, não haveria mais conceitos psicanalíticos. Noutras palavras, ao mesmo tempo em que o conceito de pulsão refere-se internamente à metapsicologia freudiana, ao ponto em que, num indivíduo, alma e corpo são indiscerníveis, ele esbarra numa ontologia, forçando os limites da metapsicologia na direção da Filosofia mesma que sustenta qualquer biologia. Novamente, o conceito aparece como uma membrana que permite efetuar trocas contínuas com campos de saber sobre o corpo, no caso, sobre o ser. Num primeiro momento, o conceito de pulsão situava-se, epistemologicamente, na fronteira da Biologia. Mas, com recuo imposto pela segunda classificação, o conceito também recua para a fronteira mais profunda com a Filosofia. (Winograd, 2013, p. 124).
A desconstrução de Freud, neste sentido, afeta uma pluralidade de campos de pensamento mostrando um corpo-conflito, sob o nome de pulsão, no interior do qual os conceitos previamente colocados pela tradição não davam conta de compreender ou de explicar. Desde Freud, e a partir dele, muita coisa foi escrita. Desde o retorno de Lacan a Freud, e a partir dele, muita coisa foi escrita. Cabe a nós, que nos propomos a estudar essa prática (clínica) que tem como obra matriz o pensamento de Freud, retornar, mais uma vez, ao pensamento freudiano e à história da psicanálise para introjetarmos na sua teoria os deslocamentos que surgiram - também - a partir dela.
Quanto ao deslocamento que não se resigna em inverter (ele inverte e desloca), Nancy afirma:
Falando da “doutrina das pulsões” como da nossa “mitologia”, Freud demarca-se de toda a filosofia e, mais geralmente, de toda a doutrina, precisamente como ele queria que a sua “metapsicologia” se demarcasse de toda metafísica ao mesmo tempo que de toda a psicologia. Mas não é, claro está, para ir para uma religião: é no pressentimento de uma outra consideração da existência e do mundo, que não de toda e qualquer intimação de saber e de representação. Depois de Kant, Hegel e Nietzsche, ao mesmo tempo que Heidegger, Freud pensa à sua maneira uma descerração da razão, e pensa-a expressamente sob este nome de “pulsão”: virtude da relação com o que não pode consumar-se nem em saber nem em representação - nem, portanto, em “sentido” ou em “verdade”, segundo um destes regimes.
A consequência maior é ontológica, ou então descerra a ontologia: a pulsão não é em primeiro lugar a relação de um “sujeito” a algum “objeto” - por princípio ela está de todas as maneiras para além do “sujeito” -, mas é condição ou natureza do “ser”. “Ser”, entendido como verbo, quer dizer “impelir” (ou “impulsionar”, “lançar” e ainda “abalar”, “excitar”). Ser é pulsão e pulsão do ente em geral. A pulsão da razão é o seu desejo da própria coisa. (Nancy, 2014, p. 89).
Lá onde o conceito de pulsão apresenta um aparato de interpretação para a psicanálise enquanto escuta dos outros não mais marcado no dualismo, ele pode oferecer também, como apontam Winograd e Nancy, um espaço para que a própria ontologia e o ser sejam pensados outramente. Portanto, não apenas enquanto substantivo, mas enquanto verbo, enquanto devir, enquanto movimento (movimento anterior a todo eu, sujeito, Dasein), mas movimento que circunda pelas brechas, pelos buracos, pelas fronteiras da metafísica e de seus dualismos.
Se as pulsões não são em primeiro lugar a relação entre “sujeito” e “objeto”, como diz Nancy, por serem “anteriores” a estas categorias, podemos ver, como nos apontaGreen (1988), corroborado porTamborindeguy e Winograd (2019), que as pulsões de vida ocupam a função objetalizante, enquanto as pulsões de morte, a função desobjetalizante. Se as pulsões de vida operam produzindo objetos para serem investidos, ou endereçando investimento libidinal para objetos já constituídos, a pulsão de morte operará no sentido inverso, desfazendo as ligações de investimento existentes, ou seja, enquanto princípio de desinvestimento. Aquilo que foi produzido em Eros, desfaz-se diante das forças de Thanatos. Este jogo de investimento e desinvestimento, da vida e da morte, é fundamental para podermos sequer falar em “objeto” e em “sujeito”.
Se pensarmos em termos de estrutura, na própria base do estruturalismo, no pensamento de Ferdinand de Saussure e seu “inconsciente estrutural”, já se encontrava um primado que abriu espaço para uma grande interseção com a psicanálise, a saber, que “não é o objeto que precede ao ponto de vista, mas o ponto de vista que cria o objeto” (Saussure, 1972, p. 23), ou seja, a localidade no interior da qual nos inscrevemos, a saber, a língua singular que nos coletiviza, produz os objetos que comparecem diante de nós, da “mesma” forma que o campo pulsional no interior do qual estamos marcados, produz e destrói aquilo que comparece. Mas a questão que colocamos aqui é: como nos singularizamos diante dessas estruturas de produção de mundos e de sujeitos? Como nos singularizamos diante do Outro?
Nas teorias que pensam essa interseção e pensam o corpo como corpo significante (Nancy, 2000), o corpo aparece como receptáculo de um significado; vale notar que, com esta terminologia, remetemo-lo à distinção saussuriana entre significante e significado - respectivamente, as formas fônica e semântica - que constituem o signo linguístico. Assim, estas teorias fariam eco, como também o mostra oDerrida da Gramatologia (1967), a própria distinção platônica e cristã (ao menos do cristianismo pós-agostiniano) entre corpo e alma, entre mundo sensível e mundo inteligível. O corpo é apreendido, então, como vassalo do sentido. Em contrapartida, para Nancy, “não se dirá que o corpo é anterior, posterior, exterior ou interior à ordem significante - mas que está no limite [...] o corpo não é nem significante, nem significado” (Nancy, 2000, p. 25).
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Contudo, ao pensarmos o corpo da psicanálise e o corpo significante, temos que saber que o significante lacaniano não é estruturado analogamente ao significante saussuriano. Ao contrário, o significante de Lacan não implica necessariamente um significado, pois o psicanalista francês substitui o conceito de signo pelo conceito de algoritmo. O algoritmo seria o signo cancelado, o signo marcado pela falta do significado. Signo cancelado, mas não signo destruído (Nancy; Lacoue-Labarthe, 1991, p. 47). Contudo, a questão da psicanálise lacaniana e do materialismo foi motivo de outro artigo (Coelho, 2024). Voltemos ao fio deste texto.
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Como diz Nancy, em um sentido que pretendemos articular em aliança com a psicanálise, que pensa o corpo no seu limite e os limites entre corpo e não-corpo, é que corpo é a própria diferença - différ a nce.
O filósofo francês é um pensador do limite - da extremidade, da pele, da superfície, da margem, da borda - e se coloca em oposição a pensadores do sentido - da presença, da profundidade, da interpretação, da comunicação.
A significação, a tradução, a interpretação, não vem em primeiro, mas sim este limite, este bordo, este contorno, esta extremidade, este plano de exposição, esta cor-sujeito local que pode contrair-se, concentrar-se [...]. Só isto pode fechar ou abrir o espaço para as “interpretações”. (Nancy, 2000, p. 25).
Um “filósofo dogmático”, para retomar uma metáfora derridiana, “reivindicando a verdade, a ciência, a objetividade, isto é, com toda a ilusão viril” (Derrida, 1978, p. 50), “buscando um pensamento do tato que toca sem tocar o intocável, [...] ainda manifestadamente viril, androfálico” (Bernardo, 2008, p. 63, grifo do autor), poderia objetar dizendo-nos que “não há corpo que não esteja já ligado à rede da significação, assim como não existem ‘corpos livres’, flutuando fora do sentido” (Nancy, 2000, p. 24). Contudo, para o pensador francês
[...] é o próprio sentido que vai flutuar, para terminar ou para começar, sobre o seu limite: e este limite é o corpo, não como uma simples e pura exterioridade ao sentido, nem como uma qualquer “matéria” intacta, intocável, mergulhada numa inverossímil transcendência que se fecha na imediatez mais espessa (esta é a extremidade caricatural do “sensível”, própria a todos os idealismos e todos os materialismos); não portanto, como “o corpo”, mas antes como O CORPO DO SENTIDO. (Nancy, 2000, p. 24, grifos do autor).
Outramente, este corpo não será como um corpo significante sobre o qual o sentido galopa, pelo contrário, ele será o próprio corpo, o corpo absoluto do sentido, isto é, o sentido enquanto afecção corporal. Lembremos a frase de Freud tão cara a Nancy que carrega em si todo o projeto por vir da psicanálise (projeto que talvez seja justamente este, pensar o sentido enquanto corpo que antecede as significações e os trabalhos de tradução e de interpretação): “psyche ist ausgedehnt: weiss nichts davon” [a psique é estendida, nada sabe a respeito] (Freud [1938]1974, p. 189). E continua Nancy:
O corpo do sentido não é de modo nenhum a encarnação da idealidade do “sentido”; ao contrário, é o fim da idealidade, o fim do sentido, porquanto o sentido deixa de se reenviar e de se referir a si próprio (à idealidade que o faz “sentido”), suspendendo-se sobre este limite que faz o seu “sentido” mais próprio, e que o expõe como tal. O corpo do sentido expõe esta suspensão “fundamental” do sentido (expõe a existência) - a qual também pode ser designada por efração: a efração que o sentido é na própria ordem do “sentido”, das “significações” e das “interpretações”. (Nancy, 2000, p. 24, grifos do autor).
Desta forma, para Nancy, enquanto as teorias que dão eco ao dualismo antropológico e a distinção radical entre o sensível e o inteligível tendem a entender toda a ordem das sensações como uma ordem secundária, derivada, suplementar, a tarefa daquele que pretende pe(n)sar o corpo, ou melhor, tocá-lo com o pensamento, diante desta longa tradição da história do pensamento que relega o corpo como secundário, é tentar não se render às distinções sempre duais da metafísica, mesmo aquelas que pensam o corpo e a alma enquanto unidade.
Se, como diz Winograd, “Freud nunca esqueceu o que alguns estudiosos insistem em classificar como resquício de biologismo decorrente de sua formação positivista: não há alma sem corpo” (Winograd, 2013, p. 106), podemos entender que, desde o princípio, a interpretação da obra de Freud já está marcada por esse dualismo. Seja pela afirmação irrestrita da explicação dos corpos e da natureza, seja sua negação e a afirmação da compreensão do seu sentido. Mas pensar o limite não implica desvencilhar-se da história pregressa, mas, a partir dela, pensar outramente para além dela mesma, por entre suas brechas e aberturas denegadas. Vida aberta pela morte.
De todas estas maneiras, o fora atravessa o corpo e é por isso que ele é corpo: exposição de uma alma. Os nossos corpos são assim inteiramente, por sua vez, aberturas do mundo, e são-no também os outros corpos abertos, os dos animais, os das plantas. Todos eles sabem saudar. (Nancy, 2014, p. 53).
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Encaminhando para o final e tentando não fechar o campo, mas abrir espaço para mais questões, indicamos alguns trajetos: partindo desse debate ontológico sobre o corpo, quais as implicações para a clínica psicanalítica de pensar o corpo enquanto limite, enquanto para além do dualismo psicofísico?
A ideia do limite do corpo e do corpo enquanto limite, deve, também, estender-se à clínica psicanalítica para pensar, assim, o limite da clínica e a clínica do limite, tema que vem sendo investigado cada vez mais no campo psicanalítico, tendo sido motivo de um livro com esse mesmo título (Garcia;Cardoso, 2011).
Como aponta Gebrim em sua tese de doutorado,
Se, de um lado, a posição analítica se configura pela estrangeiridade do lugar em que ocupa - pois é o analista que ocupa a outra cena, a da dimensão inconsciente - é no encontro com migrantes que esse mesmo lugar passa a ser corporificado pela estrangeiridade do próprio sujeito analista. Dizemos corporificado porque trata-se de elementos enunciados de externalidade que se manifestam através do corpo: língua, sotaque, cor de pele, vestimentas, trejeitos e impressões corporais presentes no corpo. Portanto, na relação que eventualmente se estabelece, são precisamente os traços de estrangeiridade do analista os que emergem através do encontro com o outro. Esse é um elemento tão somente radicalizado no encontro com um estrangeiro, e que tende a ser uma notícia nova para o próprio analista recém-chegado sobre si mesmo para ser incluída como material de trabalho. Assim, a estrangeiridade vivenciada pelo analista através do encontro é tanto notícia sobre a posição ocupada no laço como ângulo em que uma escuta pode se instalar. Para a escuta de estrangeiros, sustentamos a posição privilegiada de um analista estrangeiro - e aqui, seja ele de qualquer nacionalidade, mas que possa fazer da estrangeiridade corporificada pelo encontro, lugar de sustentação da escuta. (Gebrim, 2018, p. 75-76).
A questão do outro, do estrangeiro, do limite e do inquietante são temas fundamentais da psicanálise e da desconstrução, como discutimos. Cada vez mais a psicanálise deve ser afetada e destruída-desconstruída por esse encontro mágico (Coelho, 2020) com outras formas de pensar e outras línguas mais-do-que-ocidentais. O encontro com os corpos trans e mais-do-que-binários, com os corpos periféricos, com os corpos mais-do-que-humanos, com os corpos celestiais ou infernais, com os corpos que não atendem aos padrões normativos do que deve ser um corpo “humano” saudável (capacitismo, gordofobia, etarismo etc.). Todos estes corpos, enquanto corpos-limite, devem interpelar a nossa prática e colocá-la diante dos seus próprios limites.
Referências
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