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Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2012

DISSERTAÇÕES E TESES

Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2012

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Instituto de Psicologia. Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica

Título: Os impasses do feminino: o irredutível ao falo e o indizível do gozo

Autora: Bettina da Rocha Mattar

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data de defesa: março/2012

A presente dissertação aborda os impasses do feminino acerca do complexo de Édipo e da incidência da castração. Inicia-se pela elaboração freudiana sobre a constituição da feminilidade. Ainda que Freud tenha se deparado com impasses, como o repúdio da feminilidade e a impossibilidade de delimitar uma saída feminina do complexo de Édipo, constatou, a partir deles, preciosas indicações como: o momento fundamental da relação mãe e filha, caracterizada por uma forte ambivalência; e o conceito de penishneid ou inveja do pênis, que situa a relação de esperança e decepção na ligação da menina ao falo. Os conceitos de falo, castração e complexo de Édipo foram esboçados para situar a inserção feminina na organização fálica. A parte subsequente, se dedica à formulação de Lacan do inconsciente estruturado como uma linguagem, que situa a função do falo enquanto significante da falta. A inscrição da falta no lado feminino segue uma via estabelecida entre a demanda e a privação. Por fim, trata-se do vazio que constitui o objeto, evidenciado a partir do conceito de objeto a que situa a posição ocupada pela mulher frente ao parceiro. Entretanto, na concepção de Lacan o encontro entre um homem e uma mulher mostra-se impossível. A inserção na função fálica e a relação com o Outro são influenciados por seus modos de gozo, levando Lacan á afirmação de que a relação sexual e a mulher não existem.

Título: O lugar do analista: impasses e implicações a partir de Freud e Lacan

Autora: Clarice Medeiros

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data da defesa: fevereiro/2012

O questionamento sobre o lugar do analista é inerente à prática da psicanálise. A clínica impõe àquele que a exerce inquietações, dificuldades, impasses que precisam ser manejados. No presente trabalho, a obra freudiana foi percorrida com vistas a elucidar a constituição do lugar do analista. Em Freud, localiza-se o início de uma prática e a formulação de uma técnica que não pode ser definida de maneira positiva. Os fenômenos da transferência e da resistência, isolados por Freud, impõem diversas dificuldades para o manejo do tratamento e, em especial, aquilo que Lacan nomeou: a resistência do analista. Os casos freudianos Dora e a Jovem Homossexual explicitam a existência de um ponto cego do analista, ponto este que levou Freud a tropeçar em ambos os tratamentos. Além disso, a formulação da segunda tópica, com a noção de compulsão à repetição, acarretou novos impasses: dificuldades e entraves que sempre existirão. A psicanálise não pode ser exercida sem eles. Contudo, deve haver algo que possa balizar a intervenção do psicanalista. A análise pessoal comparece pois como horizonte constitutivo desta pesquisa, como a experiência pela qual o analista, ele mesmo, deverá passar para se manter presente, aberto aos efeitos da psicanálise. E uma vez que é essa experiência que abre para um sujeito o campo do desejo, argumenta-se que é com o desejo do analista que se poderá sustentar uma prática implicada, uma prática que possa acolher e tirar consequências das dificuldades que lhe são intrínsecas.

Título: O sintoma e seu estatuto na psicanálise: considerações sobre a clínica do significante

Autora: Flávia Lana Garcia de Oliveira

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data da defesa: fevereiro/2012

O presente trabalho busca delimitar a especificidade da concepção de sintoma para a psicanálise. Embora o campo psicanalítico tenha importado esta noção da medicina, ele não se baseia na verdade de uma doença orgânica, mas sim na estrutura psíquica que organiza as relações do sujeito com o mundo. Em vista disso, examinamos as elaborações freudianas sobre o tema, enfatizando a vinculação estabelecida desde seus primórdios entre os sintomas histéricos e a experiência traumática que o encontro com o sexual representa. Neste contexto, as formações do inconsciente são entendidas como satisfações distorcidas da sexualidade recalcada que traduzem a divisão psíquica, realizando de alguma forma o desejo que, em si mesmo, é irrepresentável. Ao encarnar a função de agente da castração, o pai submete o excesso pulsional à norma fálica na trama fantasística do complexo edipiano. Com o conceito de pulsão de morte, Freud passa a ressaltar a fixação pulsional irremediável presente na repetição do sintoma, para além do prazer homeostático. Vemos que o retorno de Lacan a Freud, a partir do aparato linguístico de base estruturalista, sustenta que o sujeito é fundamentalmente barrado e mortificado pela ação do simbólico. Para desenvolver estas coordenadas, trabalhamos a metáfora paterna e a significação fálica, os dois operadores que organizam o campo do Outro. Para compreender suas incidências na constituição subjetiva, exploramos os três tempos do Édipo e o grafo do desejo. A vertente sintomática configura-se como uma mensagem cifrável oriunda do Outro, atualizando as relações entre o desejo, a lei e o gozo. As modalidades estruturais se classificam pela presença/ausência da inscrição do Nome-do-Pai: todas enlaçam os registros do real, simbólico e imaginário como alternativas à falha da regulação fálica do gozo, ora de modo localizado na montagem edipiana, ora por sua rejeição radical. Para visualizar uma prática sustentada na hegemonia do significante, discorremos sobre as entidades clínicas clássicas da psicanálise (histeria, neurose obsessiva, fobia e a psicose), recorrendo aos casos paradigmáticos de Freud a partir dessa lógica lacaniana. Finalizamos este trabalho assinalando alguns desdobramentos do ensino de Lacan, como a maior consideração à dimensão da angústia, bem como ao aspecto puramente pulsional do inconsciente, que possibilitam uma problematização específica acerca da organização de gozo que se configura nos sintomas.

Título: A experiência do analista como perda

Autora: Juliana Hampshire Carvalho Santos Lopes

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data da defesa: março/2012

O percurso pela psicanálise muito cedo implica uma série de dificuldades. Aquele que inicia a prática clínica se depara com situações para as quais não encontra respostas já dadas. Cabe a cada um traçar seu próprio caminho. A formação do analista é constituída por um tripé - análise pessoal, prática clínica e estudo teórico. Nenhuma dessas tarefas é fácil, e isso experimentamos a todo o momento. Em busca de indicações na teoria, encontramos, em Lacan, que o analista paga para ocupar sua função. Procuramos, então, trabalhar essa afirmação para depreender, daí, consequências para a prática psicanalítica. O primeiro pagamento a que Lacan faz referência é um pagamento em palavras, no que tornam-se interpretações; o analista paga também com sua pessoa - ele se empresta como suporte da transferência; ainda, o analista paga com um certo julgamento no que diz respeito à sua ação. Para desdobrar essas questões percorremos, sobretudo, a obra de Freud e Lacan. O primeiro capítulo destina-se a pensar a prática analítica como uma experiência de linguagem para, a partir daí entendermos de que forma a interpretação tem incidências clínicas. No segundo capítulo abordamos a noção de transferência, que Freud aponta como a única dificuldade realmente séria com que o analista se depara. De que forma o analista se empresta como suporte da transferência? O terceiro capítulo discute o que vem a ser juízo, já que a psicanálise, para Lacan, quando fala da ética, é um juízo. Argumentamos que para sustentar um lugar de analista, é preciso que ele também esteja submetido ao campo do inconsciente. Passar experiência de análise é colocar a problemática da relação do sujeito com seu desejo. Apostamos que é com o desejo do analista que ele pode operar.

Título: O sensorial nos primórdios da vida psíquica: "testemunhos" do encontro com o outro

Autora: Macla Ribeiro Nunes

Orientadora: Marta Rezende Cardoso

Data da defesa: fevereiro/2012

O nosso objetivo maior nesta dissertação é analisar o papel da dimensão sensorial na constituição do psiquismo, visando uma compreensão mais apurada das relações eu/corpo e eu/outro. As sensações e percepções corporais, tanto prazerosas quanto desprazerosas, desempenham papel essencial no processo pelo qual o sujeito vem a tomar consciência de sua existência. Essa experiência sensorial inicial é condição de possibilidade para que uma historicidade, ou seja, aquilo que definirá esse novo ser como sujeito, venha a ser construída. Mostramos que a dimensão do autoerotismo está articulada à vivência inaugural de desamparo na vida psíquica e que a constituição de um eu-corpo que se satisfaz de maneira autoerótica se dá, paradoxalmente, numa condição de total abertura ao outro. Todos esses aspectos, vivências e trocas iniciais que constituem, de modo geral, a "coreografia do encontro" entre o bebê e a figura materna, dizem respeito a um ajustamento essencialmente sensorial no qual estão implicados os movimentos pelos quais a figura materna possibilita que se venha a constituir o psiquismo da criança. Damos especial ênfase ao registro do sonoro nos primórdios da vida psíquica. As experiências vividas a partir do som e do ritmo, tanto quanto do cheiro e do toque, pelo bebê, a partir do encontro com o outro materno, constituem impressões, mensagens sensoriais que darão origem às primeiras inscrições e marcas psíquicas. Analisamos o processo de registro desses elementos no psiquismo, mensagens que aí constituirão verdadeiros "testemunhos sensoriais". Buscamos assim investigar a singularidade que caracterizaria essa memória corporal - uma memória "sem lembranças"?

Título: Freud e o mal-estar na modernidade

Autor: Maicon Pereira da Cunha

Orientador: Joel Birman

Data da defesa: fevereiro/2012

A presente dissertação tem como objetivo principal circunscrever o diagnóstico que Freud realiza ao longo de sua obra a respeito do mal-estar na civilização. Seja num primeiro momento, realizando a identificação de um mal-estar que pudesse ser erradicado, seja num outro momento, rompendo com toda e qualquer possibilidade de extirpação do dito mal-estar, o empenho deste trabalho é o de afirmar este diagnóstico freudiano como sendo o de um mal-estar no seio da modernidade. Para percorrer tal objetivo, articularemos o pensamento de Freud dentro de uma perspectiva que situa o problema de um mal-estar num campo teórico mais abrangente, relacionando com autores de territórios distintos, seja da psicanálise, da filosofia ou da filosofia política. Deste modo, este trabalho se inscreve no registro de uma cartografia, na medida em que organiza um mapeamento mais panorâmico sobre o diagnóstico do mal-estar e menos sistemático em relação aos autores trabalhados. O pressuposto condutor da dissertação é de que mediante a leitura freudiana do mal-estar o que se coloca é a crítica psicanalítica da modernidade.

Título: A função da alteridade em face do desamparo no processo de constituição subjetiva

Autora: Natália De Toni Guimarães dos Santos

Orientadora: Isabel Fortes

Data da defesa: fevereiro/2012

A espécie humana é marcada por uma precariedade biológica que impõe uma abertura à dimensão da alteridade como meio de sobrevivência e subjetivação. O recém-nascido, por causa de sua imaturidade motora e psíquica, é incapaz de satisfazer por si só as suas necessidades vitais de sobrevivência. Em contrapartida, surge o desamparo psíquico e a dependência do outro, os quais se instauram no psiquismo como condição estruturante do próprio sujeito. Debruçar-nos-emos sobre esse estado característico do início da vida, que lança o homem ao campo do Outro, da linguagem e da cultura, para mostrar como se dá o processo de constituição psíquica. Propomos que o estado de desamparo está associado à incerteza e à ausência de garantias provindas do outro. Abordaremos, então, a função da alteridade em face do desamparo no processo de constituição subjetiva, tendo como referência o binômio desamparo-alteridade. Analisaremos em Freud e Lacan os primórdios da vida psíquica, desde a instauração dos primeiros traços mnêmicos e do desejo, até o narcisismo, a constituição da instância egoica, do imaginário e da ordem simbólica. Investigaremos, finalmente, a alteridade como um complexo de dupla face, tecido em uma relação que remete o sujeito ao mesmo tempo ao semelhante e ao estranho, o que engendra um risco para o mesmo: não há qualquer garantia quanto ao que se pode esperar do outro.

Título: O Real na letra da Lei: de uma escrita que dê lugar ao sujeito

Autora: Natália Estelita Vidal Luiz

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data da defesa: março/2012

A presente dissertação parte da constatação de que as instâncias jurídicas atualmente se impõem ante as situações as mais banais, se constituindo como esfera privilegiada para o sujeito lidar com o mal-estar. Nosso objetivo é o de sustentar que a passagem de um funcionamento do Direito enquanto instância sancionadora sobre a qual se erige e sustenta o laço social, para um funcionamento em que esta função pode ser elidida - ratificando-se qualquer tipo de demanda - obedece a uma operação de escrita que encontra na letra o seu principal suporte. Para tanto, buscaremos situar que o manejo da letra é tributário do passo dado em direção ao monoteísmo no que este possibilitou a instauração de um referente único, bem como um avanço em direção ao simbólico. Ocupando-se do monoteísmo, Freud e Lacan situam a transmissão escrita da Lei para além da dimensão do sentido, exigindo um posicionamento ético do sujeito (dado que referido ao seu desejo) para a inscrição de um legado que terá se constituído a posteriori. Procedendo a um recorte histórico, voltamo-nos à Modernidade como ponto de confluência entre o advento da ciência moderna, do sujeito da psicanálise e de um Direito positivo como tributários da função posta pela escrita a partir do monoteísmo. A Modernidade traz uma mudança no lugar ocupado pelo saber que não é sem relação com a operação de escrita de que se serve a ciência a partir de então, a qual acaba por elidir o lugar do sujeito. De um saber que se perde, e que opera neste último em nível inconsciente, deparamo-nos com um saber passível de ser acumulado, porém ao preço da destituição deste mesmo sujeito. A referida mudança no lugar do saber em nossa época repercute na tarefa de transmissão da Lei subjacente ao Direito, pois no primeiro caso, estamos diante de um fazer jurídico que impossibilita as respostas prontas e que convoca o sujeito a inscrever, a cada vez, a Lei ao preço de sua própria castração; no segundo, de um legado meramente comunicado de que o sujeito poderá servir-se como quiser e que já não faz menção ao pacto fundador do laço social.

Título: A violência do sexual e o impacto da pulsão de morte

Autor: Ney Klier Padilha Netto

Orientadora: Marta Rezende Cardoso

Data da defesa: fevereiro/2012

O principal objetivo deste trabalho é problematizar a noção de sexualidade em Freud, explorando os fatores implicados em sua gênese e seu desenvolvimento. A significação e os problemas trazidos pelo conceito de Pulsão Sexual são pontos norteadores de nossa pesquisa. O panorama da teoria e clínica psicanalíticas tem como um de seus operadores centrais uma compreensão inovadora da sexualidade humana. O conceito de pulsão e, em particular, o de Pulsão Sexual, possui lugar de destaque. Considerada força constitutiva do psiquismo, a Pulsão Sexual foi explorada a partir de diferentes perspectivas. As determinações e implicações desses remanejamentos colocam dificuldades teóricas na questão do sexual e de sua relação com a alteridade.

No primeiro dualismo pulsional, a Pulsão Sexual é força disruptiva, oposta às de autoconservação, por seu caráter impetuoso e desestabilizador para o ego. Com a emergência do conceito de narcisismo, a constituição egoica assume caráter eminentemente sexual, e a oposição entre ego e sexualidade é problematizada. Na segunda teoria das pulsões, fundamentada na contraposição entre Eros e Pulsão de Morte, esta última constitui força disruptiva e destrutiva, cuja natureza não seria sexual. Assim, a Pulsão Sexual passa a integrar o campo das Pulsões de Vida, que tendem à ligação. O caráter hostil ao ego e à ligação fica neutralizado quanto à sua relação com a Pulsão Sexual. Baseando-nos em Jean Laplanche e André Green, discutimos como conciliar na obra freudiana os aspectos violentos e disruptivos da sexualidade humana com a dimensão de ligação inerente a Eros.

Título: Do sintoma à fantasia: satisfação pulsional na clínica do sujeito

Autora: Patricia Soares Paterson

Orientadora: Angélica Bastos

Data da defesa: fevereiro/2012

A presente pesquisa é dedicada à investigação da abordagem do sintoma neurótico na clínica psicanalítica. Partindo do pressuposto de que o sintoma diz algo do sujeito, busca-se circunscrever a direção do tratamento que considera o sintoma em sua especificidade, de forma a implicar o sujeito. Trata-se do sujeito do inconsciente, conceituado por Lacan, o qual resulta da subversão do cogito cartesiano, operada pela psicanálise com a introdução da atividade psíquica inconsciente. No primeiro capítulo da dissertação, é trabalhada a subversão do sujeito pela psicanálise, bem como sua fundação no campo da linguagem. A clínica do sujeito, neste sentido, é aquela em que o sintoma é tratado segundo a abordagem psicanalítica, como o substituto de um pensamento inconsciente. Em oposição à clínica médico- psiquiátrica, na qual o sintoma é tomado como mero desarranjo funcional, a psicanálise considera que o sintoma exerce uma função no psiquismo. O segundo capítulo é dedicado ao exame do conceito de sintoma, que possui um sentido inconsciente e realiza uma intenção de satisfação, a qual não se reduz ao princípio de prazer. Isto faz com que, a despeito do sofrimento que o sintoma implica, o sujeito, muitas vezes, não consiga livrar-se dele, posto que envolve a satisfação pulsional. Dessa forma, a abordagem do sintoma pela via do sentido inconsciente encontra um limite, que conduz ao campo da fantasia, responsável pela fixação libidinal. Finalmente, o terceiro capítulo trata do papel da fantasia na abordagem do sintoma. A direção do tratamento deve privilegiar a construção da fantasia, pois a clínica mostrou que isolar os elementos da fantasia é também circunscrever o campo da satisfação. Conclui-se que a fantasia une os elementos significante e real, ou seja, permite que, a partir das significações extraídas do sintoma, seja desvelado o objeto pulsional através do qual o sujeito obtém satisfação.

Título: A psicanálise frente às novas formas de filiação

Autora: Pétria Cristina Silva Moreira Fonseca

Orientadora: Simone Perelson

Data da defesa: fevereiro/2012

Esta dissertação pretende abordar questões referentes à psicanálise frente às novas formas de filiação, a partir das várias técnicas da reprodução assistida. O nosso objetivo é circunscrever algumas questões da discussão em torno da psicanálise diante das novas possibilidades e arranjos familiares, uma vez que os referenciais de parentesco e filiação sofrem transformações. A psicanálise é convocada a refletir sobre as configurações inéditas trazidas pela medicina reprodutiva, pois geram experiências e situações que confrontam referências fundamentais da cultura. Nesse debate, alguns psicanalistas consideram que as novas configurações e arranjos familiares abalam a ordem simbólica e embaralham as referências organizadoras dos sujeitos, pois suprimem a diferença sexual, a lei e a ordem do parentesco. Outros defendem que devemos repensar os princípios psicanalíticos à luz dessas transformações, como os conceitos de complexo de Édipo, diferença sexual, função paterna e ordem simbólica. Exporemos posições antagônicas desse debate, destacando as ideias dos psicanalistas Michel Tort e Pierre Legendre, entre outros. A partir dessa conjuntura, apontaremos que à psicanálise cabe encarar o desafio de pensar o lugar e as funções dos novos elementos trazidos pela medicina reprodutiva.

Título: O uso de drogas além do princípio do prazer

Autora: Priscila Gribel Soares de Souza

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data da defesa: março/2012

Este trabalho aborda a questão da toxicomania como uma resposta do sujeito frente aos impasses da vida. A partir do movimento de ida e vinda dos textos às situações clínicas e delas novamente para os textos pretendemos julgar a pertinência dessa formulação ou a necessidade de uma mais rigorosa aproximação com as nossas questões, surgidas na clínica. Escolhemos fazer um recorte e trabalhar apenas com a toxicomania na neurose, apesar de ela poder estar associada a todas as estruturas clínicas. Em O mal-estar na civilização (1930), Freud afirma que adotamos diferentes medidas paliativas para suportar aquilo que a vida nos apresenta como impossível, algo desse tipo é indispensável para todos. Dentre essas medidas, ele cita o consumo de drogas como o método mais rudimentar e eficaz de evitar o sofrimento e provocar em nosso corpo sensações prazerosas. Apesar de observarmos que o recurso às drogas realmente abarca essa dimensão de amortecedor de sofrimento, como diz Freud, a escuta clínica nos indica que a realidade desses pacientes nem sempre está de acordo com o princípio do prazer. Muitas vezes os encontramos utilizando substâncias mesmo sem localizarem nenhum tipo de prazer/fuga do sofrimento nesse recurso. Localizamos no conceito de gozo essa tentativa repetitiva - e dolorosa - de tentar ultrapassar os limites do princípio do prazer, algo da ordem de um excesso de tensão ao qual esses sujeitos se lançam durante suas buscas por aquela Coisa primitiva, objeto do gozo absoluto.

Título: O trágico e a psicanálise: considerações e desdobramentos

Autor: Thiago Francisco Abraira Crespi

Orientadora: Isabel Fortes

Data da defesa: março/2012

Esta dissertação tem por objetivo realizar uma investigação entre o trágico e a psicanálise. Partindo da ideia de que é na tragédia grega que encontramos a primeira manifestação do trágico, optamos por um percurso que destaca alguns de seus elementos e características mais importantes. No primeiro capítulo, exploramos algumas hipóteses sobre a origem da tragédia, bem como sua definição, e a importante diferença entre o herói trágico grego e o herói trágico moderno. Tratamos de pensar o trágico como um princípio que age na forma de um questionamento até o limite daquilo que separa o mundo dos homens e o mundo dos deuses. A forma teatral na qual se realiza a oposição, que paradoxalmente separa e une os planos humano e divino, é a tragédia grega. No capítulo dois, mostramos que o interesse no trágico aparece por meio de uma filosofia do trágico, sua definição e o projeto em que se insere. Destacamos que a modernidade reúne as condições de radicalização do trágico, de acordo com uma configuração distinta daquela que pode ser observada na tragédia grega: modifica-se a oposição entre o plano divino e o plano humano para o conflito puramente humano. Observamos ainda que a posição de suspeita é uma marca da modernidade. No trágico moderno o herói é o único responsável por sua ação: é impossível ou mesmo irrelevante para ele se remeter a qualquer ordem divina. Realizamos uma distinção entre o trágico e o pessimismo, em que o primeiro se aproxima da posição de suspeita, enquanto que no pessimismo existe a certeza de uma negatividade como condição do mundo. Na psicanálise, Freud estaria próximo do trágico quando critica a religião e a ciência, e quando resgata um sentido na experiência da loucura. No terceiro capítulo, investigamos a importância das tragédias de Édipo e de Antígona para a psicanálise e como elas possivelmente indicam seu potencial trágico.

TESES

Título: O real da arte na escrita de Alejandra Pizarnik

Autora: Brenda Ibeth Becerril Guriérrez

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data da defesa: julho/2012

O trabalho aborda a arte como tentativa de circunscrever o real impossível que acossa o sujeito, os modos como esta tentativa se efetua particularmente na literatura e em especial na escrita extremamente matizada de Alejandra Pizarnik. Partindo do ensino de Lacan, que entende o sujeito como efeito da linguagem, a pesquisa sublinha a dimensão da negativização e falta do objeto, que constitui tanto o sujeito quanto a linguagem, e toma o inconsciente como lugar onde a relação singular do sujeito com a linguagem se inscreve como lalangue, vale dizer, como marca do gozo indelével e cifrado, inseparável da própria incidência do significante, que dá origem ao sujeito. Em função dos desdobramentos feitos por Lacan em torno da letra e do significante, privilegia-se a dimensão da escrita, presente na literatura como uma possibilidade, sempre paradoxal - posto que ela mesma é produtora de um gozo -, de contornar ou fixar o gozo de lalangue de modo a que o sujeito possa advir em sua condição de desejo. Trazendo como exemplo a obra da poetisa argentina, aborda-se a escrita como tentativa de dizer o indizível, bem como o fracasso inerente à tal prova, articulados num movimento que, como a pulsão, enceta e preserva um vazio inerradicável, inacessível, mas indispensável ao advento do sujeito e presentificado por esta via. Percorrendo alguns momentos da obra da autora, buscamos mostrar como o real é cernido nela, podendo se apresentar nas entrelinhas do texto, na letra como suporte material do significante, ou, na voz, como objeto a que se decanta da escrita. Discute-se, ainda, a escrita de Pizarnik como um saber fazer com a linguagem que, convocando o sujeito e invocando o Outro, força os limites do significante permitindo, assim, uma experiência outra do real.

Título: O fóbico: suplência na lógica fálica

Autor: Caio Rodrigues de Mattos Filho

Orientadora: Angélica Bastos

Data da defesa: dezembro/2012

Esta tese trata do estatuto do sintoma fóbico em psicanálise, segundo uma abordagem teórico-clínica. Parte-se do postulado de que o sintoma é uma formação da estrutura subjetiva no campo da linguagem. Depois de situar historicamente a fobia enquanto entidade clínica moderna discute-se as vicissitudes de sua definição por Freud, com destaque para viradas conceituais significativas de sua obra - o debate metapsicológico sobre o recalque, as representações psíquicas e o afeto da angústia -, indicando que a sintomatologia fóbica resulta da estrutura de linguagem, em contraposição aos pressupostos fenomenológicos dos manuais psiquiátricos contemporâneos de classificação dos transtornos mentais. Em seguida, no esteio do aparato psíquico freudiano e da topologia lacaniana do sujeito, apresenta-se a fobia com a função privilegiada de sintoma nodal da estrutura subjetiva na lógica fálica - placa giratória na virada para a neurose obsessiva e para a histeria, na junção com a perversão -, destacando sua eficácia em agenciar, radicalmente, o enigma da lógica fálica na interface entre saber e gozo. Por fim, sob o fundamento lacaniano do "não há relação sexual", e apoiado na premissa de que o sujeito responde com o sintoma no nível da falha inerente à estrutura na topologia borromeana, sustenta-se que a fobia é a suplência sintomática primaz da lógica fálica, haja vista a sua formação no limiar da divisão subjetiva, quando da irrupção do gozo fálico.

Título: Psicanálise e psicoterapia: de que se trata?

Autora: Clara Rodrigues Martins

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data da defesa: julho/2012

A pesquisa trata da relação entre psicanálise e psicoterapia. Parte do princípio de que sustentar uma identidade ou oposição entre as práticas, levando em consideração suas semelhanças e diferenças, não contempla a complexidade da questão. Busca assim investigar a natureza ambígua dessa relação através de três abordagens. Na primeira, introduz o assunto em seu acontecimento histórico, retratando a origem da psicoterapia moderna e o nascimento da psicanálise, apresentando a subversão que a psicanálise introduz no terreno psicoterápico. Na segunda, levanta o campo de problemas éticos-políticos em que essa relação foi posta em debate, tanto no contexto do movimento psicanalítico, quanto na relação com a medicina científica, verificando a fragilidade da existência da psicanálise justamente em função do risco de diluir-se numa prática sugestiva, assim como sua diferença para com o discurso dominante, enquanto discurso do mestre. Na terceira, aprofunda a questão através de uma análise conceitual sobre as noções de demanda e cura, noções a partir das quais é possível localizar, a um só tempo, a proximidade e a distância entre as práticas. Desse modo, verifica-se o aparecer da demanda, tanto a via psicoterápica da sugestão, quanto a via psicanalítica da transferência; e da cura, a eficácia terapêutica visada pela psicoterapia, e o incurável, princípio da cura analítica.

Título: Ram - sobre a possibilidade do tratamento analítico

Autora: Elisa Carvalho de Oliveira

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data da defesa: julho/2012

A presente tese resulta de um trabalho de pesquisa suscitado pelos impasses com os quais o psicanalista se defronta na clínica do autismo. Como referência teórica principal, tomou-se a obra de Sigmund Freud e o ensino de Jacques Lacan. A partir de fragmentos do caso clínico de uma criança autista, pretendeu-se, inicialmente, investigar a possibilidade de um determinado termo: "Ram", surgido como efeito do tratamento analítico, ser considerado como um significante privilegiado, tal como formulado por Lacan no Seminário: Mais, ainda (1972-73). Posteriormente, objetivou-se interrogar a possibilidade do surgimento do olhar da paciente dirigido à analista na via da construção das bordas corporais.

Título: A recepção do pensamento de Martin Heidegger por parte da psicanálise de Jacques Lacan: o inconsciente como manifestação do Ser

Autora: Fabíola Menezes de Araujo

Orientador: Joel Birman

Data da defesa: julho/2012

Busca-se explicitar o modo como Jacques Lacan se deixa influenciar pelo pensamento de Martin Heidegger durante a segunda metade do século XX. O psicanalista se atém, em nossa proposta de leitura, às seguintes questões lançadas primeiramente pelo pensador: como se dá a verdade em consonância com a manifestação do ser, em especial na clínica psicanalítica? Como pensar a essência do homem na ek-sistência como ek-sistência? E como a linguagem vem a ser, afinal, em cada situação? Para responder a essas questões, Lacan faz valer um percurso intelectual que vinha sendo trilhado desde 1930. Nesse percurso surgem como referências importantes as obras de Hegel, do jovem Marx, de Sartre, de Lévi-Strauss, de Saussure e de Jakobson, que, nessa medida, marcam presença também em nosso trabalho. A leitura lacaniana é debitária da analítica existencial heideggeriana, sobretudo ao abordar a derrelição, o caráter de jogado, como um fenômeno originário. Nessa abordagem, o psicanalista tem a intenção de captar o 'real', o traumático, que insiste em não se fazer reconher, de modo que o atravessamento da angústia, a partir da práxis de se deparar com esse plano que habitualmente se evita, deixe o Ser se manifestar. Lacan se detém às questões destacadas no mesmo momento em que se propõe a reformular as bases da psicanálise junto ao movimento intitulado "Retorno a Freud".

Título: Violência, trauma e resistência: sobre o múltiplo na psicanálise

Autora: Fernanda Canavêz de Magalhães

Orientadora: Regina Herzog

Data da defesa: fevereiro/2012

Esta tese aborda as problemáticas da violência, do trauma e da resistência para analisar o lugar do múltiplo no movimento psicanalítico. O pensamento freudiano é inserido na tradição crítica do esquecimento da violência que instaura as diferentes formas de soberania, de modo que pode ser compreendido enquanto crítica à racionalidade moderna, na promessa da última de conjuração da violência em detrimento das singularidades e de suas diferenças. Esse discurso sobre a violência é ainda problematizado no contexto das políticas de segurança pública em voga no Rio de Janeiro. O trauma em sua multiplicidade é pesquisado na obra de Freud e na história do movimento psicanalítico, marcado por jogos políticos em nome da soberania igualmente violentos. A articulação entre trauma e memória é enaltecida para assegurar a filiação da psicanálise à tradição crítica do esquecimento e do rechaço do múltiplo. O caso do psicanalista Sándor Ferenczi é evocado para compor juntamente com Freud o referencial teórico privilegiado para a discussão da clínica psicanalítica, à qual se soma a investigação sobre a resistência, realizada tanto no campo psicanalítico, quanto conforme as assertivas de Michel Foucault e Jacques Derrida. O objetivo é extrapolar a visada da resistência como estagnação da experiência psicanalítica para compreendê-la como movimento e, em última instância, como exercício de liberdade. Trata-se de uma aposta na potência do múltiplo do discurso psicanalítico como resistência efetiva às tentativas de anular as singularidades e suas diferenças em nome do triunfo do Um.

Título: Automatismo mental, desespecificação pulsional e morte do sujeito: a condição objetalizada do sujeito na psicose

Autor: Fernando Ribeiro Tenório

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data da defesa: agosto/2012

Investiga-se a condição objetalizada do sujeito na psicose, a partir da indicação de Lacan de que o psicótico padece da "não extração" do objeto a. Trata-se, portanto, na psicose, da condição peculiar de um sujeito que, embora atravessado pela linguagem como todo falante, emerge como um sujeito colapsado ao objeto, para quem o objeto não chega a faltar, fazendo-se presente de modo real, sem as mediações com as quais ele é normalmente cernido pelo neurótico. Procura-se, com isso, abordar a questão da psicose pela via do objeto, demarcando, em contrapartida, o que Lacan apontou como miragem subjetivista. Com essa finalidade, retomam-se psicanaliticamente descrições da psiquiatria clássica, como o automatismo mental, a mania, a melancolia e o delírio hipocondríaco das negações (síndrome de Cotard), identificando-se, nelas, a presença opressiva do objeto parasitando o campo do sujeito. Com essa retomada, busca-se também fazer frente ao desinteresse atual da psiquiatria pela categoria de psicose, expresso no empobrecimento discursivo do DSM, e recuperar uma diversidade clínica que ficou subsumida no diagnóstico hoje dominante e demasiado englobante de esquizofrenia. Este percurso, embasado principalmente nos trabalhos do psicanalista Marcel Czermak e no ensino e na produção clínico-teórica da École Psychanalytique de Sainte-Anne, isola e faz ressaltar duas noções fundamentais que são discutidas e desenvolvidas no escopo do trabalho: a desespecificação pulsional na psicose - noção que ilumina a própria natureza da pulsão na neurose e a determinação do sujeito pelo objeto a -, e a noção de morte do sujeito, invenção pontual de Lacan a propósito do caso Schreber, para designar o estado de catatonia e deterioração que precedeu a solução delirante de Schreber como uma condição que permitiu a posterior reconstrução pelo delírio. Esta última noção sendo desenvolvida no duplo sentido de uma abertura para a recomposição do sujeito no delírio e de um limite real que se perfila no horizonte da psicose. Conclui-se que a paridade do sujeito com o objeto pode se manifestar na forma de respostas disruptivas e de evoluções desfavoráveis, exigindo, portanto, prudência no manejo do tratamento.

Título: Considerações sobre a adoção e o processo de subjetivação

Autora: Iná Suzini Mariante

Orientadora: Regina Herzog

Data da defesa: julho/2012

A presente tese parte de um questionamento a respeito do desenvolvimento subjetivo das crianças adotadas, considerando que há, frequentemente, um esforço da parte de sua nova família de que se efetue um apagamento da história de vida anterior ao momento da adoção. Partindo do pressuposto de que estas memórias continuam vivas no psiquismo do sujeito, propomos ressaltar algumas especificidades do processo de subjetivação nestes casos, observando as possibilidades de representação e integração destas vivências. Para tanto, vamos iniciar abordando a experiência da adoção a partir das noções de trauma e catástrofe, tal como colocadas por Freud e Ferenczi, enfocando seu aspecto radical e intenso, que obriga a uma completa reformulação subjetiva. Em seguida analisaremos questões mais objetivas relacionadas com a adoção no contexto brasileiro, no qual verificamos um incremento das tentativas de negação da vida pregressa do adotado, reforçado por determinadas práticas e leis, o que também nos indica uma resistência em se considerar os laços simbólicos tão verdadeiros quanto os laços de sangue. Para finalizar, caberá ressaltar a importância dessa pré-história como requisito para uma constituição subjetiva mais criativa, como também no sentido da construção de uma identidade familiar que se aproprie desse diferencial de forma positiva. Apostamos, assim, na possibilidade de que outras formas de adoção possam retirar o peso deste "radical divisor subjetivo" que se impõe, tornando mais fácil a elaboração dessa experiência pelo sujeito.

Título: Angústia na clínica. Pacientes com câncer

Autora: Maria Lopes Facó Estermínio Gonçalves

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data da defesa: maio/2012

A partir da experiência de atendimento psicológico, atravessado pela psicanálise, com pacientes com câncer em hospitais de referência em oncologia, a tese trata da questão da angústia na clínica de uma forma geral e, mais especificamente, em oncologia.

Título: A problemática da clivagem: aspectos teóricos e clínicos

Autora: Renata Machado de Mello

Orientadora: Regina Herzog

Data da defesa: julho/2012

A tese discute a noção de clivagem enquanto defesa privilegiada diante do excesso pulsional no âmbito da reviravolta conceitual dos anos 20. Com este objetivo propomos em um primeiro momento abordar os processos de simbolização do vivido clivado, avançando para o exame das formas de registro e insistência traumáticos. Em um segundo momento, investigamos acerca da contrapartida do objeto na organização do psiquismo clivado, a partir das falhas na imbricação do objeto com a pulsão. E, em seguida trataremos dos impasses da clínica da clivagem, conjecturando sobre as modificações necessárias no dispositivo analítico.

Título: Deus analisado: os católicos e Freud. A recepção da crítica freudiana da crença religiosa pela Igreja Católica

Autor: Ricardo Torri de Araújo

Orientador: Joel Birman

Data da defesa: novembro/2012

Segundo Freud, a origem da crença em Deus é o complexo paterno. A crença religiosa pode ser pensada como uma neurose e uma ilusão. A sua principal função é oferecer proteção ao ser humano. E o seu destino é desaparecer, cedendo lugar a uma era científica. A presente investigação é uma discussão dessas ideias. Discorre sobre as relações pessoais de Freud com o fenômeno religioso. Apresenta, diacrônica e sistematicamente, a sua crítica da religião. Conta a história da recepção da psicanálise pelo catolicismo. E, por fim, submete a uma avaliação crítica a crítica freudiana do fato religioso.

Título: A constituição de uma política de saúde para homens no Brasil (2009-2011): bases simbólicas e lugares de enunciação

Autora: Rita de Cássia Flores Müller

Orientador: Joel Birman

Data da defesa: julho/2012

Esta tese analisa a constituição da primeira política de saúde para a população masculina de 20 a 59 anos idade no Brasil, lançada em agosto de 2009 no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na gestão do Ministro da Saúde José Gomes Temporão. O arquivo constituído para a análise inclui os dois documentos federais sistematizadores: "Princípios e diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem" e, "Plano de Ação Nacional" biênio 2009 a 2011; entrevistas com gestores das Áreas Técnicas de Saúde do Homem e de Saúde da Mulher; entrevista com o representante auxiliar do Fundo de População das Nações Unidas no Brasil. Analiso as estratégias do biopoder na constituição de uma política de saúde para a população masculina, mapeando-se as bases simbólicas e os lugares de enunciação em que esta adquire inteligibilidade. No processo de medicalização de classes populares, a Política está a serviço do dispositivo familiarista do biopoder, sob a rubrica dos direitos sexuais e reprodutivos. Evidencio o caráter de fragilidade e vulnerabilidade da população masculina que atua com o objetivo de manter a eficácia esperada deste dispositivo. Um dos desdobramentos da tese central é a visibilização dos regimes de verdade que atuam na produção do homem da Política analisada. Acompanho a produção do direito fundamental do homem à saúde, a partir de seu caráter histórico e como acontecimento relativamente recente, a partir das grandes declarações de direitos humanos que conferem à vida uma normalização específica. Decorre daí a constituição de uma agenda social de trabalho com esta população. Analiso ainda a constituição de diagnósticos sociais da vulnerabilidade masculina, centrados nos fatores de morbimortalidade de homens no Brasil, destacando-se a juventude. Evidenciando como se engendra o dispositivo familiarista na medicalização de homens, acentuo a instrumentalidade da família nuclear heteronormativa, em que as posições de mulher-mãe e de pai-higiênico são reiteradas. Analiso a criação da primeira formação da Área Técnica de Saúde do Homem no Ministério da Saúde, e recupero os saberes e poderes envolvidos na medicalização da sexualidade masculina. Na dispersão dos enunciados analisados, a Política ganha força ao se afirmar como uma política positiva de nascimento do homem-sujeito de direitos.

Título: Homem dos Lobos: caso paradigmático de incerteza diagnóstica

Autora: Sabrina Gomes Carneiro

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data da defesa: agosto/2012

O objetivo desta pesquisa é resgatar o caso freudiano do Homem dos Lobos. Partimos da diretriz diagnóstica do Édipo invertido, na medida em que este evidencia uma virilidade de semblant que surge para ocultar uma posição pulsional dominada pelo gozo passivo, mantendo-o afastado da homossexualidade. No plano da escolha de objeto, orientamo-nos pela ênfase que Freud concede ao fetiche uma vez que podemos tomá-lo no campo das manobras para encobrir uma escolha de objeto homossexual, fazendo semblant de uma escolha heterossexual. Explorar a hipótese freudiana do Édipo invertido pode ser muito útil para abordar um grande número de novos sintomas na contemporaneidade. Partir desta diretriz diagnóstica conduz-nos a uma clínica na qual se esboça um ponto limite entre a neurose e a psicose. A miscelânea sintomática apresentada pelo paciente põe em xeque a existência de uma articulação entre sintoma e doença. Desta maneira, o Homem dos Lobos inaugura um novo momento da pesquisa freudiana marcado pela importância da compulsão à repetição e da pulsão de morte como se pode verificar em sua segunda tópica. Apesar do rigor da sua psicopatologia, Lacan também se embaraçou com o caso sem jamais contrapor Freud. Após formalizar o conceito de foraclusão do Nome-do-Pai e deixar de referir ao episódio da alucinação do dedo cortado como de natureza psicótica, as menções que Lacan faz ao caso evidenciam uma crítica quanto ao trabalho de Freud em resgatar a cena primordial esvaziando-a de sentido. Para ele, isto pode ter ativado correntes psíquicas que nada queriam saber da castração provocando uma psicose tardia. Os trabalhos de orientação lacaniana dirigidos por Jacques-Alain Miller trouxeram uma nova perspectiva de análise a partir dos fenômenos de corpo apresentados pelo paciente e evidenciados no trabalho realizado por Mack-Brunswick. Após deixar o diagnóstico em suspenso por duas décadas, Miller o retoma a partir das proposições da Convenção de Antibes (1999) sobre a psicose ordinária recolocando o Homem dos Lobos dentro desta categoria. Retomamos este caso no momento de reabertura das querelas diagnósticas caracterizado pela reavaliação crítica de um dos mais importantes protocolos diagnósticos internacionais, o DSM. Esta nova abordagem classificatória das manifestações do pathos pulsional tenta reduzi-las aos transtornos do corpo biológico. Na psicanálise, o diagnóstico não se reduz ao inventário dos sintomas. Por isso, o caso do Homem dos Lobos ilustra que as classes também são insuficientes para nomear o gozo. A leitura dos novos quadros sintomáticos da atualidade exige a adoção de um ponto de vista menos orientado pela metáfora paterna. Às vésperas do seu centenário, a leitura do Homem dos Lobos é obrigatória no debate das querelas diagnósticas atuais.

Título: As psicoses na clínica com crianças: o corpo sem a ajuda de um discurso estabelecido

Autora: Suzana Faleiro Barroso

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data da defesa: março/2012

Investiga-se, nesta tese, a hipótese sobre a especificidade da psicose infantil, considerando a prevalência do sofrimento que advém do corpo e de seus sintomas, com repercussão na saúde, na educação e na socialização de crianças. Revisa-se a teoria psicanalítica das psicoses a partir do retorno de Lacan a Freud, para identificar os fenômenos elementares, na psicose infantil. Verifica-se, dessa forma, que o sintoma somático é a resposta privilegiada pela criança à posição de objeto condensador de gozo para o Outro na psicose. Elaboram-se as contribuições lacanianas à noção de corpo em psicanálise, do ponto de vista da tríade do real, do simbólico e do imaginário. Com a articulação do corpo à linguagem, à alíngua e ao discurso, encontra-se uma formulação da psicose bastante precisa para a abordagem das psicoses da criança, ou seja, o fora-do-discurso da psicose, sobretudo, na esquizofrenia e no autismo. Destaca-se a extração de gozo enquanto ato de linguagem que se torna condição para a construção do corpo nas psicoses. Disso decorre a possibilidade de a criança psicótica se beneficiar do discurso psicanalítico. Busca-se formalizar a clínica de três casos de crianças psicóticas e identificar, no percurso de cada uma, o trabalho de extração de gozo e a construção do corpo sob transferência.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jul 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 2013
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