PRIMEIRA OCORRÊNCIA DE METAMASIUS HEMIPTERUS (LINNAEUS, 1758) E METAMASIUS ENSIROSTRIS (GERMAR, 1824) (COLEOPTERA, CURCULIONIDAE) EM PALMITEIROS DOS GÊNEROS EUTERPE E BACTRIS (ARECACEAE) NO BRASIL

OCCURRENCE OF METAMASIUS HEMIPTERUS (LINNAEUS, 1758) AND METAMASIUS ENSIROSTRIS (GERMAR, 1824) (COLEOPTERA, CURCULIONIDAE) IN PALM TREE CROPS (EUTERPE AND BACTRIS) IN BRAZIL

RESUMO

O trabalho relata a primeira ocorrência de Metamasius hemipterus (Linnaeus, 1758) e Metamasius ensirostris (Germar, 1824) alimentando-se do estipe de palmiteiros das espécies Euterpe edulis Mart. (Juçara), Euterpe oleracea Mart. (Açaí) e Bactris gasipaes Kunth (Pupunha), no Brasil. São apresentadas as caracterizações morfológicas e ilustrações das espécies.

PALAVRAS-CHAVE:
Palmiteiro; Metamasius hemipterus; Metamasius ensirostris; Euterpe edulis; Euterpe oleracea; Bactris gasipaes.

ABSTRACT

This paper reports, for the first time, the occurrence of Metamasius hemipterus and Metamasius ensirostris, in palm tree crops (Euterpe and Bactris) in Brazil. The morphological characterization and illustrations of the species are presented.

KEY WORDS:
Heart of palm; Metamasius hemipterus; Metamasius ensirostris; Euterpe edulis; Euterpe oleracea; Bactris gasipaes.

HISTÓRICO

O gênero Metamasius Horn, 1873, está associado a várias plantas hospedeiras como cana-de-açúcar, bromeliáceas, palmáceas, musáceas, entre outras. É de ampla distribuição no Continente Americano, desde os Estados Unidos, até o Brasil.

Segundo MEXÓN (1999), Metamasius hemipterus (Linnaeus, 1758) está associado a numerosas espécies de plantas cultivadas na Costa Rica, entre elas, a pupunheira, cana-de-açúcar, milho, sorgo, banana, abacaxi e em palmeiras ornamentais. O mesmo autor relata ainda sobre o desenvolvimento e a alimentação da praga em tecidos vivos de suas plantas hospedeiras, em ferimentos recentes e raramente em tecidos vegetais em decomposição.

SILVA & MARTINS-SILVA (1991) citaram o gênero Metamasius como vetor da doença do anel vermelho causada pelo nematóide Rhadinaphelenchus cocophilus (Cobb, 1919) J. B. Goodey, 1960, em dendezeiros, sendo significativa a presença dos nematóides tanto internamente quanto externamente nos insetos. ZEM & LORDELLO (1983) publicaram a ocorrência e disseminação dos nematóides Aphelenchus sp., Helicotylenchus spp., Meloidogyne sp., Rhadinaphelenchus cocophilus e Rotylenchulus reniformis Linford & Oliveira, 1940, junto as espécies Metamasius hemipterus e Cosmopolites sordidus (Germar, 1824) associados à bananeira.

Segundo MORALES & CHINCHILLA (1990), os nematóides Rhabdites sp. e Praecocilenchus sp. foram encontrados associados à M. hemipterus em cultura de dendezeiro.

Em 1985, WOODRUFF & BARANOWSKI relataram a primeira ocorrência de M.hemipterus em canaviais na Flórida, EUA. Dez anos após a descoberta de Woodruff & Baranowski, SOSA et al. (1997) dimensionaram os danos causados pela praga na cultura da cana-de-açúcar e relataram a dispersão por toda a Flórida.

Segundo WEISSLING & GIBLIN-DAVIS (1998), M. hemipterus é considerada praga importante em palmeiras ornamentais, cana de açúcar e banana, sendo que o ataque e colonização das culturas, dá-se normalmente após injúrias decorrentes aos tratos culturais, doenças ou outros fatores que provoquem aberturas que favoreçam a infestação. GIBLIN-DAVIS et al. (1994) e PEÑA et al. (1995) observaram M. hemipterus danificando palmeiras ornamentais das espécies Phoenix canariensis Hort. Ex Chabaud, Ptycosperma macarthurii (H. Wwndl.) Nicholson, Ravenia sp., Roystonia regia (H.B.K.) O. F. Cook, Hyophorbe verschaffeltii H. Wendl. e Washingtonia robusta H. Wendl. A maioria das palmeiras ornamentais infestadas por M. hemipterus fica depreciada esteticamente e torna-se mais susceptível ao ataque da praga Rhynchophorus cruentatus (Fabricius, 1775), limitante à estas culturas (WEISSLING & GIBLIN-DAVIS, 1998). BONDAR (1940) relatou sobre a ocorrência do gênero Metamasius em coqueiros, alegando que este insetos alimentam-se e desenvolvem-se em partes danificadas em decomposição. LEPESME (1947) citou coqueiro, cana-de-açúcar, bananeira e Roystonea borinquena, como hospedeiros de M. hemipterus e M. ensirostris. A associação das duas espécies de Metamasius após infestação de R. palmarum em coqueiro, foi relatada pelo mesmo autor. M. hemipterus foi catalogada por SILVA et al. (1968), desenvolvendose em bacaba (estipe), bananeira, coqueiro, cana-deaçúcar, gramíneas e tamareira, nos estados de Alagoas, Amapá, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Os mesmos autores informaram que M. ensirostris apresenta distribuição nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná nas hospedeiras bananeira e cana-de-açúcar. LIMA (1956) citou as larvas de M. hemipterus e M. ensirostris como broqueadoras de bananeira no Sul do Brasil e observou M. hemipterus infestando cana-de-açúcar no Estado de Pernambuco.

DANOS

As espécies Metamasius hemipterus e Metamasius ensirostris foram constatadas pela primeira vez, infestando palmiteiros das espécies Euterpe edulis (juçara), Euterpe oleracea (açaí) e Bactris gasipaes (pupunheira) em 1993 nos municípios de Jundiaí (Estação Experimental do Instituto Agronômico de Campinas) e Miracatu, SP, durante todos os meses no período entre maio de 1993 a outubro de 1999. Tratase da primeira ocorrência em palmiteiros no Brasil. (Figs. 1 e 2).

As larvas de M. hemipterus e M. ensirostris alimentam-se dos tecidos vivos dos palmiteiros, escavando galerias superficiais e profundas, danificando o estipe. Na maioria das vezes, estas duas espécies estavam presentes após o ataque de Rhynchophorus palmarum (Linnaeus, 1764), ou seguido a algum tipo de injúria mecânica (ferimento) efetuada no estipe. As larvas das duas espécies são muito semelhantes, curculioniformes, de coloração branco leitosa e confeccionam um casulo característico com as fibras da própria palmeira hospedeira para a pupação.

Fig. 1
Danos e casulos de Metamasius em estipe de pupunheira.

Fig. 2
Danode Metamasius em ápice de estipe de Euterpe edulis (juçara).

Os adultos das duas espécies foram coletados por meio de armadilhas de etanol a 80%, coletas manuais diurnas e em armadilhas de feromônio. Tanto adultos quanto larvas, foram encontrados em estipes de palmeiras recém cortadas ou caídas ao solo naturalmente, bem como em plantas eretas aparentemente sadias.

Breve caracterização morfológica e dimorfismo sexual:

As espécies M. hemipterus e M. ensirostris possuem o corpo elíptico, ligeiramente achatado dorso ventralmente, variando entre 13 a 16 mm de comprimento em sua fase adulta.

A espécie M. hemipterus possui coloração predominantemente castanho alaranjada com manchas e faixas negras distribuídas simetricamente. A cabeça, o rostro e o escutelo são castanho alaranjados. O rostro próximo ao ápice é ligeiramente mais grosso do que em M. ensirostris. O pronoto é de coloração castanho alaranjada e possui três faixas negras longitudinais, sendo uma medial que liga as regiões apical e basal e duas paralelas laterais, que se estende da base até a metade do pronoto. Na população estudada, os élitros apresentam-se estriados, não pubescentes, castanho alaranjados, com um par de faixas negras mesolaterais e faixa mediana negra que se estende da metade ao ápice dos élitros. O pigídio é exposto, de coloração castanho amarelada, recoberto por pilosidade dourada presente nos machos e escassa nas fêmeas. O prosterno e o mesosterno são negros, sendo que o prosterno apresenta grande mancha alaranjada. O metasterno possui duas grandes manchas alaranjadas que podem estar unidas ou não. Os esternitos abdominais são negros com manchas alaranjadas, normalmente com grande mancha central semelhante a um “T” invertido. Os fêmures são castanho alaranjados e apresentam manchas negras (Figs. 3 e 4).

Fig. 3
Adulto de Metamasius hemipterus (Linnaeus, 1758), vista dorsal.

Fig. 4
Adulto de Metamasius hemipterus (Linnaeus, 1758), vista lateral.

Fig. 5
Adulto de Metamasius ensirostris (Germar, 1864), vista dorsal.

Fig. 6
Adulto de Metamasius ensirostris (Germar, 1864), vista lateral.

A espécie M. ensirostris possui rostro, cabeça, escutelo, tórax, pernas e segmentos abdominais negros. O pronoto é negro com quatro faixas longitudinais castanho alaranjadas paralelas ao eixo medial (Figs. 5 e 6). Pigídio negro recoberto por pilosidade dourada presente nos machos e escassa nas fêmeas. Os élitros são estriados, não pubescentes, predominantemente negros com manchas castanho alaranjadas. O dimorfismo sexual para ambas as espécies, dá-se pela diferenciação do rostro mais longo e delgado nas fêmeas e mais curto e espesso nos machos ou pela diferenciação dorsal, através do pigídio. Os machos apresentam o pigídio ligeiramente arredondado e pubescente, sendo que nas fêmeas, o mesmo é mais afilado, em formato de ponta com poucas cerdas presentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  30 Set 2024
• Data do Fascículo
  Jul-Dec 2000

Histórico

• Recebido
  26 Jan 1999