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FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE MOSCAS-DAS-FRUTAS DO GÊNERO ANASTREPHA SCHINER, 1868 (DIPTERA, TEPHRITIDAE) NO CAMPUS "LUIZ DE QUEIROZ", PIRACICABA, SÃO PAULO

POPULATIONAL FLUCTUATIONS OF FRUIT FLIES OF THE GENUS ANASTREPHA SCHINER, 1868 (DIPTERA, TEPHRITIDAE) ON THE LUIZ DE QUEIROZ CAMPUS, PIRACICABA, SÃO PAULO

RESUMO

Este trabalho foi conduzido no Campus "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo, no Município de Piracicaba, Estado de São Paulo. Teve como objetivo estudar as flutuações populacionais das espécies mais abundantes de moscas-das-frutas (Anastrepha fraterculus, A. obliqua, A. pseudoparallela e A. bistrigata). Um aumento no nível populacional das espécies de Anastrepha Schiner, 1868 ocorreu de agosto a novembro, com acme em setembro. A flutuação populacional de A. fraterculus apresentou o mesmo padrão observado para o total de fêmeas capturadas, em conseqüência de sua alta densidade populacional. Provavelmente, a disponibilidade de frutos hospedeiros seja determinante na variação do tamanho das populações das espécies mais abundantes de Anastrepha.

PALAVRAS-CHAVE:
Insecta; frutos hospedeiros; frascos caça-moscas; picos populacionais.

ABSTRACT

This study was conducted on the Luiz de Queiroz campus of the Universidade de São Paulo, in Piracicaba, State of São Paulo. Populational fluctuations of the most abundant species of fruit flies (Anastrepha fraterculus, A. obliqua, A. pseudoparallela and A. bistrigata) on the campus were studied. The populational levels of Anastrepha Schiner, 1868 increased from August to November with the highest peak in September. A. fraterculus showed a similar pattern of fluctuation due to its high populational level. Probably the availability of host fruits determined most of the variation of population sizes in the most abundant species of Anastrepha.

KEY WORDS:
Insecta; host fruits; McPhail trap; populational peaks.

INTRODUÇÃO

As flutuações populacionais de moscas-das-frutas em pomares comerciais estão relacionadas a duas variáveis: disponibilidade de frutos hospedeiros e condições climáticas (ALUJA, 1994ALUJA, M. Bionomics and management of Anastrepha. Annu. Rev. Entomol., v.39, p.155-178, 1994.).

Em áreas tropicais tem-se observado que a flutuação temporal da população de adultos está relacionada principalmente à disponibilidade de plantas hospedeiras e não às variáveis climáticas (SOTO-MANITIU & JIRÓN, 1989SOTO-MANITIU, J. & JIRÓN, L.F. Studies on the population dynamics of the fruit flies, Anastrepha (Diptera: Tephritidae), associated with mango (Mangifera indicaL .) in Costa Rica. Trop. Pest Manage., v.35, p.425-427, 1989.; TAN & SERIT, 1994TAN, K.H. & SERIT, M. Adult population dynamics of Bactrocera dorsalis (Diptera: Tephritidae) in relation to host phenology and weather in two villages of Penang Island, Malaysia. Environ. Entomol., v.23, p.267-275, 1994.; CELEDONIO-HURTADO et al., 1995CELEDONIO-HURTADO, H.; ALUJA, M.; LIEDO, P. Adult population fluctuation Anastrepha species (Diptera: Tephritidae) in tropical orchard habitat in Chiapas, Mexico. Environ. Entomol., v.24, p.861-869, 1995.; ALUJA et al., 1996ALUJA, M.; CELEDONIO-HURTADO, H.; LIEDO, P.; CABRERA, M.; CASTILLO, F.; GUILLÉN, J.; RIOS, E. Seasonal population fluctuations and ecological implications for management of Anastrepha fruit flies (Diptera: Tephritidae) in commercial mango orchards in Southern Mexico. J. Econ. Entomol., v.89, p.654-667, 1996.). Resultados obtidos em estudos similares conduzidos no Brasil também corroboraram esta observação (PUZZI & ORLANDO, 1965PUZZI, D. & ORLANDO, A. Estudos sobre a ecologia das “moscas das frutas” (Trypetidae) no Estado de São Paulo, visando o controle racional da praga. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.32, n.l, p.7-20, 1965.; MALAVASI & MORGANTE, 1981MALAVASI, A. & MORGANTE, J.S. Adult and larval population flutuaction of Anastrepha fraterculus and its relationship to host availability. Environ. Entomol., v.10, p.275-278, 1981.; FEHN, 1982FEHN, L.M. Influência dos fatores meteorológicos na flutuação e dinâmica de população de Anastrepha spp. Pesq. Agropec. Bras., v.17, n.4, p.533-544, 1982.; ZAHLER, 1991ZAHLER, P.M. Moscas-das-frutas (Diptera, Tephritidae) em dois pomares de manga (Mangifera indica) do Distrito Federal: levantamento de espécies e flutuação populacional. Rev. Ceres, v.38, n.217, p.206-216, 1991.; AGUIAR-MENEZES & MENEZES, 1996AGUIAR-MENEZES, E.L. & MENEZES, E.B. Flutuação populacional das moscas-das-frutas e sua relação com a disponibilidade hospedeira em Itaguaí, RJ. An. Soc. Entomol. Bras., v.25, n.2, p.223-232, 1996.; CANAL, 1997CANAL, N.A. Levantamento, flutuação populacional e análise faunística das espécies das moscas-das-frutas (Dip.: Tephritidae) em quatro municípios do norte do Estado de Minas Gerais. Piracicaba: 1997. 113p. [Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Univ. São Paulo].). Em alguns casos a abundância de moscas-das-frutas, além da disponibilidade de frutos hospedeiros, é influenciada pelas variáveis climáticas como precipitação pluviométrica, umidade relativa, temperatura máxima e velocidade do vento (NASCIMENTO et al., 1982NASCIMENTO, A.S.; ZUCCHI, R.A.; MORGANTE, J.S.; MALAVASI, A. Dinâmica populacional de moscas-das-frutas do gênero Anastrepha (Dip., Tephritidae) no Recôncavo Baiano. II. Flutuação populacional. Pesqui. Agropec. Bras., v.17, n.7, p.969-980, 1982.; PARRA et al., 1982PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; SILVEIRA NETO, S. Flutuação populacional e atividade diária de vôo da mosca-domediterrâneo em cafeeiros 'Mundo Novo'. Pesqui. Agropec. Bras., v.17, n.7, p.985-992, 1982.; ARRIGONI, 1984ARRIGONI, E.B. Dinâmica populacional de moscas-das-frutas (Diptera - Tephritidae) em três regiões do Estado de São Paulo. Piracicaba: 1984. 165p. [Tese (Doutorado) Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Univ. São Paulo].; ZAHLER, 1990ZAHLER, P.M. Moscas-das-frutas em três pomares do Distrito Federal: levantamento de espécies e flutuação populacional. Cienc. Cult., v.42, n.2, p.177-182, 1990.; RAGA et al., 1996RAGA, A.; SOUZA FILLHO, M.F. DE; SATO, M.E.; CERÁVOLO, L.C. Dinâmica populacional de adultos de moscas-dasfrutas (Diptera: Tephritidae) em pomar de citros de Presidente Prudente, SP. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.63, n.2, p.23-28, 1996.).

O conhecimento da dinâmica populacional é fundamental para o desenvolvimento de estratégias em programas de controle de insetos. O objetivo deste trabalho foi estudar as flutuações populacionais das espécies mais freqüentes de Anastrepha Schiner, 1868 e as variáveis que influenciaram no tamanho destas populações, como parte de um programa de manejo desses insetos no Campus "Luiz de Queiroz".

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi conduzido no Campus "Luiz de Queiroz"/Universidade de São Paulo, em Piracicaba, São Paulo (22º42'30"S e 47º38'00"W). A altitude é, em média, de 546 m e o clima, segundo a classificação de Koppen, do tipo Cwa, tropical de altitude, com inverno seco e temperatura do mês mais quente maior que 22º C (SENTELHAS, 2001SENTELHAS, P. C. 2001. Tipo de clima em Piracicaba. Disponível em: pcsentel@carpa.ciagri.usp.br Acesso em: 5 set. 2001.). O Campus é uma área contínua de aproximadamente 1.050 ha, com cultivo de hospedeiros primários de moscas-das-frutas. É uma área circundada, em grande parte, por canaviais e, em menor proporção, por pastagens, reflorestamento e área urbana, isolando-a de outros focos de moscas-dasfrutas.

As coletas de moscas-das-frutas foram realizadas em armadilhas plásticas tipo McPhail com proteína hidrolisada de milho a 5% (atrativo alimentar), instaladas nas copas das árvores de julho/1998 a junho/1999. Foram distribuídas 84 armadilhas no Campus, sendo a troca do atrativo e a coleta do material capturado efetuadas semanalmente. Os exemplares de Anastrepha foram sexados e as fêmeas identificadas.

Foram analisadas as flutuações populacionais do total de fêmeas de Anastrepha e das espécies mais abundantes capturadas nas armadilhas. A variação sazonal das populações foi baseada no número total de fêmeas capturadas mensalmente. Esse valor foi obtido totalizando-se as fêmeas (valores absolutos) capturadas em todas as armadilhas nas quatro semanas de cada mês. Para obter o número de fêmeas/armadilha/dia foi dividido o total de fêmeas pelo número de armadilhas e de dias de captura de cada mês.

A flutuação populacional foi analisada em relação ao período de frutificação dos hospedeiros primários das espécies mais abundantes. As informações sobre a infestação de espécies de Anastrepha foram baseadas em coletas sistemáticas de frutos de plantas hospedeiras no Campus.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram capturadas 23.277 fêmeas de Anastrepha em armadilhas tipo McPhail no período de 12 meses, pertencentes a 18 espécies: A. amita Zucchi, A. barbielinii Lima, A. bistrigata Bezzi, A. daciformis Bezzi, A. dissimilis Stone, A. distincta Greene, A. fraterculus (Wied.), A. grandis (Macquart), A. leptozona Hendel, A. manihoti Lima, A. montei Lima, A. obliqua (Macquart), A. pickeli Lima, A. pseudoparallela (Loew), A. punctata Hendel, A. serpentina (Wied.), A. sororcula Zucchi e A. zenildae Zucchi. Entretanto, apenas 4 espécies apresentaram freqüências maiores que 2%: A. fraterculus, A. obliqua, A. pseudoparallela e A. bistrigata (URAMOTO, 2002URAMOTO, K. Biodiversidade de moscas-das-frutas do gênero Anastrepha (Diptera, Tephritidae) no campus Luiz de Queiroz, Piracicaba, São Paulo. Piracicaba: 2002. 85p. [Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Univ. São Paulo].).

Os níveis populacionais mantiveram-se relativamente altos no período de agosto a novembro, com acme em setembro, quando foram capturadas aproximadamente 40% do total das fêmeas e atingindo 3,97 fêmeas/armadilha.dia (Fig. 1). O aumento da população de A. fraterculus nesse período contribuiu significativamente para esse resultado geral (Fig. 2). Um outro aumento populacional, embora menor, foi observado nos meses de fevereiro e março, refletindo o aumento no nível populacional de A. obliqua, uma vez que nesse período o tamanho da população de A. fraterculus manteve-se relativamente menor. O período em que os níveis populacionais foram menores correspondeu aos meses de maio e junho, capturando 0,12 e 0,05 fêmeas/armadilha/dia, respectivamente.

Fig. 1
Flutuação populacional de fêmeas de Anastrepha spp. capturadas em armadilhas tipo McPhail no Campus "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, julho/1998 a junho/1999.

Fig. 2
Flutuação populacional de fêmeas de A. fraterculus capturadas em armadilhas tipo McPhail no Campus "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, julho/1998 a junho/1999.

A flutuação populacional de A. fraterculus apresentou o mesmo padrão observado para o total de fêmeas capturadas, em conseqüência de sua alta densidade populacional. Ocorreu aumento dos níveis populacionais nos meses de agosto a novembro, com uma explosão populacional em setembro e níveis mais baixos nos demais meses do ano (Fig. 2). Em coletas sistemáticas de frutos (janeiro a dezembro/1999), obteve-se a maior porcentagem de fêmeas de A. fraterculus nos meses de setembro e outubro (57,6% do total) em conseqüência, principalmente, de infestações em uvaia (Eugenia pyriformis Cambess.) e em pitanga (Eugenia uniflora L.) (Fig. 3 e Tabela 1). Mesmo considerando-se que as coletas de frutos no período de julho a dezembro (1999) não tenham coincidido com o período de captura com armadilhas (1998) e que a fenologia das plantas pode variar de ano para ano (KOVALESKI, 1997KOVALESKI, A. Processos adaptativos na colonização da maçã (Malus domestica L.) por Anastrepha fraterculus (Wied.) (Diptera: Tephritidae) na região de Vacaria, RS. São Paulo: 1997. 122p. [Tese (Doutorado) - Instituto de Biociências, Univ. São Paulo].), é provável que a disponibilidade de uvaia e pitanga tenham determinado o aumento populacional das moscas-das-frutas.

Tabela 1
Número e porcentagem do total de fêmeas de Anastrepha fraterculus obtido de frutos, por mês, no Campus "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, janeiro a dezembro/1999.

Fig. 3
Porcentagem de fêmeas de A. fraterculus obtidas de frutos no Campus "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, janeiro a dezembro/1999.

Considerando-se a gama de hospedeiros utilizados por A. fraterculus (Tabela 1), outras espécies de plantas devem ter contribuído para a manutenção de sua população em outros meses. Em dezembro e fevereiro, por exemplo, as infestações em goiaba (Psidium guajava L.) contribuíram significativamente para aumentar o número de A. fraterculus obtidas de frutos hospedeiros (Tabela 1). Em pomares diversificados, as flutuações são provavelmente minimizadas pela presença de plantas hospedeiras alternativas (ALUJA, 1994ALUJA, M. Bionomics and management of Anastrepha. Annu. Rev. Entomol., v.39, p.155-178, 1994.). Nas áreas onde ocorre sucessão de hospedeiros, as populações de espécies polífagas podem se manter em níveis altos em todas as estações do ano. Segundo MALAVASI & MORGANTE (1981)MALAVASI, A. & MORGANTE, J.S. Adult and larval population flutuaction of Anastrepha fraterculus and its relationship to host availability. Environ. Entomol., v.10, p.275-278, 1981., quando há um período sem frutos, as populações podem se manter no estágio adulto e podem diminuir em tamanho, mas um pequeno número de sobreviventes pode restabelecer a população, pois as fêmeas de tefritídeos polífagos apresentam alta fecundidade.

A população de A. obliqua manteve-se menor do que a de A. fraterculus ao longo de todo o ano, com exceção nos meses de janeiro a março, principalmente em fevereiro, quando ocorreu um pico populacional de A. obliqua (Fig. 4). Nos hospedeiros em que foram feitas coletas sistemáticas, observou-se alta infestação de A. obliqua de janeiro a março (83,3% do total), principalmente, nos frutos de serigüela (Spondias purpurea L.), carambola (Averrhoa carambola L.) e cajá-manga (Spondias dulcis Forst. f.) (Fig. 5 e Tabela 2). A disponibilidade destes frutos, considerados hospedeiros preferenciais de A. obliqua, pode ter determinado o aumento no tamanho da população desta espécie.

Tabela 2
Número e porcentagem do total de fêmeas de Anastrepha obliqua, A. bistrigata e A. pseudoparallela obtido de frutos, por mês, no Campus "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, janeiro a dezembro/1999.

Fig. 4
Flutuação populacional de fêmeas de A. obliqua capturadas em armadilhas tipo McPhail no Campus "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, julho/1998 a junho/1999.

Fig. 5
Porcentagem de fêmeas de A. obliqua obtidas de frutos no Campus "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, janeiro a dezembro/1999.

A. pseudoparallela foi a terceira espécie mais abundante. A flutuação populacional caracterizou-se por um aumento na captura em agosto e setembro declinando até dezembro, quando atingiu o menor valor (Fig. 6). Verificou-se uma discreta elevação no nível populacional em janeiro e em abril, mantendo-se em níveis baixos nos demais meses (Fig. 5). Nas coletas de frutos, A. pseudoparallela esteve associada apenas às espécies de Passiflora. Não se observou relação definida entre a flutuação populacional desta espécie e a frutificação de seu hospedeiro primário (Fig. 7 e Tabela 2), portanto, outros fatores, como ação de inimigos naturais ou mesmo a utilização de outros hospedeiros não amostrados, podem estar relacionados às variações no nível da população de A. pseudoparallela.

Fig. 6
Flutuação populacional de fêmeas de A. pseudoparallela capturadas em armadilhas tipo McPhail no Campus "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, julho/1998 a junho/1999.

Fig. 7
Porcentagem de fêmeas de A. pseudoparallela obtidas de frutos no Campus "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, janeiro a dezembro/1999.

Houve um aumento populacional gradativo de A. bistrigata de agosto a outubro e outro maior entre fevereiro e abril, com acme em março. Duas quedas acentuadas na captura ocorreram em janeiro e junho (Fig. 8). Possivelmente a oferta de goiabas influenciou no tamanho da população de fevereiro a abril, uma vez que A. bistrigata foi obtida quase exclusivamente desta fruta (Fig. 9 e Tabela 2).

Fig. 8
Flutuação populacional de fêmeas de A. bistrigata capturadas em armadilhas tipo McPhail no Campus "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, julho/1998 a junho/1999.

Fig. 9
Porcentagem de fêmeas de A. bistrigata obtidas de frutos no Campus "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, janeiro a dezembro/1999.

A abundância de moscas-das-frutas pode ser influenciada por vários fatores tanto bióticos como abióticos. A umidade do ambiente e a temperatura podem ser determinantes na abundância de tefritídeos. A temperatura pode influir direta ou indiretamente por meio de efeitos sobre as taxas de desenvolvimento, mortalidade e fecundidade (BATEMAN, 1972BATEMAN, M.A. The ecology of fruit flies. Annu. Rev. Entomol., v.17, p.493-581, 1972.). Entretanto, a importância específica das variáveis climáticas nas populações das espécies de moscas-das-frutas é difícil de ser determinada, considerando-se que, além de correlacionarem-se entre si, podem influir indiretamente na disponibilidade de hospedeiros. Por exemplo, na Malásia, picos populacionais de Bactrocera dorsalis (Hendel) ocorreram na estação úmida, pois influenciou a produção e a disponibilidade de frutos hospedeiros, aumentando o número de adultos (TAN & SERIT, 1994TAN, K.H. & SERIT, M. Adult population dynamics of Bactrocera dorsalis (Diptera: Tephritidae) in relation to host phenology and weather in two villages of Penang Island, Malaysia. Environ. Entomol., v.23, p.267-275, 1994.). No presente trabalho, a influência das variáveis climáticas sobre o tamanho das populações não foi analisada, pois é necessário um período mais longo de coletas para esse tipo de estudo.

A população de adultos de Anastrepha exibe grandes flutuações de ano para ano e não obedece a um padrão determinado (ALUJA, 1994ALUJA, M. Bionomics and management of Anastrepha. Annu. Rev. Entomol., v.39, p.155-178, 1994.). O tamanho das populações e a época do aumento populacional variaram de ano para ano nos pomares de maçãs em Vacaria, RS (KOVALESKI, 1997KOVALESKI, A. Processos adaptativos na colonização da maçã (Malus domestica L.) por Anastrepha fraterculus (Wied.) (Diptera: Tephritidae) na região de Vacaria, RS. São Paulo: 1997. 122p. [Tese (Doutorado) - Instituto de Biociências, Univ. São Paulo].). Como a flutuação populacional de Anastrepha observada neste trabalho refere-se ao período de coletas de apenas um ano, as oscilações populacionais ao longo do ano não podem ser consideradas como padrão definitivo para o local.

CONCLUSÕES

Os resultados permitem concluir que: um aumento populacional das espécies de Anastrepha ocorre de agosto a novembro com acme em setembro; A. fraterculus apresenta o maior nível populacional com flutuação populacional semelhante ao do total de fêmeas capturadas; o número de fêmeas/armadilha.dia em setembro corresponde a aproximadamente 80 vezes ao verificado em junho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2003

Histórico

  • Recebido
    23 Dez 2003
  • Aceito
    31 Dez 2003
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