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DESEMPENHO DE AZOXYSTROBIN NO CONTROLE DA FERRUGEM DO CAFEEIRO SOB CONDIÇÕES DE CHUVA INDUZIDA

ACTING OF AZOXYSTROBIN IN COFFEE RUST CONTROL UNDER INDUCED RAIN CONDITIONS

RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de chuva induzida sobre a eficiência, persistência e sistemicidade de azoxystrobin no controle da ferrugem em mudas de café. O experimento foi realizado em condições de casa de vegetação sendo utilizado o delineamento experimental inteiramente casualizado com 7 tratamentos e 12 repetições, no qual metade das plantas teve o solo coberto por uma lâmina de papel alumínio. Após 60 e 120 minutos da pulverização as plantas foram submetidas a 30 mm de chuva controlada durante 30 minutos e inoculadas com esporos de H. vastatrix. Azoxystrobin destacou-se no controle da ferrugem sendo sempre superior ao padrão oxicloreto de cobre em todos os parâmetros estudados. Diferenças significativas na severidade da doença entre as duas condições de solo, coberto e descoberto, foram observadas, para os tratamentos com azoxystrobin, sendo sempre a condição descoberto superior a coberto, indicando sua sistemicidade.

PALAVRAS-CHAVE:
Persistência; estrobilurina; fungicida; Hemileia vastatrix; Coffea arabica.

ABSTRACT

The present work had the objective of evaluating the effect of the induced rain on the azoxystrobin efficiency, tenacity and sistemic action in the coffee rust control. The experiment was carried out in greenhouse conditions, being used the experimental design by hazard with 7 treatments and 12 replications, in wich half of the plants had the soil covered by an aluminium paper sheet. After 60 and 120 minutes of fungicide spraing the plants were submited to 30 mm of controlled rain for 30 minutes and inoculated with spores of H. vastatrix. Azoxystrobin stood out in the control of the coffee rust, being always superior to the standard copper oxicloryte in all the studied parameters. Significant differences in the severity of the disease among the two conditions, covered and discovered soil, were observed for the treatments with azoxystrobin, being always the discovered condition superior to covered, one indicating its sistemic effect.

KEY WORDS:
Persistency; estrobilurine; fungicide; Hemileia vastatrix; Coffea arabica.

Condições ambientes favoráveis e mau manejo dos cultivos de café favorecem a ocorrência da ferrugem (Hemileia vastatrix Berk. & Br) que, em ataques severos, provoca grande perda de folhas com conseqüente queda de produtividade e qualidade (GODOY et al., 1997GODOY, C.V.; BERGAMIN FILHO, A.; SALGADO, C.L. Doenças do cafeeiro (Coffea arabica L.) In: KIMATI. H. (Ed). Manual de Fitopatologia. São Paulo: Agronômica Ceres, 1997. v.2, p.184-200.). O controle químico é um dos mais importantes métodos de manejo da doença sendo recomendados os fungicidas cúpricos e os triazóis (BECKER-RATERINK et al., 1991BECKER-RATERINK, S.; MORAES, W.B.C.; QUIJANO-RICO, M. La roya del cafeto: Conocimiento y control. Eschborn, República Federal da Alemanha: Deutsche Gesellschaft für Techniche Zusammenarbeit (GTZ), 1991. 281 p.). O recente desenvolvimento de azoxystrobin, fungicida do novo grupo das estrobirulinas, tem proposto uma nova alternativa de controle da ferrugem na cultura do café (PEDRONI et al., 1997PEDRONI, D.; TENCATTI, J.C.; NASCIMENTO, A.C. Avaliação do fungicida azoxystrobin para o controle da ferrugem (Hemileia vastatrix) do cafeeiro (Coffea arabica). Fitopatol. Bras., v.22, p.294, 1997.). A deposição, distribuição, aderência e persistência agronômica influenciam consideravelmente a eficiência e o êxito de controle de um fungicida. A quantidade de produto que adere à folha durante a pulverização e a quantidade de material que permanece na folha após a ação de intempéries (principalmente da chuva) são os principais fatores que determinam a quantidade de resíduo ativo nas superfícies foliares para um efetivo controle de fitopatógenos (RICH, 1954RICH, S. Dinamics of deposition and tenacity of fungicides. Phytopatology,v.44, p.203-213, 1954.). A ação de chuvas, logo após a pulverização, pode remover inclusive fungicidas com características sistêmicas de superfícies foliares que, uma vez no solo, podem ser absorvidos pelas raízes e conseqüentemente promoverem incremento no controle de doenças. Escassos são os trabalhos relacionados com ação de precipitações na efetividade de fungicidas em condições brasileiras. OLIVEIRA et. al. (1995)OLIVEIRA, S.H.F.; TÖFOLI, J.G.; DOMINGUES, R. J. Persistência agronômica de mancozeb em diferentes concentrações de óleo vegetal e óleo mineral na cultura do trigo. Summa Phytopathol, v.21, p.53, 1995. e TÖFOLI et al. (1996)TÖFOLI, J.G.; OLIVEIRA, S.H.F.; DOMINGUES, R.J. Efeito de diferentes concentrações de óleo vegetal na persistência agronômica de mancozeb em tomateiro. Fitopatol. Bras., v.21, p.386, 1996. verificaram baixa persistência de mancozeb em trigo e tomateiro, respectivamente, sob condições de chuva artificial, e incremento desta pela adição de óleo vegetal na calda.

Com o objetivo de avaliar o efeito de chuva artificial sobre a efetividade, sistemicidade e persistência (resistência à ação de intempéries) de azoxystrobin no controle da ferrugem do cafeeiro, foi realizado um experimento em condições de casa de vegetação, utilizando-se mudas de café (cv. Mundo Novo) em estádio de 7 pares de folhas definitivas.

O delineamento experimental adotado foi inteiramente casualizado com 7 tratamentos e 12 repetições, com cada parcela sendo composta por uma muda de café. Os tratamentos utilizados foram: azoxystrobin (100 g de i.a./ha)+adjuvante (0,1 %) sem chuva induzida, com chuva induzida 60 min após a pulverização e com chuva induzida 120 min após a pulverização, oxicloreto de cobre (2.580 g de i.a./ha) sem chuva induzida, com chuva induzida 60 min após a pulverização e com chuva induzida 120 min após a pulverização, além de testemunha com chuva induzida. Das 12 mudas que compunham cada tratamento, 6 tiveram o solo coberto com uma lâmina de papel alumínio para verificar possível sistemicidade do produto caso este fosse lavado das folhas pela ação da chuva controlada e absorvido pelas raízes. Os fungicidas foram pulverizados com auxílio de pulverizador costal, com pressão constante de 45 libras, e volume aproximado de 250 L/ha.

Para a indução de chuva de 30 mm durante 30 minutos utilizou-se de um protótipo para simulação experimental de chuva artificial passível de regulagem quanto à quantidade e intensidade de precipitação (Fig. 2). Após 24 horas da chuva, as mudas foram inoculadas com uma suspensão de 2 mg de esporos de Hemileia vastatrix.mL-1 de água destilada. Em seguida, as plantas foram mantidas em câmara úmida com temperatura de 24 ± 1 °C e umidade relativa média de 85 %, por um período de 72 horas. Logo após, as plantas foram transferidas para casa de vegetação onde foram avaliadas desde o aparecimento dos primeiros sintomas, passando pelo sinais, até a época de desfolha aos 25, 35, 45, 55 e 90 dias após a inoculação (DAI). As avaliações de severidade foram baseadas na porcentagem de área foliar afetada, no terço médio das plantas segundo uma escala variando de 0 a 100 % e na porcentagem de desfolha (90 DAI) contando-se o número de folhas caídas dentro do total de folhas em cada planta. Foi realizada análise de variância dos dados, empregando-se o teste de Tukey a 5 % para comparação entre médias dos tratamentos fungicidas dentro de cada condição de solo (coberto e descoberto) e o teste t para comparação entre as duas condições de solo.

Todos os tratamentos fungicidas foram superiores à testemunha, quanto ao parâmetro severidade da doença. Azoxystrobin destacou-se no controle da ferrugem, sendo sempre superior ao oxicloreto de cobre em todas as situações. Os diferentes intervalos de chuva influenciaram a efetividade de azoxystrobin apenas na primeira avaliação, sendo evidenciado menor índice de controle da ferrugem no tratamento com intervalo de chuva de 60 minutos após a pulverização (Tabela 1 e Fig. 1). A indução de chuvas promoveu decréscimo da efetividade de oxicloreto de cobre nos intervalos de 60 e 120 minutos, aos 25 e 55 DAI. Diferenças significativas na severidade da doença entre as condições de solo coberto e descoberto foram observadas nos tratamentos azoxystrobin nos intervalos de chuva de 60 e 120 minutos em todas as avaliações, sendo sempre a condição descoberta superior à coberta, indicando a sistemicidade do produto. De maneira geral os tratamentos com oxicloreto de cobre não apresentaram diferenças significativas entre as condições coberto e descoberto com exceção do intervalo de 120 minutos, aos 35 e 45 DAI.

Tabela 1
Porcentagem de área foliar afetada com ferrugem (Hemileia vastatrix) aos 25 e 35 após a inoculação (DAI), em plantas de cafeeiro (cv. Mundo Novo) que receberam ou não chuva de 30 mm, por 30 minutos, em intervalos de 60 e 120 minutos após a pulverização dos fungicidas.

Gráfico 1
Porcentagem de área foliar afetada com ferrugem (H. vastatrix) aos 25, 35, 35 e 55 dias após a inoculação (DAI), em plantas de cafeeiro (cv. Mundo Novo) que receberam ou não chuva a 60 e 120 minutos após a pulverização dos fungicidas azoxystrobin (Az) e oxicloreto de cobre (OC), nas condições de solo coberto e descoberto.

Azoxystrobin apresentou os menores índices de desfolha, sendo sempre superior ao oxicloreto de cobre e diferente da testemunha. Este último diferenciou-se da testemunha apenas na condição descoberta, sugerindo também um efeito do solo pulverizado no controle da doença, apesar de ser um produto de contato (Tabela 2).

Tabela 2
Porcentagem de Desfolha aos 90 dias após a inoculação (DAI) em plantas de cafeeiro (cv. Mundo Novo) que receberam ou não chuva de 30 mm, por 30 minutos, em intervalos de 60 e 120 minutos após a pulverização dos fungicidas.

Pode-se concluir com esses resultados que a ocorrência de chuvas em intervalos de 60 e 120 minutos após a pulverização, pouco interferiu no desempenho de azoxystrobin para o controle da ferrugem do cafeeiro, demonstrando sua maior persistência em relação a oxicloreto de cobre. Entretanto, verificou-se incremento de controle e decréscimo de desfolha na condição de solo descoberto, indicando algum nível de lavagem do produto nas folhas e conseqüente absorção pelas raízes. Tais características reforçam o potencial do fungicida azoxystrobin no controle da ferrugem do cafeeiro mesmo sob condições adversas, além da promoção de menores índices de desfolha, fator importante na manutenção da planta e produtividade de futuras safras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • BECKER-RATERINK, S.; MORAES, W.B.C.; QUIJANO-RICO, M. La roya del cafeto: Conocimiento y control. Eschborn, República Federal da Alemanha: Deutsche Gesellschaft für Techniche Zusammenarbeit (GTZ), 1991. 281 p.
  • GODOY, C.V.; BERGAMIN FILHO, A.; SALGADO, C.L. Doenças do cafeeiro (Coffea arabica L.) In: KIMATI. H. (Ed). Manual de Fitopatologia São Paulo: Agronômica Ceres, 1997. v.2, p.184-200.
  • OLIVEIRA, S.H.F.; TÖFOLI, J.G.; DOMINGUES, R. J. Persistência agronômica de mancozeb em diferentes concentrações de óleo vegetal e óleo mineral na cultura do trigo. Summa Phytopathol, v.21, p.53, 1995.
  • PEDRONI, D.; TENCATTI, J.C.; NASCIMENTO, A.C. Avaliação do fungicida azoxystrobin para o controle da ferrugem (Hemileia vastatrix) do cafeeiro (Coffea arabica). Fitopatol. Bras, v.22, p.294, 1997.
  • RICH, S. Dinamics of deposition and tenacity of fungicides. Phytopatology,v.44, p.203-213, 1954.
  • TÖFOLI, J.G.; OLIVEIRA, S.H.F.; DOMINGUES, R.J. Efeito de diferentes concentrações de óleo vegetal na persistência agronômica de mancozeb em tomateiro. Fitopatol. Bras, v.21, p.386, 1996.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Set 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2002

Histórico

  • Recebido
    08 Maio 2001
  • Aceito
    28 Jul 2001
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