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OCORRÊNCIA DE FERRUGEM EM FRAMBOESA NO ESTADO DE SÃO PAULO

OCCURRENCE OF RED RASPBERRY RUST IN SÃO PAULO STATE, BRAZIL

RESUMO

Oriundo de uma propriedade particular do Município de Ibiúna, SP, material constituído por folhas e frutos de framboesa, apresentando pústulas de ferrugem, foram encaminhados ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal do Instituto Biológico para análise. O exame ao microscópio revelou a presença de urediniosporos pequenos, escondidos sob os tricomas das folhas ou bem visíveis nos frutos, cujas características peculiares permitiram a identificação do agente causal como sendo Pucciniastrum americanum (Farl.) Arthur. Trata-se da primeira constatação desta ferrugem na cultura da framboesa no Brasil. P. americanum é uma ferrugem heteroécia e de ciclo longo, nativa do Canadá, Estados Unidos da América e, provavelmente, também da parte norte da Eurásia. Registros no Arthur Herbarium, da Universidade de Purdue, West Lafayete, Indiana, EEUU, mostram que essa ferrugem foi introduzida no Chile, sobre Rubus idaeus entre 1975 e 1980, mas oficialmente identificada em 1992. Alem disso, registros da Coleção Nacional de Fungos, do Departamento de Agricultura - USDA, mostram que essa ferrugem também foi introduzida na Colômbia em 1993.

PALAVRAS-CHAVE:
Rubus idaeus; Pucciniastrum americanum.

ABSTRACT

A disease of Rubus idaeus (red raspberry), caused by the rust fungus Pucciniastrum americanum, was found for the first time in Brazil on cultivated plants and fruits from near Ibiúna, SP, Brazil in May 2002. P. americanum is a heteroecious, long-cycle rust native from Canada, the United States of America, and perhaps northern Eurasia. In its native areas it produces spermogonia and aecia on the Gymnosperms, Picea spp. ("spruce"). But in much of its geographic range the fungus persists by uredinial propagation. Records in the Arthur Herbarium, Purdue University, West Lafayette, Indiana, U.S.A show that. This rust was introduced from the United States of America into Chile between 1975-1980, but officially identified in 1992. Records from The U.S. Department of Agriculture’s National Fungus Collection show that the rust was also introduced into Colombia in 1993.

KEY WORDS:
Rubus idaeus; Pucciniastrum americanum.

O cultivo da framboesa (Rubus idaeus L.) é restrito aos estados do Sudeste e Sul do Brasil. Esta é uma planta de clima temperado, pertencente à família das rosáceas, que se adapta bem a baixas temperaturas e verões relativamente frescos. Necessita de precipitação entre 700 a 900 mm anuais e altitude entre 1.300 a 1.400 m.

Em 2002, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, recebeu para análise amostras de folhas e frutos dessa planta apresentando sintomas de doença, cujo material havia sido coletado em uma propriedade particular do Município de Ibiúna, SP, com 45.000 plantas, onde o cultivo é realizado há 4 anos.

Nas folhas os sintomas manifestam-se na forma de manchas necróticas na face superior (Fig. 1), correspondendo, na face inferior, a pústulas de cor amarela que, ao coalescerem, afetam extensas áreas, provocando a queda prematura das folhas.

Nos frutos, os sintomas se caracterizam por pequenas pústulas superficiais de coloração também amarelada que, posteriormente, evoluem danificando-os totalmente.

O exame ao microscópio revelou a presença de uredínios irrompentes, pequenos, escondidos sob os tricomas das folhas ou bem visíveis nos frutos, cujas características peculiares suas e dos urediniosporos, permitiram a identificação do agente causal como sendo Pucciniastrum americanum (Farl.) Arthur (DODGE, 1923DODGE, O. Morfology and host reactions of Pucciniastrum americanum. J. Agric. Res., v.24, n.2, p.885-894, 1923.; ARTHUR, 1969; LAUDON & RAINBOW, 1969LAUDON, G.F. & RAINBOW, A.F. Pucciniastrum americanum - C M I Descr. Pathog. Fungi Bact., n.210, 1969.). Trata-se da primeira constatação desta ferrugem na cultura da framboesa no Brasil. O material encontra-se heborizado no Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, sob o número IBI 2002/12. P. americanum é uma ferrugem heteroécia e de ciclo longo, nativa do Canadá, Estados Unidos da América e, provavelmente, também da parte norte da Eurásia. Em suas áreas nativas, ela produz espermogônios e écios sobre Gimnospermas - Picea spp - popularmente conhecido como abeto. Todavia, em várias áreas de sua distri-buição geográfica, esse patógeno persiste por infecções da fase clonal ou uredinial.

Fig. 1
Necrose foliar causada por Pucciniastrum americanum sobre framboesa.

A severidade dessa doença, que é semelhante a uma outra ferrugem do Rubus causada por Kuehneola uredinis, foi evidenciada por DODGE na cidade de Bell, no estado de Maryland, em 1923, destruiu os cultivos de diversos híbridos e variedades de framboesa. Ocorre no Canadá e em, pelo menos, vinte estados Norte Americanos, principalmente os da região Norte (LAUDON & RAINBOW, 1969LAUDON, G.F. & RAINBOW, A.F. Pucciniastrum americanum - C M I Descr. Pathog. Fungi Bact., n.210, 1969.). Registros no Arthur Herberium, da Universidade de Purdue, West Lafayete, Indiana, EEUU, mostram que essa ferrugem foi introduzida no Chile entre 1975 e 1980, mas identificada oficialmente em 1992. Além disso, registros da COLEÇÃO NACIONAL DE FUNGOS, do Departamento de Agricultura - USDA, mostram que essa ferrugem também foi introduzida na Colômbia em 1993.

Em Pucciniastrum americanum os uredinios são facilmente identificado porque saem, rompendo a epiderme do hospedeiro, sendo constituídos de um fino perídio membranoso de paredes finas que se abrem externamente por um poro. Células perídiais aparecem nos bordos rodeando o poro e são denominadas células ostiolares. Estas são, freqüentemente, células aumentadas e ornamentadas com verrugas ou espinhos (Fig. 2A). Essa morfologia permite identificar algumas espécies do gênero Pucciniastrum, como é o caso de P. americanum. Os urediniosporos são elipsóides a obovóides (10-18 x 15-26 µm), com gotas de gordura quando frescos e com citoplasma amarelo quando herborizados (Fig. 2B).

As paredes dos urediniosporos são hialinas (1.01.5 µm), finamente equinuladas. Os poros germinativos são, razoavelmente, visíveis. A fase telial é difícil de ser detectada porque se localiza em pequenas camadas, imediatamente, abaixo das células epidermais. Os teliosporos são elipsóides, compostos de duas ou quatro células septadas verticalmente, apresentando paredes de coloração marrom e totalmente lisos.

Fig. 2
A - Soros urediniais contendo, no ápice células ostiolares (seta) e B - Urediniosporos com gotas de gordura.

Pucciniastrum é um gênero de Uredinales com cerca de 40 ou mais espécies heteroécias amplamente dispersas no Hemisfério Norte. É sabido que os espermogônios e écios dessas espécies ocorrem sobre vários gêneros de Gimnospermas, como Abies, Picea e Tsuga. Esses gêneros de hospedeiros não ocorrem naturalmente no Hemisfério Sul. Somente duas outras espécies de Pucciniastrum são conhecidas como ocorrendo na América do Sul. Ou seja, P. agrimoniae sobre Agrimonia sp., também da família Rosaceae e P. epilobi sobre espécies de hospedeiros da família botânica Onagraceae. Estas duas espécies também sobrevivem pela fase uredinial e foram relatadas na Argentina.

Ferrugem da Framboesa (Rubus idaeus)

Pucciniastrum americanum (Farl.) Arthur Bull. Torrey Club 47: 468, 1920= Pucciniastrum articum americanum Farl. Rhodora 10:16, 1908.

Fase ecial sobre Pinaceae - Picea americana (Mill.) B.S.P.

Espermogônios - hipófilos, inconspícuos, ou seja, pouco visíveis a olho nu.

Aécios (Écios) - hipófilos, frágeis e quase cilíndricos. Eciosporos - globóides ou largamente elipsóides (17-21 x 20-28 µm). Paredes verrugosas, hialinas, com 2-3 µm de espessura. Não presentes no Brasil por ausência do hospedeiro.

Fase uredinial sobre Rubus strigiosus Michx. (= sin. Rubus idaeus canadensis Rich.; Rubus idaeus aculeatisimus Rob. & Fern.).

Uredinios - hipófilos, dispersos sobre grandes áreas, pequenos com perídio atravessando a epiderme com formato de um cone, contendo um poro central com 4-6 células ostiolares, grandes e aculeadas. Urediniosporos obovados ou oblongamente elipsóides (10-18 x 15-26 µm). O conteúdo dos esporos é amarelo vivo, lembrando a cor do ouro, paredes hialinas (1-1,5 µm de espessura) equinulados.

Télios - hipófilos e pequenos. Teliosporos elipsóides (24-28 µm de diâmetro). Paredes de coloração marrom, uniformemente espessos com 1 µm de espessura e totalmente lisos.

Distribuição geográfica - da Nova Escócia à British Columbia, no Canadá e West Virginia, Ohio e Idaho, nos Estados Unidos.

A ferrugem foi introduzida no Chile, cerca de 15 a 20 anos atrás pela importação de plantas infectadas dos Estados Unidos. Acreditamos que a ferrugem foi introduzida no Brasil pela importação de plantas infectadas, provavelmente, do Chile ou dos Estados Unidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • ARTHUR, J.C. Manual of the rusts in United States and Canada New York: Hafner, 1962.
  • DODGE, O. Morfology and host reactions of Pucciniastrum americanum. J. Agric. Res, v.24, n.2, p.885-894, 1923.
  • HIRATSUKA, Y. Forest tree diseases of the prairie provinces Edmonton, Alberta: Canadian Forestry Service, 1987. 142p.
  • LAUDON, G.F. & RAINBOW, A.F. Pucciniastrum americanum - C M I Descr. Pathog. Fungi Bact, n.210, 1969.
  • LINDQUIST, J.C. Royas de la Republica Argentina y zonas limitrofes Buenos Aires: Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria, 1982.
  • ZILLER, W.G. The tree rusts of Western Canada Ottawa: Canadian Forestry Service, Dept. of the Environment, 1974. 272p. (Publication, 1329)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2003

Histórico

  • Recebido
    16 Dez 2002
  • Aceito
    24 Mar 2003
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