HELMINTOS PARASITOS DE CAPIVARA (HYDROCHOERUS HYDROCHAERIS L. 1766) NA REGIÃO DE ARAÇATUBA, SÃO PAULO, BRASIL

HELMINTHS OF CAPYBARAS (HYDROCHOERUS HYDROCHAERIS L. 1766) IN ARAÇATUBA COUNTY, SÃO PAULO STATE, BRAZIL

RESUMO

A ocorrência de helmintos parasitos do trato gastrintestinal de capivaras na região de Araçatuba, Estado de São Paulo é apresentada. Sete animais foram analisados sendo encontradas nove espécies de helmintos, com suas respectivas prevalências: Capillaria hydrochoeri (100,00%), Vianella hydrochoeri (100,00%), Protozoophaga obesa (85,71%), Strongyloides sp. (28,57%), Habronema sp. (42,86%), Monoecocestus hydrochoeri (28,57%), M. hagmani (42,86%), Taxorchis schistocotyle (42,86%) e Hydrochoeristrema cabrali (28,57%).

PALAVRAS-CHAVE:
Hydrochoerus hydrochaeris; helmintos; capivara.

ABSTRACT

The occurrence of helminths in the gastrintestinal tract of capybaras in Araçatuba county, São Paulo State is discussed. Seven animals were analized and there were found 9 species of helminths with the respective prevalences: Capillaria hydrochoeri (100.00%), Vianella hydrochoeri (100.00%), Protozoophaga obesa (85.71%), Strongyloides sp. (28.57%), Habronema sp. (42.86%), Monoecocestus hydrochoeri (28,57%), Monoecocestus hagmani (42.86%), Taxorchis schistocotyle (42.86%) and Hydrochoeristrema cabrali (28.57%).

KEY WORDS:
Hydrochoerus hydrochaeris; helminthes; capybara.

INTRODUÇÃO

A capivara (Hydrochoerus hydrochaeris L. 1766) é o maior roedor conhecido (NOWAK & PARADISO, 1992) apresentando grande potencial para a exploração comercial (SILVA NETO, 1995), ocorre nas Américas do Sul e Central, do Panamá, na Zona do Canal ao leste dos Andes até a Foz do Rio Paraná (NOWAK & PARADISO).

Diversos autores têm se ocupado da pesquisa da helmintofauna deste roedor no país, assim sendo, REGO (1961) descreveu Monoecocestus macrobursatum apresentando uma distribuição nos estados de Rio de Janeiro, Mato Grosso e São Paulo, citando ainda Monoecocestus hydrochoeri nos Estados de Mato Grosso e Rio de Janeiro.

YAMAGUTI (1961) citou em capivaras no Brasil os helmintos Strongyloides chapini, Capillaria hydrochoeri e Protozoophaga obesa.

ARANTES (1983), ao pesquisar os nematódeos parasitos de capivaras provenientes do Mato Grosso do Sul relatou a ocorrência de Hydrochoerisnema anomalobursata, Vianella hydrochoeri, Haemonchus sp., Trichostrongylus axei, Cooperia punctata e Cooperia pectinata.

ARANTES et al. (1985) ao realizarem a catalogação dos helmintos parasitos de capivaras no Brasil relacionaram as seguintes espécies de helmintos gastrintestinais: T. axei, C. punctata, C. pectinata, Haemonchus sp., V. hydrochoeri, Hydrochoerisnema anomalobursata, C. hydrochoeri, P. obesa, Strongyloides sp., Hippocrepis hippocrepis, Nudacotyle valdevaginatus, Nudacotyle tertius, Neocotyle neocotyle, Taxorchis schistocotyle, Monoecocestus hagmani, M. hydrochoeri e M. macrobursatum.

NASCIMENTO et al. (1991) relataram a ocorrência dos helmintos P. obesa, H. anomalobursata, V. hydrochoeri, T. schistocotyle, C. hydrochoeri, T. axei, H. hippocrepis e S. chapini no Estado do Mato Grosso do Sul.

A ocorrência de H. anomalobursata, Habronema sp., M. hydrochoeri e Monoecocestus sp. em capivaras criadas em cativeiro no Estado do Rio de Janeiro foi relatada por MATTOS JUNIOR. & SANAVRIA (1993), enquanto COSTA & CATTO (1994) relataram no Pantanal Mato-grossense (Mato Grosso do Sul) a ocorrência de T. axei, V. hydrochoeri, S. chapini, C. hydrochoeri, P. obesa, T. schistocotyle, H. hippocrepis, N. tertius, M. hagmani e M. hydrochoeri parasitando capivaras de vida livre.

SINKOC et al. (1995) relataram a ocorrência de C. hydrochoeri, V. hydrochoeri, P. obesa, M. hydrochoeri e Monoecocestus sp. parasitando o trato gastrintestinal de capivaras de vida livre, enquanto SINKOC (1997) relatou para capivaras em área de exploração pecuária na região do Banhado do Taim, sul do Rio Grande do Sul, a ocorrência dos helmintos M. hydrochoeri, T. schistocotyle, H. hippocrepis, Strongyloides sp., Trichuris spp., C. hydrochoeri, V. hydrochoeri, H. anomalobursata e P. obesa; as espécies Monoecocestus jacobi e Neocladorchis cabrali descritas em seu trabalho foram dadas à publicação posteriormente como M. jacobi (SINKOC ET AL.., 1998a) e H. cabrali (SINKOC et al., 1998b).

HOFFMANN et al.(1991) citaram para capivaras P. obesa no Rio Grande do Sul e, no Mato Grosso do Sul esta espécie juntamente com T. schistocotyle e H. hippocrepis.

O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento das espécies de helmintos parasitos de capivaras oriundas de criatório comercial da região de Araçatuba e relatar os níveis de prevalência dos mesmos.

MATERIAL E MÉTODOS

Um total de sete animais provenientes de área de exploração comercial de capivaras no Município de Araçatuba, Estado de São Paulo foram coletados no Frigorífico Maristela, no Município de Laranjal Paulista. Após a retirada do trato gastrintestinal na linha de abate, foram feitas ligaduras duplas isolando as porções estômago, intestino delgado, ceco e cólon-reto. A coleta e processamento dos helmintos foi realizada de acordo com a metodologia descrita por SINKOC (1997).

A identificação genérica dos helmintos baseou-se em YAMAGUTI (1958, 1971), SKRJABIN (1964) e TATCHER (1994) para trematódeos; em YAMAGUTI (1959) para cestódeos e, em YAMAGUTI (1961), ANDERSON et al. (1974-1982) e ANDERSON & CHABAUD (1983) para nematódeos.

Para a identificação específica foram consultados TRAVASSOS et al. (1969), UETA et al. (1981) e SINKOC et al. (1998b) para trematódeos; REGO (1961) e SINKOC (1998a) para cestódeos e, TRAVASSOS (1922, 1923), ARANTES & ARTIGAS (1983) e FREITAS & LENT (1936) para nematódeos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram identificados os seguintes helmintos, a saber: C. hydrochoeri, V. hydrochoeri, P. obesa, Strongyloides sp., Habronema sp., M. Nudacotyle onoecocestus hydrochoeri, M. hagmani, T. schistocotyle e H. cabrali (Tabela 1).

Tabela 1
Helmintos parasitos de capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) na região de Araçatuba, São Paulo, Brasil.

Espécie	Prevalência (%)	Localização
Nematoda Strongyloides sp.	28,57	Estômago
Habronema sp.	42,86	Estômago
Capillaria hydrochoeri	100,00	Estômago/Intestino Delgado
Vianella hydrochoeri	100,00	Estômago/Intestino Delgado
Protozoophaga obesa	85,71	Ceco/Cólon-Reto
Trematoda Taxorchis schistocotyle	42,86	Ceco
Hydrochoeristrema cabrali	28,57	Ceco
Cestoda Monoecocestus hydrochoeri	28,57	Intestino Delgado
Monoecocestus hagmani	42,86	Intestino Delgado

Todos os animais encontravam-se parasitados com duas a sete espécies de helmintos, sendo mais comum a associação de cinco ou seis espécies de helmintos (71,43% do total). Habronema sp. e Strongyloides sp. ocorreram somente no estômago. C. hydrochoeri ocorreu em 100% dos animais no estômago e em 57,14% no intestino delgado, enquanto V. hydrochoeri ocorreu em 57,14% dos animais no estômagos e 100% no intestino delgado. P. obesa ocorreu em 85,71% dos cecos e 71,43% dos cólon-reto. Os cestódeos M. hydrochoeri e M. hagmani e os trematódeos T. schistocotyle e H. cabrali ocorreram somente no intestino delgado e ceco, respectivamente.

Habronema sp. foi relatado parasitando capivaras no Rio de Janeiro (MATTOS JUNIOR & SANAVRIA, 1993) caracterizando o primeiro relato do gênero neste hospedeiro no Brasil; anteriormente YAMAGUTI (1961) citou Habronema clarki, descrito em capivaras no Panamá. Este relato confirma o achado anterior de MATTOS JUNIOR & SANAVRIA (1993) e amplia a área de ocorrência deste gênero no Brasil neste hospedeiro

S. chapini foi descrito como parasito de capivaras sendo relatado no Brasil por YAMAGUTI (1961) e no Estado do Mato Grosso do Sul por NASCIMENTO et al. (1991) e por COSTA & CATTO (1994) com prevalência de 47,8%; Strongyloides sp. foi citado no Brasil por ARANTES et al. (1985) e por SINKOC (1997) sendo encontrado por este autor no Estado do Rio Grande do Sul com prevalência de 62,50%. COSTA & CATTO (1994) observaram uma diferença significativa na prevalência de Strongyloides chapini entre animais jovens e adultos, com valores mais elevados para animais jovens (100%) que para adultos (9%), não sendo observado o mesmo por SINKOC (1997), cuja prevalência encontrada foi a mais baixa registrada dentre todos os helmintos; tal fato pode ser explicado devido aos animais apresentarem peso de abate médio de 40 kg, sendo considerados animais subadultos e, o gênero apresenta níveis de prevalência mais elevado entre animais jovens e, níveis baixos entre animais adultos.

C. hydrochoeri apresentou níveis de prevalência elevados iguais aos obtidos por COSTA & CATTO (1994) para animais adultos, sendo observado ainda por aqueles autores diferenças significantes na prevalência entre jovens e adultos, com valores mais elevados para estes. Esta espécie ocorreu somente no estômago, contrariando em parte os achado de COSTA & CATTO (1994) e SINKOC (1997) que encontraram 15 e 8,51% do total dos helmintos coletados neste órgão, respectivamente. O nível de prevalência para esta espécie, embora considerado alto por SINKOC (1997) foi menor (83,33%) que o encontrado no presente trabalho.

V. hydrochoeri ocorreu parasitando 100% dos animais no intestino e, 57,14% dos estômagos, concordando com ARANTES et al. (1985b) que relataram no Mato Grosso do Sul a ocorrência deste parasito em 100% dos intestinos e 30,7% dos estômagos estudados, enquanto NASCIMENTO et al. (1991) relataram para esta espécie prevalência de 88,88%.

P. obesa foi observado em 85,71% dos hospedeiros parasitando o ceco e em 71,43% dos cólons e retos analisados. Os níveis elevados de prevalência já eram esperados tendo em vista os relatos de altas taxas de prevalência de NASCIMENTO et al. (1991) 66,66%, SINKOC (1997) 95,83%, COSTA & CATTO,(1994) e CASAS et al. (1995) 100%. Estas elevadas taxas foram confirmadas por RIBEIRO & AMATO (2003) que relataram prevalência de P. obesa da ordem de 94,44%; os autores atribuíram estas taxas encontradas devido à grande quantidade de ovos contados por fêmea e a forma como se aglutinam externamente às massas de ovos de outras fêmeas, sendo ingeridos pelo hospedeiro, sempre em grande número, bem como à presença da substância aglutinante envolvendo os ovos, conferindo-lhes maior resistência às variáveis climáticas.

O trematódeo T. schistocotyle foi encontrado no Mato Grosso do Sul com prevalência de 56,5% (COSTA & CATTO, 1994) e no Rio Grande do Sul com taxas de 12,5% (SINKOC, 1997), sendo observado em níveis próximos aos de COSTA & CATTO (1994), na ordem de 42,86%. Juntamente com este trematódeo, foi encontrado H. cabrali, trematódeo descrito como parasito do ceco de capivara (SINKOC, 1998b); SINKOC (1997) observou esta espécie em 45,83% dos hospedeiros, níveis estes mais elevados que os observados no presente estudo (28,57%). TANCREDI et al. (2004) relataram a presença desta espécie em capivaras criadas sob sistema extensivo. O relato desta espécie aumenta a área de ocorrência da mesma e destaca a necessidade da diferenciação destas duas espécies de Paramphistomidae do ceco de capivara.

Dentre os cestódeos descritos como parasitos de capivara foram identificados M. hagmani e M. hydrochoeri em níveis de 42,86% e 28,57%, respectivamente; estes níveis mostraram-se mais baixos que os informados por COSTA & CATTO (1994) na ordem de 80 e 54,5% para as duas espécies; SINKOC (1997) relatou para M. hydrochoeri prevalência de 50%. M. macrobursatum, M. jacobi e H. hippocrepis, trematódeo parasito de cólon-reto de capivaras não foram observados no presente estudo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Pró-Fauna Assessoria e Comércio (São Paulo, SP) e ao Frigorífico Maristela (Laranjal Paulista, SP) na pessoa dos seus dirigentes por possibilitarem a coleta do material estudado.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  17 Jun 2024
• Data do Fascículo
  Jul-Sep 2004

Histórico

• Recebido
  04 Nov 2004
• Aceito
  27 Nov 2004