PRESENÇA DE MYZOCALLIS KURICOLA (MATSUMURA, 1917) (HEMIPTERA: APHIDOIDEA: DREPANOSIPHIDAE) NO BRASIL E PRIMEIRO REGISTRO DA ESPÉCIE NA REGIÃO NEOTROPICAL

PRESENCE OF MYZOCALLIS KURICOLA (MATSUMURA, 1917) (HOMOPTERA: APHIDOIDEA: DREPANOSIPHIDAE) IN BRAZIL AND FIRST RECORD OF SPECIES IN THE NEOTROPICAL REGION

RESUMO

O trabalho registra pela primeira vez, para o Brasil e para a Região Neotropical, a presença do afídeo Myzocallis kuricola (Matsumura, 1917) (Hemiptera: Aphidoidea: Drepanosiphidae). Também é novo para Portugal Continental e Açores. A espécie é nativa do Japão, Coréia e Taiwan e o primeiro registro fora de sua área de origem foi feito por ILHARCO (1984) no arquipélago da Madeira, Portugal sobre Castanea crenata Siebold & Zuccarini (Fagaceae). No Brasil os afídeos foram coletados sobre C. sativa Miller, C. vesca Gaertner e Castanea sp. e em Portugal Continental e Açores, sobre C. sativa. Desconhece-se qualquer referência à espécie como causadora de danos.

PALAVRAS CHAVE:
Myzocallis kuricola; Castanea sativa; Castanea crenata; Castanea vesca; biologia; características morfológicas.

ABSTRACT

Myzocallis kuricola (Matsumura, 1917) (Hemiptera: Aphidoidea: Drepanosiphidae) collected in São Paulo and Rio de Janeiro States, associated to Castanea sativa Miller (Fagaceae), C. vesca Gaertner and Castanea sp. represent the first report for this species in Brazil and Neotropical Region. This species is new for Continental Portugal and Azores also, where it was found on C. sativa. M. kuricola is native from Japan, Korea and Taiwan and the first report out of this area was made by ILHARCO (1984) for Madeira, Portugal associated with C. crenata Siebold & Zuccarini. Agricultural damage caused by this aphid is unknown.

KEY WORDS:
Myzocallis kuricola; Castanea sativa; Castanea crenata; Castanea vesca; biology; morphological aspects.

Registro de ocorrência. Myzocallis kuricola (Matsumura, 1971) (Hemiptera: Aphidoidea: Drepanosiphidae) é, pela primeira vez, registrado para a região Neotropical. Sua área de origem inclui Japão, Taiwan e Coréia (TAO, 1964; QUEDNAU, 1999). ILHARCO (1984) efetuou o primeiro registro de M. kuricola fora de sua área de origem, no arquipélago da Madeira, Portugal; atribuiu o fato a entrada na ilha do seu principal hospedeiro, Castanea crenata Siebold & Zuccarini (Fagaceae), utilizado em hibridações com C. sativa Miller (a castanheira européia). Em 1985, foi encontrada em Braga, Portugal Continental sobre C. crenata e em 1997 nos Açores, Ilha de São Miguel, Nodestinho, sobre C. sativa. No Brasil, a espécie é conhecida desde 1998 quando foi coletada em C. vesca Gaertner no Município de Embu-Guaçu, Estado de São Paulo, em 20/7. Em 12/12/1999, foi coletada associada à Castanea sp. no Município de Penedo, Estado do Rio de Janeiro. Em São Carlos, São Paulo, em 15/4/2000, foi coletada sobre Castanea sp. BLACKMAN & EASTOP (1994) citam como hospedeiros de M. kuricola, Castanea spp. e Quercus spp. (Fagaceae).

O material examinado nesta comunicação encontra-se depositado na Coleção de Afídeos, Departamento de Biologia e Ecologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos (Coleafis/DEBE/UFSCar); Coleção Entomológica “Adolph Hempel”, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Instituto Biológico, São Paulo (IBSP); e Coleção de Afídeos, Estação Agronómica Nacional, Oeiras (CAEAN).

Material examinado. Amostra 869: BRASIL, São Paulo, Embu-Guaçu, em Castanea vesca, 20/7/1998, E.C. Bergmann col. (Coleafis/DEBE/UFSCar, IBSP, CAEAN n^o 6193); amostra 896: BRASIL, Rio de Janeiro, Penedo, em Castanea sp., 12/9/1999, C.R. SouzaSilva col. (Coleafis/DEBE/UFSCar, IBSP, CAEAN n^o 6336); amostra 915: BRASIL, São Paulo, São Carlos, em Castanea sp., 15/4/2000, C.R. Souza-Silva col. (Coleafis/DEBE/UFSCar, IBSP, CAEAN n^o 6334); amostra 4320: PORTUGAL, Braga, Merelim, em Castanea crenata, 10/7/1985, F.A. Ilharco & J. Pinto cols. (CAEAN); amostra 4530: PORTUGAL, Braga, Merelim, em Castanea crenata, 16/7/1985, H. Lima Leite col. (CAEAN); amostra 6206: PORTUGAL, Açores, São Miguel, Nordestinho, em Castanea sativa, 16/ 10/1997, Carlos Torres col. (CAEAN).

Caracterização das formas morfológicas (adultas e ninfa) da espécie. Fêmeas aladas partenogenéticas vivíparas (Fig. 1). De cor castanho-clara, produzindo cera branca numa área triangular dorsal do abdome compreendida entre o 2^o segmento e os sifúnculos. Corpo de comprimento 1,5-2,3 mm, com cerdas dorsais muito longas e agudas, as abdominais tendo na base escleritos pigmentados. Antenas 6-segmentadas, um pouco mais longas do que a metade do comprimento do corpo, com 5-9 sensórios secundários circulares no III segmento. Abdome com tubérculos marginais pigmentados nos segmentos 2^o a 4^o, sendo o par do 4^o muito mais longo. Sifúnculos truncados, pigmentados, sem rebordo. Cauda capitada. Placa anal bilobada. Asas anteriores com as nervuras distintamente sombreadas, mas apenas ligeiramente nas posteriores. Antenas e pernas sem qualquer pigmentação. Freqüentemente, as asas atrofiam-se, ficando o inseto com dimensões mais reduzidas, incluindo o comprimento do corpo.

Figs. 1-4
Myzocallis kuricola (Matsumura, 1917) (Hemiptera, Drepanosiphidae), segundo ILHARCO (1984): 1, fêmea alada partenogenética vivípara; 2, ninfa do 4^o ínstar de fêmea alada; 3, fêmea.

Fêmeas ápteras partenogenéticas vivíparas não são produzidas.

Ninfas de formas aladas do IV ínstar (Fig. 2). De cor verde-clara, com a cabeça, as tecas alares, os tarsos, os sifúnculos e os escleritos dorsais (espinhais, pleurais e marginais) do tórax e abdome mais ou menos pigmentados de castanho. Estes escleritos estão sempre na base das cerdas dorais, que são longas e agudas, por vezes, algumas obtusas ou ligeiramente capitadas. Não raramente, existem cerdas sem esclerito basal pigmentado.

Fêmeas ápteras ovíparas (Fig. 3). Semelhantes às ninfas de formas aladas mas de cor alaranjada, escurecendo com a idade. Sem tecas alares. Cauda e placa anal arredondadas. Tíbias posteriores espessadas, com numerosos pseudo-sensórios. Últimos segmentos abdominais ligeiramente projetados para trás, formando como que um oviscapto.

Machos alados (Fig. 4). Semelhantes às fêmeas vivíparas aladas com as antenas mais longas e produzindo numerosos sensórios secundários nos segmentos III a V e base do VI. Abdome mais estreito e órgãos genitais perceptíveis.

Biologia. Vive ao longo da nervura central das folhas, comumente na página inferior. Na região de origem (parte oriental da região Paleártica) e na Ilha da Madeira as formas sexuadas são comuns durante os meses de outubro e novembro (TAKAHASHI, 1923; BLACKMAN & EASTOP, 1994). No Brasil a geração sexuada ainda não foi encontrada. Desconhece-se qualquer referência à espécie como causadora de danos.

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  Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Univers. Federal de São Carlos, São Carlos SP, Brasil. E-mail: [e-mail]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• BLACKMAN, R.L. & EASTOP, V.F. Aphids on the world’s trees: an identification and information guide. Chichester: Willey, 1994.
• ILHARCO, F.A. New records to the aphid fauna of the archipelago of Madeira. Bol. Mus. Munic. Funchal, v.36, n.163, p.177-206, 1984.
• QUEDNAU, W.F. Atlas of the Drepanosiphinae aphids of the world. Part I: Panaphidini Oestlund, 1922 - Myzocallidina Börner, 1942 (1930) (Hemiptera: Aphididae: Calaphidinae). Contrib. Am. Entomol. Inst., Gainesville, v.31, n.1, p.1-281, 1999.
• TAKAHASHI, R. Aphididae of Formosa. Part 2. Rep. Dep. Agric. Gov. Res. Inst. Formosa, v.4, p.1-173, 1923.
• TAO, C.C. Revision of Chinese Callipterinae (Aphididae: Homoptera). Q.J. Taiwan Mus., Taipei, v.17, n.3/4, p.209-226, 1964.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  20 Set 2024
• Data do Fascículo
  Jan-Mar 2002

Histórico

• Recebido
  30 Mar 2001
• Aceito
  03 Abr 2002