RESUMO
Visando selecionar produtos fungicidas para controle de fungos de sementes de braquiária e verificar a influência do tempo de armazenamento de sementes tratadas sobre a ação desses produtos foram realizados 4 experimentos em laboratório e 4 em casa-de-vegetação (São Paulo, SP) nos anos de 1999 e 2000 com sementes de Brachiaria decumbens tratadas com os fungicidas abaixo, nas seguintes doses/100 kg de sementes: quintozene 750 PM (250 g), thiram 500 SC (300 mL), carboxin + thiram 200 SC (300 mL), thiram 350 SC + thiabendazole 85 SC (200 mL), captan 750 TS (200 g), difenoconazole 150 SC (100 mL) e thiabendazole 485 SC (40 mL). Sementes do mesmo lote, não tratadas, constituíram a testemunha. Após o tratamento, as sementes foram armazenadas em sacos de papel, em condições de ambiente. Logo após o tratamento e após cerca de 3, 6 e 12 meses foram utilizadas em experimentos laboratoriais e de casa-de-vegetação, com delineamento estatístico inteiramente casualizado com 8 tratamentos e 4 repetições, para avaliação da incidência de fungos nas sementes, emergência e sintomas em plântulas. A análise de sanidade das sementes, realizada pelo método do papel de filtro, evidenciou a presença dos fungos Phoma sp., Exserohilum spp., Fusarium spp. e Curvularia spp., além de fungos saprófitas. De acordo com os resultados de análise fatorial, após 6 meses de armazenamento das sementes, a emergência foi estatisticamente superior a da testemunha nos tratamentos com thiram+ thiabendazole, thiram e carboxin + thiram. Foram observados sintomas de plântulas em todos os tratamentos aos 6 meses e apenas na testemunha aos 12 meses. No ano agrícola 2001/02, os seguintes produtos, nas doses abaixo indicadas/100 kg de sementes foram avaliados para tratamento de sementes de B. brizantha: carbendazim 150 SC + thiram 350 SC (200 mL), fipronil 250 FS (150 mL), (carbendazim 150 SC + thiram 350 SC) + fipronil 250 FS (100+100) mL, carboxin + thiram 200 SC (250 mL), carboxin + thiram 200 SC (300 mL), difenoconazole 150 SC (100 mL), thiram 500 SC (300 mL), captan 750 TS (200 g) e tolylfluanid 500 PM (150 g). A avaliação foi feita por meio de 1 experimento em laboratório e 1 em casa de vegetação (São Paulo, SP), ambos inteiramente casualizados e 1 em campo (Paulínia, SP), em blocos ao acaso, todos com 10 tratamentos e 4 repetições. Os dados obtidos foram analisados estatisticamente por variância aplicando-se os testes F e Tukey a 5% de probabilidade. Embora os índices de emergência tenham sido mais elevados do que os da testemunha, tanto em casa-devegetação como em campo, as diferenças obtidas não foram significativas em nível estatístico. O mesmo verificou-se para produção de biomassa. Os produtos avaliados ofereceram controle aos fungos nas sementes na seguinte ordem decrescente de números de gêneros por eles controlados: carbendazim + thiram, thiram e captan; (carbendazim + thiram) + fipronil; carboxin + thiram (2 50 e 300mL) e tolylfluanid; difenoconazole.
PALAVRAS-CHAVE: Sementes; controle químico; Brachiaria decumbens; Brachiaria brizantha.
ABSTRACT
In order to select products for controlling brachiaria-grass seed-borne fungi and to verify the influence of storage period of treated seeds on the action of these products, 4 laboratory and 4 greenhouse experiments were carried out in São Paulo, Brazil, in 1999 and 2000, with seeds of Brachiaria decumbens treated with the following fungicides, at the indicated doses/100 kg of seeds: quintozene 750 PM (250 g), thiram 500 SC (300 mL), carboxin + thiram 200 SC (300 mL), thiram 350 SC+ thiabendazole 85 SC (200 mL), captan 750 TS (200 g), difenoconazole 150 SC (100 mL) and thiabendazole 485 SC (40 mL). After treatment the seeds were kept in paper sacks and stored at room temperature. Experiments entirely randomized with 8 treatments and 4 replications were carried out periodically, soon after treatment, 3, 6 and 12 months later, in order to evaluate the presence of seed-borne fungi, emergence and seedling symptoms. Seed health tests performed by the blotter method showed the presence of Phoma sp., Exserohilum spp., Fusarium spp. and Curvularia spp., besides saprophytic fungi. Factorial analisis showed significant effects for fungicide treatments and for storage periods, on emergence. After 6 months of storage, emergence was statistically superior to the control in the treatments with thiram + thiabendazole, thiram and carboxin + thiram. At this time, seedlings symptoms were registered in all treatments while they were observed only in the control after 12 months. In 2001/02 the following products, at the indicated doses/100 kg of seeds were evaluated in B. brizantha seed treatment: carbendazin 150 SC + thiram 350 SC (200 mL), fipronil 250 FS (150 mL), (carbendazin 150 SC + thiram 350 SC) + fipronil 250 FS (100 + 100) mL, carboxin + thiram 200 SC (250 mL), carboxin + thiram 200 SC (300 mL), difenoconazole 150 SC (100 mL), thiram 500 SC (300 mL), captan 750 TS (200 g) and tolylfluanid 500 PM (150 g). Evaluation was made by means of 3 experiments, 1 in the laboratory and 1 in the greenhouse (São Paulo, SP, Brazil), entirely randomized and 1 in the field, in randomized blocks, all with 10 treatments and 4 replications. Statistical analisis of data obtained was made by variance applying tests F and Tukey at 5% of probability. Although emergence indices were higher than the ones from the control in most treatments, both in greenhouse as well as in the field, differences were not statistical significant. The same occurred for biomass production. The following products, in decreasing order of number of fungi genera controlled by them in the seeds, are listed: carbendazin + thiram, thiram e captan; (carbendazin + thiram) + fipronil; carboxin + thiram (250 and 300 mL) and tolylfluanid; difenoconazole.
KEY WORDS: Seeds; chemist control; Brachiaria decumbens; Brachiaria brizantha.
INTRODUÇÃO
A utilização de braquiária como forrageira vêm aumentando nos últimos anos, tanto no Brasil como em outros países da América Latina, levando à sua exploração em grandes áreas, com vistas ao mercado interno de sementes e à sua exportação. Esta gramínea está entre as forrageiras de alto potencial de produção de biomassa que, manejada de forma racional, permite aumentar a produção de leite e carne por unidade de área. (MARTINS et al., 1998).
Segundo SOARES FILHO (1996) entre as forrageiras importadas a braquiária foi a preferida pelos pecuaristas por se adaptar às mais variadas condições de solo e clima, ocupando cada vez mais lugar nos serrados brasileiros, com vantagens sobre outras espécies devido a proporcionar produções satisfatórias de forragem em solos com baixa e média fertilidade. Utilizada no Brasil como forrageira desde os anos 50, teve sua grande expansão nas décadas de 70 e 80, principalmente, nas regiões de clima mais quente. De acordo com esse autor o plantio de braquiária já constituía em 1996 cerca de 50% da área de pastagens no Brasil tropical.
Baixa qualidade, aliada às restrições fitossanitárias dos países importadores tem dificultado à exportação de sementes de braquiária, que representa importante fonte de divisas para o país. Um dos grandes entraves na exportação de sementes de forrageiras no Brasil tem sido a baixa qualidade sanitária com grande quantidade de fungos, diversos deles com entrada proibida nos paises importadores.
Fungos potencialmente patogênicos foram constatados em sementes de Braquiaria spp. no Brasil, predominando os pertencentes aos gêneros Drechslera, Phoma, Fusarium e Curvularia; fungos saprófitas e contaminantes como Alternaria tenuis, Cladosporium sp., Epicoccum sp., Chaetomium sp., Nigrospora sp., Penicillium spp. e Aspergillus spp. foram também relatados. (CHAGAS & OLIVEIRA, 1983; DIAS & TOLEDO, 1993; URBEN, 1987; VECHIATO et al., 1987; MARTINS et al., 2001).
Quando presentes nas sementes, diversos fungos podem provocar redução do seu poder germinativo, diminuindo sua qualidade e seu valor comercial.
Dentre os fungos constatados, diversos são patógenos de gramíneas, não se conhecendo, porém, a sua patogenicidade e os danos que ocasionam à braquiária.
Apesar da grande demanda, por parte dos produtores e exportadores de sementes de forrageiras, com respeito a informações sobre o controle de fungos de sementes de braquiária, pouco foi estudado sobre o assunto até o momento.
Considerando a escassez de informações sobre o controle de fungos de sementes de forrageiras e levando em conta a necessidade de uma definição no que concerne ao tratamento de sementes de braquiária, o presente trabalho teve como objetivos avaliar a eficiência de diversos produtos fungicidas para tratamento de sementes dessa forrageira e verificar a influência do tempo de armazenamento de sementes tratadas sobre a ação desses produtos.
MATERIAL E MÉTODOS
Sementes de Brachiaria decumbens, não escarificadas, foram tratadas com 7 produtos fungicidas, acondicionadas em sacos de papel e armazenadas em condições de ambiente (dez/99). Os produtos utilizados e as doses do p.c./100kg de sementes encontram-se na Tabela 1. O tratamento com os produtos líquidos (suspensão concentrada) foi efetuado pelo método de molhagem das sementes ("wet treatment"), adicionando-se 100 mL de água/kg de sementes e com os produtos em pó (pó molhável), utilizando-se 40 mL de água/kg de sementes (NEERGAARD, 1977). Com as sementes tratadas, periodicamente, foram instalados 2 experimentos: 1 em laboratório e 1 em casa-de-vegetação, ambos com delineamento estatístico inteiramente casualizado, com 8 tratamentos e 4 repetições, nos quais se avaliaram a incidência de fungos nas sementes, a emergência e a presença de sintomas em plântulas. A instalação dos experimentos obedeceu ao seguinte cronograma: logo após o tratamento das sementes (dezembro/ 1999), após cerca de 3 (março/2000), 6 (junho/2000) e 12 (dezembro/2000) meses, perfazendo um total de 8 experimentos. Nos experimentos de laboratório as sementes foram analisadas pelo método do papel de filtro (INTERNATIONAL SEED TESTING ASSOCIATION, 1966; NEERGAARD, 1977), utilizando-se 200 sementes/tratamento, em repetições de 50; estas foram distribuídas em placas de Petri de 9cm de diâmetro e incubadas por 7 dias a 20 ± 2º C, com alternância de luz negra e escuridão de 12h. Após a incubação foram examinadas ao microscópio estereoscópico e microscópio composto para identificação dos fungos presentes. Em casa-de-vegetação foram utilizadas caixas de sementeira de plástico medindo 47 x 30 x 10 cm, contendo terra esterilizada, nas quais foram semeadas 200 sementes/tratamento, consistindo cada caixa em uma parcela com 50 sementes. A emergência foi registrada aos 15 dias após a semeadura e os sintomas em plântulas ao longo dos experimentos. Para identificar os agentes causais dos sintomas observados, as plântulas atacadas foram arrancadas e colocadas em câmara úmida, procedendo-se após alguns dias à identificação dos fungos presentes, com base nas frutificações que se desenvolveram sobre as partes afetadas.
Fungicidas utilizados para o tratamento de sementes de Brachiaria decumbens visando o controle de fungos.
Fungicidas utilizados para o tratamento de sementes de Brachiaria brizantha visando o controle de fungos.
Com os dados de emergência foi efetuada análise fatorial para fungicidas e períodos de armazenamento das sementes.
No ano agrícola 2001/02, 9 produtos nas doses indicadas (Tabela 2), foram utilizados para tratamento de sementes de B. brizantha de acordo com o seguinte procedimento: os fungicidas foram misturados com as sementes adicionando-se água na razão de 5 mL/ kg de sementes para os produtos líquidos e 40 mL/kg para os produtos em pó. Após o tratamento, foram instalados: 1 experimento em laboratório, no qual se avaliou a incidência de fungos nas sementes, 1 em casa-de-vegetação, onde foram registradas a emergência e presença de sintomas em plântulas, ambos inteiramente casualizados e 1 em campo, sob delineamento estatístico de blocos ao acaso, onde se avaliaram a emergência e a produção de massa verde, todos com 10 tratamentos e 4 repetições. Em laboratório, foi realizada análise de sanidade com 400 sementes/ tratamento, em repetições de 100 e em casa de vegetação foram semeadas 200 sementes/tratamento em repetições de 50, seguindo-se os procedimentos já descritos em experimentos anteriores; no experimento de campo, conduzido em Paulínia, SP, cada parcela consistiu em 4 linhas de 5 m de comprimento, espaçadas de 0,20 m, nas quais foram semeadas 200 sementes/ linha. A emergência foi avaliada nas 2 linhas centrais da parcela, cerca de 50 dias após a semeadura e a produção de biomassa 110 dias após o plantio. Os dados de incidência de fungos nas sementes, de emergência e de produção foram analisados estatisticamente por variância, aplicando-se os testes F e Tukey a 5% de probabilidade.
RESULTADOS
Os resultados dos experimentos realizados em laboratório com sementes de B. decumbens tratadas e armazenadas em condições de ambiente encontramse na Tabela 3. Na 1ª avaliação, feita logo após o tratamento, verificou-se redução acentuada dos fungos nas sementes na maioria dos tratamentos. Os fungos potencialmente patogênicos, mais freqüentes nas sementes foram: Phoma sp., Exserohilum spp. (anteriormente relatado como Drechslera spp.), Fusarium spp. e Curvularia spp. As maiores reduções de Phoma sp. foram obtidas nos tratamentos com thiram, carboxin + thiram e captan. Com exceção do thiabendazole, todos os produtos reduziram expressivamente os índices de incidência de Exserohilum spp. nas sementes; Fusarium spp. foi controlado nos tratamentos com carboxin + thiram, thiabendazole e thiram + thiabendazole. Quanto a Curvularia spp., o baixo nível de incidência não permitiu avaliar o controle. Na 2ª avaliação, feita após 3 meses, houve queda dos índices de incidência de Fusarium spp. e Phoma sp. na maioria dos tratamentos com fungicidas, enquanto que para Exserohilum spp. e Curvularia spp. os índices, de maneira geral aumentaram. Na 3ª avaliação, após 6 meses, excetuando-se Phoma sp., houve decréscimo dos fungos na maioria dos tratamentos. Na 4ª avaliação, realizada 12 meses após o tratamento, com exceção de Phoma sp., que manteve-se em alto nível no tratamento com quintozene, os índices de incidência de fungos foram baixos.
O resultado da análise fatorial dos dados obtidos nos experimentos realizados em casa-de-vegetação (Tabela 4) mostrou efeitos significativos do tratamento fungicida e do período de armazenamento das sementes sobre a emergência. A comparação das médias de emergência em cada período de armazenamento acusou diferenças significativas entre os tratamentos apenas no experimento instalado após 6 meses de armazenamento das sementes, no qual a emergência nos tratamentos com os fungicidas thiram + thiabendazole, thiram e carboxin + thiram foi significativamente superior a do tratamento testemunha. Considerando os períodos de armazenamento, houve diferenças significativas para os tratamentos com carboxin + thiram, thiram + thiabendazole, thiabendazole e testemunha, que de maneira geral, apresentaram elevação significativa da emergência com o aumento do período de armazenamento. Foram observadas plantas com sintomas nos experimentos instaladas aos 6 e 12 meses de armazenamento das sementes; após 6 meses, foram registrados sintomas de plântulas em todos os tratamentos, em índices que variaram de 0,5 a 3,5% das sementes utilizadas para o plantio e após 12 meses foram observados sintomas apenas no tratamento testemunha, no nível de 1,5%. Associados aos sintomas foram identificados fungos dos gêneros Exserohilum, Phoma e Curvularia, predominando Exserohilum spp.
A Tabela 5 contém os resultados do experimento de laboratório relativo ao tratamento de sementes de B. brizantha. Os fungos potencialmente patogênicos a braquiária, presentes em níveis expressivos de incidência foram: Exserohilum spp., Fusarium spp; Curvularia spp., Phoma sp. e Cephalosporium sp.; o fungo Myrothecium sp. esteve presente em baixo índice de incidência. Com relação ao controle dos fungos citados foi observado o seguinte (Tabela 5): Fusarium spp. sofreu redução estatisticamente significativa nos tratamentos com carbendazim + thiram, (carbendazim + thiram) + fipronil, thiram e captan. Com exceção de fipronil, todos os produtos reduziram significativamente Exserohilum spp. nas sementes. Para Curvularia spp. houve controle com carboxin + thiram nas duas doses utilizadas e com thiram e captan. Phoma sp. foi controlado nos tratamentos com carbendazim + thiram, (carbendazim + thiram) + fipronil, thiram, captan e tolylfluanid. Apenas carbendazim + thiram controlou Cephalosporium sp. Quanto a Myrothecium sp., o baixo índice na amostra não permitiu avaliar o controle.
Incidência de fungos em experimentos de laboratório com sementes de Brachiaria decumbens tratadas com fungicidas e armazenadas em 4 períodos de tempo. São Paulo, 1999 e 2000.
Emergência e sintomas em plântulas em experimentos de casa de vegetação com sementes de Brachiaria decumbens tratadas e armazenadas em 4 períodos de tempo. São Paulo. 1999 e 2000.
Incidência de fungos em experimento de tratamento de sementes de Brachiaria brizantha com fungicidas, em laboratório. São Paulo, 2001.
Emergência e peso de massa verde em experimentos de tratamento de sementes de Brachiaria brizantha com fungicidas, em casa de vegetação e campo. São Paulo e Paulínia, 2001/2002.
Os resultados dos experimentos de casa-de-vegetação e campo encontram-se na Tabela 6. Os índices de emergência das sementes tratadas, tanto em casade-vegetação como em campo foram de maneira geral mais elevados do que os do tratamento testemunha, não obstante, as diferenças verificadas não foram significativas em nível estatístico. Também não se verificaram diferenças significativas entre os tratamentos em relação à produção de massa verde. Em casa de vegetação foram observados sintomas ocasionados por Exserohilum spp. em duas plântulas no tratamento com tolylfluamid e em uma plântula no tratamento testemunha.
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Os resultados constantes da Tabela 4 evidenciam o efeito positivo do tratamento de sementes com thiram + thiabendazole, thiram e carboxin + thiram sobre a emergência somente aos 6 meses de armazenamento das sementes tratadas. Este efeito pode ter sido obtido pela maior ação desses fungicidas após o armazenamento das sementes e/ou devido às condições de tempo na época em que o experimento foi conduzido (junho/2000) com temperaturas baixas, que retardam a emergência, propiciando maior ataque de fungos e conseqüentemente maior efeito do tratamento de sementes. De acordo com NEERGAARD (1977), o armazenamento de sementes tratadas pode ser benéfico por aumentar a ação germicida dos produtos utilizados ou prejudicial por aumentar sua fitotoxidade. Com 12 meses de armazenamento não se obteve resposta ao tratamento de sementes, o que pode ter resultado do longo período de armazenagem, que teria reduzido a ação dos produtos, e da baixa incidência de fungos nas sementes na maioria dos tratamentos, nesta fase. Outro fator pode ter sido a época do ano (dezembro) com temperaturas elevadas que favorecem a germinação rápida das sementes, promovendo o escape ao ataque de fungos.
Com respeito aos fungos já constatados em sementes de braquiária Drechslera spp. foi citado por diversos autores em sementes de Brachiaria spp. (CHAGAS & OLIVEIRA, 1983; DIAS & TOLEDO, 1993; GARCIA & PINEDA, 2000; URBEN, 1987; VECHIATO, 1987), provavelmente, referindo-se aos fungos atualmente denominados Exserohilum spp. No presente trabalho houve predominância desses fungos que foram identificados como Exserohilum spp. (MUCHOVEJ et al., 1988).
A presença de fungos dos gêneros Exserohilum, Phoma e Curvularia, identificados nas plântulas com sintomas, indica que esses fungos, quando presentes em sementes de braquiária, podem ser transmitidos e atacar as mudas provenientes destas sementes. De maneira geral, as gramíneas são susceptíveis ao ataque de fungos dos gêneros Drechslera, Bipolaris, Exserohilum e Curvularia, que causam manchas de folhas e caules, seca de folhas e morte de mudas; nos gêneros Fusarium e Phoma, também presentes nas sementes, diversas espécies possuem patogenicidade à grande número de hospedeiros (KIMATI et al., 1997; NEERGAARD, 1977; URBAN, 1987). Fungos dos gêneros mencionados, além de fungos saprófitas, foram relatados em braquiária por diversos autores (GARCIA & PINEDA, 2000; DIAS & TOLEDO, 1993; CHAGAS & OLIVEIRA, 1983; MARTINS et al., 2001; VECHIATO et al., 1987).
A presença de sintomas em plântulas apenas no tratamento testemunha, observada na última avaliação das sementes tratadas e armazenadas em condições de ambiente, sugere que os fungicidas estudados ofereceram proteção às plântulas contra o ataque de fungos das sementes após 12 meses de armazenamento. Esta proteção foi provavelmente aumentada pela baixa incidência de fungos nas sementes nesta época e pela temperatura favorável a rápida germinação e escape de doenças, que levou a um baixo índice de plântulas atacadas no tratamento testemunha.
Dentre os fungicidas avaliados no presente trabalho, thiram, captan, difenoconazole e thiabendazole já foram estudados com respeito ao controle de fungos de sementes de braquiária. Em trabalho de DIAS & TOLEDO (1993), os fungicidas captan, thiram, thiabendazole e iprodione + thiram, usados em sementes escarificadas, contribuíram para uma melhor germinação em laboratório, destacando-se em eficiência a mistura iprodione + thiram. PREVIERO et al. (1997) avaliaram a eficiência dos fungicidas thiram, thiabendazole, difenoconazole e iprodione + thiram, além de outros, no controle de fungos de sementes de B. brizantha cv. Marandu com e sem escarificação; a escarificação ácida reduziu a incidência de fungos, não influíndo, porém, na viabilidade e vigor das sementes. Os fungicidas utilizados ofereceram controle diversificado aos diferentes gêneros de fungos das sementes, destacando-se o thiram e o iprodione + thiram; não obstante, não promoveram a elevação dos índices de germinação das sementes. MENTEN et al. (2004) avaliaram os fungicidas carboxin + thiram, thiram e o corante rodamina para tratamento de sementes de B. brizantha; com exceção da rodamina, os produtos utilizados controlaram os fungos nas sementes, porém, não se verificaram diferenças entre os tratamentos em relação à germinação e emergência. Em trabalho de LASCA et al. (2001) os fungicidas thiram e carboxin + thiram foram eficientes para controle de fungos em sementes de trigo. Trabalho de MORAES eta l. (2004) para estudo da influência do período de armazenamento de sementes de B. brizantha tratadas não mostrou diferenças entre os resultados obtidos logo após o tratamento e depois de 6 meses de armazenamento. Na presente investigação a elevação da emergência com o aumento do período de armazenamento, verificada em alguns tratamentos, provavelmente, se deve, em parte, à quebra da dormência das sementes, que no caso da braquiária é relativamente alta logo após a colheita, havendo necessidade de tempo para a semente germinar. Fatores já mencionados como as condições de temperatura na época do último experimento e redução dos fungos nas sementes podem também ter influído nas diferenças observadas.
Considerando os fungicidas avaliados em 2001/ 2002, em relação ao número de gêneros de fungos por eles controlados, estes podem ser colocados na seguinte ordem decrescente de eficiência para tratamento de sementes de B. brizantha: carbendazim + thiram, thiram e captan; (carbendazim + thiram) + fipronil; carboxin + thiram (250 mL e 300 mL) e tolylfluanid; difenoconazole. Levando-se em conta a importância dos fungos para a braquiária destacamse carboxin + thiram (250 mL e 300 mL), thiram e captan, que controlaram eficientemente Exserohilum spp. e Curvularia spp. nas sementes.
Nos experimentos realizados em São Paulo e Paulínia (2001/2002), a falta de resposta ao tratamento fungicida em relação à emergência e à produção de biomassa pode levar ao questionamento da validade do tratamento de sementes a serem utilizadas para o plantio. Entretanto, é importante considerar que este contribui para a diminuição do inóculo dos fungos na área cultivada que, se aumentado a cada plantio, poderá inviabilizar a cultura. Outro fator importante é a condição de sanidade das sementes para exportação que, de acordo com exigência dos países importadores, deve ter baixa ou nenhuma incidência de fungos patogênicos.
CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos pode-se concluir que:
-
Fungos dos gêneros Exserohilum (ex Drechslera), Phoma e Curvularia, quando presentes em sementes de B. decumbens, podem afetar a emergência e provocar a morte de plântulas.
-
Os fungicidas thiram+thiabendazole (200 mL), carboxin+thiram (300 mL) e thiram (300 mL) apresentam eficiência no controle de fungos de sementes de B. decumbens, com reflexos positivos sobre a emergência.
-
Em condições de temperatura favoráveis à germina-ção, os fungicidas avaliados para tratamento de sementes de B. decumbens, nas doses utilizadas, dão proteção às plântulas contra o ataque de fungos, em terra esterilizada, após 12 meses de armazenamento; em condições de ambiente o armazenamento por 12 meses não afeta a viabilidade das sementes.
-
Os fungicidas avaliados para tratamento de semen-tes de B. brizantha podem ser colocados na seguinte ordem decrescente em relação ao número de gêneros de fungos por eles controlados: carbendazim + thiram (200 mL), thiram (300 mL), e captan (200 g); (carbendazim + thiram) + fipronil (100 + 100 mL); carboxin + thiram (250 e 350 mL) e tolylfluanid ( 150 g); difenoconazole ( 100 mL).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- CHAGAS, D. & OLIVEIRA, D.P. Fungos associados à sementes de gramíneas e leguminosas forrageiras. Fitopatol. Bras., v.8, n.1, p.131-135, 1983.
- DIAS, D.C.F.S. & TOLEDO, F.F. Germinação e incidência de fungos em testes de sementes de Brachiaria brizantha Stapf. Sci. Agríc., v.50, n.1, p.68-76, 1993.
- GARCIA , D.S.X. & PINEDA, L.B. Reconocimiento de enfermedades fungosas transmitidas por semilla em germoplasma de Brachiaria spp. Fitopatol. Colomb., v.24, n.1/2, p.39-46, 2000.
- INTERNATIONAL SEED TESTING ASSOCIATION - ISTA. International rules for seed testing. Proc. Int. Seed Test. Assoc., v.31, n.1, p.107-115, 1966.
- KIMATI, H; AMORIM L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; RESENDE, J.A.M. Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas 3.ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 1997. v.2, 774p.
- LASCA, C.C.; KRUPPA, P.C.; BARROS, B.C.; SCHIMDT, J.R.; CHIBA, S. Controle de Pyricularia grisea e Bipolaris sorokiniana em sementes de trigo mediante tratamento com fungicidas. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.68, n.1, p.55-63, 2001.
- MARTINS, C.E.; COSER, A.C.; DERESZ, F. Formação e utilização de capim elefante em sistemas intensivos de produção de leite Juiz de Fora: EMBRAPA - Gado de Leite, 1998. (Circular Técnica EMBRAPA - MA, n.50).
- MARTINS , L.; SILVA , W.R.; ALMEIDA, R.R. Sanidade de sementes de Brachiaria brizantha (Hochst. ex A. Rich) Stapf submetidas a tratamentos térmicos e químico. Rev. Bras. Sementes, v.23, n.2, p.117-120, 2001.
- MENTEN, J.O.M.; MORAES, M.H.D.; GRAVENA, J.C.; RUGAI, A. Tratamento químico de sementes de Brachiaria brizantha visando melhoria da qualidade Fitopatol. Bras, v.29, supl., p.171, 2004. (Resumo)
- MORAES, M.H.D.; G RAVENA, J.C.; MARUOKA, A., MENTEN, J.O.M.; RUGAI, A. Qualidade de sementes de Brachiaria brizantha tratadas e armazenadas. Fitopatol. Bras, v.29, supl., p.170, 2004. (Resumo)
- MUCHOVEJ, J.J.; MUCHOVED, R.M.C.; RIBEIRO-NESIO, M.L. Taxonomia de Drechslera, Bipolares e Exserohilum. Fitopatol. Bras, v.13, n.3, p.211-223, 1998.
- NEERGAARD, P. Seed pathology London: MacMillan, 1977. v.1, 839p.
- PREVIERO, C.A.; SOAVE, J.; GROTH, D. Efeito do tratamento químico sobre a qualidade fisiológica e sanitária de sementes de Brachiaria brizantha cv. Marandú. Fitopatol. Bras, v.22, n.1, p.25-29, 1997.
- SOARES FILHO, C.V. Brachiaria - espécies e variedades recomendadas para diferentes condições. Bol. Téc., CATI, n.226, 1996.
- URBEN, A.F. Testes de sanidade de sementes de forrageiras In: SOAVE, J. & WETZEL, M.M.V.S. (Eds.). Patologia de sementes Campinas: Fundação Cargill, 1987. p.406-429.
- VECHIATO, M.H.; KOHARA, E.Y.; SCHMIDT, J.R.; LASCA, C.C. Contribuição ao conhecimento da flora fúngica de sementes de forrageiras cultivadas no Brasil. In: CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA, 38., 1987, São Paulo. Resumos. São Paulo: Sociedade Botânica do Brasil, 1987. p. 366.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
17 Jun 2024 -
Data do Fascículo
Oct-Dec 2004
Histórico
-
Recebido
02 Dez 2004 -
Aceito
30 Dez 2004