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BABESIA SP. EM GRAXAIM DO CAMPO (LYCALOPEX GYMNOCERCUS) NO SUL DO BRASIL

BABESIA SP. IN CRAB-EATING FOX (LYCALOPEX GYMNOCERCUS) IN SOUTHERN BRAZIL

RESUMO

Os autores registram pela primeira vez, a presença de Babesia sp. parasitando graxaim do campo (Lycalopex gymnocercus) na Região Sul do Estado do Rio Grande do Sul.

PALAVRAS-CHAVE:
Babesia sp.; Lycalopex gymnocercus, graxaim.

ABSTRACT

The authors report, for the first time, the presence of Babesia sp. in crab-eating fox (Lycalopex gymnocercus) from Rio Grande do Sul State, Brazil.

KEY WORDS:
Babesia sp.; Lycalopex gymnocercus, crab-eating fox.

No mundo existem 35 espécies de canídeos silvestres, e destas, três habitam o território gaúcho: Chrysocyon brachyurus (lobo-guará) Lycalopex gymnocercus (graxaim-do-campo) e Cerdocyon thous (graxaim-do-mato). Os dois gêneros de graxaim são encontrados freqüentemente nas fazendas da Região Sul do Rio Grande do Sul, estendendo-se pelo Uruguai e Argentina (OLIVEIRA & GONZALES, 1990OLIVEIRA, C.M.B & GONZALES, J.C. Fauna parasitária Riograndense Arq. Fac. Vet. UFRGS, v.18, p.19-59, 1990.; GONZÁLES, 2001GONZÁLEZ, E.M. Guía de campo de los mamíferos de Uruguay. Introducción al estudio de los mamíferos. Montevideo: Vida Silvestre, 2001). Estudos realizados até o momento revelam que esses e outros canídeos silvestres podem ser parasitados por vários parasitos comuns aos animais domésticos e a outras espécies silvestres, e dentre esses observam-se protozoários como Hepatozoon canis, Leishmania sp. e Trypanosoma cruzi (ALENCAR et al., 1997ALENCAR, N.X.; KOHAYAGAWA, A.; SANTARÉM, V.A. Hepatozoon canis infection of wild carnivores in Brazil. V. Parasitol., v.70, p.279-282, 1997.; CRIADO-FORNELIO et al., 2000CRIADO-FORNELIO, A.; GUTIERREZ-GARCIA, L.; RODRIGUEZ-CAABEIRO, F.; REUS-GARCIA, E; ROLDAN-SORIANO.; DIAZSANCHEZ, M.A. A parasitological survey of wild foxes (Vulpes vulpes) from the province of Guadalajara, Spain. Vet. Parasitol, v.92, p. 245-251, 2000.). Por outro lado, em cães domésticos é observada a presença de Babesia canis e Babesia gibsoni. Em B. canis, são reconhecidos três subtipos, com diferentes vetores e grau de patogenicidade: B. canis rossi com muito alta patogenicidade sendo transmitida por Haemaphysalis leachi; B. canis canis que apresenta alta patogenicidade, é transmitida por Dermacentor reticulatus; B. canis vogheli que possui baixa patogenicidade e é transmitida por Rhipicephalus sanguineus (ZAHLER, et al., 1998ZAHLER, M.; SCHEIN, E.; RINDER, H.; GOTHE, R. Taxonomic evaluation of Babesia canis isolates with different pathogenicity to dogs. Parasitol. Internat., v.47, p.139, 1998.; KJEMTRUP et al., 2000KJEMTRUP, A.M.; KOCAN, A.A.; WHITWORTH, L.; MEINKOTH, J.; BIRKENHEUER, A.J.; CUMMINGS, J.; BOUDREAUX, M.K.; STOCKHAM, S.L.; IRIZARRY-ROVIRA, A.; CONRAD, P.A. There are at leaste three genetically distinct small piroplasms from dogs. Intern. J. for Parasitol, v.30, p.1501-1505, 2000.). Os sinais clínicos de babesiose são caracterizados por anemia hemolítica, hemoglobinuria, e em casos mais graves pode levar o animal infectado à morte (LAPAGE, 1981LAPAGE, G. Parasitologia Veterinaria, 6. ed. Compañia Editorial Continental, S.A, Mexico, D.F.: 1981. 790p.; KJEMTRUP et al., 2000KJEMTRUP, A.M.; KOCAN, A.A.; WHITWORTH, L.; MEINKOTH, J.; BIRKENHEUER, A.J.; CUMMINGS, J.; BOUDREAUX, M.K.; STOCKHAM, S.L.; IRIZARRY-ROVIRA, A.; CONRAD, P.A. There are at leaste three genetically distinct small piroplasms from dogs. Intern. J. for Parasitol, v.30, p.1501-1505, 2000.). A B. canis é um hemoparasita grande, medindo 4-5 µm de comprimento, encontrando-se geralmente um ou dois merozoítos piriformes, porém em alguns casos, foram encontrados até dezesseis merozoítos dividindo-se binariamente no interior dos eritrócitos (LAPAGE, 1981LAPAGE, G. Parasitologia Veterinaria, 6. ed. Compañia Editorial Continental, S.A, Mexico, D.F.: 1981. 790p.). Os carrapatos dos gêneros Rhipicephalus e Amblyomma são considerados os principais vetores de B. canis para cães da região sul do RS. Nos canídeos silvestres foram encontrados somente carrapatos do gênero Amblyomma em 57,1% de 20 animais examinados (LUCAS et al., 1999LUCAS, A.S.; RUAS, J.L.; FARIAS, N.A.R.; SOARES, M.P.; BERNE, M.E.A.; BRUM, J.G.W.; MÜLLER, G. Fauna parasitária de los canidos silvestres de la región sur de Brasil In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE PARASITOLOGIA, 14., 1999, Acapulco, Mexico. Resumenes. Acapulco: 1999. p.94.). Este trabalho tem como objetivo conhecer a infecção por hemoprotozoarios em canídeos silvestres capturados na Região Sul do Rio Grande do Sul, sendo detectado pela primeira vez a infecção de Lycalopes gymnocercus por Babesia spp.

Foram examinados esfregaços sangüíneos de 13 canídeos silvestres capturados entre os anos de 1999 e 2000 na Região Sul do Rio Grande do Sul, Brasil (IBAMA licença nº 112/99). Os animais capturados foram diferenciados quanto ao gênero e espécie (MACDONALD, 1993MACDONALD, D. The Encyclopedia Of Mammals, New York: Fact On File,1993.) e imediatamente após o sacrifício, foi realizada a coleta dos ectoparasitas presentes. O sangue foi coletado por punção venosa da veia jugular dos animais, utilizando-se tubos contendo como anticoagulante EDTA e posteriormente realizado microhematócrito e dois esfregaços de cada amostra, em lâmina para microscópio. Os esfregaços foram fixados com metanol por 5 minutos e logo após corados com Giemsa 3% por 45 minutos. Posteriormente foram examinados em microscópio ótico em aumento de 1000x (imersão) para pesquisa de hemoparasitos. Dos treze animais examinados, foi observada a presença de hemoparasitos em eritrócitos nos esfregaços sangüíneos de um animal. O animal parasitado era um macho jovem de Lycalopex gymnocercus (graxaim do campo), que pesava 4,75 kg. O hematócrito estava em 27%, enquanto a média dos demais animais foi de 35% ± 8,1 (N = 13).

No exame externo do animal, foi observada a presença de carrapatos do gênero Amblyomma (A. tigrinum e A. aureolatum). No exame morfométrico dos hematozoários foram observados parasitos com formato anelar e piriforme, com, no máximo dois merozoítos por eritrócito, medindo 3-5 µm.

As medidas e morfologia dos merozoítos encontrados nos esfregaços sangüíneos estão de acordo com o observado em parasitos do gênero Babesia em canídeos domésticos (LAPAGE, 1981LAPAGE, G. Parasitologia Veterinaria, 6. ed. Compañia Editorial Continental, S.A, Mexico, D.F.: 1981. 790p.). Ainda não foram identificados carrapatos do gênero Rhipicephalus sanguineus nos animais estudados, o que permite inferir que no caso em estudo, os hemoparasitas tenham sido transmitidos ao animal parasitado por carrapatos do gênero Amblyomma. Trata-se do primeiro registro de infecção por Babesia sp. em Lycalopex gymnocercus (graxaim do campo) no Brasil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • ALENCAR, N.X.; KOHAYAGAWA, A.; SANTARÉM, V.A. Hepatozoon canis infection of wild carnivores in Brazil. V. Parasitol., v.70, p.279-282, 1997.
  • CRIADO-FORNELIO, A.; GUTIERREZ-GARCIA, L.; RODRIGUEZ-CAABEIRO, F.; REUS-GARCIA, E; ROLDAN-SORIANO.; DIAZSANCHEZ, M.A. A parasitological survey of wild foxes (Vulpes vulpes) from the province of Guadalajara, Spain. Vet. Parasitol, v.92, p. 245-251, 2000.
  • GONZÁLEZ, E.M. Guía de campo de los mamíferos de Uruguay. Introducción al estudio de los mamíferos. Montevideo: Vida Silvestre, 2001
  • KJEMTRUP, A.M.; KOCAN, A.A.; WHITWORTH, L.; MEINKOTH, J.; BIRKENHEUER, A.J.; CUMMINGS, J.; BOUDREAUX, M.K.; STOCKHAM, S.L.; IRIZARRY-ROVIRA, A.; CONRAD, P.A. There are at leaste three genetically distinct small piroplasms from dogs. Intern. J. for Parasitol, v.30, p.1501-1505, 2000.
  • LAPAGE, G. Parasitologia Veterinaria, 6. ed. Compañia Editorial Continental, S.A, Mexico, D.F.: 1981. 790p.
  • LUCAS, A.S.; RUAS, J.L.; FARIAS, N.A.R.; SOARES, M.P.; BERNE, M.E.A.; BRUM, J.G.W.; MÜLLER, G. Fauna parasitária de los canidos silvestres de la región sur de Brasil In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE PARASITOLOGIA, 14., 1999, Acapulco, Mexico. Resumenes Acapulco: 1999. p.94.
  • MACDONALD, D. The Encyclopedia Of Mammals, New York: Fact On File,1993.
  • OLIVEIRA, C.M.B & GONZALES, J.C. Fauna parasitária Riograndense Arq. Fac. Vet. UFRGS, v.18, p.19-59, 1990.
  • ZAHLER, M.; SCHEIN, E.; RINDER, H.; GOTHE, R. Taxonomic evaluation of Babesia canis isolates with different pathogenicity to dogs. Parasitol. Internat., v.47, p.139, 1998.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Set 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2003

Histórico

  • Recebido
    18 Set 2002
  • Aceito
    05 Maio 2003
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