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DIAGNÓSTICO DE DANOS CAUSADOS PELA TRAÇA OPOGONA SACCHARI (LEPIDOPTERA: TINEIDAE) EM CULTIVO DE SHIITAKE (LENTINULA EDODES)

DIAGNOSIS OF DAMAGE CAUSED BY OPOGONA SACCHARI (LEPIDOPTERA: TINEIDAE) IN MUSHROONS (LENTINULA EDODES)

RESUMO

O cogumelo shiitake é um fungo aeróbico decompositor de madeira, tradicionalmente cultivado em toras de carvalho em outros países, sendo cultivado no Brasil em toras de árvores recém-cortadas de Eucaliptus spp., árvore abundante e de baixo custo. Devido a facilidade de obtenção do substrato e sua aceitação no mercado, tornou-se o segundo cogumelo mais consumido no mundo. A traça Opogona sacchari tem sido constatada inviabilizando cultivos de pequenos e médios produtores, tratando-se de um inseto de ampla distribuição e com inúmeros hospedeiros. Em amostragem realizada em 15 propriedades constatou-se que, em média, 35,17% das toras inoculadas e em produção encontravam-se infestadas.

PALAVRAS-CHAVE:
Opogona sacchari ; Lentinula edodes ; danos; cogumelo comestível.

ABSTRACT

The shiitake mushroom is an aerobic fungus decomposer of wood, traditionally cultivated in oak trunks in other countries. In Brazil it is cultivated in the trunks of newly-cut Eucalyptus spp., an abundant and low-cost tree. Ease of getting the substrate and its acceptation in business, have made it the second most-consumed mushroom in the world. The Opogona sacchari moth has been found making unviable the cultivation to small and mid-size productors, because it is an insect of great distribution and with many hosts. A sample realized at 15 little farms evidenced, on averege, that 35.17% of inoculated trunks in production were infested.

KEY WORDS:
Opogona sacchari ; Lentinula edodes ; damage; mushrooms.

O shiitake Lentinula edodes é um fungo aeróbico distribuição geográfica, tendo sido constatada no decompositor de madeira, tradicionalmente cultivado Estado de São Paulo em bananais do Município de em toras de carvalho em outros países, sendo cultivado Guarujá, SP, em julho de 1972, onde se espalhou para no Brasil em toras recém-cortadas de Eucaliptus spp., os municípios do Vale do Ribeira de Iguape (CINTRA, árvore abundante e de baixo custo. As toras são 1975CINTRA, A. F. Opogona sp. nova praga da bananicultura em São Paulo. Biológico, São Paulo, v.41, n.8, p.223-231, 1975.). NOVO & REPILLA (1978)NOVO, J.P.S. & REPILLA, J.A. DA S. Traça-da-banana. Bol. Téc. CATI, n.28, p.1-12, 1978. citaram a presença da cortadas com dimensões de 100 cm de comprimento praga nos municípios de Guarujá, Santos, Mongaguá, e 8-12 cm de diâmetro. Os furos em número de 40 são Peruíbe, Eldorado, Iguape, Juquiá, Sete Barras e ourealizados em sentido longitudinal com cerca de 20 tros municípios situados no litoral e Vale do Ribeira. cm de profundidade (EIRA et al., 1997EIRA, A.F.; MINHONI, M.T.A.; BRAGA, G.C.; MONTINI, R.M.C.; ICHIDA, M.S.; MARINO, R.H.; COLAUTO, N.B.; SILVA, J. DA; NETO, F.J. Manual teórico-prático do cultivo de cogumelos comestíveis. 2.d. Botucatu: FEPAF/UNESP, 1997. 115p.). Devido a faci- As fêmeas de O. sacchari costumam depositar suas lidade de obtenção do substrato e de sua aceitação no posturas em massas irregulares de forma achatada com mercado, tornou-se o segundo cogumelo mais consuaté 101 ovos e período de incubação de 8 dias. As lagartas mido no mundo (BONONI et al., 1995BONONI, V.L.; CAPELARI, M.; MAZIERO, R.; TRUFEM, S.F.B. Cultivo de cogumelos comestíveis. São Paulo: Ícone, 1995. 206p.); seu cultivo ao emergirem medem em média 2 mm de comprimento; expandiu-se rapidamente pelo Estado de São Paulo, possuem movimentos rápidos e são vorazes, observantornando-se uma opção para pequenos e médios do-se canibalismo nos últimos estádios larvais (Fig. 1), produtores, porém, como outros cultivos, o shiitake quando colocadas em grande número, tanto na ausência também está sujeito a ocorrência de pragas. Uma como na presença de abundância de alimento. As pupas destas pragas, a traça Opogona sacchari tem (Fig. 2) são de coloração amarelo pálido no início, tornaninviabilizado alguns cultivos de pequenos e médios do-se marrom avermelhado (BERGMANN et al., 1995BERGMANN, E.C.; ROMANHOLI, R. DE C.; POTENZA, M.R.; IMENES, S. DE L.; ZORZENON, F.J.; RODRIGUES NETTO, S.M.R. Aspectos biológicos e comportamentais de Opogona sacchari (Bojer, 1856) (Lepidoptera: Tineidae), em condições de laboratório. Rev. Agric., Piracicaba, v.70, n.1, p.41-52, 1995.). O produtores. A traça O. sacchari é uma praga de ampla adulto de O. sacchari é uma mariposa castanho-clara, medindo 10 mm de comprimento por 25 mm de envergadura. Os machos são um pouco menores que as fêmeas, ocorrendo dimorfismo sexual: as asas anteriores do macho possuem escamas mais escuras formando estrias longitudinais; e a das fêmeas possuem duas manchas escuras (SUPLICY FILHO & SAMPAIO, 1982SUPLICY FILHO, N. & SAMPAIO, A.S. Pragas da bananeira. Biológico, São Paulo, v.48, n.7, p.169-182, 1982 [Divulgação Técnica].). A longevidade dos adultos em condições de laboratório atingiu em média 12 dias (BERGMANN et al., 1995BERGMANN, E.C.; ROMANHOLI, R. DE C.; POTENZA, M.R.; IMENES, S. DE L.; ZORZENON, F.J.; RODRIGUES NETTO, S.M.R. Aspectos biológicos e comportamentais de Opogona sacchari (Bojer, 1856) (Lepidoptera: Tineidae), em condições de laboratório. Rev. Agric., Piracicaba, v.70, n.1, p.41-52, 1995.). Os valores médios para as fases de desenvolvimento são: fase larval - 24 dias; pré-pupa - 2,5 dias; pupa - 11 dias; pré-oviposição - 2,7 dias; oviposição - 6 dias; longevidade de macho e fêmea - 12 dias e fase de ovo - 7,7 dias. Uma fêmea pode, durante seu ciclo vital, depositar mais de 100 ovos (BERGMANN et al.,1995BERGMANN, E.C.; ROMANHOLI, R. DE C.; POTENZA, M.R.; IMENES, S. DE L.; ZORZENON, F.J.; RODRIGUES NETTO, S.M.R. Aspectos biológicos e comportamentais de Opogona sacchari (Bojer, 1856) (Lepidoptera: Tineidae), em condições de laboratório. Rev. Agric., Piracicaba, v.70, n.1, p.41-52, 1995.).

Fig. 1
Lagarta de O. sachari.

Fig. 2
Pupa de O. sacchari.

IONEDA et al. (1983)IONEDA, T.; FELL, D.; GIANNOTTI, O.; OLIVATI, J. Estudos preliminares sobre o ferômonio sexual da traça da banana, Opogona sacchari (Bojer, 1856). Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.50, n.1/4, p.47-49, 1983. constataram que os adultos de O. sacchari mantém-se imóveis durante o dia, abrigados em locais escuros. No campo verificaram ainda um grande número de larvas em pseudo-caules de banana, que cortados rente ao solo, acumulam umidade e entram em estado de decomposição favorecendo a presença da praga. POTENZA (1999)POTENZA, M.R. Emprego da radiação gama como tratamento quarentenário, visando o controle da traça Opogona sacchari (Bojer, 1856) (Lepidoptera : Tineidae) em banana (Musa sp.) e dracena (Dracaena fragans). São Paulo: 1999. 57p. [Dissertação (Mestrado) - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN]. cita como plantas hospedeiras da traça O. sacchari: bananeira, cana de açúcar, milho, tubérculos de batata, inhame, bambu, cordilínea, strelitza, palmito, haste de mandioca, gladíolo, dália, dracena, bambupalmas, primavera, além de sementes de palmeiras, frutos de cacau, troncos de árvores e estipes de palmeiras em decomposição.

Nas toras de eucalipto são realizados orifícios que após serem preenchidos com o inóculo, são vedados com parafina. Para a produção do shiitake a umidade relativa deve ser elevada e a toras inoculadas irrigadas diariamente, as quais são geralmente mantidas sob módulos de sombrite. Esta condição de umidade elevada e penumbra favorecem a presença e proliferação da traça O. sacchari (Fig. 3). Esta atinge principalmente as variedades de eucaliptos com casca mais espessa, abrigando-se e alimentando-se sob e desta casca em decomposição além da semente inoculada e micélio do cogumelo, comprometendo a produção. O presente trabalho teve por objetivo avaliar o nível de infestação em toras inoculadas e em produção, em 15 propriedades no Município de Rio Claro, no período de 1998 a 2000. O índice médio de infestação de 35,17% (Tabela 1) foi muito elevado sendo necessário o monitoramento preventivo nas áreas de produção.

Tabela 1
Percentual de toras, inoculadas e em produção infestadas por O. sacchari. 1998 a 2000. Rio Claro, SP.

Fig. 3
Casulos contendo pupa de O. sacchari em tora de eucalipto.

Devido ao potencial reprodutivo desta praga ela poderá chegar a níveis mais elevados de infestação. O cogumelo shiitake é um produto comercializado como orgânico ou de agricultura natural inviabilizando o uso de defensivos químicos tradicionais. Estudos com métodos alternativos e ecológicos se fazem necessários para viabilizar a produção e comercialização deste produto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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  • SUPLICY FILHO, N. & SAMPAIO, A.S. Pragas da bananeira. Biológico, São Paulo, v.48, n.7, p.169-182, 1982 [Divulgação Técnica].

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2003

Histórico

  • Recebido
    08 Ago 2003
  • Aceito
    25 Nov 2003
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