Acessibilidade / Reportar erro

BRUCELOSE CANINA - RELATO DE CASO

CANINE BRUCELLOSIS - CASE REPORT

RESUMO

Relata-se a ocorrência de brucelose em um cão sem raça definida, com três anos de idade. Ao exame clínico o animal apresentava aumento de volume testicular esquerdo, sem histórico de lesão traumática no local. A citologia aspirativa por agulha fina do testículo afetado permitiu o isolamento de Brucella canis. Procedeu-se a terapia utilizando rifampicina e estreptomicina, simultaneamente à indicação de orquiectomia bilateral do animal. Exames histopatológicos revelaram infiltrado neutrofílico e necrose de coagulação no testículo direito e reação granulomatosa com infiltrado mononuclear no testículo esquerdo. Cultivo microbiológico de sangue, urina e líquido prostático resultaram negativos para o isolamento do agente. As provas de soroaglutinação rápida em cartão e imunodifusão em gel de ágar resultaram positivas no animal relatado, bem como em duas fêmeas contactantes, com histórico de abortamento recente.

PALAVRAS-CHAVE:
Brucella canis; cão; orquite; diagnóstico.

ABSTRACT

This study reports canine brucellosis in a threeyears-old animal. Clinical examination showed left testicular enlargment, with no evidence of local trauma. Cytologic evaluation by fine-needle aspiration of the affected testicle allowed Brucella canis isolation. Treatment was based in systemic antibiotic (rifampicin and streptomycin), and castration. Histopathologic examination demonstrated right testicular neutrophil infiltrative lesion and coagulation necrosis, and left testicular mononuclear infiltrative lesion. Blood, urine and prostatic fluid cultures were negative to agent isolation. Rapid slide agglutination test and agar-gel immunodiffusion test were positive, as well as in two contactant females.

KEY WORDS:
Brucella canis; dog; orchitis; diagnosis.

A brucelose canina caracteriza-se como doença infecto-contagiosa crônica, de distribuição mundial, que acomete os canídeos domésticos, silvestres e o homem. A doença é considerada uma zoonose, manifestando-se no homem sob a forma de febre, mialgias, cefaléia, dermatite, linfoadenopatia e, ocasionalmente, poliartrite, principalmente em laboratoristas, tratadores de canis e em proprietários com estreito contato com cães infectados (ACHA & SZYFRES, 2001ACHA, P.N. & SZYFRES, B. Zoonosis y enfermedades transmisible comunes al hombre y a los animales brucellosis. 3. ed. Washington: OPS/OMS, 2001. p.2856. (Publicación cientifica y Tecnica,580).).

Nos cães, a brucelose tem como principal agente etiológico a Brucella canis (B. canis) (CARMICHAEL & GREENE, 1993CARMICHAEL, L.E. & GREENE, G.E. Brucelosis canina. In: GREENE, G.E. Enfermedades infecciosas perros y gatos. México: Interamericana McGraw Hill, 1993, p.604616.). CARMICHAEL (1966)CARMICHAEL, L.E. Abortions in 200 Beagles. J. Am. Vet. Med. Assoc., v.149, n.8, p.1126, 1966., nos EUA, descreveu pela primeira vez B. canis como agente causal de abortamento em fêmeas da raça Beagle, isolando o microrganismo de placenta, do tecido fetal e de descargas vaginais dos animais. As manifestações clínicas da brucelose canina são variadas, com predomínio de sintomas da esfera reprodutiva. Nas fêmeas, a enfermidade caracteriza-se por abortamento no terço final da gestação, retenção de placenta, corrimento vaginal, subfertilidade, morte embrionária, natimortos e/ou nascimento de filhotes fracos. Nos machos a brucelose apresenta-se sob a forma de epididimite, prostatite, atrofia testicular uni ou bilateral, dermatite de bolsa escrotal, anormalidades espermáticas, infertilidade e, esporadicamente, em quadros de linfoadenopatia, hepato e esplenomegalia, meningoencefalite, uveíte e discospondilite (GREENE, 1998).

A partir do primeiro relato do envolvimento de B. canis na gênese de distúrbios reprodutivos em cães nos EUA, diferentes países, incluindo Japão, México, Argentina, Canadá, têm descrito o isolamento do agente em machos ou fêmeas e/ou realizado inquéritos sorológicos utilizando diferentes provas diagnósticas (YAMAUCHI et al., 1972YAMAUCHI, C.; SUZUKI, T.; NOMURA, T.; KUKITA, Y.; IWAKI, T.; KAZUNO, Y.; GHODA, A. Canine brucellosis in a Beagle breeding colony. Jpn. J. Vet. Sci., v.36, p.175-182, 1972.; FLORESCASTRO & SEGURA, 1976FLORES-CASTRO, R. & SEGURA, R. A serological and bacteriological survey of canine brucellosis in Mexico. Cornell Vet., v.66, p.347-352, 1976.; MYERS & VARELA-DÍAZ, 1980MYERS, D.M. & VARELA-DIAZ, V.M. Serological and bacteriological detection of Brucella canis infection of stray dogs in Moreno, Argentina. Cornell. Vet., v.70, p.258-265, 1980.; TAYLOR, 1980TAYLOR, D.J. Serological evidence for the presence of Brucella canis infection in dogs in Britain. Vet. Rec., v.106, p.102-103, 1980.).

No Brasil, a primeira identificação de B. canis ocorreu em Belo Horizonte, MG, em 1976, a partir de isolamento do agente do sangue e de secreção vaginal de uma cadela com histórico de abortamento recente (GODOY et al., 1976GODOY, A.M., PERES, J.N.; BARG, L. Isolamento de Brucella canis em Minas Gerais, Brasil. Arq. Esc. Vet. Univ. Fed. Minas Gerais, v.29, p.35-42, 1976.). Em anos subseqüentes, a enfermidade tem sido crescentemente referenciada em diferentes estados, principalmente, em inquéritos soro-epidemiológicos (WALD & FERNANDES, 1976WALD, V.B. & FERNANDES, J.C.T. Sorologia da Brucelose canina no Município de Porto Alegre, RS. Arq. Fac. Vet. Univ. Fed. Rio Grande do Sul., v.4/5, p.92-95, 1976.; SANDOVAL et al., 1976SANDOVAL, L.A.; CONRADO RIBEIRO, L.O; AMARAL, L.B.S.; FEITOSA, M.H.; BAZAN, J.M. Incidência da Brucelose canina na cidade de São Paulo. Biológico, São Paulo, v.42, p.128132, 1976.; LARSSON et al., 1981LARSSON, M.H.M.A.; LARSSON, C.E.; MIRANDOLA, R.M.S.; YASSUDA, P.H.; GRUTOLLA, G. Canine Brucellosis in São Paulo: serologic survey of kennel and stray dogs. Int. J. Zoonoses, v.8, p.85-90, 1981.; GERMANO et al., 1987GERMANO, P.M.L, VASCONCELLOS, S.A. ISHIZUKA, M.M., PASSOS, E.C.; ERBOLATO, E.B. Prevalência de infecção por Brucella canis em cães da cidade de Campinas, SP, Brasil. Rev. Fac. Med. Vet. Zootec. Univ. São. Paulo., v.24, p.27-34, 1987.; VARGAS et al., 1996VARGAS, A.C.; LAZZARI, A.; DUTRA, V.; POESTER, F. Brucelose canina: Relato de caso. Ciênc. Rural, v.26, p.305-308, 1996.; MEGID et al., 1999MEGID, J.; BRITO, A.F.; MORAES, C.C.G.; FAVA, N.; AGOTTANI, J. Epidemiological assessment of canine brucellosis. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.51, p.439-440, 1999.), ressaltando a discrepância de resultados de determinadas provas sorológicas e o potencial zoonótico do agente.

Realizando infecção experimental em oito cães com B. canis, LARSSON et al. (1984)LARSSON, M.H.M.A.; LARSSON, C.E.; COSTA, E.O.; GUERRA, J.L.; HAGIWARA, M.K. Brucelose canina experimental: Estudos bacteriológico, sorológico e anatomopatológico. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.36, p.141-156, 1984. evidenciaram soroconversão nas provas de soroaglutinação rápida e lenta em sete animais, positividade intermitente em exames semanais de hemocultura, durante 13 semanas de acompanhamento dos animais, além de caracterizarem lesões histológicas compatíveis com inflamação brucélica em linfonodos, baço, próstata, testículo e epidídimo, após a necropsia. GOMES et al. (1999)GOMES, J.P.; DRIEMEIER, D.; SOARES, H.C.; BASTOS, C.D.; CANTO, S.P.; BRUM, M.; ROSSI, A.C.; CORBELLINI, L.G. Brucella canis: Isolamento em um cão com epididimite e orquiterelato de caso. Clín. Vet., v.4, n.18, p.17-20, 1999. descreveram o isolamento de B. canis de um cão soropositivo, apresentando orquite, epididimite e atrofia testicular, ressaltando também a soropositividade na prova de imunodifusão em outros três cães contactantes.

Em virtude do impacto da brucelose canina no contexto de saúde pública, do crescente número de descrições da doença no Brasil e da necessidade de associação de procedimentos na fundamentação do diagnóstico da enfermidade, relata-se os achados clínico-epidemiológicos, e de diagnóstico microbiológico, histopatológico e sorológico em cão macho infectado com B. canis.

Foi encaminhado à FMVZ-UNESP/Botucatu um cão macho, sem raça definida, três anos de idade, com aumento de volume testicular esquerdo, sem evidências de lesão traumática. Ao exame clínico, o testículo direito apresentava-se firme, enquanto que o esquerdo encontrava-se atrofiado. Segundo o proprietário, o cão não havia realizado cobertura de fêmeas, mas coabitava com um cão macho e duas fêmeas, das quais uma, com histórico de abortamento acerca de três meses.

Procedeu-se a citologia aspirativa por agulha fina (CAAF) dos testículos afetados utilizando o citoaspirador de Valeri®,* (GUEDES et al., 1997GUEDES, R.C.M.; NOGUEIRA, R.H.G.; TUDURY, E.A. Diagnóstico citológico de lesões proliferativas e inflamatórias através da técnica de punção de tecidos com agulha fina. Hora Vet., n.96, p.15-21, 1997.; ROCHA, 1998ROCHA, N.S. Citologia aspirativa por agulhas finas (CAAF). Rev. Cães Gatos, v.13, n.79, p.14-16, 1998.), visando isolamento microbiano, a partir do material aspirado.

O material colhido por CAAF dos testículos foi submetido ao cultivo microbiológico em ágar sangue ovino (5%) desfibrinado, assim como material procedente de sangue, urina e líquido prostático.

O soro do animal com orquite, bem como dos três animais contactantes, foi submetido às provas de soroaglutinação rápida (RSAT) (Kit D-Tec® CBSimbiotics) e soroaglutinação rápida em cartão com 2mercaptoetanol (2ME- RSAT) (GEORGE & CARMICHAEL, 1978GEORGE, L.W. & CARMICHAEL, L.E. Development of a Rose Bengal stained plate-test antigen for the rapid diagnisis of Brucella canis infection. Cornell Vet., n.68, p.530543, 1978. ; BADAKHSH, et al., 1982BADAKHSH, F.F.; CARMICHAEL, L.E.; DOUGLASS, J.A. Improved rapid slid agglutination test for presuntive diagnosis of canine brucellosis. J. Clin. Microbiol., n.15, p.286289, 1982.) e imunodifusão em gel de ágar (IDGA) (MYERS & SINIUK, 1970MYERS, D.M. & SINIUK, A.A. Preliminary report on the development of a diffusion in gel method for the diagnosis of ram epididymits. Appl. Microbiol., n.19, p.335-337, 1970).

Entre 72 e 96 horas de cultivo, constatou-se o isolamento de colônias de aspecto mucóide, amareloesbranquiçadas que, coradas pelos métodos de Gram e Köster revelaram, respectivamente, cocobacilos Gram-negativos e cocobacilos delicados de tonalidade avermelhada. Com base nas características morfotintoriais, bioquímicas e de cultivo identificou-se o agente como B.canis (CARMICHAEL & BRUNER, 1968CARMICHAEL, L.E. & BRUNER, D.W. Characteristics of a newlyrecognized species of Brucella responsible for infectious canine abortions. Cornell Vet., v.58, p.579592, 1968.).

À admissão do animal com orquite observou-se resultado positivo nas provas de RSAT e IDGA, e negativo na 2ME-RSAT. Diante dos resultados sorológicos e de cultivo, realizou-se a orientação do proprietário referente ao potencial zoonótico do agente. Em seguida, instituiu-se a terapia do animal utilizando rifampicina (10 mg/kg/VO/30 dias) associada à estreptomicina (10 mg/kg/IM/21 dias) e a castração do animal, sendo o testículo afetado encaminhado para cultivo microbiológico e exame histopatológico desta maneira foi reisolado a B. canis deste cultivo microbiológico.

As provas sorológicas realizadas no 60o dia de acompanhamento do animal com orquite resultaram negativas. Nos animais contactantes, observou-se resultado sorológico negativo para o macho e positivo para as duas fêmeas na RSAT, 2ME-RSAT e IDGA.

Ao exame histopatógico observou-se infiltrado neutrofílico acentuado no testículo direito, com sinais de necrose de coagulação nas áreas contíguas. No interstício do testículo esquerdo, constatou-se a presença de granulomas e infiltrado mononuclear difuso.

O histórico de abortamento recente nas duas fêmeas contactantes, aliada à positividade destes animais nos testes sorológicos, sugere estas fêmeas como a fonte de infecção de B. canis para o macho com orquite, tendo a transmissão ocorrido, provavelmente, de forma indireta, uma vez que não havia histórico de cobertura destas fêmeas pelo animal com infecção testicular.

A punção aspirativa do testículo permitiu o diagnóstico citológico presuntivo do gênero Brucella, bem como o isolamento precoce do agente. De maneira similar, outros estudos no Brasil também têm obtido êxito no isolamento de agentes bacterianos, a partir de material aspirado pelo método de punção por agulha fina (RIBEIRO et al., 2001RIBEIRO, M.G.; DIAS JUNIOR, J.G.; PAES, A.C.; BARBOSA, P.G.; NARDI JÚNIOR G.; LISTONI, F.J.P. Punção aspirativa com agulha fina no diagnóstico do Corynebacterium pseudotuberculosis na linfadenite caseosa caprina. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.68, n.1, p.23-28, 2001.). Este resultado ratifica a condição da CAAF como método de fácil execução, de baixo custo e de reduzida agressão tecidual, que permite diagnóstico acurado em reduzido espaço de tempo (GUEDES et al., 1997GUEDES, R.C.M.; NOGUEIRA, R.H.G.; TUDURY, E.A. Diagnóstico citológico de lesões proliferativas e inflamatórias através da técnica de punção de tecidos com agulha fina. Hora Vet., n.96, p.15-21, 1997.; ROCHA, 1998ROCHA, N.S. Citologia aspirativa por agulhas finas (CAAF). Rev. Cães Gatos, v.13, n.79, p.14-16, 1998.). Sugere também, a possibilidade de uso da citologia aspirativa com vistas à colheita de material visando o isolamento de B. canis em casos de orquite em cães.

A presença de graus variados de infiltrado neutrofílico, mononuclear difuso e formação de reação granulomatosa, aliado a sinais de necrose de coagulação no exame histopatológico, concorda com os achados histológicos de outros relatos de orquite brucélica (LARSSON et al., 1984LARSSON, M.H.M.A.; LARSSON, C.E.; COSTA, E.O.; GUERRA, J.L.; HAGIWARA, M.K. Brucelose canina experimental: Estudos bacteriológico, sorológico e anatomopatológico. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.36, p.141-156, 1984.; GOMES, et al., 1999GOMES, J.P.; DRIEMEIER, D.; SOARES, H.C.; BASTOS, C.D.; CANTO, S.P.; BRUM, M.; ROSSI, A.C.; CORBELLINI, L.G. Brucella canis: Isolamento em um cão com epididimite e orquiterelato de caso. Clín. Vet., v.4, n.18, p.17-20, 1999.), caracterizando a reação inflamatória no animal relatado, compatível com orquite por B. canis.

Apesar do isolamento de B. canis a partir do material testicular, não foi possível a identificação do agente no sangue, na urina e no líquido prostático. A dificuldade de isolamento de B. canis em hemoculturas também tem sido assinalada em relatos similares (FERNANDES et al., 1976-7FERNANDES, J.C.T.; WALD, V.B.; JOBIM, G.B. Isolamento de Brucella canis do humor aquoso de um cão com lesões oculares. Arq. Fac. Vet. Univ. Fed. Rio Grande do Sul, v.4/5, p.109-113, 1976-7.), provavelmente, em virtude da bacteremia intermitente de B. canis. Entretanto, outros estudos têm referido o isolamento do microrganismo de diferentes órgãos e humores orgânicos (baço, epidídimo, linfonodos, secreção prostática, sêmen e vesícula seminal), incluindo do sangue (UEDA et al., 1974UEDA, K.; MAGARIBUCHI, T.; SAEGUSA, J.; URANO, T.; ITHO, K.; KIUCHI, Y.; FUJIWARA, K. Spontaneous Brucella canis infection in Beagles: Bacteriological and serological studies. Jpn. J. Vet. Sci., v.36, p.383-389, 1974.).

CARMICHAEL (1990)CARMICHAEL, L.F. BRUCELLA CANIS. IN: NIELSEN, K. & DUNCAN, J.R. (Eds). Animal brucellosis. Boca Raton: CRC Press, 1990. p.336-350. ressaltou o risco para a saúde pública da terapia de cães com brucelose. Entretanto, o protocolo terapêutico empregado no animal relatado, associado à castração, vem sendo utilizado em casos específicos no Serviço de Enfermidades Infecciosas dos Animais da FMVZ-UNESP/Botucatu, SP. A terapia nesses casos tem sido criteriosamente indicada em cães de alto valor afetivo e/ou econômico, preferencialmente, na ausência de crianças no domicílio. A efetividade da terapia antimicrobiana aliada à castração de cães com brucelose foi relatada por MEGID et al. (1998)MEGID, J., PAES, A.C.; MORAES, C.C.G.; GIUFFRIDA, R.; GOULART, C. Serology and therapeutic efficacy of riphampicyn and streptomycin in dogs naturally infected with Brucella canis. In: CONGRESS OF THE WORD SMALL ANIMAL VETERINARY ASSOCIATION, 23., 1998, Buenos Aires. Proceedings., Buenos Aires: 1998. p.814., obtendo 91,6% de cura em 12 cães naturalmente infectados e acompanhados sorologicamente dois meses após o término do tratamento antimicrobiano. Dois desses animais foram retestados sorologicamente um ano após findada a terapia, resultando negativos (MEGID, 1999)*. Contudo, deve-se ressaltar que a terapia de cães com brucelose deve ser rigorosamente avaliada pelo médico veterinário e indicada exclusivamente em condições específicas.

À admissão o animal relatado apresentou reação nas provas de RSAT e IDGA, e ausência de reação na 2ME-RAST, enquanto as duas fêmeas contactantes, resultaram positivas em todas as provas. Resultados positivos sem 2ME e negativo com 2ME são referidos como fase inicial da doença, reforçando os achados deste relato em que embora o animal resultasse negativo ao 2ME foi possível o isolamento da B. canis caracterizando processo agudo de doença (JOHNSON & WALKER,1992JOHNSON, C.A. & WALKER, R.D. Clinical signs and diagnosis of Brucella canis infeccion. Comp. Educ. Pract. Vet., v.14, p.763-772, 1992). Este resultado chama a atenção para a necessidade de retestar o animal com resultados positivos e negativos, em soros sem e com 2ME, respectivamente. Adicionalmente, a discrepância em provas sorológicas nos animais estudados, coincide com a preocupação de outros autores, em firmar o diagnóstico da brucelose canina não utilizando exclusivamente métodos sorológicos (CARMICHAEL & GREENE, 1993CARMICHAEL, L.E. & GREENE, G.E. Brucelosis canina. In: GREENE, G.E. Enfermedades infecciosas perros y gatos. México: Interamericana McGraw Hill, 1993, p.604616.).

Ressalta-se no presente relato, a crescente identificação de brucelose canina no país e a necessidade de adoção de diferentes procedimentos, na fundamentação do diagnóstico da brucelose na espécie canina.

  • *
    Citoaspirador de Valeri® - MPJ Equipamentos Médicos
  • *
    MEGID, J. (Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP - Campus de Botucatu, SP). Comunicação pessoal, 1999.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • ACHA, P.N. & SZYFRES, B. Zoonosis y enfermedades transmisible comunes al hombre y a los animales brucellosis. 3. ed. Washington: OPS/OMS, 2001. p.2856. (Publicación cientifica y Tecnica,580).
  • BADAKHSH, F.F.; CARMICHAEL, L.E.; DOUGLASS, J.A. Improved rapid slid agglutination test for presuntive diagnosis of canine brucellosis. J. Clin. Microbiol, n.15, p.286289, 1982.
  • CARMICHAEL, L.E. Abortions in 200 Beagles. J. Am. Vet. Med. Assoc, v.149, n.8, p.1126, 1966.
  • CARMICHAEL, L.F. BRUCELLA CANIS IN: NIELSEN, K. & DUNCAN, J.R. (Eds). Animal brucellosis Boca Raton: CRC Press, 1990. p.336-350.
  • CARMICHAEL, L.E. & BRUNER, D.W. Characteristics of a newlyrecognized species of Brucella responsible for infectious canine abortions. Cornell Vet., v.58, p.579592, 1968.
  • CARMICHAEL, L.E. & GREENE, G.E. Brucelosis canina. In: GREENE, G.E. Enfermedades infecciosas perros y gatos. México: Interamericana McGraw Hill, 1993, p.604616.
  • CARMICHAEL, L.E. & GREENE, C.E. Canine Brucellosis. In: GREENE, C.E. Infections disease of the dog and cat 2. ed. Philadelphia : W.B. Company, 1998. p.248-257.
  • FERNANDES, J.C.T.; WALD, V.B.; JOBIM, G.B. Isolamento de Brucella canis do humor aquoso de um cão com lesões oculares. Arq. Fac. Vet. Univ. Fed. Rio Grande do Sul, v.4/5, p.109-113, 1976-7.
  • FLORES-CASTRO, R. & SEGURA, R. A serological and bacteriological survey of canine brucellosis in Mexico. Cornell Vet., v.66, p.347-352, 1976.
  • GEORGE, L.W. & CARMICHAEL, L.E. Development of a Rose Bengal stained plate-test antigen for the rapid diagnisis of Brucella canis infection. Cornell Vet, n.68, p.530543, 1978.
  • GERMANO, P.M.L, VASCONCELLOS, S.A. ISHIZUKA, M.M., PASSOS, E.C.; ERBOLATO, E.B. Prevalência de infecção por Brucella canis em cães da cidade de Campinas, SP, Brasil. Rev. Fac. Med. Vet. Zootec. Univ. São. Paulo., v.24, p.27-34, 1987.
  • GODOY, A.M., PERES, J.N.; BARG, L. Isolamento de Brucella canis em Minas Gerais, Brasil. Arq. Esc. Vet. Univ. Fed. Minas Gerais, v.29, p.35-42, 1976.
  • GOMES, J.P.; DRIEMEIER, D.; SOARES, H.C.; BASTOS, C.D.; CANTO, S.P.; BRUM, M.; ROSSI, A.C.; CORBELLINI, L.G. Brucella canis: Isolamento em um cão com epididimite e orquiterelato de caso. Clín. Vet., v.4, n.18, p.17-20, 1999.
  • GUEDES, R.C.M.; NOGUEIRA, R.H.G.; TUDURY, E.A. Diagnóstico citológico de lesões proliferativas e inflamatórias através da técnica de punção de tecidos com agulha fina. Hora Vet., n.96, p.15-21, 1997.
  • JOHNSON, C.A. & WALKER, R.D. Clinical signs and diagnosis of Brucella canis infeccion. Comp. Educ. Pract. Vet., v.14, p.763-772, 1992
  • LARSSON, M.H.M.A.; LARSSON, C.E.; COSTA, E.O.; GUERRA, J.L.; HAGIWARA, M.K. Brucelose canina experimental: Estudos bacteriológico, sorológico e anatomopatológico. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.36, p.141-156, 1984.
  • LARSSON, M.H.M.A.; LARSSON, C.E.; MIRANDOLA, R.M.S.; YASSUDA, P.H.; GRUTOLLA, G. Canine Brucellosis in São Paulo: serologic survey of kennel and stray dogs. Int. J. Zoonoses, v.8, p.85-90, 1981.
  • MEGID, J., PAES, A.C.; MORAES, C.C.G.; GIUFFRIDA, R.; GOULART, C. Serology and therapeutic efficacy of riphampicyn and streptomycin in dogs naturally infected with Brucella canis In: CONGRESS OF THE WORD SMALL ANIMAL VETERINARY ASSOCIATION, 23., 1998, Buenos Aires. Proceedings, Buenos Aires: 1998. p.814.
  • MEGID, J.; BRITO, A.F.; MORAES, C.C.G.; FAVA, N.; AGOTTANI, J. Epidemiological assessment of canine brucellosis. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.51, p.439-440, 1999.
  • MYERS, D.M. & SINIUK, A.A. Preliminary report on the development of a diffusion in gel method for the diagnosis of ram epididymits. Appl. Microbiol, n.19, p.335-337, 1970
  • MYERS, D.M. & VARELA-DIAZ, V.M. Serological and bacteriological detection of Brucella canis infection of stray dogs in Moreno, Argentina. Cornell. Vet., v.70, p.258-265, 1980.
  • RIBEIRO, M.G.; DIAS JUNIOR, J.G.; PAES, A.C.; BARBOSA, P.G.; NARDI JÚNIOR G.; LISTONI, F.J.P. Punção aspirativa com agulha fina no diagnóstico do Corynebacterium pseudotuberculosis na linfadenite caseosa caprina. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.68, n.1, p.23-28, 2001.
  • ROCHA, N.S. Citologia aspirativa por agulhas finas (CAAF). Rev. Cães Gatos, v.13, n.79, p.14-16, 1998.
  • SANDOVAL, L.A.; CONRADO RIBEIRO, L.O; AMARAL, L.B.S.; FEITOSA, M.H.; BAZAN, J.M. Incidência da Brucelose canina na cidade de São Paulo. Biológico, São Paulo, v.42, p.128132, 1976.
  • TAYLOR, D.J. Serological evidence for the presence of Brucella canis infection in dogs in Britain. Vet. Rec., v.106, p.102-103, 1980.
  • UEDA, K.; MAGARIBUCHI, T.; SAEGUSA, J.; URANO, T.; ITHO, K.; KIUCHI, Y.; FUJIWARA, K. Spontaneous Brucella canis infection in Beagles: Bacteriological and serological studies. Jpn. J. Vet. Sci., v.36, p.383-389, 1974.
  • VARGAS, A.C.; LAZZARI, A.; DUTRA, V.; POESTER, F. Brucelose canina: Relato de caso. Ciênc. Rural, v.26, p.305-308, 1996.
  • WALD, V.B. & FERNANDES, J.C.T. Sorologia da Brucelose canina no Município de Porto Alegre, RS. Arq. Fac. Vet. Univ. Fed. Rio Grande do Sul, v.4/5, p.92-95, 1976.
  • YAMAUCHI, C.; SUZUKI, T.; NOMURA, T.; KUKITA, Y.; IWAKI, T.; KAZUNO, Y.; GHODA, A. Canine brucellosis in a Beagle breeding colony. Jpn. J. Vet. Sci., v.36, p.175-182, 1972.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Set 2024
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2002

Histórico

  • Recebido
    10 Jun 2002
  • Aceito
    24 Out 2002
Instituto Biológico Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252 - Vila Mariana - São Paulo - SP, 04014-002 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: arquivos@biologico.sp.gov.br