HOSPEDEIROS E NÍVEIS DE INFESTAÇÃO DE NEOSILBA PENDULA (BEZZI) (DIPTERA: LONCHAEIDAE) NA REGIÃO DE MOSSORÓ/ASSU, RN

HOST PLANTS AND INFESTATION LEVELS OF NEOSILBA PENDULA (BEZZI) (DIPTERA: LONCHAEIDAE) IN MOSSORÓ/ASSU, RN, BRAZIL

RESUMO

Os estudos sobre dípteros frugívoros na região de Mossoró/Assu, RN, têm sido limitado às espécies de Anastrepha e à mosca-do-mediterrâneo, Ceratitis capitata (Wied.). Entretanto, levantamentos realizados em pomares de acerola Malpighia emarginata nessa região têm revelado que em algumas condições o lonqueídeo Neosilba pendula (Bezzi) pode ser importante invasor primário de frutos de acerola.

PALAVRAS-CHAVE:
Insecta; Lonchaeidae; hospedeiros; levantamento; praga.

ABSTRACT

Studies on frugivorous flies in Mossoró/ Assu, RN, has been limited to species of Anastrepha and Mediterranean fruit fly, Ceratitis capitata (Wied.). However, survey carried out in orchards of Barbados cherry Malpighia emarginata (Malpighiaceae) in Mossoró/Assu, showed that in some conditions the lonchaeid Neosilba pendula can be important primary pest of Barbados cherry.

KEY WORDS:
Insecta; Lonchaeidae; hosts; survey; pest.

INTRODUÇÃO

As larvas da maioria dos lonqueídeos estão associadas a flores, frutos danificados e outros tipos de material orgânico em decomposição. No entanto, em algumas espécies, as larvas são invasoras primárias de frutos (MCAALPINE, 1961; FEHN, 1981).

Apesar de haver relatos de lonqueídeos infestando frutos de importância econômica desde a década de 30, no Brasil, por um longo período, os lonqueídeos foram negligenciados nos levantamentos de moscas frugívoras, principalmente pela falta de conhecimentos taxonômicos. Nos primeiros levantamentos nos quais se levou em conta a presença dos lonqueídeos, foram alistadas 12 espécies de frutos hospedeiros, em vários estados brasileiros, sendo Citrus spp. os mais infestados (MALAVASI et al., 1980; MALAVASI & MORGANTE, 1980). Posteriormente, nos anos 90, em razão da quantidade de pupários de lonqueídeos obtidos nos levantamentos de moscas-das-frutas, ressurgiu o interesse em estudá-los. Dessa forma, SILVA (1993) constatou a presença de espécies de Neosilba associadas a 19 espécies de frutos, em quatro locais do Estado do Amazonas. RAGA et al. (1996; 1997), observando a incidência de moscas-das-frutas (Tephritidae) em frutos de café Coffea spp. e laranja Citrus sinensis, no Estado de São Paulo, relataram que 17 e 4,9% dos exemplares, respectivamente, pertenciam à família Lonchaeidae. Também no Estado de São Paulo, SOUZA FILHO (1999) constatou lonqueídeos associados a 40 espécies de frutos. No cerrado do Estado do Mato Grosso do Sul, os lonqueídeos foram associados a 22 espécies de frutos (UCHÔA F., 1999).

Assim como em outras regiões, em Mossoró/Assu, RN, há um conhecimento considerável a respeito das moscas-das-frutas (Tephritidae) (ARAUJO et al., 2000); entretanto, faltam informações sobre os lonqueídeos frugívoros.

Portanto, este trabalho teve por objetivo conhecer os hospedeiros de N. pendula e seus respectivos índices de infestação e verificar seu status como invasor primário de acerola Malphigia emarginata (Malpighiaceae).

MATERIAL E MÉTODOS

As coletas foram realizadas nos municípios de Mossoró (5º 11´ Lat. Sul - 37º 25´ Long. Oeste Grw.) e Assu (5º 35´ Lat. Sul - 36º 54´ Long. Oeste Grw.), no Estado do Rio Grande do Norte, de janeiro/1999 a dezembro/2000.

Os frutos potencialmente hospedeiros de larvas frugívoras foram coletados aleatoriamente, de acordo com a disponibilidade em campo. Os frutos coletados eram acondicionados em caixas plásticas (separados por espécie e local de coleta) e conduzidos ao laboratório de Entomologia do Departamento de Fitossanidade da ESAM (Escola Superior de Agricultura de Mossoró), onde eram pesados, contados e colocados em bandejas plásticas com vermiculita. Após uma semana, a vermiculita era peneirada e os pupários de Lonchaeidae eram separados dos de Tephritidae (Anastrepha, Ceratitis), contados e transferidos para recipientes plásticos com vermiculita úmida para a emergência dos adultos, os quais eram transferidos para frascos com álcool 70%.

Para verificar o status de lonqueídeo como invasor primário, acerolas foram coletadas da árvore e do solo em dois pomares em Mossoró - um não irrigado (aproximadamente 1 ha) localizado na fazenda experimental da ESAM (Alagoinhas) e o outro irrigado por gotejamento (aproximadamente 20 ha) na Agroindústria Maisa. Nenhum tratamento químico foi realizado nesses pomares. A obtenção dos pupários seguiu a mesma metodologia descrita anteriormente.

Os índices de infestação foram calculados por meio do número médio de pupários por fruto e número médio de pupários por quilo de fruta fresca.

As identificações das frutíferas amostradas foram realizadas com base na literatura e no material do herbário do laboratório de Botânica da ESAM. Espécimens de Lonchaeidae foram depositados no Departamento de Parasitologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Níveis de infestação

Das 42 espécies de frutíferas nativas e exóticas amostradas, oito estavam infestadas com larvas de lonqueídeos (Tabela 1), todas pertencentes a Neosilba pendula (Bezzi).

Tabela 1
Hospedeiros e níveis de infestação de Neosilba pendula em frutos nativos (N) e exóticos (E) na região de Mossoró/ Assu, RN, de janeiro/1999 a dezembro/2000.

Famílias Hospedeiros		Índices de Infestação
	Pupários (n)	Pupários/fruto	Pupários/kg
Anacardiaceae Cajarana Spondias sp. (N)	18	0,002	0,1
Serigüela Spondias purpurea (E)	130	0,10	6,1
Malpighiaceae Acerola Malpighia emarginata (E)	3.495	0,08	14,9
Myrtaceae Goiaba Psidium guajava (N)	442	0,08	0,9
Oxalidaceae Carambola Averrhoa carambola (E)	58	0,05	1,1
Rhamnaceae Juá Ziziphus joazeiro (N)	1.377	0,07	21,1
Rutaceae Tangerina Citrus reticulata (E)	10	0,03	0,5
Kunquat Fortunella sp. (E)	227	0,07	5,0

O número de hospedeiros observados na região de Mossoró/Assu foi reduzido, quando comparado com os 40 hospedeiros constatados por SOUZA FILHO (1999), no Estado de São Paulo. Entretanto, aquele autor coletou frutos em 94 municípios, num período de cinco anos. Além disso, a região de Mossoró/Assu localiza-se no semi-árido, onde a disponibilidade de frutos carnosos, hospedeiros potenciais de larvas frugívoras, é menor do que no Estado de São Paulo.

Neosilba pendula infestou indiscriminadamente frutos nativos e exóticos. Considerando-se o índice de infestação (pupários/kg), o juá Ziziphus joazeiro e a acerola Malpighia emarginata foram os mais infestados (índices de infestação de 21,1 e 14,9, respectivamente). A menor infestação (0,1 pupário/kg) foi verificada em cajarana Spondias sp. (Tabela 1).

A comparação dos índices de infestação obtidos neste trabalho com os da literatura ficou prejudicada, pois na maioria dos trabalhos (e.g., MALAVASI & MORGANTE, 1980; UCHÔA F., 1999; SOUZA FILHO, 1999), os autores não calcularam os índices de infestação por lonqueídeos separadamente, ou seja, os índices levaram em consideração os pupários de todos os dípteros frugívoros coletados.

Neosilba pendula como invasor primário de acerola M. emarginata

O pomar da fazenda experimental da ESAM não era irrigado e por isso, só houve frutificação e coleta no período seguinte às primeiras chuvas (março a junho/ 1999 e de março a maio/2000). Foram coletados 6.400 frutos (28,9 kg), dos quais foram obtidos 1.378 pupários e 1.036 adultos de N. pendula (Tabela 2). Em 1999, as infestações de frutos no solo variaram entre 11,7 e 83,2 pupários/kg e nos frutos apanhados da árvore variaram entre 19,8 e 56,6 pupários/kg de acerola. Em 2000, as infestações em frutos no solo variaram entre 53,1 e 76 pupários/kg e nos frutos da árvore entre 35,5 e 80 pupários/kg (Fig. 1). Estes índices de infestação são elevados, quando comparados com o índice de 3,5 pupários/kg em amostras de acerola, no Estado do Mato Grosso do Sul, nas quais foram obtidas somente Neosilba spp. contudo, houve preferência desses lonqueídeos por citros nesse Estado (UCHÔA F., 1999). A maioria dos pomares de acerola em Mossoró é infestado por Ceratitis capitata (Wied.) (Tephritidae), mas neste pomar apenas 11 pupários de C. capitata foram obtidos durante o período das coletas.

Tabela 2
Dados de coletas de frutos e de Neosilba pendula em pomares de acerola da fazenda experimental da ESAM e da Agroindústria MAISA, em 1999 e 2000.

Coletas	Frutos (n)			Peso (kg)			Pupários (n)			Adultos (n)
	ESAM	MAISA	ESAM		MAISA	ESAM		MAISA	ESAM		MAISA
Árvore	3.609	5.029	16,5		26,7	703		153	584		94
Solo	2.791	4.000	12,4		26,0	675		199	452		112
Total	6.400	9.029	28,9		52,7	1.378		352	1.036		206

Fig. 1
Índice de infestação de Neosilba pendula no pomar de acerola da fazenda experimental da ESAM.

No pomar irrigado da Agroindústria Maisa, houve produção de acerola em vários meses do ano, no entanto, as amostras foram coletadas apenas de abril a junho de 2000. Dos 9.029 frutos (52,7 kg) coletados, obtiveram-se 352 pupários e 206 adultos de N. pendula (Tabela 2). Também foram obtidos 205 pupários de C. capitata. Os níveis de infestação nas amostras provenientes do solo variaram de 2,6 a 22,9 pupários/kg de acerola. Nas amostras coletadas nas árvores houve uma variação no nível de infestação de 3 a 12,4 pupários/kg (Fig. 2).

Fig. 2
Índice de infestação de Neosilba pendula no pomar de acerola da Maisa.

Os valores dos níveis de infestação dos frutos no solo e na árvore foram próximos, em várias datas de coleta (Figs. 1 e 2), contudo, as médias gerais das infestações dos frutos do solo e da árvore no pomar da ESAM diferiram significativamente (P ≤ 0,05) pelo teste de Wilcoxon (Tabela 3).

Tabela 3
Médias gerais de índice de infestação (pupários/ kg) de Neosilba pendula em frutos de acerola no Município de Mossoró, RN, em 1999 e 2000.

Locais de coleta	Árvore	Solo
Pomar da ESAM	44,9 a	58,9 b
Pomar da Maisa	6,4 a	9,5 a

Médias, na horizontal, seguidas pelas mesmas letras, não diferem entre si pelo teste Z de Wilcoxon (P ≤ 0,05).

O pomar da fazenda experimental da ESAM apresentou níveis de infestação de N. pendula superiores aos do pomar da Maisa, apesar do maior volume de coleta na Maisa. Além disso, teoricamente as condições do pomar situado na Maisa eram mais propícias às infestações, pois como era irrigado, a disponibilidade de frutos era maior. Por outro lado, havia uma maior população de C. capitata no pomar da Maisa, o que pode de alguma forma, ter colaborado para uma menor infestação dos lonqueídeos. Contudo, não foi possível estabelecer por que pomares tão próximos (menos de 10 km um do outro) apresentaram infestações tão distintas.

De modo geral, os níveis de infestação de N. pendula detectados em várias frutíferas da região de Mossoró/ Assu foram baixos. No entanto, as infestações de N. pendula em acerola (na árvore e no solo), no pomar da ESAM, foram elevadas e muito próximas. Portanto, em alguns pomares de acerola da região de Mossoró/ Assu, os lonqueídeos podem ser importantes invasores primários de frutos.

AGRADECIMENTOS

À FAPESP, pela bolsa concedida ao primeiro autor deste trabalho. À COEX e à ESAM, pelo apoio logístico. Ao Biólogo Pedro Carlos Strikis (Unicamp) pela identificação dos lonqueídos. Aos Agrônomos Valdemar E. da Silva (COEX) e Lazaro Roberto (Secretaria da Agricultura/RN), aos estagiários Leonardo A. da Silva, Mayara K. M de Medeiros e Patricia A. R. Lopes pelo auxílio nas atividades de campo e laboratório.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  16 Set 2024
• Data do Fascículo
  Apr-Jun 2002

Histórico

• Recebido
  19 Nov 2001
• Aceito
  17 Jan 2002