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SEVERIDADE DE OÍDIO (ERYSIPHE POLYGONI DC) EM CULTIVARES DE FEIJOEIRO NO ESTADO DE SÃO PAULO

SEVERITY OF POWDERY MILDEW (ERYSIPHE POLYGONI DC) ON COMMON BEAN CULTIVARS IN SÃO PAULO

RESUMO

A severidade de oídio em cultivares de feijoeiro, incitado pelo fungo Erysiphep olygoni, foi avaliada em diversos municípios do Estado de São Paulo, nas safras das águas de 1993/94, seca de 1994 e nas de inverno de 1993 e 1994. Em cada município foram instalados dois experimentos: um sem e outro com tratamento fitossanitário, em delineamento estatístico de blocos ao acaso com doze tratamentos (cultivares) e quatro repetições. Os cultivares utilizados foram: Carioca, IAC-Carioca, Pintado, Jalo, EMGOPA 201-Ouro, Aeté-3, Aysó, IPA-6, IAPAR-14, IAPAR-31, IAPAR-44, FT-120 e a linhagem LM-30380. Na avaliação utilizou-se escala de notas de 1 a 5. Os dados obtidos foram comparados pelo teste de Tukey a 5%. Os cultivares menos afetados pela doença foram sobretudo IAC- Carioca e IAPAR- 44 e os mais afetados foram Jalo e Pintado, ambos do Grupo Manteiga, na maioria das safras e locais avaliados.

PALAVRAS-CHAVE:
Feijoeiro; cultivares; oídio; Erysiphe polygoni; controle de doenças.

ABSTRACT

Severity of powdery mildew (Erysiphe polygoni) on twelve common bean cultivars was evaluated during spring season of 1993/94, summer season of 1993 and 1994, and autumn-winter season of 1993 and 1994 at different localities at São Paulo State, Brazil. Two experiments were carried out, one without and another with chemical control. The experimental design was a randomized block with twelve treatments (cultivars) with four replications. The twelve studied cultivars were: Carioca, IAC-Carioca, Aeté, Aysó, Pintado, Jalo, EMGOPA 201-Ouro, IPA6, IAPAR-14, IAPAR-31, IAPAR-44, FT-120 and LM-30380 line. The disease severity was evaluated using a scale varying from 1 to 5. The data were analyzed using Tukey at the 5% level. The lessaffected cultivars were IAC-Carioca, IAPAR-44 and the most susceptible ones were Jalo and Pintado, both belonging to the 'Manteiga' Group, no matter the season or locality studied.

KEY WORDS:
Bean; cultivars; powdery mildew; Erysiphe polygoni, disease control.

INTRODUÇÃO

O oídio do feijoeiro comum, incitado pelo fungo Erysiphe polygoni DC, embora apresente distribuição mundial, é considerado uma doença de importância secundária (SARTORATO et al., 1996SARTORATO, A.; RAVA, C.A.; RIOS, G.P. Doenças fúngicas e bacterianas da parte aérea. In: ARAÚJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE, L.F.; ZIMMERMANN, M.J.O. DE (Coord.). Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba: POTAFOS, 1996. p.669-700.). A forma assexuada deste fungo corresponde ao gênero Oidium e possui um grande número de hospedeiros (BIANCHINI et al., 1997BIANCHINI, A.; MARINGONI, A.C.; CARNEIRO, S.M.T.P.G. Doenças do feijoeiro. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M.(Ed.). Manual de Fitopatologia. 3 ed. São Paulo: Agronômica Ceres; 1997. v.2, c.34: Doenças das Plantas Cultivadas.), entre eles: ervilha, soja, calêndula, dália, tremoço e tomate (BARROS et al., 2000BARROS, B.C. DE; OLIVEIRA, S.H.F. DE; LEITE, L.G.; ITO, M.F.; CAMPOS, T.B. E; OLIVEIRA , C.M.G. DE; SANNAZZARO, A. M; CASTRO, J. L. DE; PINZAN, N. R. Manejo integrado de pragas e doenças do feijoeiro. São Paulo. Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 2000. v.3, p.90. (Manual Técnico).).

Observa-se tolerância à doença na maioria dos cultivares de feijoeiro, exceto nos do grupo Manteiga que apresentam maior suscetibilidade (RESENDE et al., 1996RESENDE, U.F.; RAMALHO, M.A.P.; ABREU, A.F.B. Comportamento de linhagens de feijoeiro com relação ao nível de resistência ao Oídio. In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 5., 1996, Goiânia. Resumos. Goiânia: EMBRAPA - CNPAF, 1996. p.329-331.; BULISANI et al., 1987BULISANI, E.A.; ALMEIDA, L.D. DE; ROSTON, A.J. A cultura do feijoeiro no Estado de SãoPaulo. In: BULISANI, E.A. (Coord.). Feijão, fatores de produção e qualidade. Campinas: Fundação CARGILL, 1987. p.29-90.; BARROS et al., 2000BARROS, B.C. DE; OLIVEIRA, S.H.F. DE; LEITE, L.G.; ITO, M.F.; CAMPOS, T.B. E; OLIVEIRA , C.M.G. DE; SANNAZZARO, A. M; CASTRO, J. L. DE; PINZAN, N. R. Manejo integrado de pragas e doenças do feijoeiro. São Paulo. Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 2000. v.3, p.90. (Manual Técnico).). A doença pode afetar toda a parte aérea da planta (SARTORATO et al., 1996SARTORATO, A.; RAVA, C.A.; RIOS, G.P. Doenças fúngicas e bacterianas da parte aérea. In: ARAÚJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE, L.F.; ZIMMERMANN, M.J.O. DE (Coord.). Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba: POTAFOS, 1996. p.669-700.; BIANCHINI et al., 1997BIANCHINI, A.; MARINGONI, A.C.; CARNEIRO, S.M.T.P.G. Doenças do feijoeiro. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M.(Ed.). Manual de Fitopatologia. 3 ed. São Paulo: Agronômica Ceres; 1997. v.2, c.34: Doenças das Plantas Cultivadas.; BARROS et al., 2000BARROS, B.C. DE; OLIVEIRA, S.H.F. DE; LEITE, L.G.; ITO, M.F.; CAMPOS, T.B. E; OLIVEIRA , C.M.G. DE; SANNAZZARO, A. M; CASTRO, J. L. DE; PINZAN, N. R. Manejo integrado de pragas e doenças do feijoeiro. São Paulo. Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 2000. v.3, p.90. (Manual Técnico).), manifestando-se sob temperatura moderada (entre 20 e 25° C) e baixa umidade relativa. Nessas condições, pode assumir importância econômica quando a infecção ocorrer antes do florescimento (BIANCHINI et al., 1997BIANCHINI, A.; MARINGONI, A.C.; CARNEIRO, S.M.T.P.G. Doenças do feijoeiro. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M.(Ed.). Manual de Fitopatologia. 3 ed. São Paulo: Agronômica Ceres; 1997. v.2, c.34: Doenças das Plantas Cultivadas.; OLIVEIRA, 1999OLIVEIRA, S.H.F. DE. Oídio. Doenças do feijoeiro: guia de identificação, fenologia e controle. 1999. p.38-40.), sendo causados danos severos se ocorrer antes da formação de vagens (BIANCHINI et al., 2000BIANCHINI, A.; CARNEIRO, S.M.T.P.G.; LEITE JÚNIOR, R.P. Doenças do feijoeiro e seu controle. In: Instituto Agronômico do Paraná. Feijão: tecnologia de produção. Londrina: IAPAR, 2000. p.55-75. (Informe da Pesquisa, 135).), com perdas de rendimento de até 60% (SCHWARTZ et al., 1980, citados por SARTORATO et al., 1996SARTORATO, A.; RAVA, C.A.; RIOS, G.P. Doenças fúngicas e bacterianas da parte aérea. In: ARAÚJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE, L.F.; ZIMMERMANN, M.J.O. DE (Coord.). Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba: POTAFOS, 1996. p.669-700.). O fungo pode ser transportado pela semente, mas esta tem pouca importância como agente de dispersão (BIANCHINI et al., 1997BIANCHINI, A.; MARINGONI, A.C.; CARNEIRO, S.M.T.P.G. Doenças do feijoeiro. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M.(Ed.). Manual de Fitopatologia. 3 ed. São Paulo: Agronômica Ceres; 1997. v.2, c.34: Doenças das Plantas Cultivadas.; BARROS et al., 2000BARROS, B.C. DE; OLIVEIRA, S.H.F. DE; LEITE, L.G.; ITO, M.F.; CAMPOS, T.B. E; OLIVEIRA , C.M.G. DE; SANNAZZARO, A. M; CASTRO, J. L. DE; PINZAN, N. R. Manejo integrado de pragas e doenças do feijoeiro. São Paulo. Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 2000. v.3, p.90. (Manual Técnico).).

Entre as principais medidas de controle incluem-se: a semeadura em época desfavorável ao fungo (OLIVEIRA, 1999OLIVEIRA, S.H.F. DE. Oídio. Doenças do feijoeiro: guia de identificação, fenologia e controle. 1999. p.38-40.; BIANCHINI et al., 2000BIANCHINI, A.; CARNEIRO, S.M.T.P.G.; LEITE JÚNIOR, R.P. Doenças do feijoeiro e seu controle. In: Instituto Agronômico do Paraná. Feijão: tecnologia de produção. Londrina: IAPAR, 2000. p.55-75. (Informe da Pesquisa, 135).), rotação de culturas (BARROS et al., 2000BARROS, B.C. DE; OLIVEIRA, S.H.F. DE; LEITE, L.G.; ITO, M.F.; CAMPOS, T.B. E; OLIVEIRA , C.M.G. DE; SANNAZZARO, A. M; CASTRO, J. L. DE; PINZAN, N. R. Manejo integrado de pragas e doenças do feijoeiro. São Paulo. Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 2000. v.3, p.90. (Manual Técnico).) e a utilização de cultivares resistentes (SARTORATO et al., 1996SARTORATO, A.; RAVA, C.A.; RIOS, G.P. Doenças fúngicas e bacterianas da parte aérea. In: ARAÚJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE, L.F.; ZIMMERMANN, M.J.O. DE (Coord.). Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba: POTAFOS, 1996. p.669-700.; BIANCHINI et al., 2000BIANCHINI, A.; CARNEIRO, S.M.T.P.G.; LEITE JÚNIOR, R.P. Doenças do feijoeiro e seu controle. In: Instituto Agronômico do Paraná. Feijão: tecnologia de produção. Londrina: IAPAR, 2000. p.55-75. (Informe da Pesquisa, 135).), entretanto, a utilização de cultivares resistentes, ainda que recomendada, pode não oferecer um controle satisfatório devido principalmente às inúmeras raças fisiológicas do patógeno (SCHWARTZ, 1994SCHWARTZ, H.F. Hongos patógenos adicionales. In: PASTORCORRALES, M.A. & SCHWARTZ, H.F. (Eds.). Problemas de producción del fríjol en los trópicos. 2.ed. Cali, Colômbia: CIAT, 1994. p.268-301.; SARTORATO et al., 1996SARTORATO, A.; RAVA, C.A.; RIOS, G.P. Doenças fúngicas e bacterianas da parte aérea. In: ARAÚJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE, L.F.; ZIMMERMANN, M.J.O. DE (Coord.). Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba: POTAFOS, 1996. p.669-700.).

Recomenda-se também a aplicação de produtos químicos que têm caráter erradicante do patógeno (SARTORATO et al., 1996SARTORATO, A.; RAVA, C.A.; RIOS, G.P. Doenças fúngicas e bacterianas da parte aérea. In: ARAÚJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE, L.F.; ZIMMERMANN, M.J.O. DE (Coord.). Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba: POTAFOS, 1996. p.669-700.; BIANCHINI et al., 1997BIANCHINI, A.; MARINGONI, A.C.; CARNEIRO, S.M.T.P.G. Doenças do feijoeiro. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M.(Ed.). Manual de Fitopatologia. 3 ed. São Paulo: Agronômica Ceres; 1997. v.2, c.34: Doenças das Plantas Cultivadas.; BARROS et al., 2000BARROS, B.C. DE; OLIVEIRA, S.H.F. DE; LEITE, L.G.; ITO, M.F.; CAMPOS, T.B. E; OLIVEIRA , C.M.G. DE; SANNAZZARO, A. M; CASTRO, J. L. DE; PINZAN, N. R. Manejo integrado de pragas e doenças do feijoeiro. São Paulo. Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 2000. v.3, p.90. (Manual Técnico).; BIANCHINI et al., 2000BIANCHINI, A.; CARNEIRO, S.M.T.P.G.; LEITE JÚNIOR, R.P. Doenças do feijoeiro e seu controle. In: Instituto Agronômico do Paraná. Feijão: tecnologia de produção. Londrina: IAPAR, 2000. p.55-75. (Informe da Pesquisa, 135).), tais como: clorotalonil, clorotalonil + tiofanato metílico, enxofre, quinimethionate, tiofanato metílico e triforine (KIMATI et al., 1997KIMATI, H.; GIMENES-FERNANDES, N.; SOAVE, J.; KUROSAWA, C.; BRIGNANI NETO, F.; BETTIOL, W. Guia de fungicidas agrícolas: recomendações por cultura. 2.ed. Jaboticabal: Grupo Paulista de Fitopatologia, 1997. p.89-92.), tebuconazole (BIANCHINI et al., 1997BIANCHINI, A.; MARINGONI, A.C.; CARNEIRO, S.M.T.P.G. Doenças do feijoeiro. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M.(Ed.). Manual de Fitopatologia. 3 ed. São Paulo: Agronômica Ceres; 1997. v.2, c.34: Doenças das Plantas Cultivadas.). Além destes, tem-se um produto à base de trifenil hidróxido de estanho que, isoladamente ou associado a outros fungicidas, apresentou controle da antracnose, mancha de Alternaria e oídio, com aumento da produtividade quando comparado ao tratamento sem fungicidas (ITO et al., 2000).

Como a recomendação de cultivares de qualquer espécie deve estar baseada sobretudo em sua caracterização quanto ao comportamento em relação às doenças, o objetivo do presente trabalho foi o de avaliar, em condições naturais de ocorrência do oídio, o desempenho de doze cultivares de feijoeiro, alguns considerados padrões (WUTKE et al., 1997WUTKE, E.B.; PINZAN, N.R.; SANNAZZARO, A.M.; BERTI, A.J.; OLIVEIRA, S.H.F. DE; EICHEL, O.A.C.; YASBEK JUNIOR, W. Feijão. Regimento interno do sistema de avaliação e recomendação de cultivares de feijão para o Estado de São Paulo. Campinas: CATI, 1997. 7p. (Documento Técnico, 57).) e outros então recentemente disponibilizados aos produtores, em diferentes municípios do Estado de São Paulo, nas safras tradicionais dessa importante leguminosa.

MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos foram desenvolvidos a campo, sob condições de infestação natural de doenças, em áreas experimentais do Instituto Agronômico - IAC e de cooperativas, em diferentes safras agrícolas e municípios do Estado de São Paulo. Na safra das águas de 1993/94 em Capão Bonito, Itaberá (área experimental da COPASUL), Monte Alegre do Sul e São Roque, na safra da seca de 1994 em Capão Bonito e Itaberá (área experimental da COPASUL) e Paranapanema (Holambra II) e, nas safras de inverno de 1993 em Pindorama, Ribeirão Preto e Votuporanga e de 1994 em Pindorama, adotando-se os critérios do 'Regimento interno do sistema de avaliação e recomendação de cultivares de feijoeiro para o Estado de São Paulo' (WUTKE et al., 1997WUTKE, E.B.; PINZAN, N.R.; SANNAZZARO, A.M.; BERTI, A.J.; OLIVEIRA, S.H.F. DE; EICHEL, O.A.C.; YASBEK JUNIOR, W. Feijão. Regimento interno do sistema de avaliação e recomendação de cultivares de feijão para o Estado de São Paulo. Campinas: CATI, 1997. 7p. (Documento Técnico, 57).).

Em cada local e safra foram instalados dois experimentos, um sem e outro com tratamento fitossanitário, distribuídos em blocos ao acaso com doze tratamentos (cultivares) e quatro repetições. Os tratamentos constaram dos cultivares: Carioca, IAC-Carioca, IAPAR-14, IAPAR-31, Aysó (Grupo Diversos); Pintado, Jalo, EMGOPA 201-Ouro (Grupo Manteiga); Aeté-3 (Grupo Bico de Ouro); IPA-6, (Grupo Mulatinho) e IAPAR-44, FT-120 e linhagem LM-30380 (Grupo Preto). O cultivar FT-120, economicamente mais interessante, foi introduzido nos experimentos a partir da safra das águas de 1993/94, substituindo a linhagem LM- 30380.

Cada parcela foi constituída de cinco linhas de 5,0 m de comprimento, espaçadas de 0,5 a 0,6 m com 10 a 12 plantas viáveis por metro linear, das quais utilizaram-se as três linhas centrais, desconsiderando-se 0,5 m da bordadura anterior e posterior da parcela para avaliação.

Nos experimentos das safras das águas e da seca, em que se efetuou tratamento fitossanitário, realizaram-se quatro pulverizações, sendo a primeira aos 25 dias após a emergência das plantas, com 0,5 kg/ha de benomyl + 2,0 kg/ha de mancozeb e as demais em intervalos de quinze dias entre elas, aplicando-se 2,0 kg/ha de tiofanato metílico + clorotalonil na segunda pulverização; 0,5 kg/ha de benomyl + 2,0 kg/ha de mancozeb na terceira e 2,0 kg/ha de clorotalonil na quarta e última pulverização.

Nas safras de inverno, foram feitas três pulverizações em intervalos de 15 dias, sendo a primeira aos 25 dias após a emergência das plantas, com 1,0 kg/ha de acetato de trifenil estanho na primeira; 2,5 L/ha clorotalonil na segunda e, 2,5 + 2,0 L/ha clorotalonil + tiofanato metílico na terceira. Em áreas com incidência de mosaico dourado foram realizadas 2 a 3 pulverizações com 0,7 L/ha de methamidofós.

A adubação mineral foi feita de acordo com a necessidade da cultura em cada local, em função dos resultados das análises de solo. Entretanto, em média, foram aplicados 400 kg/ha da fórmula 04-14-08 na semeadura e 200 kg/ha de sulfato de amônio, em cobertura, 20 dias após a emergência das plantas. Os demais tratos culturais, como capinas e irrigações, foram realizados sempre que necessários.

A avaliação da severidade de doenças foi feita na fase de enchimento de vagens (R7), utilizando-se escala de notas de 1 a 5, baseada na escala geral de van SCHOONHOVEN & PASTOR CORRALES (1987)SCHOONHOVEN, A. VAN & PASTOR-CORRALES, M.A. Sistema Estándar para la Evaluación de Germoplasma de Frijól (comps). Calli: CIAT, 1987. 56p. sendo:1 - plantas sem sintomas visíveis; 2 - sintomas em até 2% da área foliar ou da vagem; 3 - sintomas em 5% da área foliar ou da vagem; 4 - sintomas em 10% da área foliar ou da vagem e 5 - mais de 25% da área foliar ou da vagem com sintoma.

Na análise estatística, os dados originais, transformados em raiz quadrada de x + 0,5, foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% (PIMENTEL GOMES, 1982PIMENTEL GOMES, F. Curso de estatística experimental. 10. ed. Piracicaba: Nobel, 1982. 430p.).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos na avaliação de severidade de oídio em feijoeiro nas safras de inverno, das águas e da seca, encontram-se as Tabelas 1, 2 e 3, respectivamente.

Como os cultivares foram avaliados em distintos locais e safras, foi possível verificar um comportamento diferenciado entre os mesmos, fato que pode ser um indicativo da não priorização desse atributo na obtenção de genótipos, ao menos por algumas das entidades responsáveis pelo seu lançamento e distribuição.

A variação desse desempenho foi maior nos cultivares do Grupo Manteiga, que se apresentaram mais suscetíveis nos experimentos sem tratamento fitossanitário, variação essa que foi pequena ou até inexistente nos genótipos dos demais grupos (Tabelas 1, 2 e 3).

Assim, observou-se a incidência de oídio em todos os cultivares avaliados, mas em intensidade bem menor nos cultivares IAC-Carioca, Carioca, IAPAR44, FT-120 e na linhagem LM-30380, na maioria das safras.

Nos cultivares Jalo e Pintado verificou-se maior severidade da doença, concordando com

Tabela 1
Severidade de oídio em cultivares de feijoeiro, na ausência e na presença de tratamento fitossanitário, em diferentes municípios no Estado de São Paulo, nas safras de inverno de 1993 e 1994.
Tabela 2
Severidade de oídio em cultivares de feijoeiro, na ausência e na presença de tratamento fitossanitário, em diferentes municípios no Estado de São Paulo, na safra das águas de 1993/1994.

RESENDE et al. (1996)RESENDE, U.F.; RAMALHO, M.A.P.; ABREU, A.F.B. Comportamento de linhagens de feijoeiro com relação ao nível de resistência ao Oídio. In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 5., 1996, Goiânia. Resumos. Goiânia: EMBRAPA - CNPAF, 1996. p.329-331., BULISANI et al. (1987)BULISANI, E.A.; ALMEIDA, L.D. DE; ROSTON, A.J. A cultura do feijoeiro no Estado de SãoPaulo. In: BULISANI, E.A. (Coord.). Feijão, fatores de produção e qualidade. Campinas: Fundação CARGILL, 1987. p.29-90. e BARROS et al. (2000)BARROS, B.C. DE; OLIVEIRA, S.H.F. DE; LEITE, L.G.; ITO, M.F.; CAMPOS, T.B. E; OLIVEIRA , C.M.G. DE; SANNAZZARO, A. M; CASTRO, J. L. DE; PINZAN, N. R. Manejo integrado de pragas e doenças do feijoeiro. São Paulo. Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 2000. v.3, p.90. (Manual Técnico)., segundo os quais, os cultivares do Grupo Manteiga são bastante suscetíveis a essa doença. Ainda, de acordo com SARTORATO et al. (1996)SARTORATO, A.; RAVA, C.A.; RIOS, G.P. Doenças fúngicas e bacterianas da parte aérea. In: ARAÚJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE, L.F.; ZIMMERMANN, M.J.O. DE (Coord.). Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba: POTAFOS, 1996. p.669-700. e OLIVEIRA (1999)OLIVEIRA, S.H.F. DE. Oídio. Doenças do feijoeiro: guia de identificação, fenologia e controle. 1999. p.38-40., o oídio do feijoeiro ocorre com maior freqüência principalmente nos cultivares de grãos graúdos e com hábito de crescimento determinado.

Além da maior suscetibilidade observada em alguns materiais, as condições ambientais nos locais dos experimentos foram favoráveis à ocorrência do patógeno, sendo relatadas temperaturas entre 20° e 22° C, particularmente no período de pré-florescimento das plantas, concordando com dados mencionados por OLIVEIRA (1999)OLIVEIRA, S.H.F. DE. Oídio. Doenças do feijoeiro: guia de identificação, fenologia e controle. 1999. p.38-40..

De modo geral, nos experimentos sem tratamento fitossanitário, a severidade da doença foi menor na safra "da seca", seguindo-se a "das águas" e a "de inverno". Em relação aos locais sob avaliação, os sintomas foram um pouco mais reduzidos em Capão Bonito nas safras "da seca" e "das águas', sendo que, nos cultivares do grupo Manteiga, observaram-se sintomas em 2% e em mais de 25% da área foliar respectivamente. Na safra "de inverno" os valores foram um pouco mais acentuados em Ribeirão Preto, em 1993, safra em que os cultivares IAPAR-14 e IAPAR31 apresentaram sintomas em 5% da área foliar; estes sintomas foram observados em 10% e mais de 25% da área foliar ou da vagem, respectivamente, nos cultivares Jalo e Pintado.

Tabela 3
Severidade de oídio em cultivares de feijoeiro, na ausência e na presença de tratamento fitossanitário, em diferentes municípios no Estado de São Paulo, nas safras da seca de 1994.

Os produtos utilizados no presente estudo foram previamente estabelecidos para o controle de diversas doenças, incluindo-se o oídio. Nos experimentos em que se empregou tratamento fitossanitário, as plantas de feijoeiro não apresentaram sintomas visíveis da doença, ou então, estes foram quase inexistentes em praticamente todas as safras. Observa-se ainda uma acentuada redução da severidade, com o adequado controle da doença, notadamente nos genótipos mais suscetíveis, como o Jalo e o Pintado, ambos do Grupo Manteiga (Tabelas 1, 2 e 3), o que evidencia a eficiência e a necessidade do tratamento fitossanitário utilizado, diante de uma situação de infestação natural.

Cabe ressaltar que, com a utilização do tratamento fitossanitário, obteve-se acréscimo em rendimentos na maioria das safras, como mostra os dados da tabela 4, sendo que tal acréscimo foi notado na grande maioria dos cultivares, particularmente nos genótipos do Grupo Manteiga, considerados suscetíveis à doença, com ganhos relevantes da ordem de 1.652 e 1.642 kg/ha para, respectivamente, Jalo e Pintado enquadrados nesse Grupo, na safra de inverno de 1993 em Pindorama. Entretanto, nessa mesma safra e ano, houve efeito negativo nas áreas com uso do tratamento fitossanitário, com reduções de rendimento desde 12 kg/ha no cultivar LM-30380 em Votuporanga até 493 Kg/ha em IPA -6 em Ribeirão Preto.

Tabela 4
Faixa de variação dos rendimentos médios de doze cultivares de feijoeiro na ausência (STF) e na presença de tratamento fitossanitário (CTF), em diferentes municípios do Estado de São Paulo, nas safras de inverno de 1993 e 1994, das águas de 1993/94 e da seca de 1994 de 1994.

Portanto, deve-se evitar a utilização dos cultivares do Grupo Manteiga, como Jalo e Pintado, em regiões ou safras com possibilidade de ocorrência de baixa umidade relativa e de temperaturas moderadas entre 20° e 25° C no préflorescimento. O tratamento fitossanitário para o controle do oídio deve ser adotado, sobretudo quando forem utilizados cultivares do Grupo Manteiga, em safras e localidades favoráveis à incidência da doença.

AGRADECIMENTOS

Os autores expressam seus agradecimentos aos engenheiros agrônomos e funcionários de apoio do Instituto Agronômico e Instituto Biológico e das cooperativas COPASUL, em Itaberá, e HOLAMBRA II, em Paranapanema, que colaboraram direta e indiretamente para o preparo, instalação e desenvolvimento dos experimentos: Osvaldo Gentilin Júnior, Wílson Luís Strada, Jacó Antônio Barnabé, José Angelino de Paula, Carlos Alberto Redígolo Raymundo, Sérgio Luiz de Melo, Celeste Humberto Stringhetta, Valdemir Alvares, Celso Santos, Clarindo de Paula, Luís Carlos Pires de Lima, Nair Antônia dos Santos, Luzia Fátima da Silva, Jorgina Laurentino Vaz, Francisco Beloso Garcia, Aidir Beltrão Gayoso, Therezinha Moreira da Costa, Solange Aparecida Sanches da Silva, Wilson Pereira Camargo, Júnia Naís Garcia Prado, Celina Alves da Silva, Luís Carlos de Faria, Tânia Cristina Rodrigues, Joana Góes e Hamílton César dos Santos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2003

Histórico

  • Recebido
    14 Fev 2003
  • Aceito
    26 Mar 2003
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