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PREVALÊNCIA DE ASPERGILOSE PULMONAR EM PINTOS DE UM DIA DE IDADE

PREVALENCE OF ASPERGILOSE LUNG IN ONE-DAY-OLD CHICKS

RESUMO

A indústria avícola vem sofrendo com os efeitos das infecções fúngicas nos seus plantéis. O presente estudo teve como objetivo investigar a prevalência de aspergilose pulmonar em pintos de um dia de idade. Durante o período de janeiro a julho de 2003 foram realizadas necrópsias em 66 lotes de pintos de um dia de idade contendo 10 aves cada lote. Fragmentos de pulmão destas aves foram cultivados em Sabourand Dextrose Ágar, a 41º C durante 120 horas. Após o tempo de incubação as colônias de acordo com o aspecto, foram classificadas em espécie e ou gênero. Vinte e dois lotes (33,33%) apresentaram resultados compatíveis com o gênero Aspergillus spp., responsável pela aspergilose.

PALAVRAS-CHAVE:
Aspergillus spp.; doença respiratória; fungos

ABSTRACT

The poultry industry has been suffering with the effects of fungus infections.The aim of the present study had was the investigate of lung aspergilose the prevalence in one-day-old chicks. During the period of January to July of 2003 an investigation was carried out in 66 shares of one-day-old chicks, examining 10 birds in each flock. Lung fragments were collected from these birds and put in Sabourand Dextrose Agar, which was then incubated 41º C for 120 hours. After incubation, plate readings were done he colonies were classified in species or genus according to their aspects. Twenty-two flocks (33.33%) presented compatible results with Aspergillus spp., responsible for the aspergillosis.

KEY WORDS:
Aspergillus spp.; respiratory disease; fungi

A principal enfermidade micótica das aves é a aspergilose, e apesar das diversas formas clínicas de apresentação da doença, a forma respiratória, afetando especialmente os pulmões e sacos aéreos, é a de maior importância (ANDREATTI FILHO, 2000ANDREATTI FILHO, R.L. Enfermidades micóticas. In: BERCHIERI JÚNIOR., A. & MACARI, M. (Eds.) Doenças das aves. Campinas: FACTA, 2000. p.369-378.).

Aspergilose é definida como uma doença respiratória, determinada por qualquer membro do gênero Aspergillus, é usualmente conhecida como aspergilose pulmonar e também como pneumonia micótica (RICHARD, 1997RICHARD, J.L. Fungal Infections. In: CALNEK. B.W.; BARNES, H.J.; BEARD, C.W.; REID, W.M.; YODER JUNIOR, H.W. (Eds.). Diseases of poultry. Ames, Iowa: Iowa State University Press, 1997. p.351-360.). CHUTE et al. (1956)CHUTE, H.L.; O'MEARA, D.C.; TRESNER, H.D.; L ACOMBE, E. The fungous flora of chickens with infections of the respiratory tract. Am. J. Vet. Res. v.17, p.763765, 1956., observaram que freqüentemente a aspergilose é causada pelos Aspergillus fumigatus e Aspergillus flavus.

Os primeiros relatos de Aspergillus spp. em aves datam do início do século XIX, quando foram descritos fungos azulados no sistema respiratório de aves marinhas. Entretanto, a primeira identificação da Aspergillus spp. em aves com lesão no sistema respiratório foi feita por RAYNER & MONTAGNE em 1942RAYER AND MONTAGNE. 1942. Mycose aspergillaire dans les poches aeriennes d'fun bouvreuil. J Inst Paris Muller's Arch 270. apud AUSTWICK, P.K.C. Pathogenicity. In: RAPER, K.B. & FENNEL, D.I. (Eds.). The genus Aspergillus. Baltimore: Williams and Wilkins, 1965. p.82-126..

Aspergillus spp. pode ser isolado do solo, ar, água, plantas e animais, incluindo as aves e o homem. Devido à reduzida necessidade nutricional, esses fungos crescem em inúmeros ambientes. Sua disseminação ocorre principalmente pelo ar, sendo beneficiada pela formação de inúmeros esporos, que são muito pequenos e que se desprendem facilmente. Os esporos vão de ave em ave pelo ar, tanto no incubatório quanto no aviário, tornando, especialmente, as máquinas de incubação e nascimento, importantíssimas fontes de contaminação (ANDREATTI FILHO, 2000ANDREATTI FILHO, R.L. Enfermidades micóticas. In: BERCHIERI JÚNIOR., A. & MACARI, M. (Eds.) Doenças das aves. Campinas: FACTA, 2000. p.369-378.).

A aspergilose pode apresentar duas formas clínicas da doença: aguda e crônica. A forma aguda é caracterizada por severos surtos de mortalidade e morbidade, principalmente, em aves jovens, as aves apresentam maior susceptibilidade nas duas primeiras semanas de idade, tornando-se mais resistentes à infecção na idade adulta. A forma crônica incide normalmente nas aves mais velhas (RICHARD, 1997RICHARD, J.L. Fungal Infections. In: CALNEK. B.W.; BARNES, H.J.; BEARD, C.W.; REID, W.M.; YODER JUNIOR, H.W. (Eds.). Diseases of poultry. Ames, Iowa: Iowa State University Press, 1997. p.351-360.).

Condições propícias de temperatura (30º C) e umidade (80%) intensificam o crescimento do Aspergillus spp. A temperatura e a umidade em ambientes avícolas, seja em granjas de reprodutoras ou de frangos de corte, e especialmente durante a incubação, favorecem o desenvolvimento destes fungos (ANDREATTI FILHO, 2000ANDREATTI FILHO, R.L. Enfermidades micóticas. In: BERCHIERI JÚNIOR., A. & MACARI, M. (Eds.) Doenças das aves. Campinas: FACTA, 2000. p.369-378.).

O período de incubação e o nascimento são particularmente importantes, visto que o Aspergillus spp. pode estar presente nas máquinas de incubação e nascedouros, ocorrendo contaminação dos pintainhos. Ovos sujos ou trincados são os maiores responsáveis pela introdução do fungo no incubatório, juntamente com bandejas e caixas contaminadas, provenientes das granjas de reprodutoras (CHUTE & RICHARD, 1997RICHARD, J.L. Fungal Infections. In: CALNEK. B.W.; BARNES, H.J.; BEARD, C.W.; REID, W.M.; YODER JUNIOR, H.W. (Eds.). Diseases of poultry. Ames, Iowa: Iowa State University Press, 1997. p.351-360.).

A dificuldade respiratória é o principal, e na maioria dos casos, o primeiro sinal da aspergilose. A ave, durante a inspiração, estende o pescoço e a cabeça à frente, com o bico aberto apresenta sonolência e inapetência (VALDERRAMA, 1985VALDERRAMA, G.H.M. Aspergilose em pintos de corte. De onde vem? In: SEMINÁRIO DOS PRODUTORES DE PINTOS DE CORTE, 3., 1985, Campinas. Resumo. Campinas: 1985. p.61-65.).

A forma respiratória é a mais clássica da doença, podendo causar, dependendo do grau de contaminação, altos índices de mortalidade, podendo chegar a mais de 50% do lote em aves jovens. Uma importante conseqüência da aspergilose pulmonar é a ocorrência de ascite, devido ao fato das lesões pulmonares determinarem hipertensão pulmonar, com posterior falha no ventrículo direito (JULIAN & GORYO, 1990JULIAN, R.J. & GORYO, M. Pulmonary aspergillosis causing right ventricular failure and ascites in meat-type chickens. Avian Pathol., v.19, p.643-654, 1990.).

O diagnóstico da aspergilose é usualmente realizado pós-morte, em infecções recentes, observa-se nódulos caseosos nos pulmões e sacos aéreos torácicos e abdominais, nos pulmões esses nódulos poderão estar envolvidos por uma área hiperêmica, e os sacos aéreos estarão mais espessos (MARKS et al., 1994).

O exame necroscópico, com visualização dos nódulos caseosos nos pulmões ou sacos aéreos, associados ao exame laboratorial de cultivo para isolar e identificar o fungo, compõe o método mais indicado e seguro para diagnosticar os agentes da aspergilose (ANDREATTI FILHO, 2000ANDREATTI FILHO, R.L. Enfermidades micóticas. In: BERCHIERI JÚNIOR., A. & MACARI, M. (Eds.) Doenças das aves. Campinas: FACTA, 2000. p.369-378.).

O objetivo do presente estudo foi avaliar a prevalência de aspergilose pulmonar em pintos de corte de um dia de idade provenientes do incubatório.

Durante o período de janeiro a julho de 2003, foram analisadas 66 lotes de pintos de corte de um dia de idade, examinando-se 10 aves por lote, num total de 660 aves.

Foram colhidos fragmentos dos pulmões de cada ave. Para o cultivo do material foi utilizado o meio de cultura Sabouraud Dextrose Ágar, e em cada placa foram colocados fragmentos dos pulmões de 5 aves de cada lote, perfazendo 2 placas para cada lote.

Os fragmentos de pulmões foram colocados sobre o meio de cultura e incubados aerobicamente à temperatura de 41º C durante 120 horas.

A identificação do gênero Aspergillus foi realizada de acordo com ANDREATTI FILHO (2000)ANDREATTI FILHO, R.L. Enfermidades micóticas. In: BERCHIERI JÚNIOR., A. & MACARI, M. (Eds.) Doenças das aves. Campinas: FACTA, 2000. p.369-378., observando-se as características das colônias. Estas apresentaram coloração esverdeada ou em várias matizes, envolvendo o verde com o marrom, o verde com o cinza ou o verde com azul. Nos locais de desenvolvimento dos esporos aparecem faixas esbranquiçadas margeando as colônias que apresentavam superfície aveludada, com tamanhos variáveis.

Além das características das colônias foram realizados exames microscópicos para verificar a morfologia dos conidióforos. Com um pequeno pedaço de fita adesiva transparente pressionou-se a região com coloração esbranquiçada (conidióforos) que envolvia a colônia. A fita foi colocada em uma lâmina de vidro contendo corante azul de algodão e sobreposta uma lamínula para visualização em microscópio, a partir destas estruturas foi possível a identificação do gênero presente nos tecidos.

As análises micológicas dos fragmentos dos pulmões dos 66 lotes de pintos de um dia de idade, mostraram que 22 lotes (33,33%) estavam contaminados com fungos da espécie Aspergillus spp., responsáveis pela aspergilose.

ANDREATTI FILHO (2000)ANDREATTI FILHO, R.L. Enfermidades micóticas. In: BERCHIERI JÚNIOR., A. & MACARI, M. (Eds.) Doenças das aves. Campinas: FACTA, 2000. p.369-378. reporta que entre os patógenos a serem controlados no incubatório, devido aos prejuízos que podem causar aos pintos de um dia, no que diz respeito à mortalidade e refugos nas primeiras semanas estão os fungos das espécies Aspergillus.

EGGERT & BARNHART (1953)EGGERT, M.J. & BARNHART, J.V. A case of egg-borne aspergillosis. J. Am. Vet. Med. Assoc., v.34, p.122-225. 1953. relataram casos de aspergilose pulmonar em pintos de um dia de idade e sugeriram que estas contaminações ocorreram através da penetração da casca do ovo durante o período de incubação.

CHUTE et al.(1956)CHUTE, H.L.; O'MEARA, D.C.; TRESNER, H.D.; L ACOMBE, E. The fungous flora of chickens with infections of the respiratory tract. Am. J. Vet. Res. v.17, p.763765, 1956. observaram fungos das espécies Aspergillus, nos sacos aéreos e pulmões em lotes de pintos que apresentaram altas mortalidades. O'MEARA & CHUTE (1959)O'MEARA, D.C. & CHUTE, H.L. Aspergillosis experimentally produced in hatching chicks. Avian Dis., v.3, p.404406, 1959. relataram em seus estudos que os pintos de um dia de idade que estavam infectados com Aspergillus spp., foram contaminados no incubatório.

Estudos realizados por RICHARD (1997)RICHARD, J.L. Fungal Infections. In: CALNEK. B.W.; BARNES, H.J.; BEARD, C.W.; REID, W.M.; YODER JUNIOR, H.W. (Eds.). Diseases of poultry. Ames, Iowa: Iowa State University Press, 1997. p.351-360. em 21 lotes de pintos de 1 dia de idade, com mortalidade entre 10% (dez porcento) ficando evidente que a contaminação por Aspergillus spp. foi proveniente do incubatório. As lesões clássicas foram observadas aos 5 dias de idade das aves.

Lotes de pintos de 1 dia de idade que apresentaram contaminação por fungos das espécies Aspergillus também foram reportados por AKAN, et al. (2002)AKAN, M.; HAZIROGLU, R; ILHAN, Z.; SAREYYPOGLU, B.; TUNCA, R. A case of aspergillosis in a breeder flock. Avian Dis,. v.46, n.2, p.497-501, 2002..

RICHARD (1997)RICHARD, J.L. Fungal Infections. In: CALNEK. B.W.; BARNES, H.J.; BEARD, C.W.; REID, W.M.; YODER JUNIOR, H.W. (Eds.). Diseases of poultry. Ames, Iowa: Iowa State University Press, 1997. p.351-360. em seus estudos observaram que as infecções em pintos de um dia de idade, somente podem ser controladas se houver um controle sanitário dos incubatórios, os embriões são susceptíveis à infecção durante a incubação.

Infecções causadas por fungos do gênero Aspergillus em aves jovens são controladas por programas de desinfecção do incubatório (CHUTE & RICHARD, 1997RICHARD, J.L. Fungal Infections. In: CALNEK. B.W.; BARNES, H.J.; BEARD, C.W.; REID, W.M.; YODER JUNIOR, H.W. (Eds.). Diseases of poultry. Ames, Iowa: Iowa State University Press, 1997. p.351-360.)

A qualidade de pintos de 1 dia é de fundamental importância para os resultados zootécnicos dos lotes de frangos em produção, assim sendo, o controle da aspergilose pulmonar que é determinado pela interação de múltiplos fatores, os quais precisam ser conhecidos e padronizados dentro de um sistema de controle que permita avaliá-los rotineiramente, modificando-os quando necessário e visando sempre a qualidade do produto final, o pinto de um dia produzido.

Com os resultados obtidos concluímos que é necessário um maior controle microbiológico durante o período de incubação dos ovos, pois os embriões são susceptíveis a contaminação por fungos durante este período.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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  • CHUTE, H.L. & RICHARD, J.L. Fungal Infections. In: CALNEK, B.W.; BARNES, H.J.; BEARD, C.W.; MC DOUGALD, L.R.; SAIF, Y.M. (Eds.). Diseases of poultry. 10.ed. Ames (Iowa): Iowa State University Press/American Association of Avian Pathologists, 1997. p.351-373.
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  • O'MEARA, D.C. & CHUTE, H.L. Aspergillosis experimentally produced in hatching chicks. Avian Dis., v.3, p.404406, 1959.
  • RAYER AND MONTAGNE. 1942. Mycose aspergillaire dans les poches aeriennes d'fun bouvreuil. J Inst Paris Muller's Arch 270. apud AUSTWICK, P.K.C. Pathogenicity. In: RAPER, K.B. & FENNEL, D.I. (Eds.). The genus Aspergillus Baltimore: Williams and Wilkins, 1965. p.82-126.
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  • VALDERRAMA, G.H.M. Aspergilose em pintos de corte. De onde vem? In: SEMINÁRIO DOS PRODUTORES DE PINTOS DE CORTE, 3., 1985, Campinas. Resumo Campinas: 1985. p.61-65.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Set 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2004

Histórico

  • Recebido
    20 Fev 2004
  • Aceito
    26 Mar 2004
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